XM8 – Parte 2

XM8 – 2ª Geração

Com base no feedback dos testes de campo por todo os EUA e, com base nos testes em combate real no Iraque e Afeganistão, a HK aprimora o XM8 para uma 2ª versão. Esse modelo fica pronto ainda em 2004. Mais uma vez, uma mudança em tempo record, o que mostrava que tanto a HK estava comprometida com o programa como tanto os EUA tinham grande interesse pelo fuzil.

Eles começam reformulando a família do XM8. Antes a HK tinha duas armas semelhantes para funções diferentes. A metralhadora leve e o fuzil DMR tinham o mesmo comprimento de cano de 508 mm. A HK simplifica e unem essas duas armas. Um XM8 com cano reforçado e mais pesado de 508 mm que serviria tanto como DMR como metralhadora leve de apoio. Caso o soldado fosse usar DMR, usava o carregador para 30 cartuchos. Caso fosse usar como metralhadora leve, usava o carregador C para 100 cartuchos. Desde o início a HK não queria usar alimentação por fita, por achar o sistema complexo e disposto a panes e sujeiras.

XM8 – 2ª Versão.

Os EUA mudam um pouco o plano quanto à padronização do fuzil. Estava entre os requisitos a substituição da M249 pela versão de metralhadora leve do XM8. Entretanto, testes de campo mostraram que o XM8 tinha um problema quanto à manutenção. Não era um problema da arma mas sim da doutrina de emprego. Pelo emprego de fogo de apoio, são necessários vários disparos em rajadas. A M249 faz o cano esquentar muito rápido, isso exige que a troca do cano seja rápida, a troca do cano da M249 foi pensada exclusivamente para esse tipo de emprego. O XM8 é um conceito em que a mesma plataforma desempenha várias tarefas. Como metralhadora leve, o cano também esquentava rápido, porém, a troca do cano levava mais tempo que a M249 uma vez que a modularidade do XM8 exigia mais movimentos e ferramentas para a troca do cano. Desta forma, o governo americano desiste de trocar a M249 e opta por manter ela em uso.

XM8 – 2ª Versão.

 

O problema de aquecimento é resolvido a contento. O problema na 1ª versão era o material plástico muito fino que não absorvia por completo o calor, fazendo toda a arma aquecer e principalmente o guardamão. Para fazer frente a isso, é adicionada na parte de baixo do guardamão uma manta térmica de alumínio entre o cano e o guardamão. E ainda, aumenta-se a espessura do polímero, para que pudesse absorver mais o calor. Isso acaba dando um maior peso ao fuzil que, descarregado, pesa 3,4 Kg. Esse peso a maior no polímero funciona com a manta térmica. E não só isso. Com esse peso maior, o controle do recuo é melhor, gerando uma dispersão menor e maio precisão em virtude do fuzil não ser tão leve como antes. A título de curiosidade, a versão com cano de 508 mm tinha um aquecimento menor em virtude de o cano ser maior e do maior peso dele em virtude da parede ser mais espessa.

XM8 – 2ª Versão.

O grupo de miras também passou por algumas alterações importantes. A começar pela mira de emergência. A 1ª versão do XM8 contava apenas com a mira reflexiva. Isso foi um problema quando posto em combate real no Afeganistão e Iraque. Muitas vezes a bateria da mira acabava e o soldado tinha dificuldade para fazer a mira. Outras vezes, por questões de atrito, a mira ficava impossibilitada de ser usada, como sujeira pesada, pancadas que pudessem quebrar alguma parte, etc. O soldado se encontrava com um fuzil sem mira. No G36, fuzil que serviu de modelo, se tinha uma mira simples de emergência enquanto que o XM8 não tinha nada.

Visando sanar esse problema, é colocado no fuzil uma alça e massa de miras retráteis, acionadas por um pequeno botão. Essas miras estão localizadas na armação da mira, na frente e atrás. Ela poderia ser usada sem a mira reflexiva e até mesmo com a lente da mira reflexiva caso o ponto vermelho ficasse inoperante. Além disso, levando em consideração a baixa duração da bateria da mira reflexiva, uma nova bateria foi feita, aumentando a duração do ponto vermelho de 110 horas para 400 horas e do apontador laser de 7 horas para 25 horas.

XM8 – 2ª Versão.

Um problema foi notado em regiões áridas com muita areia e poeira. Com o tempo de uso passaram a ver que a arma estava sujando por dentro e não sabiam o motivo disso, já que a arma era quase selada. E isso acontecia somente nessas regiões. Descobriram que, a cada disparo, com o movimento do transportador do ferrolho, a janela de ejeção ficava aberta por frações de segundos. Mesmo com um tempo rápido aberta, a janela de ejeção permitia a entrada de uma quantidade minúscula de poeira e sujeira que, com o tempo, se acumulava dentro do fuzil. A HK fez um estudo e vira que se aumentassem a cadência de disparo para 850 dpm, a janela de ejeção ficaria aberta numa fração menor de tempo, o que seria suficiente para impedir a entrada de sujeira durante o disparo.

Isso ocorreu em um bom momento porque o aumento da cadência de disparo ainda incrementou a capacidade de assalto do fuzil. À distâncias acima de 50 metros, as rajadas curtas tinham uma dispersão maior em virtude da cadência de disparo relativamente menor na 1ª versão do XM8. Se por um lado a alta cadência de disparo faz o gasto maior de munição, por outro lado faz uma dispersão menor ao concentrar mais projéteis dentro do alvo já que se tem uma velocidade maior de disparo, não dando tempo para os projéteis se distanciarem muito uns dos outros.

XM8 – Tropas especiais da Malásia.

Levando ainda em conta o feedback dos testes em combate real, foi trocado o quebrachamas. Antes, o fuzil tinha um quebrachamas no formato bico de pato que funcionava muito bem, porém fazia a poeira acumular e acabar direcionada para dentro do cano. Na 2º versão do XM8 usa-se um quebrachamas no formato gaiola, como no M16. Essa peça também servia como compensador já que a parte de baixo do quebrachamas era tampada, fazendo parte dos gases ser direcionada para cima, o que contrabalanceava o movimento de subida.

Outra alteração recaiu sobre  a alavanca de manejo, onde agora, assim como no G36, ela pode ser travada e forçar como sistema de fechamento manual do ferrolho. Também, o retém do ferrolho ficou mais saliente para ser mais fácil de acessar. Embora mais saliente, ele ficou mais rígido para evitar acionamento involuntário. Levando em conta o polímero, várias cores poderiam ser oferecidas, o que era muito vantajoso. Verde escuro, cáqui, preto, cinza, branco, tons de azul, tons de marrom, isso criava um leque maior de opção para as tropas especiais e as tropas que combateriam nas mais diferentes regiões.

XM8 Compacto – 2ª Versão. Note que ainda se usa o antigo quebrachamas.

 

Fim polêmico

Acredito que o Leitor ainda não percebeu desde o começo. A substituição da família M16 estava em curso onde apenas uma empresa participava, a HK. E essa empresa era estrangeira. Isso ia de encontro da forma como sempre fora feito nos EUA, onde empresas americanas competiam para oferecer um modelo para as forças armadas Isso foi um problema e um escândalo na época. Várias empresas também queriam participar do processo de escolha do futuro fuzil de assalto americano e não foram permitidas. Sequer foram consultadas. A maior voz dessa indignação foi a Colt, que ainda mais entrou com ações na justiça para que ela também pudesse participar. Foi demonstrado que o governo americano deu dinheiro direto para a HK pesquisar, desenvolver e finalizar o XM8, facilidade esta que nenhuma empresa teve.

Em 2004 isso gerou um efeito dominó porque outras empresas ameaçaram de entrar com ações na justiça para ter os mesmos direitos e vantagens que a HK estava tendo, principalmente quanto ao financiamento do programa. Quando o governo americano viu que isso estava começando a sair do controle, ele interrompeu o programa do futuro fuzil de assalto americano em julho de 2005. Para a grande surpresa de todos, principalmente da HK, o programa é cancelado em 31 de outubro de 2005. A alegação do governo americano era os estoques de fuzis dos EUA eram grandes, com muitos fuzis M16A2 em seus estoques. Havia os fuzis de assalto de diferentes marcas em operação com as tropas especiais e, a poucos anos, estavam recebendo grandes quantidades de carabinas M4 e fuzis M16A4. Ainda havia sido dito que tinham o plano americano de substituir todos os fuzis de assalto pela carabina M4. Diante desse panorama, não havia a necessidade de substituir todos por um fuzil de assalto novo.

XM8 DMR – 2ª Versão.

A bem da verdade as razões eram outras. Havia sido feito um financiamento direto, com dinheiro público, com uma empresa estrangeira para o desenvolvimento de um fuzil, sem a participação de nenhuma empresa americana. Isso nunca havia acontecido antes nos EUA. O governo americano viu que, caso perdessem na justiça, teriam de reabrir o programa do zero, com a participação de outras empresas nacionais. Isso significava mais tempo para requerimentos, testes de campo, testes de combate real, correções, etc. Sem falar no dinheiro a mais que deveria ser destinado a cada empresa participante do processo. Os custos e o tempo seriam muito altos e para o governo americano isso ia de encontro à política de contenção de custos. O programa cancelado seria a única saída.

Embora cancelado, o XM8 obteve ao menos uma venda externa. Após o fim de toda essa quizumba, a Malásia se interessou pela arma, já que era uma cliente da HK. Em 2008 ela compra vários modelos diferentes para suas tropas especiais. É curioso que ela visou as tropas especiais e não todo o exército. Ao que consta, temos dois modelos em uso. O XM8 2ª versão e modelos baseados no XM8R, que será visto a seguir.

XM8 – Malásia.

 

XM8R

O XM8R foi a última tentativa da HK de vender o XM8 para o governo americano. O US SOCOM – US Special Operations Command, algo como Comando de operações especiais dos EUA, inicia em outubro de 2003 um programa para um fuzil de assalto para operações especiais. Levando em conta a modularidade e a opção de calibres diferentes, esses fuzis teriam um grande leque de versões com canos de diferentes tamanhos, capacidade de instalar diferentes dispositivos, miras e cumprir as mais variadas missões, como carabinas curtas, carabinas, fuzil de assalto e arma dedicada a DMR.

XM8R.

 

Levando em conta os requisitos das tropas especiais, a HK percebe que não teria como usar o sistema PCAP. Esse sistema não era ruim, era até melhor que o trilho picatinny. Entretanto, esse sistema demandava novos adaptadores para as miras e dispositivos que poderiam ser usados na arma. As tropas especiais já tinham tudo isso preparado para o trilho picatinny e seria um retrocesso ter que adaptar tudo para o sistema PCAP. Desta forma a HK adota o uso amplo dos trilhos picatinny no XM8R. É por isso que tem a letra R no nome, de “rail”, que significa trilho. O XM8R nada mais era que um XM8 com trilhos picatinny. No começo o fuzil usava um cano de 317 mm. O desempenho não era muito bom quando o seu rival, o FN SCAR com um cano de 355 mm. Pode parecer pouco, mas era o suficiente para dar uma maior energia, velocidade, alcance e precisão ao projétil. Logo depois a HK aumenta o cano do XM8R para 368 mm. Isso dava um desempenho excelente para a arma.

XM8R.

Embora os testes de campo tenham sido ótimos, a arma foi rejeitada. O fator primordial para isso é que o US SOCOM queria que a arma fosse disponibilizada em dois calibres, 5,56 x 45 mm e 7,62 x 51 mm, bastando apenas trocar o cano, ferrolho e transportador do ferrolho. O XM8R não conseguia cumprir isso e assim a arma foi descartada do programa. A HK sequer pensou em uma versão do XM8 em 7,62 x 51 mm, tirando-lhe uma versatilidade que hoje poderia ser um diferencial.

Em 2005 o FN SCAR é eleito o vencedor, onde começa os primeiros testes em 2007 para ser mandando para teste real em combate logo em seguida. Levando em conta o uso, viram que o FN SCAR não trazia tanto ganho em cima do M16A4 e M4. Não era interessante para os EUA trocar os M16 por um fuzil que sairia mais caro e com pouco ganho real, o custo benefício não valeria a pena e, assim, o programa é cancelado em 2010.

XM8R com lançador de granadas de 40 mm.

 

XM8 – 2ª Geração

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento total: 838 mm
Comprimento do cano: 318 mm
Cadência de disparo: 850 dpm
Peso: 3,4 Kg
Carregador: 30 ou 100 cartuchos

 

Como funciona

Após premir o gatilho, o cão acerta o percussor que está localizado dentro do ferrolho e, por sua vez, acerta a espoleta do cartucho. Ao deflagrar, os gases percorrem o cano e entram em um orifício situado na parte de cima do cano. Os gases são captados em um êmbolo onde pressionam um pistão interno. Esse pistão, com a energia dos gases, faz um curto recuo (por isso que se chama pistão de curso curto), batendo no transportador do ferrolho que está repousado na frente por ação da mola recuperadora.

Neste momento, o ferrolho rotativo é rotacionado para a esquerda, destravando-se quando os ressaltos se alinham com a saliência da câmara do cano. Com a força do movimento da pancada do pistão, o transportador do ferrolho, juntamente com o ferrolho, retrocede. O transportador do ferrolho segue um trilho na caixa da culatra que serve como guia para o movimento de retrocesso, comprimindo ao mesmo tempo a mola recuperadora localizada logo atrás. Quando o transportador do ferrolho chega ao seu curso final, essa mola recuperadora impulsiona o transportador do ferrolho para frente, ao mesmo tempo em que coloca um cartucho na câmara do cano. Ao chegar à base do cano, o ferrolho rotativo passa pelos ressaltos do cano e é rotacionado para direta, onde os ressaltos passam pela saliência da câmara do cano, travando o ferrolho ao mesmo tempo. Assim o sistema está apto para o próximo disparo. É o sistema de pistão de curso curto.

 

Curiosidade

Em julho de 2007, um teste foi realizado para ver o comportamento de alguns fuzis de assalto em condições árduas de poeira e sujeira com uso constante. Esse teste visava ver qual sistema seria o mais indicado para um possível futuro programa de fuzil de assalto para os EUA. A carabina M4 foi usada como referência. As outras eram o XM8, FN SCAR, HK416 e XCR. 10 armas de cada modelo dispararam 6.000 disparos (totalizando 60.000 disparos cada modelo) nessas condições para ver qual falhava mais e qual falhava menos. O resultado foi:

XM8 – 127 falhas

FN SCAR – 226 falhas

HK416 – 233 falhas

M4 – 882 falhas

XCR – não se tem os valores.