M4

O M4 surgiu como uma arma compacta para desempenhar várias tarefas de outras armas de categorias diferentes. Em virtude do baixo recuo do calibre 5,56 x 45 mm e de sua leveza, em um primeiro momento, foi muito bem elogiada. Entretanto, com o tempo de uso, se mostrou uma arma limitada ao executar papeis de outras categorias de armas. Isso fez com que ela se mostrasse um pouco problemática e limitada em um momento em que se buscava maior precisão e poder de parada. Vários exércitos que a usam buscam ou já acharam um substituto para ela, sendo que apenas os EUA a mantém como uma arma regular.

 

Origens

Embora a família M16 tenha sido adotada em larga escala, é curioso que, oficialmente falando, suas versões carabinas não foram adotadas. Muitas versões dessas carabinas foram compradas em pequenos lotes e distribuídos em pequenas quantidades. Até quase final dos anos 80 os EUA ainda usavam várias submetralhadoras em seu inventário para aqueles que não tinham a necessidade de portar um fuzil regular. Nos EUA se considerava que esses soldados armados com essas armas beiravam o status de subarmados.

Esse pessoal usava outras armas em combate além de suas pistolas. Usavam espingardas, submetralhadoras, fuzis de assalto, armas grandes e pesadas que tinham um alcance maior que o das pistolas. Mas essas armas eram incômodas em virtude do trabalho que era realizado por esse pessoal. Desta forma era necessária uma arma com maior poder de fogo, com maior alcance e que não tivesse o mesmo tamanho de um fuzil de assalto. O uso da XM177E2 estava descartado porque essa carabina tinha mais problemas do que soluções e um novo projeto era necessário.

XM177E2.

Com o sucesso do M16A2, surgiu a ideia de usar essa plataforma para uma carabina de uso geral para as pessoas que não usariam um fuzil regular. Essa necessidade não vinha somente dos EUA. Seus clientes e aliados também tinham o problema de necessitar desse tipo de arma para os soldados que não usariam um fuzil regular. Assim como os EUA, seus aliados e clientes compraram pequenos lotes das mais variadas versões de carabinas M16.

Cabe esclarecer certa confusão que ocorre aqui e merece um maior esclarecimento não abordado no artigo do M16A2. Assim que o M16A2 foi lançado, foi oferecida a versão commando e carbine, respectivamente com canos de 290 mm e 370 mm. Se lançaram essas duas versões, por que desenvolver uma nova carabina logo em seguida? Alguns motivos. Primeiro que a linha de produção estava completamente focada na demanda do M16A2 convencional. Isso significava que as caixas das culatras eram limitadas e a construção de novas para essas carabinas estavam em segundo plano, de tal ordem que atrasou muito a linha de produção.

M16A2.

Outro fator foi que os EUA, assim como os seus aliados e clientes, já tinham em seus inventários várias carabinas da família M16 em suas variadas versões. Isso deixava a demanda para o M16A2 commando e carbine muito baixa, se destinando mais a forças policiais e de segurança do que ao segmento militar. E por fim, todas as carabinas de até então tinham certa limitação de desempenho, tornando a arma não tão atrativa assim. No final, pouquíssimas carabinas commando e carbine foram feitas porque não valia a pena quando se pensava desenvolver uma nova carabina aprimorada.

Com a nova proposta de uma nova carabina isso seria remediado. Mas somente em partes como veremos mais adiante. A ideia agora não era mais uma carabina e sim uma carabina reformulada para ter o maior desempenho possível que chegasse perto de um M16A2 convencional. Essa carabina teria todos os aprimoramentos do M16A2. Outro ponto observado foi que a carabina melhorada usaria a nova munição 5,56x 45 mm M855, o que agradaria aliados e clientes que estivessem adotando agora o 5,56 x 45 OTAN. Os riscos para a pesquisa e desenvolvimento dessa nova carabina eram mínimos porque ela teria 75% de peças em comum com o M16A2.

 

 

XM4

Já em 1984 essa nova carabina começa a tomar forma em cima do M16A2. Com base nos requerimentos, surge a XM4. O cano de 368 mm de comprimento era mais pesado mantendo o mesmo raiamento de 1:7 do M16A2 por causa da munição M855. Usando um cano pesado, o comprimento maior se destinava solucionar três problemas. A precisão que caía muito com um cano menor e com a nova munição a ideia era aumentar esse alcance. Com o novo raiamento veio também a nova graduação da mira porque a M855 tinha uma trajetória mais reta, conferindo maior alcance e precisão. Embora fosse feito para a munição M855, a XM4 também podia usar a M193 mas com limitações de desempenho já que a M193 usava o raiamento de 1:12.

XM4.

E por fim resolver o problema do som do estampido que, em canos menores, era muito alto em virtude da deflagração do propelente em um cano de menor comprimento. Esse era um problema sério das carabinas até então. O cano menor fazia com que o barulho do disparo fosse muito alto, além que aumentava também as chamas. Com o novo cano e o quebrachamas (que também era compensador) do M16A2, esse problema passa a ser solucionado. O cano foi um ponto que recebeu atenção porque nas carabinas era um dos pontos problemáticos. Durante a fase XM4, várias configurações de cano foram usadas. Desta forma é comum ver XM4 com canos diferentes, mas mantendo o mesmo desempenho. Havia reforços em diferentes partes do cano de tal ordem que esse mesmo reforço seria usado de apoio para o encaixe do M203.

Um dos problemas sanados do XM177E2 foi a temperatura. No XM4 o cano, por ser mais grosso, absorvia melhor o calor dos disparos. Além disso, duas mantas térmicas foram colocadas dentro do guardamão para absorver parte desse calor. No XM177E2 o calor chegava a um ponto de esquentar muito o guardamão, comprometendo a funcionalidade da carabina. Os materiais plásticos usados no M16A2 também seriam usados no XM4. A empunhadura também, onde foi elogiada pelos soldados por dar maior firmeza aos disparos em sequência.

Em cima a XM4 e embaixo a XM177E2.

Curiosamente, a M4 quase foi uma carabina com seletor de disparo para travado, semi, burst de 3 disparos e automático. Isso serviria para agradar a gregos e troianos para quem preferisse o burst ou o automático. Isso também facilitaria muito a logística ao produzir uma só variante da arma. Ocorre que o desconector (que gerencia o regime de disparo) do grupo do gatilho era complexo com o seletor de disparo, o que encarecia a produção e tornava a manutenção mais complexa. Em um segundo momento, pelos requerimentos de 1984, a carabina deveria ter o seletor para automático e não burst, pois para a força aérea e o exército o burst não era uma boa opção. Mais tarde, na fase de testes, foi adotado o burst como forma de padronização da carabina com as peças internas do M16A2. Somente com a versão M4A1, assim como o M16A3, teria o seletor para automático ao invés de burts.

Em um primeiro momento, a Colt queria fazer algumas alterações profundas na carabina para corrigir o problema das carabinas anteriores. Os militares não aprovaram porque isso iria contra a ideia de padronização da carabina. Porém, alguns problemas foram corrigidos de outra maneira. Por exemplo, a falha de alimentação e de disparo.

XM4.

A rampa de acesso à câmara do cano teve de ser redesenhada, levemente maior. Ocorre que o ciclo de disparo nas carabinas é bem maior, fazendo com que algumas vezes o cartucho não fosse empurrado para a câmara devidamente. Outro problema corrigido foi um tipo de falha de disparo. Isso ocorria porque em ciclos rápidos, quando o transportador do ferrolho voltava, o ferrolho não dava tempo de travar. Ao bater nos dentes da base do cano, ele voltava. Bem nesse momento, a trava era solta e o cão batia no percutor quando este, dentro do ferrolho, estava voltando com o ferrolho, não gerando o golpe na espoleta do cartucho. Isso se dava pela alta cadência de disparo. A forma de solucionar isso foi deixar o amortecedor mais pesado do que antes. Agora isso dava tempo do transportador do ferrolho e ferrolho realizar a ação de travar e disparar de forma segura.

Os fuzileiros navais não tiveram problemas no começo com a XM4. A doutrina deles era de emprego de burst ao invés de automático. Isso agilizou muito o treinamento e eles gostavam muito da carabina, ficando claro que a XM4 era muito melhor que todas as carabinas anteriores. Os SEALs passaram a treinar com a XM4 onde a arma foi muito requisitada. A versatilidade foi alta a tal ponto de formularem grupos inteiros somente com a XM4 ao invés de M16A2.  

SEALS em treino com a XM4.

O exército também fazia testes com a XM4 e notaram que a carabina nada parecia com as antigas carabinas. Tinha um desempenho semelhante aos seus M16A2. O sucesso dos testes chamou a atenção da Austrália que chegou a receber um pequeno lote de XM4 para avaliação. A nova carabina realmente era diferente. Curiosamente, o primeiro cliente estrangeiro não foi nenhum aliado e sim Abu Dhabi ainda nos anos 80 quando compraram um lote de XM4.

 

XM4

Calibre: 5,56 x 45 mm M855
Comprimento total: 838 mm
Comprimento do cano: 368 mm
Cadência teórica de tiro: 750-950 dpm
Peso: 2,7 kg
Carregador: 30 cartuchos

 

M4

Em 1987 o exército denomina a XM4 como M4. A XM4 já era distribuída em pequenos lotes para grupos especiais e serviços de segurança. Até 1993, algo em torno de 5.000 XM4 foram compradas e avaliadas por todas as forças armadas e órgãos de segurança dos EUA. A XM4 foi usada nas operações na guerra do Golfo de 1991. Não a serviço do exército, mas de grupos de segurança, em um primeiro momento. Nesse tempo o exército ainda não havia criado uma doutrina completa de emprego e estava mais focado na instrução e treinamento do M16A2 que ainda era recebido para substituição dos M16A1.

M4 em uso no Iraque. 1991.

Terminada a guerra do Golfo, a Colt, com o feedback recebido pelos extensos testes e uso real da XM4, foca na finalização da M4. As alterações são mínimas, a principal diferença recai ao cano final usado, com um layout para acoplar o M203 assim como evitar a deformação natural do uso por um reforço. O extrator é feito com uma peça mais sólida e resistente, já que havia relatos de quebra dessa peça. Surgia assim a M4 final. Porém, a M4 já estava prevista a receber uma nova versão.

Soldado em treino com a M4.

 

M4A1

Não há muito o que dizer sobre o M4A1 uma vez que é a mesmíssima arma com a diferença de ter automático ao invés de burst no seletor de disparo. De resto, é a mesma arma. Ocorre que muitos ainda não gostavam da ideia de uma arma com burst. Se para um fuzil convencional isso já não era bem vindo, para uma carabina era pior. Haveria muitas situações em que o regime automático seria preferido ao invés de burst, por exemplo, assaltos em CQB. Além disso, tropas especiais também necessitariam de regime automático uma vez que a maioria usaria carabinas e não fuzis convencionais. Em um primeiro momento, a M4A1 se destinaria ao United states special operations command – SOCOM.

E por se tratar de uma arma de uso especial, pensaram em como aproveitar ao máximo o seu uso. Foi então que decidiram optar por usar uma alça de transporte destacável. A alça seria acoplada por um trilho adaptador, falamos aqui do picatinny rail MIL-STD-1913. Este trilho adaptador fez uma grande diferença e que influenciou praticamente todos os fuzis de assalto modernos. Com esse trilho instalado na parte de cima da caixa da culatra, era possível instalar qualquer tipo de mira que melhor conviesse ao soldado. Era simples de prender e simples de soltar. Isso deu uma praticidade enorme aos soldados.

M4A1.

As tropas especiais que usariam a M4A1 teriam maior proveito caso pudessem ter miras diferentes sem ter que usar adaptadores da alça de transporte que eram complicados e interferiam na precisão. Quando a M4A1 entra em produção em massa (junto com a M4), ela já sai de fábrica com esse trilho adaptador. Somente vários anos depois é que a M4 passa a ter também o mesmo trilho. Não é intenção deste capítulo detalhar todas as miras que podem ser usadas no trilho pois não é o foco, uma vez que esse tema já rende muito para um capítulo próprio.

O fato de usar um trilho adaptador para a alça de transporte fez com que a mesma ficasse numa posição mais alta em alguns mms. Desta maneira foi necessário aumentar a altura da massa de mira para compensar.  Com o sucesso do trilho adaptador, ficou claro que a alça de transporte fixa da M4 seria um retrocesso. Desta forma os próximos lotes da M4 também vieram com trilho adaptador de série, assim como a M4A1. Com o tempo, a M4/A4 passa a receber trilho adaptador também no guardamão.

Pilotos americanos se preparam para um vôo. Note os M4 ao lado dos assentos.

 

Ação

A M4 é uma carabina. Não é um fuzil de assalto como muitos pensam. Não espere bons resultados quando você usa uma ferramenta para um propósito diferente. Com a M4 o soldado americano se deparou com alguns entraves. Com o uso árduo em combate, problemas foram verificados. Nada de anormal, pois somente assim se tem o feedback correto de uma arma.

Em um primeiro momento, as tropas especiais gostaram muito da M4. Leve, menor e mais fácil de carregar. O pessoal de veículos, tripulações, obuseiros, etc, gostaram da praticidade da carabina que rendia bom desempenho. Com a M4A1 a coisa foi melhor ainda. A possibilidade de acoplar miras foi um sucesso entre as tropas especiais porque dava mais versatilidade nas missões. E a guerra do Afeganistão e Iraque foi um grande aprendizado com a M4/A1.

 

M4A1.

Um lado positivo foi a capacidade Close Quarter Battle – CQB. Por ser uma arma mais leve e menor, ela foi formidável em ambientes pequenos e fechados. Mesmo tendo um cano menor se comparado com um fuzil convencional, o poder de parada era mais que suficiente nesses ambientes e a possibilidade de miras especiais pelo trilho adaptador apenas aumentava a capacidade combativa da carabina. Por outro lado, em ambientes mais abertos e de médias distâncias, a M4/A1 apresentou problemas. Não problemas devido ao projeto e sim ao tamanho do cano que gerava um desempenho inferior a um fuzil regular. Ainda mais se levarmos em consideração vestimentas balísticas usadas pelo inimigo a distâncias maiores. Quanto menor o cano, menor o aproveitamento dos gases e, assim, menor a energia aproveitada.

No M16A4 o projétil sai do cano com uma velocidade de 922 m/s e com uma energia de 174 kgfm. Já a carabina M4 dispara o projétil a 845 m/s e com uma energia de 158 kgfm. Pode parecer pouco, mas é o suficiente para o projétil não atravessar uma vestimenta balística ou não derrubar o inimigo caso esteja na mesma distância ideal. Começaram a surgir os relatos de inimigo recebendo três disparos e continuava a atirar de volta. Isso se tornou um problema porque de nada adiantava acertar um inimigo se ele mantinha a sua capacidade combativa. Outro problema foi a precisão. Pelos mesmos motivos balísticos, a precisão com a M4/A1 era menor se comparado com o M16A2/A4.

M4. Note a alça de transporte presa por trilho.

Outro problema surgiu com a M4/A1. Os combates CQBs faziam os soldados a apoiar a mão de apoio no carregador. Com o tempo isso fazia aparecer falhas de alimentação. Ocorre que a cada disparo a mão que segurava o carregador tendia a firmar com força contra o carregador no sentido contrário. Com o tempo isso forçava demais as presilhas do carregador, fazendo criar uma folga direcionada para baixo. A partir de uma folga maior, o cartucho não era colocado devidamente na câmara do cano porque a ponta do cartucho apontava levemente para baixo e não para frente. Isso fez com que os soldados fossem orientados a usar corretamente o guardamão.

O uso da carabina com o lançador de granadas M203 foi muito útil. Como a carabina era mais leve, ficava mais fácil de portar o lança granadas acoplado. Em missões CQB isso foi de grande valia para os soldados. Não só isso, acoplaram também a espingarda calibre 12 M26, tal qual o lança granada. Novamente dava mais flexibilidade ao soldado. Porém na prática causou alguma confusão entre alguns soldados. Em ação alguns soldados não conseguiam decidir usar a espingarda ou o fuzil. Ou em outras vezes, quando o alvo se evadia da distância ideal, o soldado ainda usava a espingarda ao invés do fuzil e vice versa.

M4 com uma espingarda M26.

A carabina M4A1 não teve uma vida fácil nas mãos das tropas especiais. O uso árduo fez surgir uma série de problemas, como falhas de extração, super aquecimento, canos explodindo, câmaras do cano gravemente avariadas e ferrolhos avariados. O problema era claro de ser notado. A carabina estava sendo utilizada como fuzil de assalto, coisa para qual não fora desenvolvida. O uso constante de tiro automático, rajadas curtas e fogo sequencial fazia com que a M4/A1 fosse além do que poderia.

A alta cadência de disparo fazia com que a arma sobrecarregasse internamente. O transportador do ferrolho e ferrolho não aguentavam tanto stress da queima dos gases. Isso fazia com que o ferrolho, por exemplo, se desgastasse antes do esperado. Além disso, o uso do regime automático fez sobrecarregar também o cano. Uma carabina, qualquer que seja, não tem como aguentar o mesmo stress de um fuzil de assalto em virtude do cano menor. Com a M4/A1 os soldados a usavam como um fuzil de assalto.

O cano não aguentava e esquentava com mais facilidade. Começam então os primeiros desgastes do cano e o cookoff, fenômeno pelo qual o cano está tão quente que o cartucho dentro da câmara do cano é acionado sem apertar o gatilho, o que é muito perigoso para o soldado. Uma forma de solucionar isso foi um novo cano para a M4/A1. Ele era mais pesado por ser mais grosso, a fim de absorver parte do calor. Para o problema do stress interno da carabina, se adotou um amortecedor mais pesado ainda. Ajudou em partes porque mesmo assim não tornava a carabina um fuzil de assalto.

M4 com um lançador M203. Note que a carabina é uma das primeiras versões.

Os problemas da M4/A1 aumentaram com a própria balística da munição M855. Esta variante do 5,56 x 45 mm havia sido desenvolvida para o M16A2, com um cano maior. O cano maior dava tempo de aproveitar os gases da combustão para a trajetória mais plana em um projétil mais denso. Ocorre que no Iraque e Afeganistão, os soldados passaram a notar que o inimigo continuava atirando mesmo depois de atingido. Isso ocorre porque o projétil não tinha tempo de se estabilizar o suficiente para gerar o efeito desejado do poder de parada quando disparados da M4/A1.

Diante disso, em 2010 uma nova munição começou a ser usada, a M855A1. Ela tinha uma queima de propelente mais rápida. Mantinha a trajetória plana e o projétil saía a uma velocidade mais rápida na M4/A1 (910 m/s). A munição tinha um poder de parada maior, maior precisão, assim como uma diminuição nas chamas geradas em virtude do novo tipo de propelente. Porém, as M4/A1 passaram a ter alguns problemas com canos deformados e ferrolhos avariados. Isso se dava pela maior pressão que a M855A1 dava ao corpo da arma. Se antes, com a M855, a coisa já era ruim para a M4 pela sua elevada pressão, com a M855A1 a coisa era ainda pior. Em 2013 esse processo de avaliação terminou, sem uma posição definitiva sobre essa munição.

 

M4A1+

E a Colt não parou na tentativa de melhorar a carabina M4. Levando em conta o feedback dos soldados, eles lançam uma versão chamada M4A1+, lançada em 2015. A arma teria importantes melhores. Dentre as principais, estava o cano flutuante. O cano está ligado diretamente na caixa da culatra e somente a ele. Ele não está apoiado em mais nada. Por exemplo, nos fuzis convencionais, o cano está apoiado a armações internas do guardamão. Isso faz com que o cano sofra os efeitos do guardamão durante os disparos. Se o cano é livre, ele não sofre esses efeitos, dando maior precisão ao disparo.

M4A1+.

A possibilidade de uso de um gatilho “sniper”. Isso quer dizer que o grupo do gatilho não teria a costumeira folga que existe antes do disparo. Com essa nova opção, assim que apertar o gatilho a arma dispara, o que dá maior precisão ao disparo. Esse grupo de gatilho não seria de série, teria de ser instalado caso o soldado quisesse usar.

Uma nova alteração foi a possibilidade de aumento do guardamão. Existem técnicas novas em que o soldado estica mais a mão para frente do guardamão, para maior controle do recuo. Nas carabinas M4/A1 isso seria impossível porque essa parte tem o cano descoberto. Teria as miras destacáveis onde o soldado as colocaria em caso de necessidade. E um seletor de disparo ambidestro, que os soldados tanto queriam. Infelizmente essa versão foi cancelada em 2016. A alegação é que as melhorias que a M4A1+ traria não eram tão grandes a ponto de iniciar uma produção em massa para substituir outras carabinas.

M4A1 com extensor de apoio.

 

Adoção

Apesar de todos os problemas, isso não quer dizer que a carabina seja ruim porque esses problemas acontecem em uma minoria dos usuários. A M4/A1 é de fato uma boa arma. Porém, a sua adoção tomou um caminho inesperado. Não se sabe ainda um nº exato, mas até agora, somente para os EUA, o total de M4/A1 já passou das 350.000 unidades. A M4 passa a ser oficialmente adotada em 1991. Em maio de 1993, o exército faz uma compra de 15.600 M4. Embora adotada em 1991, a produção em massa da M4 só se deu em 1994. A M4 é adotada oficialmente em 15 de agosto de 1994. Em 1997, uma nova compra para o exército com um total de 52.000 M4.

Em outubro de 2015 o exército decide adotar a M4A1 como fuzil padrão, substituindo, gradativamente, os M16A2/A4. Para eles, a M4 era a arma ideal para os novos paradigmas de combate que eles estavam travando. As médias e longas distâncias raramente eram notadas, se destinando, na maioria das vezes, a combates e curtas e médias distâncias. Sem falar nos combates CQBs. A M4 surge como a arma ideal nessa filosofia de emprego.

M4.

Cabe ressaltar que inicialmente o exército adquiria em lotes a M4. Mas com o tempo notaram que a M4A1 estava tendo uma maior aceitação pela tropa e os lotes passaram a ser maiores para a versão M4A1. Chegou a tal ponto que não mais interessava a M4. Era o fim do criticado sistema de burst de 3 disparos que havia surgido com o M16A2. Levando em conta o feedback das tropas em ação no oriente médio, ficou claro que o sistema de burst era inadequado para missões CQB.

Outro ponto curioso é como a história dá voltas. Antigamente, tínhamos a maioria usando um fuzil regular e alguns usando uma carabina. Hoje temos a maioria usando carabinas. Caso haja a necessidade de acertar um alvo a maiores distâncias, haverá a necessidade de um soldado com designated marksman rifle – DMR. Trata-se de um soldado com uma arma de calibre maior ou de mesmo calibre com comprimento de cano maior, onde o soldado tem uma melhor aptidão para tiros a médias distâncias sem ser, necessariamente, um sniper.

Na marinha americana surgiu a tentativa de adotar o M4 como arma regulamentar. Isso encontrou uma forte resistência porque, pelos testes realizados, a carabina não teria o mesmo rendimento do fuzil convencional. A M4 seria mandada para tropas especiais enquanto que os marinheiros em sua maioria usaria o M16A2/A4. Porém, seguindo a decisão do exército, a marinha também adota a M4 como arma padrão. Já a força aérea ainda mantém na ativa seus M16A2 junto com os M4/A1.

M4.

M4/A1

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento total: 840 mm
Comprimento do cano: 370 mm
Cadência de disparo: 750-900 dpm
Peso: 2,9 kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após apertar o gatilho e efetuar a deflagração do cartucho, os gases que percorrem o cano entram em um orifício na altura da mira. Esse orifício direciona os gases para um êmbolo sem pistão. Os gases percorrem esse êmbolo diretamente para a parte de trás do ferrolho. Os gases, chegando, pressionam o transportador do ferrolho para trás ao mesmo tempo em que ele vira para a esquerda. Isso faz com que o os ressaltos do ferrolho se alinhe com as saliências da câmara do cano, destravando o ferrolho.  Ainda com a força dos gases, o transportador do ferrolho é deslocado para trás, onde, ao mesmo tempo, ejeta a cápsula deflagrada.

O transportador do ferrolho chega ao final do seu curso, onde, por uma mola recuperadora localizada logo atrás e alojada em um tubo na coronha, passa a empurrar o transportador do ferrolho para frente. Nesse momento de volta, o ferrolho coloca um cartucho novo na câmara do cano. Agora os ressaltos do ferrolho entram na base do cano e se alinham com as saliências da câmara do cano, rotacionando o ferrolho para o lado direito, travando com os ressaltos na câmara do cano. Agora o fuzil está pronto para o próximo disparo.