Tipo 81

Muitos não dão o devido reconhecimento à China quando falamos de fuzis de assalto. Ao contrário do que se pensa, a China nunca armou seu exército em sua totalidade com cópias do AK e AKM-47. Ao contrário do que se pensa, os fuzis de assalto feitos por ela não são ruins. O fuzil Tipo 81 é o exemplo do desconhecimento da história dos fuzis de assalto chineses que começou com a carabina tipo 63, passou pelo Tipo 81 e chegou ao Tipo 95. O Tipo 81 foi o fuzil de assalto chinês feito para armar o maior exército do mundo. Um fuzil simples, muito bom, barato e, ao contrário do que se pensa, longe de ser um produto inferior se comparados com outros fuzis de assalto da época.

 

Origens

Após a fundação da China Comunista, ela se encontra em um processo de renovação de seus paradigmas e, como toda revolução, a necessidade de firmar e criar uma base exigia uma China mais forte, unida e, principalmente, armada. A China ainda usava nos anos 50 antigos fuzis de ferrolhos, submetralhadoras da 2ª G. M. e ultrapassadas metralhadoras leves. A ideia era armar o novo exército com os AK-47 e AKM-47. Essas armas foram compradas em pequenas quantidades porque ainda não se previa a produção local desses modelos. Enquanto isso, a China buscava se tornar independente com seu fuzil padrão e assim pesquisou e desenvolveu no final dos 50 o Tipo 63. No final dos anos 50 estava começando a ruptura das boas relações entre China e URSS. Embora isso estivesse no começo, o projeto do Tipo 63 era anterior à ruptura.

Ao contrário do que se pensa, o Tipo 63 não é uma cópia do SKS soviético e, a bem da verdade, a nomenclatura Tipo 68 ainda é considerada errônea. O Tipo 63 foi uma pesquisa rápida sobre o que poderia ser a nova arma padrão do novo exército chinês. Por fora, a arma é muito semelhante ao SKS soviético, mas por dentro era diferente. A carabina usava o mesmo ferrolho rotativo de 2 ressaltos do AK-47, mas usava o mecanismo de pistão de curso curto em sua operação. O Tipo 63 ainda tinha um seletor de disparo para semi, auto e travado. Era uma arma de conceito mais convencional, onde a parte da caixa da culatra era feita em aço forjado. Essa versão foi apresentada em 1963.

Tipo 63.

Em virtude da ideia de armar todo o exército chinês com ela, logo se fez a alteração da caixa da culatra em aço forjado para metal estampado, mantendo o mesmo layout interno da arma. Isso barateou o custo de produção, assim como agilizou a produção porque eles tinham que fazer a maior quantidade possível de armas para uma demanda grande e atrasada. Entretanto, o fuzil não teve a qualidade que se esperava. O fuzil apresentava um alto índice de falhas e a precisão era muito ruim. A arma tinha vantagem em assaltos a curtas distâncias onde o regime automático fazia algum efeito em virtude da balística do calibre 7,62 x 39 mm.

O Tipo 63 foi adotado oficialmente em 1968 e foi produzido em grande escala na qual foram feitas mais de 1 milhão de carabinas. O maior cliente estrangeiro foi a Albânia, que tinha boas relações com a China, seguindo por outros países da região e África, já que o Tipo 83 era uma arma relativamente muito barata. Entretanto, para a China, o conceito do Tipo 63 era muito atrasado. Era uma carabina com uma limitação de emprego, baixo poder de fogo (carregador para 20 cartuchos) e um desempenho além do mínimo desejável. Era necessário que a China tivesse um fuzil de assalto relativamente mais moderno.

Tipo 63.

E isso ocorre em uma hora conturbada. Com a cisão sino-soviética, a China perde o direito de produzir sob licença os AK e AKM-47. O pior não era nem isso, mas sim o fim de acesso às tecnologias, maquinários e cooperação industrial e científica que a China queria da URSS. Isso também interferia na pesquisa e desenvolvimento de novas armas. A China tinha em mente a produção em larga escala do AKM-47 em virtude do seu preço menor por causa do material estampado, mas com a cisão os chineses não poderiam fabricar essas armas. Cabe mencionar que mesmo assim muitos AKs e AKMs foram produzidos de forma ilegal.

Para os chineses, tanto o AK-47 como o AKM-47 não eram armas que suprimiam todas as suas necessidades. Eles achavam, e com razão, que tanto o AK-47 como o AKM-47 eram armas com precisão medíocre e controlabilidade reprovável quando no regime automático. Os chineses não gostavam dos AKs por causa disso e assim mantiveram a plataforma AK não como um fuzil de assalto regular, mas sim como uma submetralhadora, uma arma de apoio dada a oficiais. Isso foi um impacto quando estourou a guerra entre China e Vietnã em 1979, quando a China tentou tomar territórios vietnamitas e foi contida pelo Vietnã unificado.

Soldado chinês treina com o Tipo 56 (AK-47).

A tropa chinesa consistia em uma maioria usando a carabina SKS ou Tipo 63, em seguida a metralhadora leve Tipo 56-1 que era a cópia da RPD e o Tipo 56, a cópia do AK-47, em menor quantidade. De outro lado, o exército vietnamita, onde todos os soldados usavam AK-47 e AKM-47, com um poder de fogo e versatilidade muito maior que as tropas chinesas. Mal havia acabado o conflito e os chineses viram que necessitavam de um novo fuzil de assalto que fosse melhor que o AKM-47 já que a China não tinha um fuzil de assalto eficiente. Para tanto, essa nova arma deveria ter um controle maior no regime automático, uma maior precisão e que fosse barato de produzir.

A questão não era desenvolver um fuzil de assalto barato, mas sim armar um exército de milhões que exigiria uma arma barata para tamanha demanda. A urgência era tamanha para um novo fuzil que o pedido de um novo fuzil foi em 1979 e em 1980 já estava pronto o protótipo, com o layout de um fuzil de assalto tradicional com um maior poder de fogo se comparado com o Tipo 63. Para que a arma fosse barata e feita em tempo menor, foi estipulado como requisito que a arma deveria ser feita com o mesmo maquinário usado para fazer o Tipo 63 e as cópias do SKS e AK-47.

 

Tipo 81

Visando ganhar tempo por causa da urgência, os chineses da Norinco tomam como base o Tipo 63. Entretanto, isso não quer dizer que o Tipo 81 seja um derivado do Tipo 63, na verdade são armas com sistemas parecidos, mas com muitas diferenças. O fuzil passa por uma série de testes e é adotado oficialmente em 1983, onde começa a sua produção em pequenos lotes. Na época dos testes, foram usados AK-47 e AKM-47 como modelos comparativos e o Tipo 81 havia superado quase todos os requisitos em cima do modelo soviético. A produção em massa só começou em 1986. Olhando de fora as pessoas erroneamente falam que o Tipo 81 é uma arma baseada no AK-47. A bem da verdade, é baseado no AK-47, SKS e Dragunov. Do AK-47 veio o layout externo, do SKS o layout do cano e êmbolo de gás e do Dragunov o transportador do ferrolho. De resto, é desenho e integração chinesa.

Tipo 81.

Agora começam as diferenças que tornam o Tipo 81 uma arma melhor que o AK-47. Levando em conta o sistema de mecanismo do AK-47, os chineses continuam com o pistão de curso curto. Isso torna a arma com um maior nº de peças, já que o pistão não é solidário ao transportador do ferrolho. Entretanto, torna o recuo menor. O Tipo 81 atua com 3 fatores para isso. O 1º é o pistão de curso curto, ele faz com que apenas uma parte da energia do recuo seja transmitida ao transportador do ferrolho. A título comparativo, no AK-47 toda a energia é jogada no transportador porque o ferrolho faz parte do transportador. Com o Tipo 81 isso não ocorre.

Tipo 81.

O 2º fator é a haste guia e o transportador do ferrolho. Esta é uma peça maior e mais pesada. Mas não só isso. No desenho técnico do Tipo 81 há uma grande haste guia e uma mola recuperadora atrás do transportador do ferrolho. Esta haste guia é telescópica, ou seja, há uma mola atuante entre duas partes dessa haste. Quando a arma é disparada, a haste guia serve como um amortecedor. Há um espaço maior entre o cano e a parte de trás da caixa da culatra, gerando uma caixa da culatra de maior comprimento. Quando a arma é disparada, o movimento de retrocesso do transportador vai sendo amortecido pela mola recuperadora e pela haste guia localizada na mesma linha do transportador. À medida que ele vai retrocedendo, ele vai desacelerando, absorvendo parte da energia do recuo, o que gera uma arma mais controlável e, por sua vez, com menor dispersão, o que aumenta a precisão do disparo.

Soldados chineses desfilam com Tipo 81.

O 3º fator é a disposição do êmbolo do gás. Ele está praticamente colado no cano e não mais em cima. Isso faz com que o transportador do ferrolho tenha um efeito menor de movimento em relação à massa do fuzil porque o pistão está quase na mesma altura do cano. Isso faz com que o cano suba menos durante os disparos porque a massa do grupo do ferrolho não projeta tanta energia para cima. O conjunto desses 3 fatores faz com que o recuo do Tipo 81 seja menor que o AK-47 ou AKM-47. Isso torna uma arma mais precisa a cada disparo e mais controlável em rajadas curtas. Coisa quase impossível com o AK ou AKM-47.

Para aumentar ainda mais a precisão, os chineses usaram um cano maior. Enquanto que o AK-47 tinha um cano de 412 mm, os chineses usavam no Tipo 81 um cano de 445 mm de comprimento. Pode parecer pouca a diferença, mas essa diferença é suficiente para dar uma precisão 40% maior do que o AK-47 em uma distância de 300 metros. Isso ocorre porque, com o cano maior, há um maior aproveitamento dos gases. Isso gera um projétil com uma maior energia e trajetória mais plana. Não muito mais plano porque a balística do 7,62 x 39 mm gera uma trajetória mais curva.

Soldados chineses com o Tipo 81 quando em um conflito fronteiriço com o Vietnã em 1984.

Ao contrário do AK-47, o Tipo 81 permitia o ferrolho aberto após o último disparo. Isso é importante porque informa ao soldado que acabou a munição e que não se trata de uma pane. Com o ferrolho aberto fica mais rápido fazer a troca do carregador. Isso vem de uma crítica de todo operador de AK-47 e os chineses não quiseram seguir esse caminho. O que faz o ferrolho ficar aberto é uma alteração no carregador que segura o ferrolho após o último disparo. Para liberar o ferrolho, não existe um retém do ferrolho. O soldado deve puxar levemente para trás a alavanca de manejo e soltá-la em seguida.

Um dos requisitos dos chineses era a durabilidade e resistência do fuzil. Isso se dava pela experiência chinesa na guerra contra o Vietnã. As florestas quentes e com alta umidade exigiam muito da arma, não só pela sujeira da munição mas pela corrosão e adversidades locais, como água, sujeira e barro. Isso exigia que o cano e o êmbolo fossem cromados internamente. Isso dava maior resistência à corrosão como maior durabilidade dessas peças. Além disso, o metal estampado era diferente. O Tipo 81 surgiu desde cedo como uma arma em metal estampado. Entretanto, para uma arma ser mais resistente, a chapa deveria ser mais grossa do que os outros fuzis de assalto em metal estampado. Usando uma chapa mais grossa, a arma necessitava de rebites mais fortes. Em outras palavras, era uma arma muito resistente para um fuzil de metal estampado. Enquanto que um AKM-47 durava 10.000-13.000 disparos, o Tipo 81 durava 20.000 disparos.

Tipo 81 com coronha rebatível.

A alavanca de manejo seguia o desenho do AK-47 no lado direito do fuzil. Entretanto, adotava um formato cilíndrico ao invés de chapa. Isso evitava que a alavanca prendesse em algo ou fosse acionada facilmente por algum obstáculo. O seletor de disparo é disposto no lado esquerdo, acima da empunhadura. Era muito mais fácil e prático se comparado com o seletor do AK-47. A mira, entretanto, não era tão fácil. A mira tinha uma graduação de 100-500 metros. Ocorre que em virtude do layout mais baixo do fuzil, pela disposição do cano e êmbolo, a mira era relativamente mais baixa. Isso fazia com que o soldado inclinasse mais a cabeça para fazer a mira, o que tornava o disparo um pouco mais incômodo.

Os primeiros fuzis eram fornecidos com coronha fixa de madeira. Logo surge o Tipo 81 com coronha rebatível. Essa coronha era diferente da coronha dobrável do AK-47, considerada muito ruim. A coronha do Tipo 81 é rebatida para o lado direito. Não se enganem, no meio dela há uma peça em madeira. Essa peça permite duas coisas. Apoiar a face do rosto na hora de fazer a mira, o que é impossível com o modelo soviético. E usar uma baioneta em caso de necessidade. Isso dá maior firmeza na hora de manejar o fuzil com uma baioneta, algo praticamente impossível com o modelo soviético. Também é diferente o carregador. Embora muito parecido com o modelo soviético, o carregador do Tipo 81 é diferente e não é intercambiável com a família AK-47. O Tipo 81 ainda pode disparar granadas de boca usando um cartucho especial. É por isso que a massa de mira é mais afastada, na altura do êmbolo de gás, para não atrapalhar no disparo da granada que, com o tempo, tende a danificar a massa de mira.

Tipo 81.

Foi feita uma versão metralhadora leve do Tipo 81. Essa versão visava substituir a RPD que, para os padrões chineses, era uma arma mais cara de se produzir. A metralhadora Tipo 81 tem um cano maior, com 490 mm de comprimento e mais pesado. Isso dá ao conjunto da arma um peso de 5,1 Kg. A mira estava na ponta do cano e não no começo do êmbolo de gás. Como não havia provisão de lançamento de granadas de boca, a mira ficava nessa disposição.

Como a metralhadora visa fogo de apoio contínuo, a arma não podia esquentar para evitar o efeito cookoff, quando o cartucho é deflagrado acidentalmente em virtude da alta temperatura do cano. Para tanto, a versão metralhadora leve adota o sistema de ferrolho aberto. A cada disparo, o ferrolho não fica travado no cano, mas sim travado atrás, na posição de aberto. A cada disparo o grupo do ferrolho vai e quando volta, fica travado atrás. Isso permite uma maior circulação de ar pelo cano e janela de ejeção, permitindo ao soldado disparar por mais tempo sem que a arma esquente tanto. O problema é a precisão que tende a cair em virtude do movimento da massa do transportador e ferrolho.

Soldados chineses treinam com o Tipo 81.

Se olharem com atenção, verão que da data da concepção ao início da produção em massa se passou muito tempo. Isso ocorre porque os chineses não queriam o Tipo 81 como um fuzil definitivo mas sim intermediário. A guerra do Vietnã havia mostrado aos chineses a versatilidade e efetividade do calibre 5,56 x 45 mm, um calibre mais leve. Os chineses já não gostavam da balística do 7,62 x 39 mm não só pelo Tipo 63 mas como também pelos AKs e SKSs. O Tipo 81 adotaria o 7,62 x 39 mm como calibre porque desde o começo foi feito como um fuzil intermediário até que surgisse o Tipo 95.

Muitos não acreditam, mas de 1986 até o final dos anos 90, o Tipo 81 foi o fuzil de assalto padrão da China. Não existe um nº exato, mas especula-se que entre 55 e 65 milhões de fuzis foram produzidos. Hoje ele ainda é usado por reservistas. Inclusive muitos desses fuzis foram modernizados com a inclusão de trilhos picattiny para acoplar miras reflexivas e acessórios. O fuzil chegou a ser usado com trilho picattiny por algumas unidades, mostrando que ele ainda tem plena condição de ser usado. Embora sem uma tradição de exportação, a China conseguiu vender esse fuzil para 30 países, incluindo exércitos e órgãos de segurança.

Tipo 81 com trilho picatinny acoplado no guardamão. Note como a mira reflexiva é acoplada.

Isso se dá pela China ser uma fornecedora independente com um produto relativamente barato e melhor que o AK e AKM-47. Os países que o compraram geralmente foram os países sob embargos, como países africanos e asiáticos. Também foram vendidos a grupos paramilitares, já que a China mantém a sua política de ajudar qualquer grupo que busque “libertação”. Em outras palavras, para qualquer grupo que possa pagar.

Há uma grande injustiça no mundo dos fuzis de assalto com os fuzis chineses. Tem-se a ideia de que todo fuzil chinês é ruim. Isso surgiu por causa da péssima qualidade do Tipo 63, um fuzil feito às pressas com materiais de péssima qualidade sem engenharia necessária. Isso foi corrigido com o Tipo 81 e os fuzis seguintes, entretanto, as pessoas ainda insistem em desmerecer os fuzis chineses por causa de uma generalização.

 

Tipo 87A

A plataforma do Tipo 81 se mostrou muito boa para os chineses e coincide com as pesquisas chinesas de um novo calibre. Em virtude da Guerra do Vietnã, os chineses tiveram acesso ao material americano capturado, e lá estava o M16 com sua munição. O que mais chamou a atenção dos chineses foi justamente a munição 5,56 x 45 mm. Mais leve, mais precisa e com um poder letal maior, os chineses passaram a estudar um calibre leve a partir de 1970, onde estudaram vários modelos diferentes até chegar no 5,8 x 42 mm nos anos 80.

Primeiro modelo do fuzil Tipo 87.

Uma vez finalizado o calibre, os chineses o testaram em uma variante do Tipo 81. Esse modelo foi testado em fevereiro de 1987, lançando assim o Tipo 87. Essa arma não era um novo fuzil padrão, mas sim um protótipo para testar o calibre 5,8 x 42 mm. Para tanto, algumas alterações foram feitas quanto ao transportador do ferrolho, a haste guia e ferrolho por causa das pressões diferentes que a energia do calibre gerava. Os testes mostraram que o fuzil tinha um ótimo desempenho com esse calibre. Esse modelo serviu de partida para um novo modelo, também lançado em 1987, o Tipo 87A.

Tipo 87A.

O Tipo 87A não foi considerado para ser o novo fuzil de assalto padrão chinês. Como a China estava em processo de aquisição dos Tipo 81 e o treino de um exército de milhões não é feito da noite para o dia, não havia interesse urgente em fazer um novo fuzil de assalto. Entretanto, os chineses levaram adiante com o novo calibre. A ideia era adaptar o Tipo 81 ao novo calibre sem maiores alterações profundas, apenas em partes simples e principais.

Há uma alteração na coronha rebatível. Ela fica mais simples com o corpo não tão fino pelos mesmos motivos do Tipo 81, poder usar a baioneta com mais firmeza e apoiar a face lateral do rosto no enquadramento de miras. Essa peça é uma estrutura de metal com plástico de alta resistência. Da mesma forma foi feito com o guardamão. Passa a ser de plástico de alta resistência com várias janelas de ventilação. Não que a arma esquentasse, mas a ventilação permite que o soldado atire por mais tempo sem chegar tão rápido ao superaquecimento. A empunhadura recebe um novo formato no mesmo material.

Tipo 87A. Note o laço no cano. Há um peso preso nele para que os chineses treinem manter a mira por mais tempo.

Em testes os soldados viram a praticidade da nova munição mais leve. Como o projétil tinha uma trajetória mais plana, não havia a necessidade de ficar alterando a todo o momento a graduação da mira. Até 300 metros o projétil mantinha uma precisão plana. A título comparativo, o 7,62 x 39 mm no AK-47 tinha uma queda acentuada na trajetória a cada 100 m, fazendo com que o soldado sempre graduasse a mira para distâncias diferentes. Outro ponto positivo foi e leveza da munição. Levando o mesmo peso em munição, o soldado tinha com o 5,8 x 42 mm 31 cartuchos a mais, ou seja, um carregador a mais com o mesmo peso do 7,62 x 39 mm.

Em ação o fuzil se mostrou muito mais preciso e controlável que o Tipo 81. O recuo era menor o que gerava uma menor dispersão. Cada disparo era mais preciso pelo recuo e pela trajetória mais plana do projétil. Em missões de assalto, o controle em regime automático era maior, o que gerava disparos mais concentrados com um menor desperdício de munição. Que fique claro, aqui falamos de rajadas curtas entre 3 e 5 disparos. Rajadas maiores que isso apenas representa puro desperdício de munição.

Soldados chineses treinam com o Tipo 87A.

Esse fuzil foi mandado para as tropas de testes e para as tropas paraquedistas. A intenção era fazer um pequeno lote porque os chineses, no começo dos anos 90, achavam o design do fuzil ultrapassado e já pesquisavam em um substituto para o fuzil de assalto padrão chinês. Desta forma foram poucos os Tipo 87A produzidos e os poucos passaram a ser entregues em 1989. Isso não quer dizer que o fuzil era ruim, pelo contrário, o seu projeto era completamente funcional como será visto no capítulo do Tipo 95.

 

Tipo 81

Calibre: 7,62 x 39 mm
Comprimento do cano: 445 mm
Comprimento total: 955 mm
Cadência de disparo: 650 dpm
Peso: 3,4 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após apertar o gatilho, o cão bate no percussor acertando a espoleta, o que faz deflagrar o cartucho. Os gases gerados percorrem o cano e entram em um orifício, direcionando os gases para um êmbolo acima do cano. No êmbolo os gases comprimem o pistão, com a energia dos gases faz um curto recuo (por isso que se chama pistão de curso curto), batendo no transportador do ferrolho que está travado à base do cano. Nesse momento, uma trava do ferrolho é acionada e o ferrolho é rotacionado para a esquerda, onde os dois ressaltos se alinham com as duas aberturas da câmara do cano. Com o movimento de retrocesso, ele se solta da base do cano e inicia o movimento para trás.

O extrator expele a cápsula pela janela de ejeção, enquanto vai comprimindo a mola recuperadora para trás. Ao chegar ao final do seu curso, a mola recuperadora começa a empurrar o transportador do ferrolho para frente. Nesse momento, o ferrolho empurra um cartucho do carregador para a câmara do cano, enquanto se locomove para frente. Após isso, os ressaltos do ferrolho passam pelas aberturas da câmara do cano, rotacionando o ferrolho para o lado direito, acionando a trava do ferrolho e travando o ferrolho na base do cano. O fuzil está pronto para o próximo disparo.

 

Tipo 03

No começo dos anos 90 a China passou a pesquisar um novo fuzil de assalto que substituísse o Tipo 81. Essa nova pesquisa visava um novo fuzil com conceito diferente, mecanismo diferente e o novo calibre recém adotado, que já fora experimentado no Tipo 87A. Essa nova arma fez surgir o bullpup Tipo 95, uma nova arma que era completamente diferente tanto no design como no mecanismo de operação. Entretanto, a China não apostou todas as fichas em um único projeto.

Enquanto o Tipo 95 bullpup estava sendo pesquisado, os chineses pesquisaram um novo fuzil de assalto de desenho convencional, tomando o Tipo 87A como base para esse novo modelo. O novo fuzil é apresentado em 1995 também como Tipo 95, onde aqui faz surgir uma confusão quanto ao seu nome. Ambas as armas, a convencional como o bullpup foram lançados no mesmo ano de 1995 (embora o bullpup só aparecesse ao publico em 1997). Em 1997 as armas passam a ser denominadas de forma diferente, enquanto o bullpup passa a ser QBZ-95, o fuzil convencional passa a ser QBZ-03.

Tipo 03.

O Tipo 03 é feito com base no Tipo 87A, de calibre 5,8 x 42 mm, mantendo o mesmo mecanismo de operação de pistão de curso curto. Entretanto, ele apresenta algumas novidades quanto à forma que é construído e alterações pontuais. A primeira grande alteração foi no material empregado em sua construção. Ao invés de grossas chapas de metal estampado, passa a ser usado metal de liga leve. A caixa da culatra é dividida em duas partes, a de cima e a de baixo. Ambas as partes são feitas com blocos de liga leve de alumínio que são usinados, como os americanos faziam com o M16. Isso tornava a peça mais resistente e muito mais leve se comparado com o bloco de ferro forjados. Isso era para manter o peso de um fuzil mais resistente sem usar metal estampado.

Essa alteração faz alterar também, de forma leve, o desenho do transportador do ferrolho e da alavanca de manejo. Na parte de cima da caixa da culatra, existem na parte interna guias onde o transportador do ferrolho é encaixado. Ainda nessa parte de cima, tem a abertura lateral direta para a alavanca de manejo. Tanto no Tipo 81 como no Tipo 87A, o transportador do ferrolho fica alojado na parte de baixo da caixa da culatra, sendo que a parte cima se destinava somente para a haste guia do transportador no ferrolho. Agora todo esse conjunto fica condicionado na parte de cima da caixa da culatra.

Soldados chineses treinam com o Tipo 03.

Como o bloco da parte de cima da caixa da culatra passa ser uma peça usinada de alumínio, isso dá uma maior rigidez nessa parte. Isso permite a instalação de outros tipos de miras sem sofrer interferência da vibração dos disparos. A alça de mira é deslocada para trás, no final da caixa da culatra, onde adota um sistema rotativo. Graduada até 400 metros, a mira tem um sistema de rotação de cima para baixo, onde cada mira é graduada em 100 metros, com 4 miras ao todo. Logo à frente da alça de mira há um pequeno trilho que serve para acoplar outras miras, como miras telescópicas ou noturnas. Naquela época a China ainda não tinha acesso ao trilho picattiny.

Houve também um maior emprego de polímeros em sua montagem. O guardamão, empunhadura, carregador e coronha são feitos de polímero, como forma de dar leveza ao fuzil. A coronha continua rebatível para a direita e adota um novo desenho mais prático, já que o soldado tem um maior apoio da face do rosto quando está fazendo a mira sem perder a funcionalidade de rebater. Como o guardamão passou a ser de polímero, já espera que a arma tendesse a esquentar mais. Para tanto, além das janelas de ventilação, foram adicionados anéis na parte de baixo do guardamão. Isso é para que o calor seja parcialmente absorvido por esses anéis.

Soldados chineses treinam com o Tipo 03.

Entretanto, uma peça que não foi das melhores é o quebrachamas. O novo desenho dessa peça visa aprisionar parte das chamas e gases antes de sair. Em tese isso diminui a quantidade de chamas. Entretanto, gera um estampido maior que pode revelar a posição do soldado à distâncias maiores. E além do mais, essa peça se suja com mais facilidade, o que poderá ocasionar acúmulo de sujeira e com o tempo as chamas passa a ser maiores em virtude do casulo não funcionar corretamente.

Visando a exportação, além do calibre chinês, o fuzil é oferecido em 5,56 x 45 mm. Neste caso, o Tipo 03 é oferecido com o carregador padrão STANAG o que implica em um reprojeto do retém do carregador. O Tipo 03 em 5,8 x 42 mm tem um retém do carregador ambidestro, como no modelo AK. A versão em 5,56 x 45 mm adota um sistema diferente de prender o carregador na caixa da culatra. Isso faz com que um retém de carregador seja localizado na lateral do fuzil. No tipo 03 o retém do carregador fica no lado esquerdo do fuzil, entretanto, é um pequeno botão que pode dificultar o seu acesso.

Tipo 03 em calibre 5,56 x 45 mm.

Muito se especulou sobre a adoção desse modelo. Muitos acreditam erroneamente que o fuzil, desde o começo, foi feito visando o mercado externo já que poderiam considerar o Tipo 95 uma arma mais cara e, em virtude das vendas do Tipo 81 ser boas devidas ao seu baixo valor, os chineses partiram para um modelo que fosse mais convencional. A bem da verdade, nunca foi isso. Os chineses não apostaram todas as suas fichas numa única arma, o Tipo 95. Eles deram prosseguimento a um modelo alternativo, visando manter a China com duas armas regulares diferentes, sendo que o Tipo 03 seria feito em quantidade menor. A questão do custo nunca foi o motivo porque os dois blocos em alumínio usinado já encarecem a arma.

No começo dos anos 2000 esse modelo foi enviado às tropas de fronteira para substituir os Tipo 81. E com o tempo, vemos mais outras unidades recebendo essa arma. Não se sabe quantos fuzis ao todo foram produzidos.

 

Tipo 03

Calibre: 5,8 x 42 mm
Comprimento do cano: 455 mm
Comprimento total: 950 mm
Cadência de disparo: 650 dpm
Peso: 3,5 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após apertar o gatilho, o cão bate no percussor acertando a espoleta, o que faz deflagrar o cartucho. Os gases gerados percorrem o cano e entram em um orifício, direcionando os gases para um êmbolo acima do cano. No êmbolo os gases comprimem o pistão, com a energia dos gases faz um curto recuo (por isso que se chama pistão de curso curto), batendo no transportador do ferrolho que está travado à base do cano. Nesse momento, uma trava do ferrolho é acionada e o ferrolho é rotacionado para a esquerda, onde os dois ressaltos se alinham com as duas aberturas da câmara do cano. Com o movimento de retrocesso, ele se solta da base do cano e inicia o movimento para trás.

O extrator expele a cápsula pela janela de ejeção, enquanto vai comprimindo a mola recuperadora para trás. Ao chegar ao final do seu curso, a mola recuperadora começa a empurrar o transportador do ferrolho para frente. Nesse momento, o ferrolho empurra um cartucho do carregador para a câmara do cano, enquanto se locomove para frente. Após isso, os ressaltos do ferrolho passam pelas aberturas da câmara do cano, rotacionando o ferrolho para o lado direito, acionando a trava do ferrolho e travando o ferrolho na base do cano. O fuzil está pronto para o próximo disparo.