HK417 – Parte 2

HK417

 

A primeira vez que a HK viu a necessidade de um fuzil no calibre 7,62 x 51 mm foi quando o US SOCOM pediu em 2003 um fuzil de assalto para tropas especiais. Na época a HK participou com o XM8R. Embora a arma fosse a mais bem avaliada, ela perdeu a concorrência porque não tinha uma versão no calibre 7,62 x 51 mm, sendo este um dos requisitos do programa. Só com um modelo em 5,56 x 45 mm, ela perdeu para o FN SCAR que oferecia o modelo em ambos os calibres. Ao contrário do que se pensa, uma versão do HK416 em 7,62 x 51 mm nunca fora um pedido do Delta Force. Ainda na época do HKM4, já se pensava em adaptar o calibre citado na plataforma nova. Algumas empresas estavam lançando clones do sistema M16 em 7,62 x 51 mm e a HK, ainda em 2003, já pensava numa versão assim. Com o HK416 amadurecido e sendo bem avaliado o suficiente para ser uma nova plataforma, a HK fez então uma nova versão em calibre 7,62 x 51 mm.

 

Em julho de 2005 é apresentado o HK417. Esse primeiro modelo era como o HKM4, um protótipo demonstrador de tecnologia. A adaptação era para ver como seria o conceito dessa plataforma no novo calibre. A HK usou o carregador do G3, isso fez com que a caixa da culatra fosse adaptada para o carregador diferente do padrão STANAG. Embora o retém do carregador do modelo M16 funcionasse, ele ainda tinha o retém ambidestro do carregador do G3, aquela tecla localizada bem atrás do carregador. Até a empunhadura era da M4 porque era da fase de embrionária do HKM4. Ou seja, desde cedo já se pensava em uma versão em 7,62 x 51 mm. Após os testes iniciais, a arma é refinada para chegar ao modelo da 1ª geração.

HK417 – Protótipo.

Essa nova versão é apresentada em 2008 e nada mais é do que um HK416 adaptado para o calibre 7,62 x 51 mm. Comandos, trilhos, botões, coronha, tudo é igual. Apenas tendo dimensões diferentes na caixa da culatra e suas peças internas. Em virtude da maior energia do recuo do calibre 7,62 x 51 mm, a mola recuperadora é mais rígida. Usa-se a empunhadura levemente diferente, mais ergonômica. O carregador passa a ser diferente do modelo do G3, usando um polímero semitransparente. Isso é curioso porque o design do encaixe do carregador do G3 torna mais fácil a troca de carregadores. O retém ambidestro do G3 é retirado e volta ao padrão normal da família M16.

HK417.

O modelo era oferecido com três tamanhos de canos. De 304 mm, 406 mm e 508 mm de comprimento. Os fuzis tinham os respectivos pesos de 3,8 Kg, 4 Kg e 4,2 Kg. Isso dava aos soldados uma maior versatilidade de emprego, sendo os fuzis usados como armas para missões CQB, fuzil de batalha, DMR e tiro de precisão. O perfil da missão tinha que ser levado em conta com muito critério. Embora de calibres iguais, o desempenho poderia cair em canos diferentes. Por exemplo, em um cano de 304 mm, o projétil saía a 705 m/s. Em um cano de 406 mm, o projétil saía a 750 m/s e em um cano de 508 mm, o projétil saía a 795 m/s. Desta forma era importante ver qual fuzil para qual missão.

HK417.

Em 2009, é lançado na Alemanha o programa G27, que visava um fuzil DMR e o HK417 participou dessa concorrência. A arma, assim como o HK416, não apresentou panes, se mostrou simples e mais resistente. Entretanto, foi desclassificado no programa porque a precisão não preenchia os requisitos necessários. Ainda era muito cedo para o HK417 participar desse tipo de programa uma vez que, embora pronto, ainda necessitava de aprimoramentos.

HK417 do programa 27.

Com o sucesso do HK416, o governo americano mostrou interesse no HK417. E em 2012 o US SOCOM demonstrou interesse no HK417. Quando o XM8R perdeu na concorrência de 2003, o FN SCAR tinha saído vencedor com um modelo em ambos os calibres, porém o programa foi cancelado por falta de fundos. Na época o US SOCOM desejava uma arma em 7,62 x 51 mm para as tropas especiais e o modelo da HK se mostrou o que mais agradou. Foram comprados pequenos lotes do HK417 para tropas especiais, sendo que os lotes tinham cano de 304 mm e 406 mm. O fuzil se mostrou um sucesso no Iraque e no Afeganistão.

HK417.

Com base no programa alemão G28, que será mostrado logo mais, a HK lança em 2012 o HK417A2. A arma tinha refinamentos pontuais conforme o HK416A5. Controles ambidestros para o seletor de disparo, reténs do carregador e do ferrolho, trilho picatinny de maior extensão com graduação em números, regulagem do sistema de gás sem o uso de ferramentas, miras fixas retráteis, protetor para o retém do ferrolho no lado esquerdo e um guardamato maior para o uso com luvas.

HK417A2.
HK417A2 DMR.

Se o HK416, um fuzil mais flexível, conseguiu vender bem para 24 países, o HK417 conseguiu a proeza de vender um fuzil não tão flexível para 22 países em tão pouco tempo, quanto se tem uma grande variedade de fuzis 7,62 x 51 mm no mercado.

 

HK417 16.5

Calibre: 7,62 x 51 mm
Comprimento do cano: 420 mm
Comprimento total: 994 mm
Cadência de disparo: 600-650 dpm
Peso: 4,4 Kg
Carregador: 20 cartuchos

 

Como funciona

Após premir o gatilho, o cão acerta o percussor que está localizado dentro do ferrolho e, por sua vez, acerta a espoleta do cartucho. Ao deflagrar, os gases percorrem o cano e entram em um orifício situado na parte de cima do cano. Os gases são captados em um êmbolo onde pressionam um pistão interno. Esse pistão, com a energia dos gases, faz um curto recuo (por isso que se chama pistão de curso curto), batendo no transportador do ferrolho que está repousado na frente por ação da mola recuperadora.

Neste momento, o ferrolho rotativo é rotacionado para a esquerda, destravando-se quando os ressaltos se alinham com a saliência da câmara do cano. Com a força do movimento da pancada do pistão, o transportador do ferrolho, juntamente com o ferrolho, retrocede. O transportador do ferrolho segue um trilho na caixa da culatra que serve como guia para o movimento de retrocesso, comprimindo ao mesmo tempo a mola recuperadora localizada logo atrás. Quando o transportador do ferrolho chega ao seu curso final, essa mola recuperadora impulsiona o transportador do ferrolho para frente, ao mesmo tempo em que coloca um cartucho na câmara do cano. Ao chegar à base do cano, o ferrolho rotativo passa pelos ressaltos do cano e é rotacionado para direta, onde os ressaltos passam pela saliência da câmara do cano, travando o ferrolho ao mesmo tempo. Assim o sistema está apto para o próximo disparo. É o sistema de pistão de curso curto.

 

G28

Embora a Alemanha tivesse no seu inventário o excelente HK PSG1, o G3 era muito usado como fuzil DMR e a Alemanha queria uma nova arma destinada para essa tarefa. Embora o G3 fosse um excelente fuzil, ele estava velho e com uma cadeia logística que seria inviável financeiramente mantê-lo. Assim surge em 2009 o programa G27. Nesse programa visava-se um novo fuzil DMR em calibre 7,62 x 51 mm. Nessa época o HK417 participou mas perdeu no quesito precisão, embora mecanicamente falando a arma fosse excelente. Os fuzis que lograram vitória foram o SIG 751 SAPR e o M110 SASS.

Entretanto, não se sabe como ou por que esse programa foi cancelado, justo no momento que seria decidido por aqueles dois fuzis. Isso deu para a HK tempo e fôlego para refinar o HK417, onde fora mrevistos e corrigidos os problemas do HK417. Em 2011 é aberto um novo programa de aquisição de um fuzil DMR chamado G28. Nesse programa, a HK participa com uma versão refinada do seu HK417. Terminado os testes de avaliação, o HK417 havia logrado sucesso e sendo escolhido como novo fuzil DMR. O novo fuzil da HK passa a se chamar G28.

G28 na fase de testes.

Em menos de um ano esse fuzil foi colocado em ação real com os alemães no Afeganistão. A arma se mostrou excelente e muito confiável. Embora exercesse o papel de fuzil DMR, em caso de necessidade, bastava a troca da mira que o fuzil se tornava em fuzil de precisão. Isso dava muita praticidade no campo de batalha e foi isso que chamou a atenção de todas as tropas aliadas no Afeganistão. Os americanos ficaram surpresos com a qualidade do G28 e tropas americanas testaram o modelo. O G28 tinha uma qualidade tão acima do M110 (que os americanos usavam) que o governo americano anunciou que a partir de 2019 os M110 serão substituídos pelo G28.

O G28 tem algumas peculiaridades que o tornam diferente do HK417. O cano é mais pesado que o cano do HK417. O quebrachamas é maior e largo para dissipar o máximo possível qualquer chama que possa denunciar a posição do atirador. A parte de cima da caixa da culatra não é feita de liga leve e sim de aço. Isso por causa da energia que é jogada no transportador do ferrolho, tornando a arma mais rígida e estável. O cano é de um único tamanho, de 420 mm. E, ao contrário do HK417, não existe a opção automático, somente semi. Não tem sentido o uso de rajadas curtas em armas calibre 7,62 x 51 mm quando se usa uma como DMR. No 3º disparo o soldado já teria perdido a mira, por mais treinado que fosse.

G28 em uso no Afeganistão.

Embora com um cano único, existem duas versões do G28. O standard, G28E2, usa uma mira Schmidt & Bender 20×50 de maior alcance. O seu peso é de 5,8 Kg no total. Essa arma se destina mais a tiros de precisão e DMR. A coronha é retrátil e tem regulador de altura para o descanso da face lateral do atirador. Essa versão mais pesada é destinada às tropas que não irão se locomover por muito tempo, geralmente em posições fixas ou perímetros pertos.

G28 Standard.

A segunda versão é o G28 patrol, o G28E3. Essa versão é um pouco mais espartana. Ela tem uma coronha mais simples. Um guardamão menor, expondo mais o cano. Usa a mira telescópica Schmidt & Bender 8×24, com um alcance menor que o modelo standard. O conjunto todo oferece um modelo um pouco mais leve, de 5,2 Kg. Esse modelo se destina a tropas que fazem longas incursões a pé onde irão caminhar por muito tempo. Surge nessa hora a dúvida, 600 gramas vão fazer diferença?

G28 Patrol.

 

M27

O M27 mostra que necessidades diferentes exigem armas diferentes. Ela surgiu com base na experiência das tropas americanas no Afeganistão e Iraque com a metralhadora leve de apoio M249. Os soldados que usavam a M249 se depararam com uma situação. A dinâmica dos combates exigia muita mobilidade, principalmente em ambientes urbanos. Em campos abertos, a mobilidade se mostrou mais prática ao invés do conceito de posição fixa. O soldado que operasse a M249 tinha de acompanhar a todo o momento a tropa. Carregada, a M249 pesava 10 Kg. O soldado ainda tinha que carregar seu equipamento e a munição dela. Fazer posição de disparo para então se levantar e correr com todos os outros. A arma era grande e volumosa, de tal ordem que não era fácil se locomover com facilidade. Uma arma grande, pesada e volumosa que teria de acompanhar a mobilidade da tropa.

Então em 2009se passou em desenvolver uma arma que provesse fogo de apoio, com precisão, mas que não pesasse tanto e não fosse tão grande e volumosa como a M249. Uma arma mais leve, mais prática, mais maneável e usando o mesmo calibre 5,56 x 45 mm. Nesse ano abre-se uma concorrência para o programa IAR – Infantry Automatic Rifle. Participam a FN SCAR, o Colt M6A4 (M6A4 e não M16A4) e a HK usa como plataforma para o seu modelo o HK416, com cano de 420 mm e peso de 3,6 Kg. Após breves comparações e testes, o modelo da HK havia se mostrado superior. Em 2010 é anunciado que a HK havia ganhado a concorrência onde, em maio de 2010, é denominada M27.

M27.

Os soldados americanos passaram por uma situação vista antes na guerra do Vietnã. O operador do M60 se tornava um alvo prioritário porque os soldados norte vietnamitas distinguiam quem atirava com o M16 e quem atirava com o M60. Levando em conta que a M60 era um perigo maior, os norte vietnamitas focavam o fogo no soldado que estava com a M60. Isso era possível porque, como os combates aconteciam a curtas distâncias, o inimigo conseguia ver quem usava o quê. Os soldados no Afeganistão e Iraque que usavam a M249 passavam pelo mesmo problema quando o inimigo focava fogo neles já que os combates passaram a acontecer a curtas e médias distâncias.

Com a M249, além disso, havia a questão da mobilidade. A metralhadora leve era pesada e volumosa, muito incômoda quando toda a tropa se movia constantemente.  Para piorar, a M249 tinha um problema de precisão. Esse tipo de arma não foi feita para tiros precisos. Porém, em rajadas, a dispersão dessa arma era grande, fazendo com que o soldado disparasse muito para conseguir algum índice de acerto. Mesmo usando miras óticas na M249, não tinha muito que fazer. Assim o soldado tinha uma arma grande, pesada, imprecisa e que em muitas vezes o fogo de supressão não gerava o efeito desejado já que o alcance eficaz não passava dos 200 metros, desperdiçando uma quantidade grande de munição.

É aí que surge o novo conceito da M27. A ideia era uma arma que provesse fogo de supressão, mas que fosse mais leve, mais portável, menor que oferecesse disparos mais precisos. Levando em conta que a M249 usava o mesmo calibre dos fuzis regulares, uma arma menor e com mesmo desempenho não seria mudança traumatizante.

M27.

O conceito era simples. O M27 seria uma arma destinada ao fogo automático, onde se priorizaria as rajadas curtas. Com uma arma mais leve, se tem uma maior dinâmica e mobilidade com a tropa.  Como ela é mais portável, o soldado não fica limitado na sua mobilidade podendo acompanhar os outros soldados sem limitações. Como a arma era mais maneável, os tiros eram mais precisos. O soldado não precisava efetuar longas rajadas para acertar um alvo, bastavam poucos tiros ou rajadas curtas para que acertasse o alvo. Com disparos mais precisos, não havia desperdício de munição. Como o soldado usava uma arma igual aos demais soldados da tropa, o inimigo não saberia qual era o soldado que estava fazendo fogo de supressão. Esse era o conceito do M27.

Para isso o M27 usaria um cano flutuante. Esse tipo de cano é fixado diretamente na caixa da culatra, ele não é amparado pelo guardamão. Isso torna o disparo mais preciso porque ele não sofre interferências do guardamão durante a vibração do recuo. O M27 ainda usaria a melhor opção de mira ótica que fosse conveniente para o soldado. E para a munição, seria usado mesmo carregador para 30 cartuchos que é usado no HK416.  Ao todo o soldado levaria 22 carregadores, totalizando 660 cartuchos. Entretanto, na prática levavam 18 carregadores. Não usavam carregadores C para 100 cartuchos porque eles não estavam prontos, mas hoje (2018) estão testando um carregador circulóide para 150 cartuchos.

M27.

Como era de se esperar, sempre surge muita discussão quando um novo conceito surge. De imediato surgiu o problema. Alto poder de fogo x baixo poder de fogo. Ao contrário do que se pensa, poder de fogo não é a potência do calibre, mas sim a capacidade de munição que a arma pode carregar. A M249 tinha um grande poder de fogo se comparado com o M27. O fogo de supressão exigia alto poder de fogo para manter o fogo contínuo. Isso seria mais difícil com o M27 porque ele teria de trocar o carregador a cada 30 disparos. Esse movimento de troca é o suficiente para limitar o fogo de supressão.

Por outro lado, se dizia que, com o fogo de supressão com alto poder de fogo, se tinha um grande desperdício de munição, exigindo muitos disparos para algum acerto. Com o M27, não haveria desperdício de munição porque os disparos eram mais precisos. Levando em conta as distâncias que o fogo de supressão era usado, com o M27 a precisão seria maior ainda. Uma comparação mostrou que, para cada acerto de M27, a M249 teria de fazer seis disparos a mais para ter o mesmo índice. Cabe dizer que nem todos os M249 serão substituídos pelo M27 porque a marinha americana quer manter uma arma capaz de prover fogo automático por mais tempo.

M27.

Logo entrou em uso real no Iraque e Afeganistão. De imediato os soldados não gostaram do M27. Eles alegavam que o carregador para 30 cartuchos não oferecia o mesmo poder de fogo da M249.  A todo instante, tinham de trocar o carregador, sendo que nesse ínterim o alvo ou se escondia ou mudava de posição. A transição de operação não foi tão traumática como se pensava. Por sua familiaridade com os sistemas M16A4 e M4, o aprendizado e treino foi mais simples e rápido, já que os botões e operação eram praticamente os mesmos.

Depois com o tempo viram que, com maior controle da arma, os tiros passaram a ter rajadas curtas com mais acertos que a M249. Mudou-se a forma de disparar. Não se dispara mais no automático “a la Rambo”, mas sim rajadas curtas e mais precisas que tinham mais impacto que a M249. A praticidade foi tamanha que o M27 também passou a ser usado como DMR. A arma se mostrou muito mais prática do que se pensava. Desta forma a mesma arma podia trabalhar com valores diferentes de alcance. Para fogo de supressão, tinha um alcance eficaz de 200 metros, que era o mesmo alcance da M249. Como fuzil de assalto e rajadas curtas com a arma apoiada, o M27 tinha alcance de 350-500 metros. E usando mira telescópica para a função DMR, o fuzil podia alcançar até 800 metros. Não deixa de se curioso que essa praticidade faz lembrar a 2ª versão do XM8 de cano de 20 polegadas, na qual podia exercer a função de DMR como metralhadora leve de apoio.