SCAR – Parte 1

O SCAR é o melhor fuzil do mundo? É claro e cristalino que não. É um fuzil de assalto feito para substituir vários fuzis de assalto diferentes, impossibilitando uma plataforma perfeita para todas as tarefas. Entretanto, é um dos melhores fuzis da atualidade pelo fato de que ele foi concebido com base em requerimentos testados e corrigidos em combate. Isso só vimos uma única vez na história quando a Alemanha desenvolveu o fuzil de assalto no começo dos anos 40. O SCAR é sem dúvida um dos fuzis referências hoje no mercado.

 

Origens

Os EUA, assim como todos os exércitos antes da virada de 2000, não tinham pensado em usar armas iguais em plataformas iguais em suas operações. Os EUA usavam uma miríade de armas diferentes, de diferentes produtores, diferentes calibres, diferentes mecanismos de operação e diferentes métodos de produção. Isso não era um erro ou falta de visão, mas sim uma cultura da época já que cada exército determinava quais armas eram as melhores para eles e como elas deveriam ser usadas. Isso permitia o uso de armas diferentes que muitas vezes eram usadas no mesmo propósito ou mesma missão. A plataforma primordial dos EUA sempre foi a família M16 em suas mais variadas versões. Desde os anos 60 até hoje essa plataforma é usada.

Nos anos 60, o M16 era considerado moderno, mas hoje já não tem mais a mesma fama. Diante dos fuzis de assaltos mais modernos, os americanos viram que o M16 estava ficando para trás. Ainda nos anos 90 muitas coisas tornavam o M16 uma plataforma um pouco atrasada. Os americanos já não mais gostavam do uso direto dos gases. Esse sistema fazia com que uma grande quantidade de gás quente, junto com fuligem e sujeira entrasse no corpo da arma que, com o tempo, gerava uma série de panes. Não gostavam também na necessidade de tirar a arma da posição de disparo para acionar a alavanca de manejo. Ainda mais, o sistema de uso direto de gases limitava o projeto da arma, já que havia a necessidade de uma determinada distância para o orifício de captação dos gases pela grande quantidade de gás que o sistema usava, o que limitava o comprimento do cano e sua operacionalidade. Quando mais curta fosse a distância, mais sujeira era jogada dentro da arma.

O M16A1 ainda era usado pelos EUA no começo dos anos 90.

Isso fez com que o U. S. Special Operations Command – USSOCOM, também conhecido como SOCOM visse que era hora de partir para uma nova plataforma, mais moderna, mais prática e que combinasse com os novos combates que os EUA se deparavam pelo mundo afora. Tudo começou em fevereiro de 2002, quando o SOCOM emite para várias empresas um requerimento de um fuzil que atendesse as novas necessidades. O estudo visava novas armas para o Special Operations Forces Combat Assault Rifles, onde no início era chamado de SOFCAR. Esses requerimentos foram enviados para várias empresas de armas em agosto de 2003.

Aqui há um ponto que poucos sabem. Desde o lançamento do requerimento até as respostas finais, as empresas procuradas e o SOCOM trocaram muitas informações conjuntas. Isso fez adequar os requerimentos para exigências mais fáticas e exequíveis. Essa troca clara de informações fez surgir o requerimento final em janeiro de 2004. As armas a serem substituídas seriam a M4A1, MK12, MK18, M14 e MK11. Como elas usavam o calibre 5,56 x 45 mm e 7,62 x 51 mm, ficou estabelecido que o fuzil deveria ser modular, usando esses dois calibres e com o uso de trilhos picatinny na arma. As missões seriam para curtas, médias e longas distâncias.

Fuzil MK18 operado pela marinha dos EUA no Afeganistão.

As empresas que participaram foram a FN Herstal, Colt, Knights Armament Co. (KAC), Lewis Machine & Tool (LMT), Cobb M., Diemaco e Robinson Armament. Após uma avaliação entre os modelos, a FN fora selecionada em novembro de 2004 com o SCAR, onde programa SOFCAR é resumido para SCAR. A FN lança então o FN SCAR. Pelo rápido tempo de avaliação, se suspeitou se a FN estava sendo favorecida. Algumas empresas tinham modelos simples que, mesmo que ganhassem, não poderiam colocar seu modelo em escala industrial. Outras empresas, como a Colt e Cobb, tinham condições inequívocas de ter um modelo para ser produzido em grande escala.

Ainda mais grave foi com a HK. Ela tentou participar do programa com XM8-R, um XM8 adaptado com trilhos picatinny. O fuzil foi testando antes de ser enviado para avaliação. Foram feitos todos os manuais técnicos, as especificações, tudo. Entretanto, na véspera da apresentação, a HK foi impedida de entrar com o XM8-R sob a alegação que era o governo alemão oferecendo essa versão quando o correto seria que uma empresa, de forma independente, oferecesse um modelo. Não havia sentido porque, embora tivesse apoio do governo alemão, a HK continuava sendo uma empresa independente nos EUA, assim como era, e é, a FN, uma empresa belga com atuação nos EUA. De uma forma ou de outra, o SOCOM havia preferido o FN SCAR.

 

Desenvolvimento

A ideia do SCAR sempre foi única. Uma plataforma em que permitiria ao soldado configurar o fuzil como melhor lhe conviesse. Uma plataforma em que bastasse a troca do cano para se inserir no perfil da missão. Acessórios seriam acoplados em qualquer fuzil. Desta maneira, a modularidade ditava que a facilidade da troca do cano em uma plataforma igual aos demais fuzis geraria uma arma que substituiria todas as outras plataformas diferentes para as diferentes missões.

Desenvolver o SCAR não foi uma das tarefas mais fáceis. Uma única plataforma deveria substituir outras plataformas. Aqui falamos de canos diferentes, calibres diferentes, carregadores diferentes. Isso implica em energias diferentes, energias estas geradas pelo disparo, onde cada calibre trabalha com pressões diferentes que incidem em todo o conjunto da arma. Some-se a isso uma única plataforma desempenhar tarefas diferentes. Isso mostra que não é fácil fazer um fuzil para vários papéis.  Por mais que os engenheiros trabalhassem a teoria, a prática poderia ser diferente.

O FNC foi a base de onde surgiu o SCAR.

Os primeiros modelos do SCAR, mesmo os protótipos, foram feitos em pequenas quantidades. Isso não era por redução de custo. À medida que o protótipo ia sendo testado, o feedback serviria de base para as próximas alterações necessárias. Necessárias porque o conceito de uma única plataforma exigia que tudo funcionasse perfeitamente quando houvesse a troca de canos ou de calibres. Não é uma comparação direta, mas a única vez que vimos isso na história foi quando os alemães desenvolviam o StG44, a cada novo lote, pequenas modificações eram feitas em virtude do feedback das versões anteriores usadas em combate.

A base da 1ª geração do SCAR foi o FNC. Isso não é um segredo. Os belgas queriam simplicidade e funcionabilidade no mecanismo de disparo e eles conseguiram com o FNC ao adotar o mesmo sistema de pistão do AK-47, entretanto, adaptado para o FNC. Esse sistema no FNC de pistão de curso curto se mostrou muito confiável e a base para o projeto foi essa. Entretanto a FNC não faria uma cópia direta. Fizeram um fuzil parecido, com um bloco de metal preso diretamente ao transportador do ferrolho, com a mola recuperadora atrás do ferrolho. Esse desenho diferente também tinha a alavanca de manejo solidária ao transportador. Isso simplificava a operação do fuzil, simplificava a manutenção e barateava o custo de produção.

SCAR-L. 1ª Geração.

Essa primeira versão do SCAR tem certa semelhança com o FNC no quesito layout. Embora com uma empunhadura diferente, quase igual a da FN Minimi, o conceito era quase o mesmo. A parte de cima da caixa da culatra era em metal estampado enquanto que a parte debaixo era um bloco de liga de alumínio usinado, tal qual no FNC. A coronha era rebatível e retrátil, um dos requisitos do SOCOM era uma coronha flexível no comprimento para soldados de diferentes estaturas. O modelo tinha o amplo uso de trilhos picattiny, um grande na parte de cima do fuzil, um médio sob o guardamão e dois trilhos pequenos nas laterais.

Como era requisito de uma plataforma para dois calibres diferentes, a FN classificou os modelos como FN SCAR-L MK16, L de “light” para o calibre 5,56 x 45 mm, e FN SCAR-H MK17, H de “heavy” para o calibre 7,62 x 51 mm. Ainda não havia um nº exato para o comprimento dos canos porque nessa fase de avaliação ainda formulariam os tamanhos exatos para a futura produção em série. Esses modelos do SCAR tinham uma coronha rebatível que foi considerada complexa e um tanto frágil, de material fino. Além disso, a FN instala como acessório uma empunhadura dianteira vertical em que, dentro dela, se tiravam duas hastes para servir como bipode. O conceito era muito bom, mas em testes os soldados notaram que essa peça era frágil e as hastes se soltavam com o tempo.

SCAR 1ª Geração. Em cima em calibre 7,62 x 51 mm e embaixo em calibre 5,56 x 45 mm.

Essa fase mostrou como era a relação entre os soldados e a FN. Havia um contato direto entre os soldados que testavam os modelos com os engenheiros da FN. Cada feedback era anotado e levado em consideração. Tanto o pessoal da FN americana como da FN belga levavam tudo em consideração. A cada alteração sugerida no projeto, essa alteração era enviada para a FN americana e a FN belga. Eles então comparavam e confrontavam as alterações para ver quais eram possíveis e quais não eram. Isso fazia com que as alterações fossem feitas somente em caso de utilidade que fizesse diferença.

SCAR 1ª Geração.

Essa troca de informações fez com que a FN fizesse uma 2ª geração do SCAR que é apresentada em 2006. Nessa nova versão a FN busca sair um pouco do layout do FNC e parte para o layout mais próximo do M16. Isso ocorre porque os soldados que testaram a 1ª versão diziam que o HK416 era melhor porque seus comandos se assemelhavam mais ao M16A4 e M4A1, já que estavam acostumados com eles. A FN segue o mesmo caminho e deixa os comandos mais próximos do modelo americano. A principal diferença estrutural é quanto à parte de baixo da caixa da culatra. Ao invés de um bloco de alumínio usinado passa a ser de polímero, mais resistente e barato, dando maior leveza ao fuzil. Costumamos distinguir a caixa da culatra em duas partes, a de cima e a de baixo. No SCAR a parte de cima é feita em metal estampado de alumínio, enquanto que a parte de baixo é feita com polímero.

SCAR – 2ª Geração.

No caso do SCAR, a FN não considera a parte de baixo do fuzil como parte da caixa da culatra. Para eles a culatra é somente a parte de cima, enquanto que a parte de baixo eles designaram como grupo do gatilho, uma vez que essa parte aloja somente isso. Trata-se de uma questão puramente de marketing porque há décadas que se usam os termos parte de cima e parte de baixo da caixa da culatra. Também é alterada a empunhadura, adotando o modelo do M16 para tornar a transição mais fácil para o SCAR. E, além disso, também é feita uma nova coronha rebatível. Ela ficou mais prática e fácil de usar.

A troca do cano ficou mais fácil de fazer. Na 1ª geração, a ideia era a troca de cano em 5 minutos. Entretanto, o soldado levava em média 20 minutos para fazer esse procedimento. Com a 2ª versão o soldado ainda não consegue trocar o cano em 5 minutos, mas em um tempo bem menor que na versão antiga. A 2ª geração traz também duas novas cores, verde ou bege. Ocorre que um fuzil totalmente preto faz com que o soldado seja descoberto por algum observador inimigo. Um fuzil em um tom mais neutro ajuda a camuflar a posição do soldado a médias e longas distâncias.

SCAR - 2ª Geração.

Assim como na 1ª geração, há uma constante troca de informações entre os soldados e os engenheiros da FN. Muita coisa foi pedida para ser alterada, mas alteraram somente o que poderia ser de útil à maioria dos soldados e não a alguns. Ocorre que nas avaliações, com a possibilidade de opinião e alteração, muitos deixaram se levar, esquecendo a plataforma em sim e apontando melhorias pontuais que exigiram uma alteração mais custosa para o projeto. A FN teve de filtrar todos os feedbacks e assim, trabalham em mais uma nova geração.

Durante a avaliação da 1ª e 2ª geração do SCAR, as armas foram enviadas para testes de campo em território americano e belga, onde foram submetidos em todas as condições adversas. Assim como foram enviados para avaliações por tropas em combate real no Afeganistão e Iraque. De 2004 a 2006, os soldados em combate real faziam relatórios detalhados que iam diretamente para os engenheiros da FN que, por sua vez, eram repassados para a FN belga e americana. A meta com o SCAR era um cano mais resistente. Ele era forjado a frio, o que dá maior dureza a ele e a meta era de 15.000 disparos sem o fuzil apresentar problemas de quebras e fadigas de materiais. Pode parecer pouco mais são muitos disparos com mesmo cano porque a energia de cada disparo é transmitida a toda arma. Além disso, a versão MK16 e MK17 tem um alto índice de comunalidade, de 83%. Para uma plataforma modular de calibres diferentes, isso é um feito porque no projeto é calculado como as energias diferentes irão atuar com peças diferentes.

SCAR - 2ª Geração.

Levando em conta a comunalidade de peças, isso faria o treinamento e capacitação do soldado ser mais rápido do que com os outros fuzis. Cada soldado poderia treinar com a mesma arma mas usando canos diferentes. O soldado poderia treinar para combates normais, para combates CQBs e combates a médias e longas distâncias, como atiradores de elite ou atirador DMR. Não haveria mais a necessidade de um soldado treinar para cada um desses perfis de operação. Cada soldado poderia desempenhar o mesmo papel. Isso significa um treinamento menor e com maior capacidade.

 

FN SCAR

Em 2007 é apresentada a 3ª geração SCAR. Essa geração do SCAR é a que será produzida em massa e pouco difere da 2ª geração. Aqui temos uma nova coronha rebatível retrátil com 6 posições, enquanto que o modelo anterior tinha 4 posições. É adotado um novo quebrachamas e finalmente se tem os tamanhos exatos dos canos. O SCAR-L MK16 tem 3 versões. CQB, com cano de 254 mm; Standard (S), com cano de 356 mm e Long Barrel (LB), com cano de 457 mm. Já o SCAR-H MK17 consistia no CQB, com cano de 330 mm; Standard (S) com cano de 406 mm e Long Barrel (LB) com cano de 508 mm. Como se nota, a versão em 7,62 x 51 mm exige um comprimento maior de cano para que o projétil tenha maior estabilidade, já que tem massa e velocidade diferente do 5,56 x 45 mm.

SCAR-L – 3ª Geração.

Em dezembro de 2007 começavam os primeiros testes operacionais nas mãos de várias tropas especiais em combate real com esse modelo de produção. Embora de produção, esse lote serviu para que o próximo lote recebesse melhorias pontuais no fuzil. É por isso que o SCAR tinha uma produção pequena, para que os próximos lotes viessem com possíveis melhorias. Esse primeiro lote foi de 850 fuzis. Não se sabe com exatidão a quantidade dos outros lotes produzidos. Mas no começo do programa, a meta era comprar 120.000 fuzis MK16 e 40.000 fuzis MK17. No final, nada disso aconteceu.

O SCAR é uma plataforma e, como tal, não irá diferir muito das outras versões de canos de diferentes comprimentos e calibres diferentes. O SCAR é um fuzil de assalto de ferrolho rotativo que usa o mecanismo de pistão de curso curto. Era a forma de fazer frente às limitações e problemas que o sistema de uso direto de gás impunha e que era a principal fonte de problemas do M4A1 e M16A4. A ideia tomada do FNC diferencia no formato do prolongador do transportador do ferrolho e pelo fato que a mola recuperadora fica atrás do ferrolho.

SCAR-H – 3ª Geração.

O transportador do ferrolho é uma peça diferente. Na frente do transportador há um prolongador. Como se fosse um bloco de metal e está preso diretamente ao transportador. Essa parte fica acima do cano e dentro do êmbolo de gás. No SCAR, os gases, ao passar pelo cano, entram no êmbolo e acionam um pequeno pistão. Esse pistão bate no prolongador do transportador, esse bloco de metal que, por sua vez, locomove o transportador para trás, em uma peça única. Isso dá maior simplicidade e confiabilidade ao mecanismo de disparo.

O prolongador recebe parte da energia do recuo, o suficiente para o sistema funcionar, mantendo a arma limpa e mais refrigerada. A título comparativo. No sistema de gás direto, usado no M4A1 e M16A4, os gases do êmbolo vão diretamente ao transportador do ferrolho, locomovendo o ferrolho para trás. Isso faz com que dentro da caixa da culatra entre todo o gás quente da deflagração. Junto desse gás vem sujeira, umidade e a fuligem dos resíduos químicos do propelente. Isso faz esquentar a arma e sujar com muita facilidade. Isso foi o foco de problemas da família M16, onde costumeiramente tem se um índice de panes maior que fuzis de assalto que não empregam esse sistema.

 

SCAR-L. Long Barrel LB.

Um dos pontos que o SCAR mais chama a atenção é baixo recuo, tanto no calibre 5,56 x 45 mm como no 7,62 x 51 mm. Isso se dá pela ação do prolongador do transportador que recebe parte da energia do pistão que, por sua vez, já é menor em virtude de parte dos gases sair por um orifício na ponta do êmbolo de gás. Isso torna o SCAR um fuzil leve e com um recuo menor se comparado com outros fuzis de mesmo calibre e comprimento de cano. Isso torna os disparos mais precisos já que a dispersão é menor. O baixo recuo permite que o soldado mantenha a mira sobre o alvo a cada disparo. Além do mais, como o soldado tem um maior controle do recuo, o treino do soldado é menor e mais econômico, isso segundo a ótica da FN. Como o soldado pode controlar melhor o recuo, ele não precisa de tantos disparos para ter controle e capacitação com o fuzil, isso pode ser conseguido com menos disparos. Esta filosofia é algo que abre discussão em todos os exércitos.

SCAR-H.

O que gera maior precisão também é o cano flutuante do SCAR. O cano flutuante é preso diretamente na seção da caixa da culatra e não tem amparo no guardamão. Isso significa que, a cada disparo o cano não sofre ingerência pelo guardamão. Muitas vezes, o amparo do guardamão no cano, com o tempo, tende a desequilibrar o cano por ação do recuo, já que o soldado segura o guardamão a cada disparo. Como o cano flutuante não tem ligação com o guardamão, o cano não sofre interferência, gerando um disparo mais preciso. Isso é importante porque o fuzil é leve. A versão standard com cano de 356 mm pesa 3,3 Kg. Isso se deve pelo amplo uso de materiais compostos como o polímero. A parte debaixo da caixa da culatra é feita de polímero ao invés de metal usinado. Isso dá maior leveza para o fuzil gerando maior conforto para o soldado. O mesmo foi feito com a empunhadura. Ela segue o mesmo modelo do M16 mas suas dimensões são um pouco diferentes, ela é um pouco mais larga, dando maior firmeza quando o soldado empunha o fuzil.

Como o fuzil tem um recuo relativamente menor, a FN tomou mais liberdade quanto ao quebrachamas. Nas versões anteriores, o quebrachamas no formato gaiola, além de dissipar as chamas tinha também o efeito compensador, para atenuar parte da energia que faz o cano do fuzil levantar a cada disparo. Como o SCAR tem um recuo um pouco menor, a FN teve mais liberdade para resolver o problema das chamas dos disparos. Essas chamas podem denunciar a posição do soldado ao inimigo. O modelo anterior funcionava, mas não de forma satisfatória. Para isso, a FN adota outro modelo de quebrachamas, no formato bico de pato. Esse sistema dissipa mais as chamas, não necessitando tanto do efeito compensador.

Soldados treinam com SCAR. Note o silenciador no modelo H.

Outra alteração que ajudou muito em combate foi a posição da alavanca de manejo. Sistemas como M4A1 e M16A4 tem a alavanca atrás da massa de mira. Caso o soldado tenha que acioná-la, terá que sair da posição de disparo. Com o SCAR ela fica do lado esquerdo do fuzil, sendo que essa alavanca é solidária ao transportador. A cada disparo ela move junto com a peça. Caso o soldado queira, poderá colocar no lado direito da caixa da culatra, mas para isso, terá que desmontar o fuzil. Ao lado da janela de ejeção tem um defletor de cartuchos. Como o ferrolho é praticamente o mesmo da família do M16, o extrator puxa com muita força a cápsula deflagrada, o que pode fazer acertar a cara do soldado em algumas vezes. O defletor vai fazer a cápsula ser ejetada para frente.

Temos que notar que a FN não adotou o botão de fechamento do ferrolho, como existe no M4A1 e M16A4. O fechamento manual do ferrolho quando algo o está obstruindo não é uma das ideias mais inteligentes a se fazer. O próprio pai do M16, Eugene Stoner, era contrário a esse botão, sendo que foi uma obrigação do exército americano e não ideia da ArmaLite. No SCAR esse dispositivo não foi usado e, como o SCAR ganhara a competição, é sinal que nem mais o exército americano adota essa ideia. A alavanca de manejo solidária muitas vezes dá a ideia errônea de que serve para fechar manualmente o ferrolho. O princípio continua sendo o mesmo e fechar um ferrolho quando algo o obstrui é procurar problemas. A alavanca de manejo solidária existe para simplificar a operação do fuzil, simplificar a sua produção, barateando o fuzil.

O retém do carregador é ambidestro e fica na mesma posição da família M16, acima e à frente do guardamato. O retém do ferrolho segue o mesmo caminho, entretanto, não é ambidestro. Ele fica na mesma posição do M16, no lado esquerdo acima do retém do carregador. Por ser uma peça mais protuberante, quando o soldado faz a troca do carregador, ele bate com a palma da mão no retém do ferrolho, alimentando e preparando a arma para o próximo disparo.

SCAR-L – Close Quarter Combat.

A FN recebeu muitos feedbacks na fase de desenvolvimento do fuzil, principalmente quanto à sua coronha mas, ao que consta, essa parte do fuzil não recebeu a devida atenção. A coronha é rebatível para o lado direito, assim como também é retrátil com 6 posições. Essas posições não formam um leque de perfumaria. Isso visa que cada soldado use no comprimento ideal de seus braços. Quanto mais correta a postura, mais preciso pode ser o disparo. Por um botão o soldado ainda pode controlar a altura do apoio da face do rosto. Isso é muito útil quando o soldado está fazendo a mira a distâncias maiores. Além disso, caso o soldado use vestimentas balísticas e correias, a distância entre o ombro e a arma é menor, assim o soldado pode diminuir o comprimento da coronha para compensar.

Entretanto, desde o começo do programa SCAR, essa peça foi considerada frágil. A FN queria um fuzil mais leve e para tanto usaram plástico mais fino na coronha. As peças que formam ela são de plástico e borracha, não muito indicado para essa parte do fuzil que geralmente é que recebe mais pancadas. Quando o soldado tem a coronha rebatida e vai colocar na posição normal, ele tem que fazer com força para que a trava de plástico funcione porque algumas vezes ela não trava na primeira tentativa. Ao fazer isso com força toda vez que for rebater a coronha, com o tempo, a trava se quebra por ser uma peça fina de plástico.

O seletor de disparo do SCAR é ambidestro e está localizado na mesma posição do M16, acima da empunhadura. Os testes com os modelos da 1ª e 2ª geração mostraram um problema. Ao usar o 1º dedo no seletor, no outro lado da caixa da culatra, o seletor também se movia do outro lado. O problema era que ele batia no 2º dedo quando o seletor era usado, atrapalhando o soldado quando tinha a posição de tiro. O seletor era considerado grande e toda vez que era acionado o soldado tinha que afastar o dedo do gatilho para ter espaço de movimento. Isso foi um problema e foi solucionado na 3º geração do SCAR.

SCAR-H. Note o conjunto de miras.

Para solucionar isso, no lado direito, o seletor foi encurtado de tamanho sem perder a sua funcionabilidade. No lado esquerdo o tamanho era normal e no lado direito era menor. Ao ser usado, o seletor não batia mais no dedo do gatilho. Esse é um problema porque a posição do seletor no grupo do gatilho não poderia ser alterada sem a revisão total desse grupo. Mesmo assim o seletor é mais prático que o seletor do M4A1 e M16A2. Enquanto que estes fuzis tem um seletor que exige um giro de 180º para auto, semi e travado, o SCAR tem um giro de 90º, algo muito mais prático e simples.