AR 70

A Itália demorou em adotar o calibre 5,56 x 45 mm como calibre regular. Ela saiu do pós-guerra combalida, com uma capacidade industrial limitada e economia colapsada. A Itália não podia em curto prazo desenvolver seu próprio armamento, embora tenha uma centenária tradição na produção de armas de fogo. Ela demorou em desenvolver um fuzil de assalto e, quando conseguiu, fez um modelo simples e eficaz, que no final serviu de meio termo para que um novo fuzil de assalto fosse desenvolvido. Mesmo assim, mostrou que a Itália mantinha sua capacidade criativa na pesquisa e desenvolvimento de armas de fogo.

Origens

Terminada a 2ª G. M., a Itália ainda levaria um bom tempo para se recuperar economicamente e adequar a sua indústria com os novos paradigmas que surgiram a partir dos anos 50. Isso refletia na sua indústria bélica que teve que andar a passos curtos. Ela começou a produzir sob licença o M1 Garand já que seria mais fácil, simples e barato para ela. Quando a OTAN passou a adotar o 7,62 x 51 mm, a Itália não tinha ainda condições de desenvolver o seu próprio fuzil de assalto, pois exigiria tecnologia que ela não tinha e dinheiro que tinha de forma limitada.

A Itália faz uma adaptação do M1 Garand com o calibre 7,62 x 51 mm, fazendo um fuzil de assalto com fogo seletivo e carregador para 20 cartuchos. Isso se deu porque ela já tinha conhecimento com o M1 Garand que ela produzia e assim ficava mais fácil e rápido fazer um fuzil novo sem gastar tanto. Surgia assim o BM59. Ao contrário do que muitos pensam, o BM59 nunca foi um M14 produzido sob licença, mas sim uma adaptação do M1 para o calibre 7,62 x 51 mm com fogo seletivo.

Beretta BM59.

Com o fim da Guerra do Vietnã, os italianos, assim como mundo ocidental, viram a versatilidade do calibre 5,56 x 45 mm. Em 1965, os italianos gostaram muito do M16A1 e queriam produzi-lo sob licença na Beretta. Entretanto, os americanos não consentiram com a ideia, uma vez que os italianos queriam licença para produzir e exportar suas versões locais. Os americanos temiam que a Itália pudesse roubar possíveis clientes e assim negaram a produção sob licença. Como a Itália necessitava de um fuzil de assalto mais leve, e como não poderia projetá-lo sozinho, ela busca algum país que entrasse em um programa conjunto. A Suíça aparece como esse parceiro e, em 1967, eles decidem criar um fuzil de assalto em conjunto.

BM59.

Entretanto, os italianos discordavam dos suíços quanto ao travamento do ferrolho e o sistema de recuperação do transportador do ferrolho. Os suíços queriam uma mola auxiliar atrás do transportador do ferrolho enquanto que os italianos achavam isso desnecessário. Além disso, os suíços defendiam o trancamento do ferrolho pelo sistema de roletes, enquanto que os italianos queriam um modelo mais simples, como o ferrolho rotativo do AK-47. O resultado foi que houve uma cisão entre eles e cada um continuou com o seu programa de forma independente.

 

AR70

Os italianos passaram a moldar o fuzil conforme as suas necessidades depois que romperam com os suíços. Em 1972, é apresentado o AR70, um fuzil de assalto italiano no calibre 5,56 x 45 mm, feito em metal estampado. Se olharem, verão que o AR70 e SIG 530 são armas muito semelhantes, mas diferente por dentro. Como foram desenhadas em conjunto, essas armas praticamente são iguais por fora mantendo a mesma filosofia quanto ao emprego do transportador do ferrolho e ferrolho e a forma de uso do gás.

AR70.

O AR70 foge do tradicional desenho de fuzil de assalto, onde temos o transportador do ferrolho e atrás dele a mola recuperadora. Embora na fase embrionária do AR70, quando ainda junto dos suíços, o AR70 foi muito influenciado pelo AK-47 quanto à simplicidade da arma, mas mesmo assim os italianos viram que ela poderia ser mais simples ainda. A mola recuperadora do AR70 não fica atrás do transportador do ferrolho. Ela fica envolta do pistão que está dentro do êmbolo de gás. Essa mola serve como mola recuperadora e mola de acionamento da alavanca de manejo.

Levando em conta o AK-47, o mecanismo de disparo emprega o pistão de curso longo. Dentro do êmbolo há um longo pistão que é preso ao transportador do ferrolho, embora possa ser desacoplado. Os gases comprimem esse pistão que recuo em uma distância maior para parte de trás do fuzil. Como o transportador do ferrolho está preso ao pistão e este está preso na grande mola recuperadora dentro do êmbolo, não há a necessidade de uma mola recuperadora atrás do ferrolho porque a mola recuperadora está ligada ao pistão e transportador do ferrolho, de tal ordem que funcionam como se fosse uma peça única. Isso dá maior simplicidade para a manutenção e produção do fuzil. Se olharem bem, verão que no AR70 a mola recuperadora não empurra o transportador do ferrolho para frente e sim o puxa para frente.

Demonstração do AR70.

O ferrolho do AR70 é muito parecido com o do AK-47. É um ferrolho rotativo com 2 grandes ressaltos. Isso leva a crer que é uma cópia do AK-47 quando na verdade não é. É um erro comum ver por aí a menção de que o ferrolho rotativo é uma cópia do ferrolho do AK-47, A bem da verdade, é uma cópia do sistema M1 Garand e do fuzil tchecoslovaco ZK 420. Mas por que os italianos adotariam um modelo mais antigo? Ocorre que quando analisaram e testaram o M16 com ferrolho rotativo, perceberam que em condições de estresse ou de leve sujeira, os ressaltos do ferrolho não se alinhavam com as ranhuras da câmara do cano. Isso fazia com que o soldado executasse novamente a ação de puxar a alavanca de manejo para tentar fechar o ferrolho.

AR70.

Para tanto, os italianos usam no AR70 um ferrolho rotativo de 2 ressaltos, como no M1 Garand. Isso tornava a arma mais simples e confiável quanto ao seu trancamento. Como não há extensão do cano, as ranhuras ficam diretamente na câmara do cano. A título comparativo, no M16 essas ranhuras ficam numa extensão que é acoplada ao cano. No AR70, como o ferrolho fecha diretamente no cano, a câmara do cano precisa ser reforçada, o que aumenta o peso do cano um pouco a mais se comparado com outros canos que usam um extensor. Não existe um trilho específico para o transportador do ferrolho no fuzil.  Para simplificar a arma, as laterais das paredes da caixa da culatra têm sulcos que servem como guias para o transportador do ferrolho, é por isso que a caixa da culatra tem essa forma mais quadrada.

O fuzil tem um seletor simples no lado esquerdo, com semi, auto e travado. Já o retém do carregador é ambidestro situado atrás do carregador, como no AK-47. Assim como no M16, há um retém do ferrolho acima do retém do retém do carregador. Após o último disparo, o fuzil fica com o ferrolho aberto. Isso dá ao soldado a informação de que acabou a munição e não se trata de uma pane. No AK-47 e seus derivados, após o último disparo o ferrolho fica fechado, fazendo com que o soldado maneje a alavanca para ver se acabou a munição ou se é uma pane. No AR70 o ferrolho fica aberto uma pequena trava do carreador. É a simplificação que o AK-47 deveria ter feito.

A Nigéria é um dos operadores do AR70.

O fuzil tem amplo emprego de plástico de alta resistência da coronha, empunhadura e guardamão. Os primeiros modelos tinham a empunhadura em madeira, mas logo depois foi descartado em favor do material plástico.  Outro resquício da fase embrionária com os suíços que também previam uma empunhadura de madeira. O AR-70 tem o êmbolo dos gases com a parte de cima exposta e ele tem uma chapa mais reforçada. Ele fica parcialmente exposto porque o êmbolo é um dos pontos que faz a arma esquentar por dentro. Com a parte de cima exposta, parte do calor fica de fora da arma. Isso faz com que a arma esquente menos quando usada intensamente. Por exemplo, o M16 tende a esquentar mais na mesma situação.

Uma semelhança do M16 vem com uma tampa de proteção contra sujeira. Mas essa tampa não é para a janela de ejeção e sim o espaço lateral direito que faz correr a alavanca de manejo. Essa parte do fuzil ficava constantemente exposta, como ocorria no AK-47.  Como a alavanca de manejo é solidária ao transportador do ferrolho, a cada disparo ela vai se locomover. Para tanto, os italianos colocaram no AR70 uma tampa acionada por uma mola, protegendo toda essa parte aberta. Após o 1º disparo, essa tampa é aberta e permanece aberta, tendo de ser manualmente fechada caso haja interesse. A janela de ejeção tem uma proteção lateral do transportador do ferrolho. E em se tratando de disparos, o AR70 não necessitava de uma base defletora. As cápsulas deflagradas eram expelidas à direta e para frente a uma distância de 5 metros. Mesmo um soldado canhoto não correria o risco de ter uma cápsula na cara.

AR70.

Assim como os demais fuzis de assalto, o AR70 pode ser usado com uma baioneta ainda pode ser acoplado um bipode e pode ser usada uma granada de boca. O AR70 não tem um regulador de gás. Para fazer o lançamento da granada, há que se usar um cartucho especial só para o lançamento dessa granada. Isso é um ponto ruim porque limita a operação do soldado caso ele tenha que usar o fuzil com munição normal. O fuzil também podia usar miras telescópicas ou miras noturnas com o uso de uma base adaptadora em cima da caixa da culatra. Entretanto, esse sistema era ruim porque depois de alguns disparos havia uma descalibração da mira telescópica por causa da vibração.

Outro ponto negativo era o grupo do gatilho. Era de desenho simplificado e muito parecido com o grupo de gatilho do M16. Entretanto, após muito uso, o cão tendia a bater na mola da trava do gatilho. Com o tempo, essa mola se desgastava e quebrava, fazendo com que o fuzil ficasse inoperante. Outro ponto negativo observado era a forma do retém do ferrolho. Ele era muito exposto e era comum o soldado acionar involuntariamente esse botão quando a lateral esquerda do fuzil encontrava alguma superfície ou pancada.

O AR70 tinha um conjunto de miras graduadas em 150 e 300 metros. Mais que isso era difícil manter um bom agrupamento de disparos com as miras abertas. A alça e massa de mira tinham outra praticidade. Para o disparo de granadas, não havia a necessidade de instalar uma mira especial. Tanto a alça como a massa tinha uma mira específica para a granada, bastando levantá-la e mirar. As miras eram graduadas a 50, 75 e 100 metros. Entretanto, 100 metros era um nº muito generoso. A essa distância a granada praticamente não tinha precisão nenhuma e caía em lugares diferentes.

SC70.

A versão convencional do AR70 tinha uma coronha fixa. A versão com coronha dobrável era SC70, praticamente era a mesma arma com o mesmo desenho interno. Já a versão carabina era a SC 70 Corto. Cabe dizer que o SC significa coronha rebatível. Existe a versão SC normal e SC carabina, mantendo o mesmo nome de SC. Já esta versão, além da coronha dobrável e cano menor, tinha algumas alterações internas. O comprimento do pistão do gás era menor e a mola reforçada. Mesmo assim o recuo era maior não só pelo cano ser menor, mas também pela pancada do pistão no transportador do ferrolho. Fuzis de pistão de curso longo tendem a ter um recuo levemente maior em virtude da grande massa do pistão e grupo do ferrolho que locomove com os gases do pistão.

Esse modelo, em virtude do cano menor, não podia usar a baioneta e muito menos o lançamento de granadas de boca. Tanto a versão carabina como SC, a coronha dobrável foi muito criticada. Era uma peça única de metal em que a soleira tinha uma largura pequena, o que incomodava muito a cada disparo, sem falar que não distribuía bem a energia do recuo. Outro problema era fazer a mira com essa coronha estendida porque esse metal fino não permitia que o soldado apoiasse a face lateral nela.

AR70 com coronha dobrável.

O AR70 tinha um cano de 450 mm de comprimento, com passo de raiamento de 1:12, como exigia a munição 5,56 x 45 mm M193. Isso gerava na boca do cano um projétil com uma energia de 167 Kgfm a uma velocidade de 950 m/s. A título de comparação, a versão carabina SC70 tinha um cano de 320 mm de comprimento. Isso fazia com que o projétil saísse na boca do cano com uma energia de 142 Kgfm a uma velocidade de 885 m/s. Essa é a grande desvantagem do emprego de carabinas, pois, muitas vezes, são usadas como fuzil de assalto, não tendo o rendimento esperado.

SC70 Carabina.

Os italianos queriam uma versão metralhadora leve de apoio e notaram que não foi uma das tarefas mais fáceis a se fazer, a de adaptar um fuzil de assalto para uma tarefa na qual não foi idealizado. Em 1974 surge o AR70/74, uma metralhadora leve. Essa metralhadora se mostrou um problema porque o cano esquentava muito rápido e não tardou para acontecer os primeiros efeitos cookcoff, quando a munição era deflagrada em virtude da alta temperatura do cano. Uma arma de apoio deve ter a maior resistência possível a esse efeito já que a meta é prover fogo automático com maior frequência.

Diante disso, os italianos repensaram essa versão. Em 1978 surge o AR70/78, uma metralhadora leve, com mesmo cano, porém com uma novidade, o cano era de fácil troca. Caso ele esquentasse, o soldado tirava a trava, e rotacionava o cano para o lado esquerdo, isso fazia o cano se soltar da caixa da culatra. Para colocar um novo cano, bastava acoplar na caixa da culatra, rotacionar para a direita e travar. A arma poderia ser usada novamente e esse procedimento de troca durava menos de 1 minuto. Entretanto, a arma ainda tendia a esquentar muito.

AR70-78.

Diante disso os italianos lançam em 1984 o AR70/84, uma nova metralhadora leve. O cano era mais pesado agora, havia um grande guardamão com grandes janelas de ventilação, mantendo o mesmo sistema de troca de cano. A novidade fica quando ao ferrolho. Para evitar o superaquecimento, a arma adota o sistema do ferrolho aberto. A cada disparo, o ferrolho não fica travado na base do cano e sim travado na parte de trás da caixa da culatra. Isso faz com que, a cada disparo, o ar circule entre o cano e a janela de ejeção que estará sempre aberta em virtude do ferrolho estar travado atrás. Embora todo esse esforço seja feito, a metralhadora leve não foi adotado pela Itália.

AR70-84.

O AR70 foi desenvolvido como substituto do BM59. Entretanto, o fuzil não cumpriu essa tarefa. A Itália notou que não poderia fazê-lo em grandes quantidades a ponto de trocar todos os BM59. Desta forma o AR70 se destinou primeiramente às tropas especiais e órgãos de segurança a partir de 1973, embora as armas fossem entregues em maior escala a partir de 1975. A Itália conseguiu poucas vendas externas, em pequenas quantidades para a Jordânia, Sudão e Malásia.

As tropas especiais italianas testaram e usaram o AR70. Com o uso constante e mais intenso, foram notados os primeiros problemas do fuzil. O fuzil funcionava perfeitamente, não tendia a esquentar, tinha uma boa precisão e era fácil de manusear. Entretanto, com o tempo, havia um desgaste maior dos sulcos que guiavam o transportador do ferrolho, com o tempo tendia a quebrar ou se soltar. Os soldados reclamavam que fazia falta o seletor de disparo no lado direito. Embora mais simples, a arma foi considerada menos portável. Quando não usando a bandoleira, os soldados reclamaram que era ruim de carregá-la. O ponto favorável foi o recuo menor e a controlabilidade em rajadas curtas.

 

AR70/90

As origens no AR70/90 vem com a decisão da OTAN em adotar a munição belga SS109 como munição padrão. A Itália usava, como todos os outros países, a munição 5,56 x 45 mm M193 e teria de se adequar às novas exigências do grupo. Os BM59 continuavam em uso e poucos AR70 haviam sido entregues. Diante desse panorama, a Itália opta por abrir uma concorrência para um novo fuzil de assalto para suas tropas. A Beretta passa a refinar o AR70 em 1983, alterando o que fosse possível para tornar o fuzil em uma arma moderna.

AR70/90.

A Beretta é a única empresa italiana a apresentar um projeto próprio. Outras empresas italianas também participam, porém, representando modelos de fuzis de outros países que seriam fabricados sob licença por elas. Desta forma a Franchi representaria o HK G41 e a Benelli representaria o IMI Galil. Em 1985 a fase de testes mostrou que o modelo refinado da Beretta havia ganhado dos outros modelos. Isso mostrava que uma empresa italiana poderia produzir um fuzil de projeto próprio com um mínimo de qualidade.

Apresentado em 1985 e adotado oficialmente em 1988, o AR70 refinado só passou a ser mandado para as tropas em massa em 1990. Nesse ano ele recebe a designação de AR70/90. A antiga versão do AR70 passa a ser denominada AR70/223, em virtude do calibre usado ser o 5,56 x 45 mm M193. A partir de 1990, se passa a substituir todos os fuzis BM59 ainda empregando o calibre 7,62 x 51 mm. A Itália passa a adotar toda sua tropa com um fuzil em 5,56 x 45 mm SS109. Embora muito parecidos, várias peças não são intercambiáveis. Ao todo 20% das peças são diferentes entre o AR70 e AR70/90.

Soldado italiano com um AR70/90.

A mudança mais radical foi quando à caixa da culatra. Antes ela tinha uma forma quadrada com sulcos para o transportador do ferrolho, isso era um problema porque o atrito fazia a peça quebrar ou se soltar. No modelo novo colocaram em cada lado trilhos de aço para o transportador do ferrolho. Isso faz com que a caixa da culatra tenha um formado trapezoidal, dando maior resistência para o conjunto. A caixa da culatra em si fica um pouco mais volumosa. Isso vem ao encontro de reclamações dos soldados quanto carregar a arma sem a bandoleira. Para tanto foi adicionada uma alça de transporte, que é deslocada levemente para a esquerda. Isso faz com que não se altere a alça de mira. O visual pode ser até bizarro, mas completamente funcional.

Embora usando agora uma munição que teria em tese uma trajetória mais plana e maior alcance, os italianos são pragmáticos quanto ao uso dela em combate. As miras do fuzil agora são graduadas em dois números, 250 metros e 400 metros. Os combates mostraram que além dessas distâncias a dispersão dos disparos é muito alta, sendo que a precisão cai drasticamente, não havendo sentido graduações de 600 e 800 metros. Muitos fuzis são graduados em 300 metros e mesmo assim é considerado um nº alto se comparado com os combates reais.

É introduzido um seletor de disparo ambidestro. Entrando na moda do burst do final dos anos 80, o AR70/90 vem de série com 4 opções. Auto, semi, burst de 3 disparos e travado. O sistema de burst não traz nenhuma vantagem para o soldado já que o conceito só é válido para uma cadência de disparo acima de 1.800 dpm, enquanto isso o AR70/90 tem uma cadência de 680 dpm. Entretanto, caso um cliente queira, o fuzil pode ser fornecido com grupos de gatilhos diferentes que permitem um sistema sem burst, sendo auto, semi e travado. Ou um sistema de gatilho com semi, burst ou travado.

AR70/90.

O AR70 foi feito na sua versão com comprimento de cano normal e coronha fixa. Também foi feita a versão com cano normal e coronha rebatível, como o SC 70/90. E foi feita a versão carabina com coronha rebatível, o também SC 70/90. Note que os nomes são iguais. Cabe mencionar que a carabina não podia usar baionetas e nem disparar granadas de boca. A grande diferença está na coronha. Antes, era uma única peça de metal dobrada, muito incômoda, mas barata. Agora os italianos adota uma soleira mais larga, o que ajuda muito no controle do disparo e amortização do recuo. Outra alteração foi a empunhadura. Os soldados que usavam luvas achavam pouco ergonômica a antiga empunhadura, uma forma de linhas, mas retas ajuda melhor quem usa luvas. O guardamato agora também passa a ser dobrado caso o soldado utilize luvas grossas.

Levando em conta a adoção da nova munição SS109, os italianos tiveram de seguir o padrão STANAG de carregadores, usando os mesmos carregadores empregados no M16. O lado ruim é a posição do retém do carregador, que passa a ser na lateral da caixa da culatra. Os soldados italianos disseram que o modelo anterior, atrás do carregador, era muito mais fácil e prático para trocar o carregador. A alma do cano agora passa a ter uma camada de cromo em virtude da maior pressão que o projétil faz pelo maior passo de raiamento, 1:7.

Soldados malteses com o AR70/90.

Uma novidade foi o bloqueio do gás. Caso o soldado use granada lançada pela boca do cano, ele pode bloquear a passagem de gás pelo êmbolo. Para isso não precisa de nenhuma ferramenta. Ao levantar a massa da mira do lançador de granada (que está acoplada junto com a massa da mira normal), a peça automaticamente fecha o tubo de gás. Ao abaixá-la, o tubo de gás é liberado. Assim como o AR70, o AR70/90 ainda usa baioneta, bipode e miras óticas e noturnas, na qual é necessária a retirada da alça de transporte.  Todas as alterações feitas no AR70/90 o tornaram mais pesado. Vazio, agora pesa 4 Kg.

Assim como no AR70, foi feita uma metralhadora leve de apoio, o AS70/90. Com miras graduadas até 800 metros, o fuzil operava com o ferrolho aberto. Aumentava a resistência ao calor evitando o efeito cookoff, mas perdia na precisão em virtude do movimento do ferrolho. O cano era mais pesado, levemente maior e de rápida troca, o que era uma grande vantagem, pois a troca era simples sem a necessidade de desmontagem e montagem do fuzil. Assim como a versão do AR70, essa versão AS70/90 não foi adotada pela Itália. Nos testes ela se mostrou mais instável e os italianos decidiram por comprar a Minimi.

AS70/90. Note o apoio do ombro. Este apoio serve para distribuir melhor o peso da arma.

O AR70/90 foi usado em combate real pelos italianos no Afeganistão com resultados muito satisfatórios. A arma não tende a esquentar em virtude de parte do êmbolo de gás ser exposta e pelo guardamão ter mais janelas de ventilação. A manutenção do fuzil é prática já que sua desmontagem e desenho técnico interno facilita muito isso, sem falar que dentro da empunhadura há um pequeno kit de limpeza. Como o AR70 não foi usado naquele conflito, não há como se fazer uma comparação direta, seja pela arma, seja pela munição diferente.

Os italianos sentiram dificuldade em alterar miras óticas e noturnas sem o uso de um trilho picatinny. Para acoplar uma mira, usa-se uma base pré-fixada onde se acopla a mira, essa base exige a retirada da alça de transporte. Outro ponto negativo foi o lançamento de granada pela boca do cano. Ao contrário do que se pensa, esse tipo de granada é eficaz. Para o seu uso, exige-se que o soldado troque o carregador, feche o êmbolo de gás e use um cartucho especial para isso. Para então depois trocar o carregador, abrir o êmbolo e voltar a usar a arma com munição convencional. Em combates intensos ou em CQB isso gera uma grande limitação na atuação do soldado. Outro problema notado foi o peso. Os italianos acharam o fuzil muito pesado, carregado, ele pesa 4,3 Kg.

AR70/90 com mira ótica acoplada a um trilho picatinny.

O AR70/90 foi comprado pela Itália em um total de 150.000 fuzis. O primeiro lote de 50.000 foi encomendado em 1990 e entregue em 1993. Depois de 1994 outros lotes de outras versões foram feitos. Assim como o AR70, o AR70/90 não viu grandes exportações, geralmente a poucos países, em pequenas quantidades para tropas especiais e órgãos de segurança.

SC70/90. Esta é a versão carabina.

AR70

Calibre: 5,56 x 45 mm M193
Comprimento do cano: 450 mm
Comprimento total: 940 mm
Cadência de disparo: 650-750 dpm
Peso: 3,8 Kg
Carregador: 30 cartuchos

AR70/90

Calibre: 5,56 x 45 mm M855
Comprimento do cano: 450 mm
Comprimento total: 998 mm
Cadência de disparo: 620-680 dpm
Peso: 4 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após o disparo, os gases percorrem o cano e entram em um orifício na altura da mira. Esse orifício direciona os gases para um êmbolo em cima do cano. Nesse êmbolo há um grande pistão que está preso ao transportador do ferrolho. Os gases comprimem esse pistão para trás que, por sua vez, empurra o transportador do ferrolho para trás também. Após o projétil sair do cano e a pressão cair a níveis seguros, a trava do ferrolho é liberada e o ferrolho é rotacionado para o lado esquerdo, fazendo com que seus ressaltos se alinhem com as aberturas da base do cano.

Com o movimento de retrocesso do pistão, o transportador do ferrolho vem junto com ele. Nesse momento, o ferrolho extrai da câmara do cano a cápsula, ejetando para o lado direito, momento este que faz o transportador do ferrolho e ferrolho chegar ao final do seu curso. A mola recuperadora está em volta desse pistão do êmbolo de gás. Como o pistão está preso ao transportador do ferrolho, a mola recuperadora o puxa de volta para frente. Nesse movimento, o ferrolho empurra um cartucho para a câmara do cano. Os ressaltos do ferrolho passam pelas aberturas da base do cano e se rotacionam para o lado direito, travando o ferrolho e preparando a arma para o próximo disparo.