AR-18

O AR-16 e AR-18 surgiram como armas simples. Armas estas que deveriam ser de simples desenho, de simples fabricação, de baixo custo e de simples manutenção. A meta era vendê-la a países com baixos recursos que precisassem de armas modernas. A simplificação do desenho fez surgir uma arma que ainda precisava de melhorias em seu desenho técnico. O AR-16 surgiu praticamente natimorto quando o mundo caminhava para um calibre leve. Para tanto surgiu o AR-18, calçado nesse calibre mais leve. Assim como o AR-16, o AR-18 era uma arma simples visando o mesmo mercado do AR-16. Porém, de desenho simples, faltaram-lhe mais tempo de desenvolvimento, onde o sistema não se mostrou tão eficaz.

 

 Origens

Desde que passou a fazer armas de forma independente após a guerra da Coreia, Eugene Stoner sempre foi fiel ao conceito do uso 7,62 mm em fuzis militares. Foi assim com o AR-10 e com seu novo projeto não poderia ser diferente. Mais uma vez ele tenta fazer um fuzil em 7,62 x 51 mm que é descartado para dar lugar a um fuzil 5,56 x 45 mm mais tarde.

Quando a ArmaLite era ainda uma empresa pequena, ela vendeu os direitos de produção do AR-10 e AR-15 para a Colt, onde passa a ser a detentora dos direitos de patente desses fuzis. As mesmas patentes por sua vez eram usadas também na produção do M16. Isso fez com que Stoner não tivesse mais completo controle de seus projetos caso quisesse explorá-los comercialmente. Enquanto a ArmaLite tinha uma visão direcionada mais às necessidades dos EUA, Eugente Stoner visava exportar seu fuzil de assalto para outros países. Como ele não tinha mais controle sobre o AR-10, ele decide criar  então um novo fuzil em 1955. A meta era desenvolver um fuzil simples e de fácil produção para os países mais pobres que queriam se armar com uma arma moderna. Bem naquela época, o mundo estava avaliando os fuzis de assalto e de batalha com poucos modelos ofertados. Para Eugene Stoner, um modelo mais simples e barato poderia abocanhar parte desse nicho.

Em cima o AR-10 e embaixo o M16.

Esse novo fuzil não poderia usar o sistema de uso direto dos gases porque era patente agora da Colt. Pelos desenhos técnicos que agora pertenciam à Colt, para Stoner não valeria a pena desenvolver um novo sistema de uso direto de gás porque ele perderia tempo pesquisando e desenvolvendo um sistema diferente do patenteado para a Colt. Ele teve de criar na ArmaLite um novo sistema de mecanismo de disparo, assim como novas ideias de construção para que não violasse qualquer patente da Colt. A visão de Stoner era mais ampla. O AR-10 era um fuzil complexo e caro. Portanto, poucos países se interessavam por ele. A visão dele era de fazer um fuzil mais simples e mais barato de se produzir. Assim ele acreditava que, no mundo pós-guerra, com os exércitos dos países subdesenvolvidos renovando seu armamento leve, ele poderia explorar essa demanda por um novo fuzil.

 

AR-16

Para evitar problemas de patente, Stoner não usa o sistema direito de gases e sim indireto. Passa então a usar o sistema de pistão de curso curto. No AR-10 os gases iam diretamente do êmbolo ao transportador do ferrolho, fazendo funcionar o mecanismo do fuzil. Com este novo sistema, há um pistão intermediário que faz um pequeno curso entre o êmbolo e o transportador do ferrolho. É chamado de curso curto porque ele retorna poucos milímetros, o suficiente para empurrar o transportador do ferrolho para trás. Levando em conta a praticidade e simplicidade, esse pistão era facilmente removível para manutenção e limpeza. Essa foi a forma que Eugene Stoner usou para não contrariar a Colt.

AR-16 – Carabina.

Para isso, havia a necessidade de ter um sistema atrás do transportador do ferrolho que não fosse igual ao sistema de amortecimento do AR-10. Então ele se vale de uma solução de um dos seus protótipos não finalizados, qual seja, o AR-12. Neste fuzil havia duas hastes guias onde cada guia tinha uma mola. Era isso que amortecia e impulsionava o transportador do ferrolho para frente. No AR-16 é usado o mesmo sistema, lembrando que o ferrolho também era rotativo com ressaltos. O uso de duas hastes para as molas se dava porque, com uma única mola central, o ferrolho poderia virar para um lado. Isso poderia fazer o ferrolho não fechar devidamente em virtude de um desgaste prematuro do trilho. É por isso que o transportador do ferrolho trabalha com duas hastes guias para que o transportador não tombe para um dos lados com o tempo de uso.

Como a ArmaLite fazia amplo uso de ligas de alumínios que agora passavam a ser patentes da Colt, Stoner usa metal estampado. Isso aqui tem importância porque até então quase nenhuma empresa fazia fuzis em material estampado de forma seriada, somente a CETME e os alemães na 2ª G. M. com o StG44. Cabe lembrar que o processo de fabricação com material estampado não era fácil e poucas empresas tinham essa tecnologia, ainda mais para uma arma de fogo que trabalha com pressões internas maiores. Se por um lado o AR-10 tinha como inovação o uso de liga de alumínio aeronáutico, o AR-16 tinha como inovação um dos primeiros fuzis de assalto a ser feito com esse processo de metal estampado, o que garantia maior leveza ao fuzil.

AR-16 com a coronha dobrada.

O emprego de metal estampado barateava muito o custo de produção, o que seria uma vantagem para o mercado dos países subdesenvolvidos. Desta forma toda a caixa da culatra era em material estampado. Curiosamente, a coronha e guardamão eram feitos em madeira, enquanto que a empunhadura de madeira era usada em um protótipo e em material plástico em outro protótipo. Outro ponto completamente diferente do AR-10 era a alavanca de manejo. Ela era fixada diretamente ao transportador do ferrolho. Uma das críticas do AR-10 era justamente essa.

A alavanca de manejo ficava atrás no AR-15, era mais incômodo para o soldado armar o fuzil. Com a alavanca na lateral, fica mais fácil e rápido operar a arma. Com o AR-16 isso era simples e fácil com a alavanca de ejeção no lado direito do fuzil. A praticidade também estava no retém do carregador situado logo a frente e abaixo do guardamato. Curiosamente, o quebrachamas usado era mais simples e era o que se usaria mais tarde no AR-15. Não se usou os complexos quebrachamas do AR-10, e nem foi por questão de patente e sim porque eles eram mais complicados e deficientes. Adotou-se então o modelo bico de pato.

Desmontagem de um AR-16. Note o transportador do ferrolho e as molas recuperadoras em duas hastes guias.

Os testes mostraram uma vantagem em cima do AR-10. O AR-16 não tinha tantas panes como o AR-10. Isso se dava porque o sistema de pistão de curso curto bloqueia parte das impurezas da queima do propelente que iria diretamente para o transportador do ferrolho e interior do fuzil. O pistão bloqueava o excesso de fuligem dentro da arma, assim como diminuía muito a quantidade de gás quente dentro da caixa da culatra. Esses dois elementos é o que fazem as armas darem pane com mais frequência. Os militares notaram que isso evitava panes por sujeiras desse tipo. Tanto é que a janela de ejeção não tinha tampa protetiva. Só veio aparecer nos modelos posteriores do AR-18.

Ao todo foram feitos três modelos. Dois fuzis e uma carabina. O 1º fuzil tinha uma coronha fixa. Já o 2º fuzil com a carabina tinha a coronha de madeira rebatível. Uma vantagem pelo sistema de recuperação do transportador do ferrolho, algo impossível com o AR-10 já que o AR-16 não tinha um tubo dentro da coronha para a mola recuperadora. Nos testes o AR-16 se saiu muito bem. O problema era o calibre. Os militares naquela altura estavam começando a se interessar pelo AR-15/M16 e o próprio AR-10 e M14 estavam sendo colocados de lado. Não havia como levar o AR-16 adiante. Foi a última arma que Eugente Stoner trabalhou na ArmaLite. Em seguida à recusa do AR-16, ele saiu da ArmaLite.

AR-16 – Fuzil.

AR-16

Calibre: 7,62 x 51 mm
Comprimento total: 945 mm
Comprimento do cano: 508 mm
Cadência teórica de disparo: 750 dpm
Peso: 4 kg
Carregador: 20 cartuchos

 

Como funciona

Após premir o gatilho, o cão acerta o percutor que está localizado dentro do ferrolho e, por sua vez, acerta a espoleta do cartucho. Ao deflagrar, os gases percorrem o cano e entram em um orifício situado na parte de cima do cano. Os gases são captados em um êmbolo onde pressionam um pistão interno. Esse pistão, com a energia dos gases, faz um curto recuo (por isso que se chama pistão de curso curto), batendo no transportador do ferrolho que está travado à base do cano.

Neste momento, os ressaltos do ferrolho se alinham com as saliências da câmara do cano e saem. O ferrolho rotativo é rotacionado para a esquerda, destravando-o. Com a força do movimento do pistão, o transportador do ferrolho, juntamente com o ferrolho, retrocede. Atrás do transportador do ferrolho existem duas guias. Nestas duas guias existem duas molas ao seu redor. Quando o transportador do ferrolho chega ao seu curso final, essas duas molas impulsionam o transportador do ferrolho para frente, ao mesmo tempo em que coloca um cartucho na câmara do cano. Ao chegar à base do cano, os ressaltos do ferrolho rotativo passam pelas saliências da câmara do cano e assim o ferrolho é rotacionado para direta, travando-o ao mesmo tempo. Assim o sistema está apto para o próximo disparo. É o sistema de pistão de curso curto.

 

AR-18

Quando a Colt adquiriu o direito de fabricação do AR-10 e AR-15, a ArmaLite permaneceu como uma pequena empresa de armas de fogo. Pequena porque ela não tinha o maquinário e instalações necessárias para a produção em série de seus fuzis, por isso a venda do direito de patente para a Colt. E bem naquela época estava sendo desenvolvido e pesquisado o M16, aonde, aos poucos, ia sendo adotado como M16/XM16E1.

Com a saída de Eugene Stoner da ArmaLite em 1961, os engenheiros viram a possibilidade de adaptar o calibre 5,56 x 45 mm ao AR-16. Eles podiam porque a patente do AR-16 era da ArmaLite. Para a ArmaLite era interessante porque um fuzil novo e competidor com o M16 poderia lhes trazer mais lucros, uma vez que recebiam os royalties do M16. E como a patente do M16 era de propriedade da Colt, viram no AR-16 a plataforma perfeita para um fuzil novo de calibre mais leve.

AR-18.

 

Em 1962 começa um processo de adaptação. Ocorre que não é um processo tão simples pegar um calibre e adaptar a um fuzil simplesmente. Há que se ter todos os estudos do redimensionamento de certas partes da arma como também das pressões que o novo calibre pode exercer na arma. Só isso resultou em uma nova arma chamada AR-18, que passa a ser patente da ArmaLite. Cabe ressaltar que o AR-18 não é trabalho de Eugene Stoner como muita gente pensa. Quando o programa AR-18 começou, Eugene já havia saído da ArmaLite.

Em comparação com o AR-16, o AR-18 de cara perde 1 kg, ficando até um pouco mais leve que o M16 por causa do emprego de material estampado. E o tamanho e o peso o fizeram um concorrente direto ao M16. Daí surge a esperança da ArmaLite de fechar negócio com as forças armadas. O M16 passava pelos seus primeiros reveses e eles acharam que o AR-18 poderia ser uma boa alternativa. Em 1964 um lote de fuzis é avaliado pelo exército e o AR-18 marcou uma boa impressão, mas ainda tinha o que melhorar. A primeira coisa que foi criticada foi a alavanca de manejo, ela era considerada pequena no lado direito do fuzil. Tinha o formato de um pequeno tubo. O M16 tinha uma alavanca de manejo ambidestra e o AR-18 não. Isso fazia com que o soldado tivesse que fazer um movimento mais complicado com a mão esquerda para acioná-la.  Além disso, o soldado teria problemas em acionar a alavanca caso ele estivesse usando luvas de inverno.

AR-18 sendo avaliado.

Outro ponto criticado foi a abertura lateral ao lado do transportador do ferrolho. Ocorre que a alavanca de manejo era solidária ao transportador do ferrolho, assim como no AK-47. Isso significa que, a cada disparo, o transportador do ferrolho faz um movimento de retrocesso e recuperação. Como a alavanca de manejo é fixa ao transportador do ferrolho, ela também se movimenta durante os disparos. Então há uma abertura lateral na caixa da culatra para a alavanca se mover. Ocorre que essa abertura fazia entrar poeira e terra nos testes de tiro, ocasionando algumas panes.

O fuzil usava o mesmo carregador do M16. Assim como a 1ª versão do quebrachamas do M16, o bico de pato. E assim como o AR-16, a coronha era rebatível, coisa que o M16 não tinha. Sem falar que coronha, empunhadura e guardamão eram agora de plástico de alta resistência, tornando o AR-18 competitivo com o M16. A grande vantagem em cima do M16 era o sistema de pistão de curso curto. Ele tornava o AR-18 muito menos propenso a falhas por causa da sujeira acumulada pelo uso direto dos gases. Como o pistão eliminava a maior quantidade de gases dentro do fuzil, ele se sujava menos. Isso era importante se a meta era ser um concorrente do M16 que sofria cronicamente disso. E por fim, algo que o M16 nunca teve, um seletor de disparo ambidestro. Isso foi muito elogiado por aqueles que testaram.

AR-18 – Apresentação.

No final, os militares gostaram do fuzil, acharam ele simples de operar e limpar. Era leve e barato de produzir. Por causa do material em metal estampado, ainda não se sabia como seria a sua resistência. Bem naquele momento começou a produção em massa do M16 e XM16E1, isso fez com que o AR-18 fosse posto de lado, mas não sem antes fazer algumas modificações pontuais sobre o feedback recebido pelos testes. A ArmaLite lançou no mercado civil, entre 1969 e 1971, a versão AR-180, que nada mais era que um AR-18 sem o regime automático. Isso foi um feitio na época porque era um fuzil de assalto relativamente moderno posto ao público civil. Ainda assim a ArmaLite não perdeu o foco com o governo americano. Em 1969, o exército fez mais uma bateria de testes com o AR-18.

O fuzil tinha algumas melhorias em relação o 1º modelo. A começar pelo cano. No M16 havia o tratamento com cromo para dar maior dureza. O AR-18 usava um processo de nitrocarburação ferrítica que dava maior resistência à alma do cano. A outra novidade foi a alavanca de manejo. Ela tinha maiores dimensões e tinha uma saliência que se projetava para cima. Isso facilitava o seu manuseio. E por fim, é colocada uma tampa na abertura lateral por onde se locomove a alavanca de manejo, a finalidade era de proteger contra sujeira. Mas este sistema ainda mantinha o problema da sujeira porque, após o 1º disparo, essa tampa se abria, expondo novamente toda a abertura lateral da caixa da culatra.

AR-18 com mira telescópica.

 

Temos que mencionar os carregadores do AR-18. Enquanto que o M16 e M16A1 usavam carregadores para 20 cartuchos, o AR-18 já dispunha de carregadores para 20, 30 e 45 cartuchos. A ideia de usar carregadores para 20 cartuchos nunca foi da ArmaLite e sim das forças armadas americanas com o intuito de economizar munição. Levando em conta a praticidade e administração do recuo, a ArmaLite oferece carregadores de maior capacidade para tirar proveito máximo da arma. Um ponto observado foi a ausência de um lançador de granadas. O M16 podia usar o infame XM148 e mais tarde o M203. Tanto a 1ª como a 2ª versão do AR-18 não tinha provisão de usar um desses sistemas. Uma das teorias é de que, com o índice alto de falhas do XM148 e, até então, a ausência de um provável substituto, a ArmaLite optou por não adotar um lançador de granadas. Da mesma forma e sem explicação, o AR-18 não tinha adaptador para o uso de baioneta. O que mostra que o fuzil ainda tinha que ser desenvolvido.

O fuzil tinha se mostrado melhor do que as primeiras avaliações feitas. Afinal, o projeto em si não era ruim já que todos os seus refinamentos foram pontuais. Entretanto, a boa notícia não durou muito. Embora os militares tivessem apreciado as capacidades do AR-18 e notado que em vários pontos eram melhores que o M16, os militares viram que as vantagens eram pequenas se comparadas com o M16 e, em virtude disso, não valeria a pena, financeiramente falando, parar a linha de produção do M16 e começar uma nova linha de produção de fuzis de assalto. Mais tarde, notaram que o AR-18 sofria de panes de alimentação quando submetido a testes mais extremos.

AR-18.

 

Fracasso de vendas e exportações

A ArmaLite não apostava somente o mercado americano para o AR-18. Ela tentou vender o AR-18 pelo mundo afora, mas sem sucesso, até mesmo na América Latina. Era justamente o momento em que ocorria o boom da compra de fuzis 7,62 x 51 mm pelo mundo, onde os maiores expoentes eram o HK G3 e FAL, que conseguiram praticamente roubar a maioria do mercado para novos fuzis de batalha. Além disso, o AR-15/M16 estava se popularizando na Ásia. Entretanto, nos EUA o AR-18 foi adquirido em pequenas quantidades por forças policiais e suas equipes especiais.

A primeira tentativa séria foi o Japão que se interessou pelo fuzil em 1967, após ver o desempenho do M16 no Vietnã, onde a produção japonesa começa em 1970. A produção japonesa não visava o Japão e sim possíveis exportações mundiais da ArmaLite. Como eles não queriam comprar um fuzil diretamente dos EUA, viram no AR-18 uma fonte mais independente. A empresa Howa passa a produzir o AR-18 e AR-180. Entretanto eis que surge um problema. Com a escalada da guerra no Vietnã e, seguindo sua política de cunho pacifista, o Japão proíbe a venda de armamento a qualquer um dos países envolvidos no conflito. Ou seja, mina-se os possíveis locais onde o AR-18 poderia ser vendido, o que foi um grande golpe de sorte para a Colt. Com a demanda praticamente zero. A produção é finalizada em 1974 com 4.000 AR-18 produzidos.

AR-18 produzido no Japão pela Howa.

 

A Inglaterra foi outro potencial cliente. A primeira tentativa aconteceu em 1966 quando um pequeno lote foi enviado à Inglaterra para avaliação. Nesse ano surge o interesse pelo calibre 5,56 x 45 mm que culminaria no errático L85. Pois bem, naquele ano o exército inglês avaliou o AR-18 e foi rejeitado por problemas parecidos notados nos EUA em 1964. Poeira e sujeira entravam pela abertura lateral da alavanca de manejo na caixa da culatra, além de problemas com a alimentação por parte do carregador. A Inglaterra novamente testou anos mais tarde o AR-18 e os resultados não foram bons. Além dos problemas anteriores, os ingleses reclamaram da ausência de controle de gás, como no L1A1 e a falta de um sistema de amortecimento, como no M16. Para piorar, a alta cadência de disparo fazia o controle mais difícil quando em automático.

Mesmo assim, a Sterling passou a fazer, assim como o Japão, o AR-18 e AR-180. Em 1977 a Sterling recebeu um contrato da ArmaLite para a produção de AR-180 para que fosse vendido no mercado civil americano. Cabe aqui uma explicação. Os AR-18 e AR-180 usados pelo grupo terrorista IRA vieram do Japão e não da Inglaterra. A Sterling ainda enviou uma versão local para a Malásia. Tratava-se de um AR-18K carabina com cano de 380 mm e empunhadura dianteira. Essa carabina foi usada no final dos anos 70 para avaliações e nunca foi comprada em grandes quantidades.

AR-18K – Malásia.

 

Legado

Se por um lado Eugene Stoner fez história com o M16, ele também fez história com o AR-18. O AR-18 foi um fracasso de vendas porque nenhum exército o adotou oficialmente. Sequer foi comprado em pequenas quantidades como arma de apoio. Simplesmente foi ignorado em um momento em que se proliferava a venda de fuzis em calibre 7,62 x 51 mm e o M16 vendia bem para vários outros países.

Entretanto, o uso do pistão de curso curto fez iluminar o escuro caminho da criação de desenhos técnicos em mecanismos de armas. O AR-18 foi a inspiração primordial do programa SA80 que resultou do fuzil inglês L85. Por dentro o fuzil é praticamente um AR-18. Com a experiência adquirida na produção do AR-180, a Sterling desenvolveu para Singapura o SAR-80 em 1981, onde foi produzido em massa pela Chartered Industries of Singapore – CIS até 1988. Esse fuzil nada mais era do que um AR-18 por dentro. Curiosamente, os singapurianos gostaram muito mais desse fuzil do que o M16A1 em virtude da maior simplicidade e confiabilidade do projeto do AR-18.

SAR-80.

Também não podemos olvidar de HK G36. O fuzil tem desenho técnico diferente, mas por dentro, o uso do pistão de curso curto é notoriamente influenciado pelo AR-18. Assim como também foi o Steyr AUG, onde temos um arranjo praticamente igual, porém redimensionado. Cabe mencionar que o conceito do grupo do ferrolho do AR-18 serviu de inspiração para muitos outros projetos de fuzis de assalto por todo o mundo, inclusive no Brasil.

 

AR-18

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento total: 970 mm
Comprimento do cano: 465 mm
Cadência teórica de disparo: 800 dpm
Peso: 3 kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após premir o gatilho, o cão acerta o percutor que está localizado dentro do ferrolho e, por sua vez, acerta a espoleta do cartucho. Ao deflagrar, os gases percorrem o cano e entram em um orifício situado na parte de cima do cano. Os gases são captados em um êmbolo onde pressionam um pistão interno. Esse pistão, com a energia dos gases, faz um curto recuo (por isso que se chama pistão de curso curto), batendo no transportador do ferrolho que está travado à base do cano.

O ferrolho rotativo é rotacionado para a esquerda, destravando-o. Neste momento, os ressaltos do ferrolho se alinham com as saliências da câmara do cano e saem. Com a força do movimento do pistão, o transportador do ferrolho, juntamente com o ferrolho, retrocede. Atrás do transportador do ferrolho existem duas guias. Nestas duas guias existem duas molas ao seu redor. Quando o transportador do ferrolho chega ao seu curso final, essas duas molas impulsionam o transportador do ferrolho para frente, ao mesmo tempo em que coloca um cartucho na câmara do cano. Ao chegar à base do cano, os ressaltos do ferrolho rotativo passam pelas saliências da câmara do cano e assim o ferrolho é rotacionado para direta, travando-o ao mesmo tempo. Assim o sistema está apto para o próximo disparo. É o sistema de pistão de curso curto.