L85A1

 

L85A1

O fuzil entrou em operação em julho 1985, daí o nome IW L85A1 e a metralhadora leve recebe o nome de LSW L86A1. O lote inicial era de 175.000 fuzis. Entretanto, poucos fuzis foram feitos, pois o programa ainda amadurecia e tentavam corrigir os problemas. Em 1986, as armas passam por uma nova bateria de testes de campo. Com o uso mais intenso e contínuo nesses testes, uma série de problemas mais sérios foi observada. Problemas estes que não tinham sido identificados antes. Quando as armas passaram a ser testadas pelas tropas em condições climáticas reais, foi que viram a arma era mais frágil do que se pensava. Os testes de laboratório e condições simuladas não podiam ser comparados às condições reais.

L85A1.

A entrada operacional completa do SA80 aconteceu em outubro de 1987. Até então, poucas armas haviam sido entregues para poucas unidades onde, ao mesmo tempo e em paralelo, ocorriam os testes citados acima. Mesmo com todos esses problemas, o governo inglês decidiu por bem adotar o SA80 da forma como estava, demonstrando claramente tratar-se de uma decisão política. Já haviam se passado 17 anos desde que o programa começou e os custos apenas cresciam, o montante de dinheiro investido no programa era alto demais. Para evitar a humilhação pública e histórica, foi decidido aceitar o fuzil como estava, na esperança de que os erros seriam corrigidos no próximo lote. Se em 10 anos isso não foi corrigido, dificilmente seria depois. Bem nessa época a Royal Ordnance fora privatizada e comprada pela BAe Systems. A esperança era de que nas novas instalações as alterações seriam feitas no fuzil.

A linha reta do fuzil foi acertada porque ela dava maior controle ao recuo. Os fuzis em linha reta têm o cano na mesma altura do ombro onde a arma é apoiada. Isso faz com que todo o recuo seja projetado diretamente no ombro, o que permite um menor levantamento do cano. Em armas convencionais com a curvatura da coronha, o cano fica em uma linha acima do ombro, fazendo com que parte da energia do recuo projete a arma para cima, fazendo o cano levantar mais. Para ajudar no controle do recuo, no final da caixa da culatra, logo atrás da base que sustenta a haste da mola recuperadora, há um pequeno amortecedor que recebe parte do impacto do recuo.

L85A1.

Os controles do L85A1 são um pouco diferentes dos demais fuzis. O seletor de disparo não é ambidestro e fica no lado esquerdo da caixa da culatra. Isso é uma herança do projeto do AR-18 que não foi modificado na fase de desenvolvimento do fuzil. Esse seletor tem somente duas opções, semi e automático. Não há posição para travado. A trava do fuzil é um pequeno botão situado acima do guardamato. Ao apertar ele do lado direito, a arma fica destravada. Ao apertar o mesmo botão do lado esquerdo, a arma fica travada. Isso torna o seletor ambidestro. Embora diferente, ele é completamente funcional.

Após o disparo o ferrolho permanece aberto. Isso diz ao soldado que a munição acabou e que não se trata de uma pane. Levando em conta que o L85A1 tinha um alto índice de panes, a janela de ejeção era muito observada pelos soldados a cada pane. Pois bem, após o último disparo, o ferrolho permanece aberto e para soltar o ferrolho, há que acionar o retém do ferrolho. É um pequeno botão no formato quadrado localizado no lado esquerdo, acima do seletor de disparo. Há que baixar esse botão e não apertá-lo. No lado direito do fuzil há outro botão na caixa da culatra situado mais atrás. Esse botão é uma trava para o ferrolho. O soldado puxa o alavanca de manejo até o fim, empurrando o ferrolho para trás. Ao acionar esse botão, o ferrolho fica travado atrás, com a janela de ejeção aberta. Isso serve para o soldado fazer alguma manutenção. E esse botão foi muito usado uma vez que a arma tinha tantos problemas de ejeção que o soldado tinha que travar o ferrolho para que pudesse extrair a cápsula.

L85A1.

O retém do carregador não é ambidestro. O retém do carregador sempre foi um ponto problemático no SA80. Ele está localizado no lado esquerdo da caixa da culatra, acima do carregador, também fruto do projeto do AR-18. É um grande botão que se projeta para fora do metal. Isso era um grande problema porque a posição e a altura do botão fazia com que ele fosse acionado acidentalmente com muita facilidade, fazendo com o que o carregador fosse ejetado. Isso é um problema porque em um momento de necessidade ou até mesmo em uma emboscada, sem o carregador o soldado fica literalmente desprotegido. A posição era tão ruim que, usando a bandoleira, o fuzil ficava com o cano para o lado esquerdo, ou seja, o retém do carregador ficaria batendo na barriga do soldado a todo o momento, fazendo com que ele fosse acionado acidentalmente. E isso se dava pela grande altura desse botão, já que não havia nenhuma proteção em sua volta.

No lado direito há uma abertura lateral por onde se locomove a alavanca de manejo. Por ser uma parte que aberta, foi colocada uma tampa de metal acionada por mola, onde fica o tempo todo fechado. Após o primeiro disparo, essa tampa abre e permanece aberta. Curioso porque essa tampa também foi antes colocada na janela de ejeção do fuzil inglês E.M.2 para tampar a janela de ejeção contra sujeira. Entretanto, no L85A1 essa tampa visava a abertura lateral contra sujeira. Essa tampa ajudava pouco porque após o 1º disparo, ela ficava aberta permitindo a entrada de sujeira, o que era um dos focos de problemas do fuzil.

Icônica foto em que a Rainha Elizabeth dispara o L85A1.

O SA80 não tinha a opção de alterar a posição da janela de ejeção. Nos primórdios do projeto, havia o plano da alteração ser inserida na arma. Mas pela contenção de custos, esse plano foi retirado. Depois foi aventado que fariam fuzis com janela de ejeção no lado direito e uma fração menor com janelas no lado esquerdo. Tampouco teve vida essa ideia. Desta forma, todas as armas tinham a janela de ejeção no lado direito, sem a possibilidade de alteração da posição. Isso foi um grande problema para os canhotos, que eram na ordem de 15% do exército inglês. Para eles usar o fuzil tinha grandes limitações.

Não só isso, caso o soldado tivesse que se proteger em uma parede no lado esquerdo, também teria problemas. Ele teria que expor todo o seu lado esquerdo do corpo porque estaria empunhando com a mão direita. Para isso, foi adotada a posição suicida. No lado esquerdo de uma parede, o soldado empunhava a arma com a mão direita. E a mão esquerda, ao invés de segurar o guardamão, segurava a parte de trás da caixa da culatra, fazendo o soldado expor menos o corpo quando nesse lado da parede. Isso era para mostrar a limitação de um fuzil bullpup. Chegou a pensarem em usar soldados canhotos distribuídos somente para essas situações, mas isso não teria tanta vantagem no final.

Soldados em treino com o L85A1.

Um dos pontos positivos foi a mira SUSAT (Sight unit small arms trillux). É uma mira ótica de 4x onde podia ser graduada em azimute elevação para correção de distância ou ventos. Ela tinha um sistema de iluminação interna por trítio, onde um elemento químico radioativo gerava uma pequena luminosidade para ambientes escuros sem a necessidade de uma bateria. A mira ainda contava com uma mira fixa em cima dela para emergências caso a mira quebrasse. Essa mira de emergência era graduada para até no máximo 100 metros.

Visor da mira SUSAT.

Entretanto, a SUSAT não era fornecida para todos os soldados ingleses. Por ser um sistema caro (mas muito bom para época) ele era distribuído somente para os soldados que estavam na linha de frente, já que não haveria como dotar todos os soldados com um sistema caro. Os soldados que ficavam em linhas secundárias usavam uma mira fixa acoplada ao fuzil por parafusos, a alça na base principal e a massa na altura do começo do êmbolo de gás. Essa mira tinha duas graduações. Uma para 200 metros, pois os estudos ingleses mostravam que raramente os combates aconteciam a distâncias maiores. E para distâncias menores e de baixa luminosidade, havia uma mira com uma maior abertura, entretanto, o alcance eficaz ficava nos 100 metros.

Outro ponto problemático foi o gatilho. Ele tem um curso curto e é suave de disparar, o que gera um disparo mais preciso. Entretanto, em virtude do curso curto, ele tem pouco espaço entra a traseira do gatilho e a empunhadura. Em regiões de neve ou de lama, foi observado que a neve acumulada gerava uma placa de gelo e, com o formato reto do gatilho, esse gelo impedia o curso para trás do gatilho, impossibilitando o disparo. A mesma coisa acontecia com lama ou sujeira pesada. Ela se acumulava atrás do gatilho e impedia seu movimento. Os soldados tinham de tirar essa lama ou neve durante os disparos para que a arma voltasse a funcionar.

L85A1. Note as miras fixas. Essas armas eram destinadas ao pessoal que não estava na linha de frente.

O L85A1 podia disparar granadas de boca calibre 22 mm. Para tanto, um cartucho especial era usado e tinha de se fechar a passagem dos gases no êmbolo de gás. Desde o começo o L85A1 fora idealizado para usar um lançador de granadas acoplado à arma. Entretanto, o uso desse sistema gerava um problema. O impacto de lançamento da granada acaba por interferindo na graduação da mira SUSAT. Após alguns disparos, o soldado tinha que recalibrar a mira. Como a arma já passava por muitos problemas técnicos, se optou por não acoplar um lançador de granadas dedicado, ficando limitados ao lançamento de granadas de boca. Há que ser dito que isso não é um demérito. Granadas de boca são eficazes quando os soldados tem o treinamento devido para isso.

Como uma das finalidades era substituir o FAL, o L85A1 deveria ser uma arma mais leve. À medida que o fuzil ia se desenvolvendo até chegar à versão final, ele foi ganhando peso. O fuzil, vazio, pesava 3,7 Kg. Pode parecer pouco, mas quando totalmente carregado e com a mira SUSAT acoplada, ele pesava 4,8 Kg, o que era considerado muito para um fuzil de assalto calibre 5,56 x 45 mm. No final ele ficou pouca coisa mais leve que o FAL. Entretanto, o maior peso tinha uma vantagem de absorver mais o recuo do disparo, o que torna o L85A1 uma das armas de maior controle de recuo.

Mesmo se levassem em consideração todos os problemas e as possíveis soluções, a arma ainda sofreria pela grande sensibilidade à sujeira. E isso se dava também pelo próprio projeto. A abertura lateral para que a alavanca de manejo pudesse se mover permite a entrada de sujeira. Não há como tampar perfeitamente porque, como a alavanca de manejo é solidária ao transportador, a cada disparo ela se locomove, expondo parte dessa lateral. Uma vez que a sujeira entrou, ela tende a acumular nas saliências da câmara do cano onde os ressaltos do ferrolho passam. Uma vez que a sujeira entra nessas saliências, os ressaltos não passam, impossibilitando que o ferrolho trave na base do cano e, assim, impossibilitando o disparo. Entretanto, muitos outros problemas aconteceram.

L85A1 usado em regiões com neve. Note as fitas brancas para camuflagem.

A mira fixa não tinha muita rigidez e com o tempo de uso se soltava, eliminando praticamente a precisão do fuzil. Outras vezes, a baioneta não ficava rigidamente fixa, ela se soltava muitas vezes, o que impossibilitava o uso em caso de necessidade. O bipode da LSW L86A1 muitas vezes se soltava e ficava solto. O soldado usava a metralhadora leve com o bipode retraído e, em caso de necessidade, esticava o bipode em uma posição fixa para apoiar a arma. Entretanto, a junção do bipode ao cano tinha um problema de se soltar, fazendo com que as hastes do bipode ficassem soltas sem rigidez nenhuma. Muitas vezes o soldado andava com a LSW com o bipode solto e isso seria um problema porque, em caso de necessidade, ele não poderia apoiar a metralhadora leve, devendo usar algum outro apoio para isso.

LSW L86A1.

Durante os testes de disparo, ficou notado que a caixa da culatra soltava os rebites em virtude do impacto intenso. Outras vezes a tampa de proteção da abertura lateral da alavanca de manejo quebrava, deixando toda a lateral exposta que permitia a entrada de sujeira que tanto gerava pane no fuzil. O carregador tinha problemas também. Muitas vezes a rampa do carregador ficava desalinhada, impedindo a alimentação correta da arma. Outras vezes, a presilha do carregador ficava frouxa com a trava do fosso do carregador, deixando o carregador sem apoio que, por sua vez, gerava mais falha de alimentação ao não ter alinhamento devido. As partes internas também davam mais problemas. Com o tempo muita sujeira se acumulava dentro do êmbolo de gás e acaba obstruir parcialmente a admissão de gás. Quando chegava ao nível extremo, havia pouca passagem de gás que não chegava a ciclar o sistema de funcionamento do fuzil.

O percussor quebrava com facilidade após algumas centenas de disparos. O extrator do ferrolho tinha problemas para extrair a cápsula da câmara do cano e muitas vezes ele não puxava e ocorria dupla alimentação. Outras vezes puxava, mas a cápsula ficava presa no extrator. Para corrigir isso, o soldado tinha que desmontar o fuzil. Outras vezes ainda aconteciam falhas de ejeção. O ejetor não fazia a ejeção de forma devida e muitas vezes a cápsula ficava atravessada na janela de ejeção ou presa dentro da caixa da culatra. Mais bizarro ainda era que, algumas vezes, o ejetor expelia a cápsula, mas esta, ao bater na própria alavanca de manejo, acabava voltando para dentro da caixa da culatra!

Soldados ingleses em uma trincheira na guerra do Golfo de 1991.

Quando o fuzil entrava em contato com ambientes com areia e pó, o desempenho tendia a ser catastrófico. A guerra no Afeganistão mostrou que o fuzil era um complexo de problemas sem fim. Seria a primeira vez que o fuzil seria usado em combate intenso e em condições adversas. No começo os soldados até se empolgavam ao entrar na guerra com um fuzil de assalto de calibre mais leve. Enquanto que o treinamento dizia em usar ao todo 120 cartuchos, os soldados chegavam a levar até 400 cartuchos em virtude da intensidade dos combates. Quando os combates vieram, a verdade veio à tona.

A arma dava pane de disparo a todo o momento, sempre. Todos os dias, todas as semanas, todos os meses, sempre. A arma se mostrou muito sensível com a sujeira. Embora o treinamento dissesse que era necessário limpar a arma uma vez ao dia, era comum os soldados limpar cinco vezes ao dia. Essa operação durava entre 15 e 20 minutos. Na maioria das vezes, para impedir a entrada de sujeira na arma, todas as janelas de ventilação eram tampadas com fitas para evitar a entrada de areia. Isso era um problema porque em pouco tempo a arma super esquentava e o soldado tinha que tomar cuidado para não acontecer o efeito cookoff, quando o cartucho é deflagrado sem ação do percussor e sim pela temperatura da câmara do cano.

1991. Soldado inglês com o L85A1.

O percussor quebrava com certa facilidade e as panes de ejeção eram constantes. Isso era um forte golpe à moral da tropa porque os soldados não tinham certeza se poderiam contar com a arma em caso de combate. Muitos apenas disparavam a arma no automático porque a maioria das panes acontecia em disparos semiautomáticos. Entretanto, caso entrasse sujeira na arma, semi ou automático não faria a menor diferença. A LSW L86A1 tinha problemas piores. Por disparar de forma mais intensa, mais sujeira entrava na arma, mais ela superaquecia e mais panes tinha se comparado com o LW L85A1.

Os problemas de alimentação eram tão comuns que os ingleses passaram a usar o carregador do M16 que eles conseguiam com os americanos. Os carregadores americanos se mostraram mais resistentes e menos propenso a falhas de alimentação. O governo inglês chegou a comprar um lote de carregadores americanos para distribuição para as tropas, mas isso não atendeu a todos. Após muitos problemas, ficou visto que o excesso de lubrificação era um problema porque a areia e o pó grudavam no óleo dentro da arma, formando uma pequena massa que, rapidamente, impossibilitava o disparo ao travar as partes internas da arma.

Muitas vezes o ferrolho sequer fechava pelo entupimento das saliências da câmara do cano. Outras vezes, a sujeira acelerava o processo de desgaste de fricção entre as peças, gerando em peças quebradas e impossibilitando o uso da arma. Para fazer frente a isso, foi orientado a usar a quantidade mínima de óleo na limpeza da arma. Para tornar a situação mais surreal, orientavam os soldados a fazer essa limpeza antes do combate. Como se o soldado tivesse o poder da clarividência de quando entraria em combate para limpar a arma antes do combate, o que era praticamente impossível. O cuidado com a areia era tão complexo que nenhum fuzil podia ser mantido sem o carregador. Mesmo se não fosse usado ou guardado, o fuzil tinha que ter um carregador vazio inserido para que areia e pó não entrassem pelo fosso do carregador.

1991. Os soldados protegiam o L85A1 contra a areia da melhor forma possível. Note a capa de pano e o saco plástico no cano.

Entretanto, algo mais sério aconteceu na Operação Granby, 1991, quando os ingleses fizeram uma grande operação contra as tropas iraquianas no Kuwait.  Nesta operação, tanto o L85A1 como o L86A1 apresentaram uma série infinita de problemas e panes. A ponto dos soldados não conseguirem combater de forma correta em virtude dos sistemáticos problemas no fuzil. Foram tantas panes diárias que muitas baixas aconteceram porque os soldados não podiam operar corretamente o fuzil. Essa operação fez a imprensa inglesa tomar conhecimento do que estava acontecendo com os soldados e de como o fuzil de assalto, que até então era mostrado como as joias da coroa, se mostrava como um completo fracasso.

Um estudo foi feito pelo próprio governo inglês e os dados que conseguiram eram catastróficos. O fuzil não servia. Tinha um índice baixíssimo de funcionabilidade. A situação era tão extrema que ficou constatado que as baixas foram mínimas porque os ingleses praticamente viram pouco combate com as tropas. Caso os soldados iraquianos tivessem tomado uma ofensiva contra os ingleses, as baixas inglesas seriam muito maiores porque não tinham uma arma apta às suas funções. A guerra do golfo de 1991 fez a Inglaterra ver que tudo estava errado com o fuzil. A situação da arma era tão caótica que o SAS se recusava a usar esse fuzil, preferindo ficar com os velhos M16.

Soldados ingleses protegem uma base aérea na Arábia Saudita.

Outro lugar que os ingleses viram problemas foi em Serra Leoa. No ano de 2000, cidadãos ingleses foram sequestrados por guerrilheiros locais e para tanto, uma força tarefa foi criada para o resgate. Na operação atuaram o SAS e os paraquedistas da real força aérea. Durante a ação, os paraquedistas se depararam com muitas panes seguidas durante o tiroteio, de tal ordem que muitos soldados ficavam temporariamente fora de combate, pois estavam tentando arrumar a pane. Enquanto isso, os membros do SAS operavam armas da família M16 e não tiveram problemas, dando continuidade com a missão. Caso o SAS não estivesse com essas armas, a operação poderia ter sido um completo fracasso pela péssima qualidade do L85.

Soldados ingleses em Serra Leoa.

O L85A1 e L86A1 foram produzidos na cidade de Enfield até 1988. Entretanto, a Royal Ordnance, uma empresa pública, foi privatizada em 1988. Ela foi comprada pela BAe Systems e a produção do fuzil passou a ser em Nottingham. A produção em Nottingham durou até 1994, após serem feitos ao todo 330.000 armas. A nova empresa não escapou de passar por atrasos de produção e incapacidade de solucionar os problemas da arma. Em 2001 o complexo de Nottingham foi fechado. Diante disso, toda a manutenção da arma, como produção de peças ou serviços de reparação, ficou a cargo da HK inglesa, já que era uma subsidiária alemã da Bae Systems. Isso era um duro golpe para a moral inglesa. Demoraram décadas para fazer um fuzil problemático. E no final, os seus fuzis seriam enviados para a Alemanha para a realização de serviços de manutenção.

Os problemas foram um fator marcante para a inexpressiva exportação que o SA80 teve. Poucos países o compraram. Bolívia, Jamaica, Moçambique, Nepal, Serra Leoa e Zimbábue compraram essas armas em pequenos lotes pontuais.

 

Armas de instrução e treinamento

Os ingleses apostaram em armas especiais para treinamento e instrução ao invés de usar armas típicas da infantaria. Para tanto uma versão de instrução da arma foi feita, o L103A1 DP. Esse modelo não tinha a capacidade de disparar. Internamente, várias partes foram modificadas para que a arma não pudesse funcionar. Ela mantinha todos os comandos da arma, como seletor, trava, carregador, mira, alavanca de manejo e reténs. Esse modelo servia como apresentação para os recrutas de como era a arma e quais os comandos que eles teriam que saber.

L103A1.

Após isso, o recruta passaria à instrução de disparo. Para isso, fizeram o L98A1 Cadet GP (general purpose). Esta arma visava a instrução do soldado quanto o uso do fuzil com munição real. Cabe ressaltar que essa arma não tinha um sistema gás. O recruta tinha que acionar a alavanca de manejo a cada disparo, usando o fuzil como repetição. Para tanto, havia um complexo sistema de armar o percussor que tornava essa arma mais cara que o fuzil original. Não havia seletor de disparo e nem quebrachamas.

L98A1.

Por fim, em treinamento que poderiam gerar em impactos no fuzil, surge a versão inerte L116A1. Essa versão se destinava aos recrutas no início de sua instrução onde poderiam gerar danos às armas, como por exemplo, instrução de assaltos anfíbios, treinos com páraquedas, montanhistas, etc. Curioso notar que essas versões a mais saem da cadeia logística dos fuzis convencionais, tornando-as versões mais caras.

 

Carabinas

No começo do programa SA80 estava descrito que o L85 também substituiria a submetralhadora Sterling. A necessidade da padronização do calibre necessitava de uma carabina para suprir a necessidade de uma arma mais compacta. Uma arma que fosse destinada a comandos, tripulação de aeronaves, de carros de combate, etc. Entretanto, em virtude dos problemas que passavam os protótipos, a carabina demorou em ser projetada.  Um IW protótipo foi usado como base em 1984 para o desenvolvimento de uma carabina. A questão aqui era puramente conceitual para ver como seria a viabilidade de uma carabina. O cano era muito curto, tinha 242 mm de comprimento. A intenção não era uma arma final e sim ver quais as alterações deveriam ser feitas na arma para que a carabina fosse feita. Isso era um problema porque, se a versão IW e LSW já passava por muitos problemas, alterar uma arma para uma carabina não seria diferente. Esse modelo não passou do protótipo conceitual

Carabina com cano de 242 mm.

Em cima de um L85A1 em 1989 os engenheiros trabalharam para uma versão curta da arma. Até então se acreditava que o projeto do SA80 já estava maduro o suficiente para partir para uma nova versão. O cano era curto, com 310 mm de comprimento e mantinha todas as funcionalidades do L85. Entretanto, algumas partes foram alteradas. O sistema de captação de gás foi redesenhado para que admitisse menos gás no êmbolo, embora continuasse com um êmbolo seletor de entrada. Com menos gás, o transportador do ferrolho era feito para ser mais leve, já que haveria pouca quantidade de gás atuando contra ele. Entretanto, uma nova mola recuperadora foi adicionada atrás do transportador. Como as pressões são maiores em carabinas em virtude do êmbolo menor, a mola recuperadora, que também serve como amortecedor, acaba por tendo mais pressão e sendo assim necessário o seu reforço.

Além disso, o próprio pistão teve seu tamanho reduzido. O tamanho cano fazia gerar grandes chamas e assim um novo quebrachamas no formato gaiola foi adicionado.  Para evitar que as chamas acertassem a mão do soldado, era acoplada uma base de metal onde havia a mesma empunhadura traseira usada no LSW como empunhadura frontal. Ao que parece esse modelo não era dos mais práticos. Era enfatizado que a arma não poderia ser disparada pela altura da cintura. Ocorre que, pela posição em que se segura a arma, o soldado correria o sério risco da alavanca de manejo acertar o braço. É curioso porque a arma que deveria substituir a Sterling se mostra mais complexa e limitada que a submetralhadora. Poucas armas foram feitas e praticamente não foi adotada.

Protótipo de carabina com cano de 390 mm.

Depois da transferência da produção para a cidade de Nottingham é que se passou a pesquisar outro modelo de carabina. Em 1994, também com base no L85A1, os engenheiros fizeram uma nova carabina. Este modelo tinha um cano maior, com 390 mm. Isso se dava por duas razões. As chamas eram menores com um cano maior, mesmo usando um quebrachamas. E o controle do recuo era melhor, já que no modelo anterior era mais difícil de controlar o recuo. Para uma arma que tinha problemas de dispersão, quanto maior o controle do recuo, melhor.

Essa versão também teve o sistema de captação de gás redesenhado, onde foi posto mais para dentro do guardamão para que no lugar da captação de gás fosse colocada a massa de mira. Em seu lugar há a massa de mira. Assim como o modelo anterior, havia um pistão de tamanho menor. E como o guardamão era possível, não havia a necessidade de uma empunhadura dianteira e nem base de metal para proteção. Entretanto, esse modelo se mostrou quase inútil. Ocorre que a redução do tamanho não era tão grande assim e não criava uma vantagem que valesse a pena substituir por um fuzil convencional. Esse modelo não passou de protótipo.

Cabe mencionar que, com base nos modelos iniciais das carabinas, foi feita a L22A1. Em 1986 os ingleses decidiram por fazer uma carabina com cano de 240 mm visando mais as exportações. Para essa empreitada, eles queriam aproveitar ao máximo o número de componentes que o L85A1 tinha e assim fazer uma carabina mais barata e acessível. Para dar impulso às vendas, os ingleses adotaram um pequeno lote que seria destinado ao pessoal de blindados e aeronaves. Com esse gesto, a Arábia Saudita chegou a comprar uma quantidade pequena dessas armas, mas praticamente nunca usaram. Da mesma forma os ingleses tampouco usaram o L22A1.

L22A1.

L85A1

Calibre: 5,56 x 45 mm SS109
Comprimento total: 773 mm
Comprimento do cano: 495 mm
Cadência de disparo: 800 dpm
Peso: 3,7 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após premir o gatilho, o cão acerta o percussor que está localizado dentro do ferrolho e, por sua vez, acerta a espoleta do cartucho. Ao deflagrar, os gases percorrem o cano e entram em um orifício situado na parte de cima do cano. Os gases são captados em um êmbolo onde pressionam um pistão interno. Esse pistão, com a energia dos gases, faz um curto recuo (por isso que se chama pistão de curso curto), batendo no transportador do ferrolho que está travado à base do cano.

Neste momento, a trava do ferrolho é acionada, os ressaltos do ferrolho giram paraa esquerda, se alinhando com as saliências da câmara do cano. Com a força do movimento do pistão, o transportador do ferrolho, juntamente com o ferrolho, retrocede. Atrás do transportador do ferrolho existe uma guia. Nesta guia existe a mola recuperadora. Quando o transportador do ferrolho chega ao seu curso final, essa mola impulsiona o transportador do ferrolho para frente ao mesmo tempo em que coloca um cartucho na câmara do cano. Ao chegar à base do cano, os ressaltos do ferrolho passam pelas saliências da câmara do cano e é rotacionado para direta, travando o ferrolho ao mesmo tempo. Assim o sistema esta apto para o próximo disparo.

 

Curiosidades

O AR-18 era produzido sob licença no Japão pela Howa. Não se sabe como, mas vários AR-18, assim como AR-180 (versão civil do AR-18) foram parar nas mãos dos terroristas do IRA. Depois dessa cena o Japão parou de produzir o AR-18. O próximo país que se interessou pelo AR-18 foi justamente a Inglaterra, que passou a produzi-lo sob licença pela Sterling. Muitos acreditam que os AR-18 do IRA vieram da Sterling quando na verdade vieram da Howa, já que chegaram nas mãos dos terroristas antes da Sterling produzir sob licença.

A mira SUSAT tinha trítio para dar luminosidade no retículo em ambientes escuros sem a necessidade de bateria. Isso se dava por um pequenino frasco com o gás de trítio que gerava luminosidade em direção ao retículo. Caso a mira fosse gravemente danificada, e se o soldado estivesse ao ar livre, tinham que abandonar a área por 15 minutos até o gás de dissipar. Caso isso acontecesse dentro de um quarto ou ambiente fechado, o local deveria ser esvaziado e isolado por 1 hora, até o gás se dissipar. Só então poderiam retornar ao local. Imagine o pesadelo que poderia ser em ambientes urbanos caso o combate fosse de alta intensidade.

Algumas coisas nunca mudam. A curiosidade das crianças sobre as miras óticas!

Garoto olha a mira SUIT de um L1A1.
Garoto olha a mira SUSAT de um L85A1.

Agradecimentos

As imagens de alta qualidade dos protótipos de carabinas acima foram gentilmente cedidas por Ali Richter, do site ARES – Armament Research Services (http://armamentresearch.com). Essas imagens tem uma qualidade inédita de armas praticamente desconhecidas do público.

Para maiores detalhes técnicos sobre as carabinas:

British Enfield SA80 Part 6: Carbines