L85A3

L85A3

A partir dos anos de 2000, a Inglaterra se depara com vários cortes orlamentários, o que lhe acarreta um problema. A Inglaterra passou a ter uma maior participação nos conflitos no Iraque e Afeganistão. Isso fez sugar muito dinheiro, pois o Ministério da Defesa inglês deveria suprir as necessidades das três forças armadas. E os soldados ingleses, nesses locais de conflito, se depararam com aliados com fuzis mais modernos, mais eficientes e melhores equipados com acessórios. Os ingleses estavam ficando atrás.

L85A3.

Diante desse panorama, a Inglaterra tinha a necessidade de ter um soldado moderno, mas sem que pudesse gastar com todo um novo programa de modernização do soldado, assim como o desenvolvimento de um novo fuzil de assalto. Para tanto, a Inglaterra se vale novamente da HK para não desenvolver, mas aprimorar o L85 para uma nova versão que suprisse, no máximo possível, a necessidade de um fuzil de assalto melhor. O L85A2 havia elevado muito a qualidade da arma e a HK optou por usar essa versão para desenvolver uma nova versão do L85, o L85A3.

Em 2016 o governo inglês opta por fazer uma atualização de meia vida, pois o custo de desenvolver um novo fuzil de assalto seria alto demais. E o custo de comprar outros lotes de fuzis também sairia mais caro. Desta forma, para a realidade inglesa, a atualização teria o melhor custo benefício. Embora a HK seja uma empresa com sede na Alemanha, os serviços de atualização seriam feitos na Inglaterra na cidade de Nottingham.

Já em 2016 um protótipo é apresentado. Esse modelo mostrou o que já se esperava. Alterações pontuais de um fuzil de assalto que não tinha mais capacidade de maiores desenvolvimentos. Entretanto, as poucas melhorias tiveram um impacto positivo ao novo fuzil. O custo inicial do programa foi de 7 milhões de dólares para a atualização 5.000 fuzis L85A2. Entretanto, logo mais tarde esse valor foi aumentado para 95 milhões de dólares para a atualização de 50.000 fuzis. Não se sabe ainda com exatidão quando, e se, esse fuzil já está operacional. Mas em exercícios conjuntos com americanos, os ingleses foram vistos disparando o L85A3 em fevereiro de 2019. O que indica que o programa já está praticamente consolidado.

Um protótipo do L85A3 mostrado em 2016.

Em virtude das limitações do seu desenho técnico, o L85A3 não pode trazer muitas inovações e melhorias. O seu projeto foi feito para ser simples de tal ordem que é praticamente inviável alterar partes significativas do projeto. Assim sendo, o L85A3 ainda mantém os controles de trava e seleção de disparo no lado direito da arma. Assim como a impossibilidade de alterar o lado da janela de ejeção. Se manteve o calcanhar de Aquiles do L85, a posição do seletor de disparo, que continua atrás na caixa da culatra. Entretanto, as poucas alterações foram muito bem feitas e úteis.

A parte de cima da caixa da culatra foi redesenhada. A ideia era refazer todo o grupo do trilho do transportador do ferrolho. Tanto nos modelos A1 como A2, esse trilho tendia a oscilar em constante uso ou rápido desgaste. Isso gerava panes de disparos já que o transportador do ferrolho muitas vezes não realizava por completo o movimento. A fim de solucionar isso de uma vez, a HK redesenha toda a parte de cima da caixa da culatra. Isso torna necessário um novo transportador do ferrolho. Com um desenho técnico novo, essa parte da caixa da culatra e o novo trilho do transportador do ferrolho se mostram mais resistentes e estáveis, o que faz eliminar praticamente os riscos de panes de disparos por problemas nesse trilho.

L85A3. Note que agora há um único trilho sobre o guardamão e a caixa da culatra.

A alteração dessa parte da caixa da culatra faz surgir duas novas características do fuzil. Agora, na parte de cima da caixa da culatra, existe um grande trilho picatinny. Isso é importante e tem a sua razão de ser. Muitas vezes, o soldado coloca duas miras óticas em cima da arma. Uma mira holográfica e outra mira de luneta, onde o soldado pode usar as duas miras ao mesmo tempo. Ocorre que isso passa a ser um problema quando o trilho é dividido em duas partes que não se conectam. Se uma mira fica em cima de uma parte e a outra mira em outra parte, isso pode prejudicar a precisão dos disparos com o tempo.

Com o tempo de uso, os trilhos ficam desalinhados, coisa de 1 ou 2 mms. Pode ser nada, mas para um disparo com o alvo a 100 metros, essa diferença fará a minha desalinhar com o ponto inicial dela. O soldado faz a mira mas, esta, por estar levemente desalinhada, irá fazer com que os disparos acertem um ponto diferente da mira idealizada. Esse problema é evitado quando se tem um único trilho acoplado. Como as duas miras estão acopladas no mesmo trilho, não terá como uma mira desalinhar com a outra já que usam a mesma plataforma. Caso o soldado tenha uma pane com as miras, ele poderá colocar duas miras fixas acopladas ao mesmo trilho.

L85A3. A arma está com o lançador de granadas L123A2 (AG36). Note as duas miras acopladas em um único trilho.

Com a introdução de um novo desenho de guardamão, ficou mais difícil ao soldado acionar o registro do êmbolo dos gases. Antes, esse registro era acessado de forma simples pelo lado de fora da arma. Agora, com esse novo guardamão, o soldado tem que puxar um pino, destacar o guardamão e, assim, ter acesso ao registro de gases. Sem dúvida é um retrocesso. Mas temos que ter me mente o seguinte. O L85A3 será usado com o lançador de granadas da HK AG36. Entretanto, os ingleses mantiveram a capacidade do soldado de disparar granadas da boca do cano caso seja necessário. Para isso eles mantiveram o acesso ao registro do êmbolo de gases.

Assim como ocorreu em alguns L85A2, agora é incorporado de série carregadores Magpul. Esses carregadores se mostraram muito melhores que os carregadores de alumínio e aço utilizados anteriormente. Além de mais baratos e eficazes, esses carregadores contem uma janela de inspeção da quantidade de cartuchos. Essas janelas de visualizações têm seus méritos questionados hoje em dia. Entretanto, o fato do carregador ser melhor que os anteriores, já vale o uso. Cabe lembrar que o L85A3 pode usar normalmente os carregadores das versões A1 e A2.

As alterações deixaram a arma pouca coisa mais leve. 100 gramas. É pouco? Sem a menor sombra de dúvida que é. Mas para todo o redesenho da parte superior da caixa da culatra e o arranjo do cano flutuante, isso foi um ponto positivo. Geralmente essas alterações acabam por aumentando um pouco o peso da arma. No L85A3 aconteceu justamente o contrário. Por mais insignificante que sejam esses 100 gramas, isso mostra que a atualização não fez a arma ficar mais pesada.

L85A3. Apesar de todas as alterações, o fuzil se manteve com mesmo peso praticamente.

Outro ponto levado em consideração com o fuzil foi o ocultamente e camuflagem da arma. Cabe um complemento sobre isso. Desde os anos 70 se estuda as melhores formas de camuflar um soldado. O padrão de cores mescladas em contraste com o ambiente deveria tornar o soldado mais oculto possível. Cada exército consegue fazer isso levando em conta os seus ambientes assim como os ambientes externos onde atuam. Muitos uniformes ganharam uma camuflagem muito eficaz. Mas se esqueceram do fuzil. Pode ser banal mas não é. Muitas vezes você pode não ver o soldado, mas pode ver o fuzil. Isso já revela a posição do soldado, tornando a camuflagem quase inútil. A partir dos idos de 2000, vários exércitos começaram a ver formas de camuflar também os seus fuzis.

Isso era um problema porque todos eles usavam fuzis da cor negra em sua totalidade, excetuando algumas armas, como o AUG. Isso fez que com a próxima geração de fuzis viesse com cores diferentes. Não como marketing, mas como forma de auxiliar a camuflagem do soldado. E pensando nisso que os ingleses fizeram o L85A3 com um tom de terra mais escuro combinados com algumas partes em verde. Isso torna a camuflagem do soldado mais eficaz pois a arma passa a ser parte da camuflagem. Além da camuflagem, o fuzil recebe também um acabamento de diminui o desgaste da tinta assim como diminui as chances de ferrugem.

L85A3. Note como a cor da arma faz parte da camuflagem do soldado.

Por fora, o fuzil mostra que não teve praticamente nenhuma alteração. Mas a maior alteração veio por dentro. O cano do fuzil agora é do tipo cano flutuante. Um cano flutuante é preso diretamente à caixa da culatra. Esse tipo de cano faz com que ele não necessite de ser apoiado dentro do guardamão. Um cano convencional, nesse molde, faz com que as vibrações dos disparos passem para o guardamão, já que ele é apoiado nele. Isso faz com que essas vibrações percorram o guardamão e o cano. Isso faz com que o cano seja influenciado por essa energia e, assim, sofra interferências durante os disparos.

Com o cano flutuante isso não acontece. Como ele está preso diretamente à caixa da culatra, ele não precisa ser apoiado dentro do guardamão. Assim, ele não sobre as vibrações de cada disparo. E, assim, ele não sofre interferência durante os disparos. Isso faz com que os disparos sejam mais precisos já que o cano não irá vibrar. Essa é a grande vantagem do cano flutuante. Mas isso tem um custo. O soldado terá mais trabalho na hora de desmontar o fuzil porque a base do cano é firmemente fixada à caixa da culatra. Não haverá a simples solta do cano, ele terá de desmontar o conjunto.

E como o fuzil agora tem um cano flutuante, todo o guardamão do fuzil teve de ser redesenhado porque o cano não pode ficar apoiado nele. Como usaram um metal de liga leve para essa parte frontal, se temia que a arma esquentasse por causa do metal. Desta forma, foram colocadas quatro janelas de ventilação para que a arma não esquente. Ainda não existem fotos dessa parte da arma desmontada. Especula-se que o guardamão seja uma pesa selada na parte de dentro da arma. Ocorre que um dos problemas dos L85 era a quantidade de sujeira que entrava pelas janelas de ventilação da caixa da culatra. Desta forma, especula-se que não haverá esse risco com as janelas de ventilação do guardamão.

L85A3. Note as janelas de ejeção na parte de baixo do guardamão. O metal mais leve tende a aquecer com rapidez.

Em volta desse novo guardamão foram colocados mais trilhos picatinny nas laterais e na parte debaixo para os mais variados acessórios. Mas o que chama a atenção é o novo modelo da empunhadura frontal. É um pouco menor mas mais ergonômico. Essa empunhadura, assim como a anterior, tem um bipode em seu interior. Cabe mencionar que a alavanca de manejo também foi redesenhada. A versão anterior era mais alta.  A nova versão é mais baixa, mantendo se na mesma linha do topo da caixa da culatra. Isso se dá para que ela não interfira em nenhuma mira ou acessório acoplado ao trilho picatinny.

Outra alteração foi no seletor de disparo que permanece no mesmo lugar. Ele tem duas opções, semi e automático. Ocorre que nos modelos anteriores, esse seletor podia ficar continuamente. O soldado colocava para cima mas ele não ficava travado, se ele esbarasse no seletor, ele dava mais uma volta e acionava a parte de baixo do seletor. Para evitar isso, foi colocada uma trava que impede do seletor girar continuamente. Ou ele vai para cima ou vai para baixo.

Em fevereiro de 2018 soldados ingleses foram vistos em treinamento conjunto com soldados americanos. Eles usavam o L85A3.

O Caro Leitor deve estar se perguntando agora. Com toda a história do L85A1 e L85A2, com todos os problemas, com todas as limitações, com todo o dinheiro injetado para corrigir a arma, por que gastar em atualizar o fuzil ao invés de comprar uma nova arma? Os fuzis L85A2 (que serão atualizados para o padrão A3) ainda tem pela frente mais 15 anos de uso. Comprar um novo fuzil é gastar um dinheiro muito maior. Além da arma em si, tem todas as peças sobressalentes, todo o maquinário de produção. Criar uma cadeia logística de fornecedores e ainda treinar todo um exército. A Inglaterra fará essa atualização para que ela tenha tempo suficiente para decidir qual será seu futuro e definitivo fuzil.

 

L85A3

Calibre: 5,56 x 45 mm SS109
Comprimento total: 780 mm
Comprimento do cano: 518 mm
Cadência de disparo: 700 dpm
Peso: 4 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após premir o gatilho, o cão acerta o percussor que está localizado dentro do ferrolho e, por sua vez, acerta a espoleta do cartucho. Ao deflagrar, os gases percorrem o cano e entram em um orifício situado na parte de cima do cano. Os gases são captados em um êmbolo onde pressionam um pistão interno. Esse pistão, com a energia dos gases, faz um curto recuo (por isso que se chama pistão de curso curto), batendo no transportador do ferrolho que está travado à base do cano.

Neste momento, a trava do ferrolho é acionada, os ressaltos do ferrolho giram paraa esquerda, se alinhando com as saliências da câmara do cano. Com a força do movimento do pistão, o transportador do ferrolho, juntamente com o ferrolho, retrocede. Atrás do transportador do ferrolho existe uma guia. Nesta guia existe a mola recuperadora. Quando o transportador do ferrolho chega ao seu curso final, essa mola impulsiona o transportador do ferrolho para frente ao mesmo tempo em que coloca um cartucho na câmara do cano. Ao chegar à base do cano, os ressaltos do ferrolho passam pelas saliências da câmara do cano e é rotacionado para direta, travando o ferrolho ao mesmo tempo. Assim o sistema está apto para o próximo disparo.