AK-74 Parte 2

O começo

Após ser selecionado como novo fuzil, o AK-74 passou por uma completa revisão de projeto buscando sanar e simplificar partes pontuais. Isso visava adequar o fuzil à produção em massa racionalizando custos e tempo. O total de alterações era de 350 alterações no desenho técnico. Pode parecer preciosismo, mas essas alterações simples fizeram com que a complexidade de produção do AK-74 caísse 20% em relação ao AKM-47. Ao contrário do que muitos pensam, o AK-74 não é um AKM-47 convertido para um novo calibre. Ele tem muitas peças redesenhadas que não se encaixam nos outros AK-47. Em relação ao AKM-47, o AK-74 tem 53% de comunalidade de peças. Os outros 47% são peças diferentes e redesenhadas, que se tornam incompatíveis. Mero exemplo, a caixa da culatra, que é maior em poucos mm em relação ao AKM. Essa pequena diferença, por exemplo, impossibilita a troca pelo AKM.

AK-74.

Os primeiros lotes do fuzil vinham com a ausência do dispositivo de redução de cadência de disparo. Acreditavam que, com o menor recuo e mais controlabilidade, não fazia sentido manter esse dispositivo do AKM-47. Porém, esse dispositivo só funcionava caso o ferrolho estivesse completamente travado na base do cano. Isso foi notado antes no AKM-47 que no final o dispositivo não funcionava, mas servia como segurança contra disparos acidentais, já que a arma só atiraria com o ferrolho fechado. Desta forma, nos lotes seguintes o dispositivo não foi acrescentado ao AK-74.

Porém a produção não foi em massa no começo porque eles tiveram problemas na produção do cano. O cano agora precisava de um diâmetro interno menor por causa do novo projétil e o maquinário ainda não estava adaptado para isso. Os primeiros canos tendiam a vir com defeitos no processo de usinagem. Isso atrasava a produção e somente se normalizou quando o novo maquinário para o cano ficou pronto. Só assim que começou a produção em massa.

AK-74. Note a coloração dos carregadores.

O contato com o ocidente não foi tão dramático como o AK-47. As primeiras imagens do AK-74 começaram a aparecer em 1977 na parada militar do dia da vitória e em 1978 começaram a surgir várias fotos de soldados em treino com o AK-74. Quando começou a guerra do Afeganistão, agentes da CIA ficaram de prontidão no Paquistão para pagar por um AK-74 a quantia de 5 mil dólares. Mas para a infelicidade dos contrabandistas, vários AK-74 começaram a ser pegos e mandados para o Paquistão. E assim o ocidente passou a estudar o novo fuzil.

Levou um tempo para que os americanos tomassem ciência de que os soviéticos iriam substituir todos os AKs e AKMs em uso. Eles não acreditavam que a Rússia, com seu programa de produção em massa, pararia a produção do AKM e iniciaria a produção em massa de uma nova arma com um novo calibre. Só nos finais dos anos 80 é que se deram conta que o novo fuzil além de ser produzido em massa, também estava sendo feito em outros países, como a Hungria, Polônia e a então Alemanha Oriental.

 

AK-74

A nova munição facilitou muito a vida do soldado. Mais leve, ele podia levar mais cartuchos. Se antes, com o AKM-47, o soldado levava 100 cartuchos, agora com o AK-74 ele leva 165 cartuchos. Essa foi uma das grandes vantagens do 5,45 x 39 mm, a leveza do AK-74. Carregado, ele pesava 3,4 kg. É formidável porque o fraco recuo do fuzil permite que o soldado não se canse tanto quando na posição de disparo. Além disso, o AK-74 permitia ao soldado um maior alcance efetivo de combate. A trajetória eficaz do 5,45 x 39 mm era de 650 metros. Nessa distância, o projétil não sofre tanto as intempéries climáticas. Com o 7,62 x 39 mm do AKM-47 esse alcance era de 380 metros.

AK-74.

O mesmo fenômeno do M16 aconteceu com o AK-74 quanto ao treino. Com a munição mais leve, menor o recuo e maior a precisão. Isso fazia com que o recruta precisasse de menos disparos e tempo para se familiarizar com o fuzil. Com o AKM-47 e AK-47 o soldado precisava de mais disparos para poder dominar o fuzil. Isso é uma desvantagem dos calibres maiores. Calibres com menor recuo permitem ao soldado trabalhar na precisão e dispersão com menos disparos.

Porém, houve um pequeno retrocesso em relação ao AKM-47 com o seu 7,62 x 39 mm. A letalidade do projétil do 5,45 x 39 mm é menor por ter uma massa mais leve. Aqui falamos de pura teoria, uma vez que o determina isso é uma miríade de fatores. Mas a título de curiosidade, o 7,62 x 39 mm tinha um alcance letal de 1.500 metros enquanto que o 5,45 x 39 mm tinha 1.350 metros. Novamente, é uma teoria calcada em estudos matemáticos, falamos apenas do projétil em movimento e não da precisão do fuzil. Para demonstrar que a prática e teoria nem sempre andam de mãos dadas. A 800 metros de distância, o soldado com o AK-74 poderia acertar um capacete de aço de 5 mm de espessura e perfurá-lo. Porém estudos mostraram que isso acontecia em 80% dos casos em condições perfeitas. Você tem uma série de elementos que influi como a temperatura, umidade, comprimento do cano, ângulo do disparo, ângulo do alvo, vento. Enfim, é muita coisa que influi em resultados teóricos.

Soldados soviéticos em treinamento. Note as chamas do disparo do AK-74.

A precisão aumentou também com AKS-74, a versão de coronha rebatível. O modelo de coronha usado no AKS-47 e AKMS-47 era muito ruim. O ângulo com que fica no fuzil faz curvar muito a cabeça para fazer mira. E para piorar, a base da coronha eram duas hastes de metais. Cada disparo o recuo ia para essas duas talas, que não só aumentavam o choque do recuo se comparado com a coronha fixa, como tornava o tiro muito incômodo. Com o AKS-74 isso foi solucionado. Agora a coronha tem uma base para o ombro e em um ângulo mais favorável ao atirador. É mais fácil para fazer a mira e a coronha com base distribui melhor o choque do recuo. E ao contrário do que foi feito nos modelos experimentais e protótipos, a coronha fixa do AK-74 no começo era de madeira e não de fibra de madeira, um material mais frágil.

Soldados soviéticos no Afeganistão com o AK-74.

E não só isso ajudou o AKS-74. Agora o soldado podia entrar em luta corporal com a baioneta. Com a coronha fixa, pela doutrina soviética, você segurava o fuzil pelo guardamão e pelo começo da coronha, como se fosse uma lança. Isso te dava mais rigidez e mobilidade para atacar com a baioneta. A coronha rebatível antiga, com duas hastes de metal, era impossível, de tal ordem que o soldado tinha que segurar pela empunhadura, algo completamente incômodo e ruim para lutar. Com a nova coronha rebatível do AKS-74, o soldado pode segurar de forma correta a coronha.

Ao contrário do AKM-47, o AK-74 ganhou uma barra lateral esquerda para acoplar miras. Ocorre que a tampa da caixa da culatra do AK-47, AKM-47 e AK-74 é uma peça fina e presa por mola. Ou seja, ela não é 100% fixa e rígida. Caso uma mira seja acoplada diretamente nela, a precisão cai muito, pois a cada disparo a mira treme. Desta forma, a barra lateral, na caixa da culatra, serve como base para miras, já que irá tremer ou se soltar a cada disparo.

AK-74 com mira noturna. Note o adaptador lateral.

O AKM-47 nas suas versões finais usavam carregadores de plástico resistente na cor marrom alaranjado, para seguir a mesma cor da madeira da coronha e guardamão. No AK-74 seguiram o mesmo modelo com a mesma cor. Porém, mais tarde novos materiais com polímeros tornaram o carregador mais escuro, tendo a cor de marrom escuro, o que camuflava mais a arma.

Soldados soviéticos no Afeganistão. Note os AK-74.

Os soviéticos demoraram em projetar um quebrachamas, mas quando conseguiram, fizeram um excelente quebrachamas. O calibre 5,45 x 39 mm expele o projétil a grande velocidade. Isso implica em duas coisas. Uma quantidade maior de chamas e um estampido maior. Aqui falamos de um som muito alto. Tanto o som como as chamas pode revelar a posição do soldado. Para isso, o novo quebrachamas era maior e mais complexo. Ele tinha duas aberturas grandes voltadas para o lado e para cima. Dentro havia ainda duas câmaras com três orifícios. Isso faz com que os gases não gerem um estampido alto. Ao mesmo tempo em que diminui as chamas da combustão do propelente. Os orifícios adicionais de 2 mm são inclinados. Após o disparo, os gases são liberados para trás, impulsionando o cano para frente, amortecendo assim o recuo do disparo.

AKS-74.

Isso foi excelente porque a controlabilidade do AK-74 melhorou em 200% (dados da equipe de avaliação) se comparado com o AKM-47. Com a arma mais controlável, agora os disparos são mais precisos, já que o recuo e a subida da arma são mínimos. A versão RPK era levemente diferente com um compensador menor e um cano maior. O carregador comportava 45 cartuchos. Coronha de madeira que rebatia para a esquerda, seguindo o mesmo conceito do AKS-74. O projétil tinha maior velocidade de 940 m/s e alcance efetivo de 650 m. O cano aguentava 25.000 disparos em sua vida útil. O alcance e velocidade eram maiores porque havia um maior aproveitamento dos gases no cano maior.

RPK-74.

Embora o menor recuo tornasse o fuzil mais controlável, não quer dizer que o uso de regime automático seja mais fácil. A bem da verdade, 99% dos disparos realizados em combate são em semiautomático. Disparos em automático a esmos significa puro desperdício de munição. Os soldados soviéticos eram treinados a usar rajadas no AK-74 com disparos de 5 a no máximo 10 disparos em automático. Mais que isso a arma se torna incontrolável. Já o RPK-74 permitia rajadas longas por causa do reforço interno e do cano maior. Mas não é como vemos nos filmes. Em tiros automáticos seguidos, o AK-74 suporta 150 disparos e a RPK-74, 200 disparos. Esse nº é uma segurança para esfriar o cano e disparar novamente evitando o efeito cookoff, quando a munição é deflagrada em virtude do calor do cano. Desnecessário dizer que cada exército de cada país decide quando e como usar rajadas.

 

AK-74M

A versão modernizada do AK-74 não precisou de mais um novo processo de seleção de um novo fuzil. É por isso que na nomenclatura a letra M vem depois do nº e não do tipo. Não é firula, é porque o fuzil no começo dos anos 80 sofreu pequenas alterações pontuais, não necessariamente um redesenho de projeto.

A guerra do Afeganistão foi uma verdadeira escola para os soviéticos no quesito armas de fogo. Com o uso árduo e intenso em combate, os soviéticos viram os defeitos que o fuzil tinha. Não foi somente os EUA que apanharam no Vietnã com seu novo fuzil. Vemos na história dos fuzis de assalto projetos que se mostraram deficientes quando posto em condições reais e intensas de combate, uma regra que se aplica a todo e qualquer fuzil. A guerra no Afeganistão mostrou que além do cano, a caixa do mecanismo de disparo era frágil e a tampa da caixa da culatra. Dois protótipos de fuzis foram feitos para isso, o A60 e A61.

A61.

No A60 foi usado polímero na coronha fixa e guardamão. A tampa da caixa do mecanismo de disparo passa a ser uma única peça com a ponta presa na parte de cima da caixa do mecanismo. O cano foi aumentado para 460 mm com comprimento total de 940 mm e o peso subiu para 3,4 kg. No A61 a coronha tem o mesmo formato da coronha fixa do A60, porém é rebatível para a esquerda, com a coronha rebatida tem o comprimento de 700 mm. Ambos os modelos tem um quebrachamas com alterações mínimas. O cano se mostrou muito frágil e com uma vida útil muito curta.

O projétil de maior velocidade fazia um desgaste natural precoce do cano maior em condições altas de temperatura. Com o tempo, surgiram as primeiras panes e acidentes com explosões de canos em pleno combate. Uma forma de fazer frente a isso era aumentar o cromo da alma do cano em 1 mm. Para tanto todo o cano deveria ser refeito sob uma nova especificação de durabilidade, permitindo uma maior vida útil. Com base nos protótipos A60 e A61 foi lançado o AK-74M, que chegou a ser enviado ainda para a guerra do Afeganistão.

AK-74M.

Outro problema observado foi o uso da coronha fixa em madeira. Todas as armas com coronhas de madeira recebem um tratamento protetivo a base de verniz. E os soviéticos fazem isso desde 1900, assim como o resto do mundo. No Afeganistão isso se mostrou um problema. As temperaturas chegavam fáceis no verão a 40º C e algumas vezes 50º C na sombra!

Com a alta temperatura constante, o verniz se soltava, queimando a mão do soldado. Quando o soldado apoiava a bochecha na madeira, o verniz quente colava e causava queimaduras leves em pleno combate. Os soldados raspavam o verniz com a faca, deixando na madeira crua. Outras vezes passavam fita adesiva ou tiras de borracha na coronha e guardamão. Algumas vezes o soldado atirava sem apoiar o rosto na coronha, mas sofria de igual forma com a mão que apoiava o guardamão. Essa parte esquentava muito mais porque é natural esquentar por causa do cano, agora com as altas temperaturas aquelas partes esquentavam muito mais. Para fazer frente a isso foi usado um polímero que absorve mais o calor.

Se observar com atenção, verá que o guardamão do AK-74M tem ranhuras em suas laterais. Essas ranhuras servem para dissipar o calor. O uso do polímero na coronha e guardamão solucionaram o problema de uso em locais quentes.

AK-74M.

Um ponto negativo do AKS-74 e AK-74M é a coronha rebatível. Ela é rebatida para a esquerda. Isso foi um problema que perdura até hoje. Ao rebater para o lado esquerdo, a coronha sebropõe ao fuzil. Ou seja, ao andar com o fuzil, a coronha fica batendo na barriga ou no peito, dependendo a regulagem da bandoleira. Com o tempo andando, a coronha atritava e acaba machucando o peito ou a barriga. Naquelas condições era impossível andar com jaquetas naquele calor extremo, o que aumentava o problema. Outro problema da coronha rebatida para a esquerda é que ela se engancha com facilidade em acessórios em cintos ou correia ao corpo do soldado. Em momentos de combate ou emboscada, os soldados soviéticos se deparavam com a coronha presa em correias ou acessórios.

Uma coisa que faltou ao AK-74M foi a possibilidade de acoplar carregadores na lateral de outro carregador. No Afeganistão os soviéticos travaram muitos combates tensos onde o poder de fogo era necessário. Então eles ligavam um carregador ao outro, um virado e o outro para cima, por fitas adesivas. No tiroteio ficava mais rápida a troca do carregador. Porém, era comum essas fitas se soltarem ou afrouxarem no meio da batalha.

AK-74M.

Note a coronha fixa do AK-74M. Note que há um grande sulco nos dois lados. Se o polímero era mais leve que a madeira e que o sulco não alteraria nada de peso, porque o colocaram? Ele tem esse sulco porque o fuzil agora é todo na cor escura. Na noite, o sulco serve como camuflagem, já que uma superfície lisa de polímero pode refletir a luz. Com pouca luz e à noite, é possível ver um leve reflexo na coronha caso ela seja lisa. No lado esquerdo o sulco serve para não bater na armação lateral para miras na caixa da culatra. Com a versão AK-74M o carregador ganhou uma cor mais escura também, combinando com empunhadura, coronha e guardamão.

Uma nova mira telescópica foi adicionada como acessório e muito difundida nos anos 90. A mira 1P29 permitia um alcance de 400 metros com uma seta de baixo para cima como mira. Essa mira permitia uma resposta mais rápida para o primeiro disparo. Mas tem um problema. É uma cópia descarada da mira inglesa Trilux SUIT usada no FAL!

Mira 1P29 no AK-74M.

Na metade dos anos 80, começavam a surgir as primeiras vestimentas balísticas em exércitos regulares. Nessa revisão do AK-74, os soviéticos decidiram por aumentar o desempenho do 5,45 x 39 mm, assim como os americanos fizeram com o 5,56 x 45 mm OTAN. Esse novo calibre, modelo 7N10 (o modelo regular era o 7N6M) deveria penetrar essas proteções balísticas. Lembram que antes o projétil podia furar um capacete de 5 mm a 800 metros de distância? Agora ele pode fazer o mesmo a 960 metros. Coletes balísticos que suportam 5,56 x 45 mm são perfurados a 100 metros de distância. Porém há um custo. O aumento do alcance e potência aumentou também o recuo da arma em virtude do tipo diferente de propelente de maior energia, diminuindo um pouco a precisão. Além disso, a vida útil do cano caiu drasticamente também pela rapidez maior do projétil e pressão. Agora o projétil sai a 980 m/s.

O AK-74M não foi adotado em massa porque com o fim da URSS o dinheiro acabou. Alguns lotes foram comprados para serem usados na primeira guerra da Chechênia, onde os soviéticos literalmente tomaram uma surra. Alguns outros países também o adotaram, como a Ucrânia, onde usou muito nos conflitos contra os separatistas terroristas apoiados pela Rússia.

Soldado russo em combate contra os terroristas no trágico episódio de Beslan. Note uma nova mira ótica.

Ao contrário do que muitos pensam, a tentativa de adotar um lança granadas veio com o AKM-47. A URSS adotou a doutrina de um soldado carregar um lança granadas ao invés de cada um lançar a sua pela boca do cano. Os testes com um modelo não deram certo e para o AK-74 esse modelo serviu de base para um novo. A ideia era lançar uma granada de 40 mm até 400 metros de distância. Na prática a distância era de 100 metros.  Após alterações corretivas, o lançador de granadas ficou pronto em 1978 recebendo o nome de GP-25.

As primeiras granadas eram de uso geral, lançando estilhaços para os lados quando acertava o alvo. Em 1979 um novo tipo de granada surgiu, com a capacidade de se auto detonar a 0,70 metros de altura gerando estilhaços em um raio de 5 metros. De uma forma ou de outra, após o disparo a granada se auto detonava em 15 segundos caso não impactasse antes. Para isso o soldado tinha de lançá-la a uma distância pré-determinada. Após 400 disparos, o lança granadas era revisado e o fuzil era mandado para inspeção. As pressões geradas pelo lança granadas eram muito altas e desgastavam o fuzil internamente.

AK-74M com o lançador GP-25.

O atirador podia disparar a granada com o fuzil inclinado. Podia atirar com o fuzil apoiado no chão. E também podia atirar com o fuzil apoiado no ombro. Mas para isso era necessário um soleira de borracha espaçada para amortecer o impacto do recuo, que é muito grande. A GP-25 foi lançada para o AK-74, mas podia ser usada no AK-47 e AKM-47.

Entre 1974 e 1993, mais de 5 milhões de AK-74 foram produzidos. Não vemos aquele boom de produção que vimos com o AKM-47. Ocorre que a URSS estava praticamente carregada de AKM-47 com pouco menos de 10 anos de uso e não fazia sentido mudar tudo de uma vez para um fuzil novo. Como a substituição foi gradativa, não houve a necessidade de super produção em massa. E temos que recordar também que nos anos 80 a URSS entrava em uma grande crise financeira que só veio a se recuperar no final dos anos 90, quando já era então a Rússia.

AK-74M usado na ocupação da Crimeia ucraniana.

Nos últimos anos a Rússia não poderia ignorar a grande quantidade de AK-74 e AK-74m que ela tinha em seus estoques. Levando em conta a modernização do seu exército com um orçamento mais enxuto em virtude do declínio do PIB militar russo, a Rússia atualizou alguns AK-74M para padrões internacionais. Desta forma foram incluídos no fuzil trilho picatinny em cima, embaixo e nas laterais da arma para o uso de miras óticas e acessórios. Um novo quebrachamas foi adicionado. Ao que consta, além de suprimir as chamas e gerar o efeito compensador, esse dispositivo ainda poderia diminuir o estampido do disparo. Ainda mais, trocaram a antiga coronha rebatível por uma coronha retrátil telescópica. Embora de linha reta, ela não está na mesma linha do cano. Caso estivesse na mesma linha do cano, poderia aumentar o controle do recuo, já que o recuo seria projetado diretamente para trás e não atrás e cima, como é o modelo atual.

AK-74M atualizado.

AK-74

Calibre: 5,45 x 39 mm
Comprimento total AK: 942 mm
Comprimento total AKS: 942mm
Comprimento com a coronha dobrada: 690 mm
Comprimento do cano: 415 mm
Peso: 3 kg
Cadência de disparo: 650 d.p.m.
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Ao apertar o gatilho, o cão é liberado batendo no percussor. Este deflagra o cartucho, fazendo com que os gases que impelem o projétil entrem em um orifício. Ao passar por ele, os gases são dirigidos a um êmbolo situado acima do cano. Neste êmbolo tem um longo pistão que é ligado diretamente ao transportador do ferrolho. Os gases no êmbolo pressionam o pistão para trás. Ao fazer isso, pela inércia, o ferrolho é rotacionado para o lado esquerdo, fazendo com que os ressaltos estejam alinhados com as saliências da base do cano.

Ele é deslocado para trás, ao mesmo tempo em que ejeta a cápsula que estava na câmara do cano e inicia o movimento de recuo até o final. A mola recuperadora empurra o transportador do ferrolho e pistão para frente, colocando um cartucho na câmara do cano. Neste momento, o ferrolho passa pelas saliências da base do cano, virando para o lado direito, travando o ferrolho na base do cano. Neste momento, o percussor está pronto para ser acionado novamente, reiniciando o ciclo.