FAL – Parte 3

Justiça seja feita. O FAL é o fuzil que representa o mundo livre. Quando citamos o mundo livre, nos referimos que o FAL foi para o ocidente o que o AK-47 foi para oriente. O FAL foi para o mundo capitalista o que o AK-47 foi para o mundo socialista. Foi o fuzil mais produzido no pós-guerra em sua esfera de influência. Foi o mais utilizado em guerras e foi o fuzil utilizado por mais tempo, sendo usado até hoje. Ao contrário do que se pensa, o fuzil não é ruim ou apresentou problemas de projeto. Caso fosse assim, não teria sido usado por mais de 90 países, por mais de 30 anos, em todos os cantos do planeta. O FAL é um fuzil que literalmente fez história que poucos poderiam fazer.

 

FAL

Desde as suas origens a FN trabalhou não somente para fazer um fuzil de assalto que mais tarde se transformou em um fuzil de batalha. Mas sim um fuzil que fosse simples de produzir. Simples de manter e simples de operar. Para tanto, havia a necessidade de uma harmonização entre o desenho técnico do fuzil e a ergonomia da arma para que isso fosse possível. Muitos acreditam que esse conceito surgiu com os soviéticos, mas a bem da verdade os belgas já pensavam nisso em 1946 onde a ideia era fazer um fuzil de assalto o mais simples possível e funcional. O FAL surgiu por essa ideia e se tornou um fuzil simples de operar e manter. O design torna a arma simples.

FAL.

Pelo desenho do mecanismo de disparo, o ferrolho basculante trabalha com uma mola recuperadora. Essa mola não fica diretamente atrás do transportador do ferrolho. Este é ligado a uma haste guia que, por sua vez, está ligada à mola recuperadora. Essa mola recuperadora não fica dentro da caixa da culatra, fica dentro de um tubo localizado dentro da coronha. Mas e a versão PARA FAL de coronha rebatível? A mola recuperadora existe, mas também não fica atrás do transportador do ferrolho. A mola recuperadora fica em cima do transportador do ferrolho, estando preso a ele por uma pequena ação de engrenagem. Essa mola fica logo abaixo da tampa da caixa da culatra, ela é menor e mais rígida para compensar o espaço menor dentro da arma.

PARA FAL.

O FAL tem um layout convencional, quando a linha do cano está acima da linha da coronha. Em outros fuzis isso pode ser um problema, mas no FAL é diferente. Ocorre que o principal do mecanismo de disparo do fuzil mantém se na mesma linha do cano. Isso faz com que, no disparo, o fuzil não levante tanto porque o peso do fuzil está melhor distribuído nessa linha imaginária. O desenho mais baixo das miras, em virtude do layout convencional, permite que o soldado se exponha menos. Como as miras são relativamente mais baixas no fuzil, a cabeça do soldado não fica tão exposta. Em miras altas, é comum o soldado expor mais a cabeça ao levantar o rosto para acompanhar as miras, que estão mais altas.

O bloco principal da caixa da culatra é feita em aço forjado. Isso se deve ao fato de que, na época, a FN não tinha a experiência necessária para o uso de metal estampado. Até poderia fazer isso mas teria um fuzil de vida útil muito limitada. Para tanto, usa-se um bloco forjado numa peça só. A produção desse bloco leva mais tempo para produzir, assim como maior é o seu custo de produção. Entretanto, torna essa parte da arma muito mais resistente, o que lhe dá uma maior vida útil ao fuzil. Basta ver que exércitos do mundo inteiro ainda o usam o mesmo fuzil com mais de 30 anos de carreira. Já a parte de cima da caixa da culatra, tem uma parte em aço forjado e a tampa em metal estampado. Como essa parte serve apenas para cobrir o transportado do ferrolho, ferrolho e haste da mola recuperadora, não haveria a necessidade de uma peça forjada a mais, que daria um maior custo de produção assim como maior tempo de produção.

FAL usado por Israelenses. Note que o modelo é do 1º lote.

A alavanca de manejo não é recíproca ao transportador do ferrolho. Ao contrário do que se pode imaginar, isso não é um demérito. Após colocar um cartucho na câmara, a cada disparo, a alavanca de manejo fica fixa na caixa da culatra. Isso é um fator positivo, pois alavanca de manejo não irá acertar a face do soldado caso ele mire o fuzil para a esquerda, quando a caixa da culatra se aproxima mais perto da face do soldado. Ou em outras vezes, como em uma parede, ao se posicionar no lado direito da parede, o soldado não terá o risco da alavanca de manejo acertar a parede caso ele esteja com o fuzil encostado nela. Além do mais, caso o soldado apoie o fuzil pelo carregador, a alavanca de manejo não irá acertar o 1º dedo caso ele fique levantado, o que dá uma maior versatilidade ao soldado. Ainda há o lado positivo da alavanca de manejo não solidária pelo fato que a cada disparo ela ficará inerte, ou seja, a massa da alavanca não vai atrapalhar a mira do soldado com o movimento de vai e vem a cada disparo.

Muitos acreditam que isso é um ponto ruim ao passo que, em uma pane ou não trancamento do ferrolho, o soldado não poderia forçar o trancamento do mesmo. Isso é um engano e um grande perigo. Já dizia Eugene Stoner, o pai do M16. Se o ferrolho não fecha, é por que algo o obstrui. Se algo obstrui, por que você forçaria o trancamento sob o risco de pane ou explosão? É um mito que alavanca de manejo solidário ao transportador serve para trancar o ferrolho. A bem da verdade é solidária ao ferrolho para que o desenho técnico seja simples, ou seja, seja mais barato e rápido de produzir a arma.

Soldados belgas. Na frente um opera o FALO e atrás o outro opera o FAL. Note que a alavanca de manejo não irá interferir na mão que apoia o fuzil já que ela é inerte.

Os engenheiros da FN decidem por posicionar a alavanca de manejo no lado esquerdo do fuzil.  Há o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que dá maior agilidade ao soldado ao manipulá-la. Por estar ao lado esquerdo, o soldado geralmente empunha o fuzil com a mão direita. Isso faz com que o soldado manipule a alavanca com a mão esquerda, sem tirar o fuzil da mão. Isso agiliza muito a troca de carregadores e o manuseio da arma. O lado ruim é que, no esquerdo, a alavanca de manejo pode ser um problema caso o soldado se arraste pelo chão. Como ele estará empunhando o fuzil com a mão direita, isso fará com que a alavanca de manejo, no lado esquerdo, fique virada para baixo. Isso pode fazer com que a alavanca prenda em algo ou seja acionada acidentalmente caso o soldado, ao se rastejar, encontre algum obstáculo. Por isso há que se ter um maior cuidado com isso.

O seletor de disparo fica no lado esquerdo da caixa da culatra, acima da empunhadura. Em seu processo de desenvolvimento, essa parte do FAL passou por alterações e ficou nessa posição mantendo o regime auto, semi e travado. Em alguns fuzis encontramos apenas semi e travado, como os países da comunidade britânica. Esse seletor não é ambidestro. E isso não é um erro de projeto. Para fazer um seletor ambidestro, deveria fazer uma alteração no desenho do bloco forjado da culatra e do grupo do gatilho. Isso tornaria o fuzil mais caro de produzir e levaria mais tempo para a produção do mesmo. Nos anos 50 era comum essa filosofia e praticamente todas as empresas de armas seguiam essa filosofia. Desnecessário dizer que um seletor ambidestro é sempre bem vindo.

Note a posição do seletor de disparo.

Se olharem friamente, verão que todos os comandos estão no lado esquerdo. Isso não é à toa. A FN seguiu a ideia de que a mão direita do soldado deveria estar a todo o momento segurando a arma pela empunhadura. Os comandos deveriam ser acionados com a mão esquerda. Desta forma, a manipulação da alavanca de manejo, troca do carregador, liberação do ferrolho e seletor de disparo deveriam ser feitos com a mão esquerda. O soldado a todo o momento estaria com a arma pronta para uso segurando ela, durante todo o tempo, pela empunhadura com a mão direita. O tempo de resposta assim é maior caso o soldado tivesse que soltar a mão direita. E os canhotos? Na época do desenvolvimento do FAL a doutrina era de que os canhotos, durante o treino, deveriam empunhar sempre com a mão direita e não esquerda, mantendo a visão da mira com o seu olho dominante, no caso, o olho esquerdo.

O carregador do FAL é de encaixe duplo, como no AK-47. Primeiro se prende na frente e depois atrás. Pode ser mais complicado que o modelo do M16, onde se encaixa em um único movimento. Porém, isso permite ao soldado apoiar a mão esquerda no carregador sem o problema de soltar as presilhas de encaixe já que o sistema de pontos é mais resistente. Em sistemas como o M16, ao apoiar a mão no carregador, com o tempo, as presilhas de encaixe se soltam, gerando uma série de panes em virtude do não alinhamento do cartucho com a rampa de alimentação da câmara do cano. O retém do carregador é ambidestro, localizado logo atrás do carregador.

Australianos no Vietnã com o L1A1. Poucos sabem que a Austrália lutou na guerra. Usaram o FAL em condições difíceis e sem problemas.

Em virtude de usar o calibre 7,62 x 51 mm, o FAL tem uma adequação a esse excesso de energia. Após o disparo, parte dos gases é ventilada para fora do êmbolo de gás por pequenos orifícios. Isso é para despejar fora o excesso de gás, fazendo com que a arma utilize gás suficiente para fazer a arma operar em condições seguras. Isso permite ao fuzil trabalhar com menos incidência de sujeira interna já que os gases, que trazem para dentro da arma a fuligem, são usados em menores quantidades, ou seja, menos sujeira. E justamente aqui existe outro mito sobre o FAL, de que ele é sensível à sujeira.

Isso é de todo errado. Toda e qualquer arma terá problemas com sujeira, porém umas mais, outras menos. O FAL foi feito para ser o mais hermeticamente fechado possível. Não há abertura lateral para a alavanca de manejo porque ela não é recíproca ao transportador do ferrolho. A arma não tem janelas de ventilação que se ligam com a caixa da culatra. Ou seja, as chances de cair sujeira dentro do fuzil são mínimas. O FAL é operado por usuários que o usaram por décadas em regiões de neve, de areia, de clima quente, de clima úmido e não apresentou problemas. Se nas mãos dos guerrilheiros sandinistas, pessoas sem preparo algum que operaram o FAL em condições difíceis com umidade e alta temperatura, não tiveram problemas, como teriam os exércitos mais treinados? Pode se citar Israel, mas é uma comparação deveras injusta. Toda e qualquer arma submetida a climas secos e com areia vai apresentar problemas. E isso ocorre até com os mais modernos fuzis da atualidade. Israel, assim como a Líbia, utilizou o FAL por décadas e Israel só o trocou porque queriam um calibre mais leve, o 5,56 x 45 mm e não pelo FAL apresentar algum tipo de problema.

L1A1 - Malásia.

Não só isso, o FAL foi desenhado para ser o mais simples de produzir, o mais simples de manter e o mais simples de manusear sem perder a capacidade operacional. É por isso que o FAL é considerado um projeto refinado. Os comandos são de fáceis acessos. É fácil de transportar e a alça de transporte rebatível se mostrou muito útil quando o soldado tinha de andar longas distâncias ou segurar o fuzil em condições adversas. Disparar o fuzil também não exige muito. A operação de armar e disparar são fáceis e práticos, o que ajuda muito no treinamento. O fuzil conta com uma alça de transporte rebatível. Muitos acham algo supérfluo mas quando o soldado está carregado e for para uma marcha, levar o fuzil pela alça de transporte se torna mais cômodo.

Após o último disparo, o ferrolho fica aberto para informar ao soldado que a munição acabou e que não se trata de uma pane. Para liberar o ferrolho, há um pequeno botão localizado ao lado do retém do carregador, ao lado esquerdo, onde se aperta para baixo uma tecla, liberando o ferrolho. Esse método visa tornar a troca de carregadores mais rápida e no caso do FAL, o botão ao lado do retém do carregador visa facilitar a vida do soldado, não necessitando manipular a alavanca de manejo para liberar o ferrolho. Isso já pensado em um projeto do começo dos anos 50, o que mostra que os belgas queriam a maior praticidade possível.

Para um fuzil do começo dos anos 50 e usando o calibre 7,62 x 51 mm, o FAL não é um fuzil pesado como se apregoa. O fuzil carregado pesa 4,3 Kg. A título de comparação, o M16A1 com um calibre mais leve e com amplo emprego de plástico e liga de alumínio pesa 3,4 Kg carregado. Para um fuzil desse calibre, o FAL não pode ser considerado pesado ora em virtude do metal forjado ora em virtude do calibre.  O PARA FAL pesa 3,8 Kg, com a versão de cano convencional de 533 mm. Após algumas semanas de uso, o soldado não sente a diferença de 400 gramas de peso.

Selous Scout foi uma tropa especial da Rodésia. Essas tropas faziam longas caminhas e incursões. O L1A1 se mostrou formidável.

Outro ponto falso que falam do FAL é sobre o peso. Um soldado levaria uma arma 900 gramas mais pesado que o M16. Ocorre que o peso não é diretamente ligado ao peso da arma em si, mas sim ao peso da munição que ele carrega. Com o mesmo peso, o soldado poderia carregar mais munição já que a munição 7,62 x 51 mm é mais pesada. Ou senão, em uma postura mais radical, o FAL é mais pesado porque, se levarmos em conta a mesma quantidade de munição do M16, o FAL seria pesado porque o 5,56 x 45 mm é uma munição mais leve. Pode parecer óbvio, mas as comparações sobre o peso ignoram esses fatos simples.

Como o FAL foi desenhado para ser o mais simples possível, também foi levado em conta a sua manutenção. Ainda no final dos anos 40, já se pensava o FAL como uma arma simples para desmontar e montar sem a necessidade de ferramentas especiais. Muitas vezes a ponta de um projétil basta para retirar uma peça ou pressionar outra. Ainda mais, a forma como o fuzil é desmontado também foi facilitado. No lado esquerdo da caixa da culatra, no final dela, há uma grande tecla. Essa tecla serve para desmontar o fuzil ao liberar a parte de cima da caixa da culatra, permitindo ao soldado ter acesso ao grupo do gatilho, ao grupo do ferrolho e à mola recuperadora sem maiores problemas. Isso tudo de forma simples, direta e principalmente rápida.

L1A1 usado na neve. Note os pontos de neve na caixa da culatra.

Cabe mencionar que a todo o momento a parte de cima da caixa da culatra está unida ao bloco de baixo por um pino distal. Isso permite a arma ficar presa e facilitar a vida do soldado. Caso seja necessário separar o fuzil, basta retirar esse pino que as duas partes da caixa da culatra se soltam. Da mesma forma, é fácil soltar o regulador de gás até com as mãos. Tirando ele, se tira o pistão e sua mola. Fácil e rápido de limpar. Isso mostra que, assim como o AK-47, o FAL foi feito para ser simples. Isso significa uma arma simples de usar, simples de manter e, principalmente, simples de treinar.

O FAL usa um calibre potente, o 7,62 x 51 mm. Isso significa que a energia gerada é muito maior se comparado com calibres leves. Isso gera dois efeitos. Um maior recuo e uma maior quantidade de chamas. O recuo maior é o que torna o FAL um fuzil de batalha pela sua impossibilidade de controle de rajadas curtas. O conceito do fuzil de assalto exige que a arma tenha uma maior controlabilidade em rajadas curtas o que, com o FAL, é praticamente impossível. O disparo em rajadas significa apenas desperdício de munição. Mesmo em disparos em semiautomático, a arma exige que o soldado não perca o foco. Em disparos rápidos, a arma exige que o soldado tenha maior atenção pois os disparos seguintes tendem a subir em relação ao alvo. Esse maior recuo é atenuado com um compensador. Esse dispositivo colocado na ponta do cano serve para direcionar os gases do disparo em outras direções contrárias, atenuando a subida natural do cano. Ou seja, a arma tende a levantar um pouco menos em disparos rápidos ou rajadas curtas.

Soldados argentinos com o FAL.

Não somente isso. O calibre de maior potência em virtude da maior quantidade de propelente também gera uma maior quantidade de chamas. Em um dia limpo e claro, as chamas não aparecem, somente uma pequena e rápida fumaça. Entretanto, de noite ou em dias de baixa luminosidade, as chamas podem ser vistas de forma muito rápida. Isso passa a ser um problema para o soldado. As chamas vão revelar a posição do soldado. O inimigo irá ver de onde estão vindos os disparos e assim ele poderá revidar de forma mais rápida em cima do soldado. Para tanto, há a necessidade de usar um quebrachamas, acoplado na ponta do cano. Esse dispositivo ajuda a dissipar parte das chamas geradas pelo disparo e, assim, manter a posição do soldado mais furtiva em condições de baixa luminosidade. Cabe mencionar que tanto o quebrachamas como o compensador pode ser feitos em uma única peça. Nada impede que uma arma tenha somente um compensador ou somente um quebrachamas. Dependendo do desenho técnico do dispositivo, ele poderá não mesclar as duas funções.

Um dos pontos criticados no FAL é a sua coronha rebatível. A crítica não é sobre as hastes de metais sobrepostas, que limitam o apoio da face do soldado na coronha. A crítica é sobre a forma que ela é rebatida. Para rebater a coronha, o soldado deve apertar um botão na parte de baixo da base da coronha unida à caixa da culatra. Uma vez pressionado esse botão, o soldado deve abaixar levemente, pelas hastes, a coronha em relação à sua base. Uma vez apertado esse botão, que deverá estar premido por todo o tempo da operação, e uma vez a coronha abaixada levemente, aí é que o soldado irá rebater a coronha para o lado direito. Pode ser algo pouco complexo, mas isso pode ser um problema no calor da batalha quando se espera uma maior simplicidade de operação.

 

PARA FAL.

O FAL tem uma precisão um pouco maior que seus paradigmas. Isso se dá pelo centro de gravidade do fuzil que não tende a puxar para frente. E além do mais, a alça de mira está mais perto do olho dominante. Para efeitos de comparação, a alça de mira do M16A2 está mais afastada do olho se comparado com o FAL, quando ambos os fuzis estão devidamente posicionados no ombro do soldado. Isso torna o disparo mais preciso. No caso de um fuzil de batalha em 7,62 x 51 mm, isso é uma vantagem já que o soldado terá de acertar já nos primeiros disparos (sempre se treina para acertar no 1º disparo, mas nem sempre tudo sai conforme o treino) e quanto maior a precisão, maior êxito de disparo.

O FAL pode ser disparado em rajadas curtas. Desde o começo já se sabia que isso seria praticamente impossível em virtude da alta energia do calibre 7,62 x 51 mm. Os soldados, quando devidamente treinados, são orientados a usar rajadas curtas de 2 ou 3 disparos. E essas rajadas não devem ser usadas contra alvos a mais de 100 metros porque a dispersão é muito alta em virtude do grande recuo que, por sua vez, faz o cano levantar mais rápido. O uso de fogo automático contínuo é recomendado somente em casos de emergências e a curtas distâncias. É por isso que alguns exércitos do mundo compraram o FAL sem o regime automático, porque em virtude do recuo do calibre, o controle de rajadas seria praticamente impossível, gerando desperdício de munição, quando não, colocando a vida do soldado em risco pela falta de acertos ou por se ver rapidamente sem munição.

Soldado belga com o FAL em sua 1º versão. Note a ausência de quebrachamas.

As miras do FAL são graduadas em 200 a 600 metros. Pode parecer estranho porque 600 metros enquanto que outros vários fuzis em calibre 7,62 x 51 mm são graduados até 1.000 metros. O calibre 7,62 mm OTAN é muito potente. Se por um lado gera um projétil com demasiada energia, por outro lado gera um recuo mais forte. Acertar um alvo a 600 metros, usando somente a mira, seja em calibre 7,62 mm ou 5,56 mm não é uma das tarefas mais fáceis, mesmo com soldados altamente treinados. Acima de 600 metros a dispersão é muito grande e disparos seguidos em distâncias maiores resultam em desperdício de munição sem acerto do alvo. Nesse ponto os belgas foram mais pragmáticos e estipularam 600 metros como a distância máxima eficaz. A distâncias maiores, além da dispersão, o soldado teria de graduar a mira para compensar o arco que o pesado projétil faz ao sair do cano. Ou seja, o soldado teria de ficar estudando com atenção as distâncias dos alvos para graduar a mirra correta. Isso é um problema para o soldado, pois pelo arco do calibre ele tem que graduar as miras entre 200 e 600 metros.

O FAL foi também se caracteriza pela sua resistência e longevidade. Por ser uma arma simples e sem muitas peças móveis, a arma tende a sofrer menos com os desgastes naturais que toda e qualquer arma passa. Originalmente, o bloco forjado da caixa da culatra do FAL permitia o uso do fuzil para até 80.000 disparos. Entretanto, testes mais rigorosos na Bélgica nos anos 60 mostraram que esse nº girava em torno de 60.000 disparos. O que mesmo assim não é nada ruim. Cabe mencionar que esses testes ignoram algumas variáveis, como as intempéries e choques naturais que esses blocos são submetidos. Isso pode fazer esse nº variar muito. Por exemplo, os FALs israelenses tinham uma alta taxa de desgaste não porque o fuzil era ruim ou porque a areia danificava. Tinham uma alta taxa de desgaste porque o fuzil era usado praticamente todo dia, em condições extremas em que, com o tempo, haveria um rápido desgaste de suas peças.

 

Versões

O FAL teve poucas versões produzidas. A ideia da FN sempre foi a simplicidade e uma plataforma que fosse a mais eclética possível. Assim sendo, a FN optou por não lançar tantas versões diferenciadas, já que apenas encareceria o produto e limitaria as vendas a nichos especiais. A versão standard é o FAL 50.00. Essa versão tem o cano normal de 533 mm de comprimento e coronha fixa. É o modelo base de toda a família FAL. Outras empresas que passaram a produzir o FAL sob licença fizeram outras versões desse modelo. Aqui focaremos os modelos da FN.

FAL 50.00.

A versão de coronha rebatível se chama PARA FAL. O termo para vem de “paratroop”, paraquedista em inglês. Embora fosse idealizado para paraquedistas, o fuzil compacto também visava outras tropas que necessitassem de um fuzil mais compacto, como as tropas transportadas por helicópteros, tropas especiais, tropas de veículos mecanizados e outras tropas em condições especiais. A versão FAL 50.61 tem o mesmo cano regular de 533 mm de comprimento. Essa versão adota um bloco de caixa da culatra forjado em aço. A versão 50.64 também tinha o mesmo cano de 533 mm de comprimento, entretanto, usava um bloco de caixa da culatra forjada em alumínio. Essa versão se destinava, conforme vontade do cliente, às tropas paraquedistas já que isso daria um fuzil mais leve. Entretanto, a arma teria uma durabilidade menor se comparado com outros modelos usando o bloco forjado em aço.

FAL 50.61. Note o cano de 533 mm.

Há ainda outra versão que se divide em duas outras versões. O modelo 50.63 é uma versão curta do FAL com coronha rebatível. Esse modelo é disposto com duas opções de canos. Um cano de 436 mm e outro cano de 458 mm de comprimento. Essas duas versões não tem uma nomenclatura específica. Essas versões são dedicadas a pessoal de veículos blindados ou tropas especiais, que necessitem de uma carabina. Por seu tamanho, essa versão foi vendida em poucas quantidades já que a demanda por uma arma dessa categoria sempre é menor. Em todas essas versões a alça da mira tem uma proteção lateral. Isso pode levar alguns a acreditarem que se trata de uma mira fixa. Mas a bem da verdade, é apenas uma proteção lateral. Por ser um fuzil compacto, se espera que ele seja usado com paraquedistas em que a alça da mira pode enroscar em alguma correia ou acessório. O mesmo poderia acontecer em ambientes fechados, como um veículo de tropa ou o interior de um helicóptero.

FAL 50.63. Note o cano de 457 mm.

Importante dizer que o PARA FAL tem uma alça de mira diferente. Enquanto que o FAL dispõe de várias graduações na mira, o PARA FAL tem apenas duas, para 150 metros e 250 metros. Isso pode ser um problema caso o soldado engaje alvos a distâncias maiores. Em virtude do arco que o projétil faz pelo seu maior peso, a graduação da mira é necessária. Muitas vezes a versão PARA FAL usa o mesmo cano de 533 mm de comprimento do FAL normal. Caso o soldado dispare contra alvos a mais de 300 metros, ele perderá um pouco a precisão porque não haverá a graduação correta para o projétil a distâncias maiores.

A FN também disponibilizou metralhadoras leves de apoio. Essa versão do FAL é conhecida como FALO, do francês Fusil Automatique Lourd, ou, fuzil automático pesado. Essa versão do FAL tem como principal característica um cano mais pesado. Isso permite um maior tempo de disparo de apoio sem esquentar a arma a níveis perigosos para evitar o efeito cookoff, quando a arma dispara em virtude do calor do cano, sem ação do percussor. Além disso, há um quebrachamas de maiores dimensões para extinguir a maior quantidade possível de chamas. Ocorre que a metralhadora leve vira um alvo prioritário diante dos inimigos onde vários soldados tentarão silenciar a arma. Para tanto, quanto mais discreto estiver o soldado, melhor.

FALO 50.41.

O FALO tem duas versões. FALO 50.41 Essa versão e um FAL com um cano pesado de 533 mm de comprimento. Ele tem um pequeno guardamão para expor ao máximo o cano para que se resfrie com o ar de fora. O bipode é retrátil e a coronha é de nylon, como os outros fuzis regulares. O FALO 50.42 é um pouco diferente. Tem o mesmo cano, mas a coronha é de madeira e a soleira dela tem um apoio para o ombro. Esse apoio não serve para segurar o ombro, mas sim jogar um pouco o peso do fuzil no ombro do soldado, dando maior mobilidade de manejo à arma. Ambas as versões tem um peso de 6 Kg. Alguns operadores usam um carregador para 30 cartuchos nessas armas, o que oferece um maior poder de fogo. Porém, pela altura do carregador, o soldado fica limitado na sua mobilidade já que o carregador a todo o momento poderá bater no chão ou no apoio.

FALO 50.42.

Cabe recordar que essas são as versões feitas pela FN e adotadas pela maioria de seus clientes. Muitos países ou usam versões diferenciadas a pedidos exclusivos ou fizeram versões diferentes quando autorizados a produzirem localmente o FAL. Isso faz gerar uma grande quantidade de versões diferentes do FAL. Além do mais, o FAL é um fuzil com 30 anos de produção. Algumas alterações foram feitas com o passar dos anos de tal ordem que algumas partes podem não ser intercambiáveis com outras.

 

FN FAL 50.00

Calibre: 7,62 x 51 mm
Comprimento do cano: 533 mm
Comprimento total: 1090 mm
Cadência de disparo: 700 dpm
Peso: 4,2 Kg
Carregador: 20 cartuchos

 

Como funciona

O FAL é um fuzil de batalha com ação de pistão de curso curto com ferrolho basculante. Após o disparo, os gases, no êmbolo, impulsionam o pistão para trás, batendo no transportador do ferrolho. Esse movimento é de poucos milímetros, por isso se chama pistão de curso curto, pois o pistão retrocede poucos milímetros visando impulsionar somente o transportador do ferrolho. O ferrolho está localizado abaixo do transportador do ferrolho e a sua base traseira tem uma saliência em que ela fica travada em um recesso abaixo do ferrolho. Quando o transportador do ferrolho é movimentado para trás, ele puxa junto com ele o ferrolho pela parte de cima. Ao fazer isso, ele levantará levemente o ferrolho de sua posição, o suficiente para que a saliência de sua base traseira saia do recesso que o mantém travado.

Ao se levantar e se soltar do recesso, o ferrolho está destravado. Ainda com o movimento do transportador do ferrolho, o ferrolho, destravado, passa a se movimentar também para trás. Na coronha do fuzil há um tubo interno onde está a mola recuperadora. Na frente dela há uma haste guia que está ligada ao transportador do ferrolho. O transportador do ferrolho, ao se movimentar para trás, empurra para trás essa haste guia que, por sua vez, irá comprimir a mola recuperadora. Nesse momento, a haste guia entra na coronha no mesmo tubo onde está a mola recuperadora.

Ao chegar ao final do percurso, a mola recuperadora empurra para frente a haste guia que, por sua vez, empurra para frente o transportador do ferrolho juntamente com o ferrolho. Este, por sua vez, no movimento para frente, empurra um cartucho do carregador e o coloca na câmara do cano. Em seguida, o ferrolho passa pelo recesso, fazendo com que a saliência da sua base traseira caia, travando o ferrolho. Neste momento o ferrolho se afasta um pouco do transportador. A arma fica travada para o próximo disparo. Essa é a ação do ferrolho basculante.