Vz. 58

A então Tchecoslováquia conseguiu algo que nenhum outro país do Pacto de Varsóvia conseguiu. Produzir seu próprio armamento da infantaria sem intromissão da então URSS. Isso fez com que a experiência e capacidade técnica tchecoslovaca fosse melhor explorada, gerando um fuzil de assalto completamente independente e mais simples que o AK-47 que, naquele momento, fora imposto de forma obrigada a todos os países. O VZ. 58 muitas vezes é erroneamente comparado ao AK-47 quando na verdade são armas completamente diferentes.

 

Origens

Geralmente o tópico das origens das armas de fogo são capítulos pequenos introdutórios para expor o contexto em que a arma foi idealizada. Entretanto, as origens do VZ. 58 merecem ser contadas com um pouco mais de profundidade porque, assim como AK-47, M16, FAL, G3 e muitos outros, ele gera parte da história da criação dos fuzis de assalto e, por isso, daremos um destaque maior mais pelo cunho histórico.

Terminada a 2ª G. M., a Tchecoslováquia foi um país que pouco sofreu nas mãos da Alemanha Nazista ao conseguir manter o seu parque industrial. E nesse parque estava todo o parque destinado a materiais bélicos. A Tchecoslováquia sempre teve uma grande experiência e capacidade técnica no concernente às armas de fogo e, após a guerra, toda essa capacidade foi mantida já que era usada pelos alemães durante a ocupação. Isso foi importante pelo curto espaço de tempo que foi usado para desenvolverem o seu fuzil de assalto. Ela contava em seus arsenais com as carabinas semiautomáticas VZ. 52 de calibre 7,62 x 45 mm.

Soldado tchecoslovaco com um VZ. 52.

Esse calibre era um projeto próprio da Tchecoslováquia que visava uma maior independência no pós-guerra. Ela tinha visto o surgimento do SKS em grandes proporções nos anos seguintes após a guerra e ela apostou nesse caminho. Entretanto, duas situações aconteceram que fizeram a Tchecoslováquia mudar de caminho. Primeiro, ela viu que o surgimento do fuzil de assalto fez vários países europeus se interessar pelo conceito novo. E segundo, ela viu que a URSS tinha um programa sério e avançado de um fuzil de assalto que substituiria quase todas as armas da infantaria. Ou seja, os tchecoslovacos viram que o conceito da carabina semiautomática estava praticamente obsoleto.

A Tchecoslováquia estava sob forte influência da URSS e, antes mesmo da criação do Pacto de Varsóvia, era claro e notório que todos os países sob controle da URSS teriam de seguir as suas orientações quanto ao uso de armamentos. Entretanto, os tchecoslovacos não foram pegos de surpresa. Já no começo dos anos 50 eles já estudavam em uma arma da categoria de um fuzil de assalto. Falamos de categoria porque na época ainda não se tinha plena certeza o que era um fuzil de assalto. Os tchecos então buscavam uma arma menor, com maior poder de fogo e com capacidade de rajadas curtas.

Para tanto, ainda em 1951, 3 equipes ofereceram três modelos diferentes para avaliação. Eram o ZK 503, o ZB 530 e CZ 515, todos eles no calibre 7,62 x 45 mm. Os 2 primeiros fuzis disparavam com ferrolho fechado enquanto que o último com o ferrolho aberto. Isso porque ainda não se sabia ao certo de como a arma seria operada. Seguiram o mesmo passo dos alemães quando da criação do MKb Haenel, quando os primeiros modelos disparavam com o ferrolho aberto. Acreditava-se, de forma errônea, que a arma esquentaria muito em virtude dos disparos automáticos e, para tanto, o ferrolho aberto seria a melhor resposta. A equipe do CZ 515 passou pelo mesmo problema dos alemães 10 anos depois.

O ZB 530 tinha uma aparência mais diferente. Visando a mobilidade, o carregador era colocado em cima da arma, como a metralhadora Bren. A arma fazia o uso do ferrolho basculante. Adotando um layout bullpup, o fuzil tinha um bom comprimento de tamanho sem a necessidade de versões especiais de canos diferentes ou coronhas rebatíveis. Entretanto, se a ideia era uma arma de assalto, a disposição do carregador seria um grande problema, pois isso limitaria muito a visada do alvo e a troca do carregador.

ZB 530.

O ZK 503 apresentava uma configuração mais simples, lembrando mesmo uma submetralhadora. Não sabemos ainda com exatidão qual o mecanismo de disparo, mas ao que parece, tratava-se de um sistema sem o uso de gás, como o uso de roletes. Isso simplificava o desenho da arma a ponto de deixá-la com uma caixa de culatra de altura e comprimento menor. Isso era bom por um lado ao simplificar o projeto, porém ruim de outro lado, já que isso tornava difícil de fazer a mira já que a massa e alça de mira ficavam praticamente na mesma altura da caixa da culatra e do cano. Ela era feita em metal estampado.

O 1º modelo do ZK 530.

Já o CZ 515 adotava um desenho mais radical. Usando um ferrolho basculante, também não adotava um sistema de captação de gás, podendo ser um sistema de blowback atrasado ou desacelerado. O fuzil era feito com metal estampado e o que mais chama a atenção era o curioso sistema de gatilho, para não dizer complexo. Havia dois gatilhos sendo que, o de cima, era para disparos semiautomáticos enquanto que o debaixo se destinava ao automático. Entretanto, esse não era o seu maior problema.

CZ-515.

Esse modelo disparava com o ferrolho aberto, visando um maior resfriamento do cano. Ocorre que isso fazia a precisão cair muito. Como o ferrolho fica travado atrás, na caixa da culatra, a cada disparo a massa do transportador e do ferrolho faziam o fuzil balançar porque ele vai para frente a todo disparo, e não para trás, como no ferrolho fechado. A arma de desestabiliza enquanto o ferrolho vai para frente e, quando a arma dispara, o soldado já perdeu parte da mira. Isso foi um problema para o CZ 515. Os 3 modelos avaliados se mostraram promissores mas frágeis, ainda não se tinha o completo controle de produção do metal estampado e as armas davam panes com frequência.

CZ-522.

Desta forma a CZ reformula o seu fuzil. A equipe passa a adotar o uso de gás por pistão de curso curto. É como há um mecanismo novo de gás, é feito um novo ferrolho e forma de travamento. É incluído um êmbolo de gás e, para o espanto de todos, é mantido o mesmo sistema de gatilho. Como a arma teve problemas de resistência, é abandonado o uso de metal estampado e é usada uma coronha de madeira que se projeta por toda parte de baixo da caixa da culatra para dar maior resistência.  Assim surgia o CZ 522. Em 1954, após todas as baterias de testes, o CZ 522 lograva sucesso, sendo a arma que seria adotada.

CZ-522 em testes.

Entretanto, as coisas começaram a andar devagar para o projeto. Em 1955, a URSS dita para todos os países de sua esfera que eles deveriam adotar como calibre padrão o 7,62 x 39 mm M43. Como ninguém tinha ainda as definições e medidas exatas desse calibre, o projeto praticamente ficou parado. Somente em 1956 que os soviéticos repassaram aos tchecos as medidas e valores da nova munição. Isso não quer dizer que os tchecos ficaram parados. Os tchecos reavaliaram o CZ 522 para refinar e adaptar o fuzil para o novo calibre. Abandonaram o conceito de 2 gatilhos para um único com um seletor de disparo. Abandonaram o suporte de madeira para um bloco de alumínio usinado e colocaram o dispositivo para que o ferrolho ficasse aberto após o último disparo. Esse modelo fica pronto em 1956 como SA-56, um protótipo para a versão de produção em massa.

Um ponto há que ser dito. A Tchecoslováquia conseguiu uma certa maior independência da esfera soviética quando ela tem aval para fazer seu próprio fuzil de assalto. Isso não quer dizer que os soviéticos deram sinal verde. Os 3 modelos de fuzis protótipos foram testados na Tchecoslováquia e também na URSS, onde os soviéticos também faziam apontamentos do que poderia ser melhorado e o que eles opinavam. Entretanto, ainda assim, a palavra final ficava com a Tchecoslováquia. Em 1958 o fuzil era oficialmente adotado como VZ. 58 – Samopal Vzor 58, em uma tradução livre, metralhadora padrão 58. Embora adotado em 1958, foi somente em 1959 que começou a produção em massa desse fuzil na CZ – Cezka Zbrojovka.

 

VZ. 58

A primeira coisa que as pessoas fazem quando veem o VZ. 58 é compará-lo com o AK-47. A bem da verdade são armas completamente diferentes. Com sistemas de disparos diferentes, trancamento do ferrolho diferente, grupo de gatilho diferente e até mesmo o carregador é diferente. Nenhuma peça do VZ. 58 é intercambiável com o AK-47. A começar pelo sistema de disparo e trancamento do ferrolho.

VZ. 58.

O VZ. 58 adota o sistema de ferrolho basculante, herdado do VZ. 52. Entretanto, a forma como o ferrolho é travado é diferente dos demais fuzis ao não adotar o sistema de ferrolho rotativo. Os checos adotam um sistema mais simples. A cabeça do ferrolho não fica travada na base do cano. O ferrolho está dentro do transportador junto com uma trava. Essa trava fica em cima do ferrolho, com 2 grandes ressaltos que se estendem para abaixo da linha do ferrolho, se assemelhando a 2 alavancas que, na verdade, são 2 travas. Esses 2 ressaltos ficam dentro de 2 sulcos na frente da base do cano.

Após o disparo, com o movimento de retrocesso do ferrolho, essa trava é levantada para cima, fazendo com que os 2 ressaltos levantem juntos saindo dos sulcos, se alinhando com o ferrolho. O ferrolho não está mais travado e começa a se locomover para trás. Após o ciclo, o ferrolho vai para frente. A trava abaixa, fazendo com que os 2 ressaltos abaixem e se encaixem nos 2 sulcos, travando o ferrolho nessa posição, logo na base do cano. Note que a cabeça do ferrolho em momento algum é rotacionada ou age para travar o ferrolho. Quem faz essa tarefa é a trava localizada acima do ferrolho. Esse sistema de trancamento do ferrolho se mostrou muito simples e eficaz.

Soldados tchecoslovacos com o VZ. 58.

Outra distinção e inovação do VZ. 58 foi quanto ao sistema de acionamento da espoleta da munição. O VZ. 58 adota o sistema de percutor ao invés do clássico sistema de cão com percussor. O sistema do VZ. 58 se mostra mais simples. Atrás do ferrolho, existe um tubo que contém o percutor. Quando o fuzil é armado e puxa-se a alavanca de manejo para trás, esse percutor é puxado até o fim da caixa da culatra. Uma trava do grupo do gatilho é levantada e segura o percutor atrás, comprimido por uma mola.

Quando o soldado aperta o gatilho, a trava desce, fazendo com que essa mola empurre com força o percutor para frente, que estará ligado pelo transportador do ferrolho. Com o forte movimento para frente, o percutor irá acionar a espoleta do cartucho, deflagrando-o e fazendo a arma começar o seu ciclo. A cada disparo esse percutor ficará travado atrás, sendo liberado a cada premida do gatilho. Isso faz notar que o grupo do ferrolho tem duas molas. Uma é a mola recuperadora do ferrolho basculante, localizada acima, e a outra mola é do percutor, localizada abaixo da mola recuperadora.

VZ. 58.

Outra característica melhor que o AK-47 é o gatilho. Ele é considerado bem mais leve e suave para disparar, sem a necessidade de grande esforço do dedo. Isso se dá pelo desenho do grupo do gatilho, que é simplificado sem tantas molas e engrenagens em virtude do conceito do sistema de percutor. Isso torna o grupo mais simples de produzir e manter.

Alguns pontos negativos são vistos como limitações hoje, mas não eram na época em que foram desenvolvidos. A alavanca de manejo é solidária ao transportador do ferrolho e fica para o lado direito do fuzil. Seria mais fácil acionar a alavanca com a mão contrária. Isso na época era comum e não era um motivo de cizânias. Um ponto a ser falado do transportador do ferrolho. A peça inteira serve como tampa da parte da frente da caixa da culatra já que nada cobre essa parte da arma. É por isso que não vemos janela de ejeção.

Soldados tchecoslovacos treinam com o VZ. 58.

O seletor de disparo é outro ponto curioso do fuzil. É uma tecla que está localizada acima da empunhadura no lado direito do fuzil. Isso é um problema. É praticamente impossível você acessar o seletor com o 2º dedo da mão que dispara, há que fazer uma contorção com o dedo para isso. A única forma de usar o seletor é com a mão que segura o guardamão. Isso é um problema caso o soldado tenha que operar rapidamente o fuzil. Entretanto, é de maior facilidade para canhotos já que eles podem acionar o seletor com o 1º dedo da mão esquerda sem problemas nenhum. A curiosidade é que pela primeira vez vemos um dispositivo de fuzil que no final é melhor para uma minoria.

A posição do seletor e a forma dele não é um erro dos engenheiros tchecoslovacos. Quando na fase de protótipo, desde o começo o CZ 515 tinha o seletor de disparo no lado esquerdo da empunhadura, onde o soldado poderia acioná-lo facilmente com o 1º dedo da mão direita. Entretanto, embora os soviéticos tivessem permitido os tchecoslovacos fazerem seu próprio projeto, eles obrigaram a seguir o layout do AK-47, com os comandos do lado direito. Desta forma os tchecos colocaram o seletor no lado direito, como não tinha como alterar essa parte em virtude do desenho técnico do grupo do gatilho, não tinha como realocar a posição do seletor, ficando nessa posição inconveniente.

VZ. 58 montado com uma mira de visão noturna da 1ª geração.

O retém do carregador não é ambidestro. O retém do carregador está logo atrás do carregador o que, em tese, o tornaria ambidestro. Os tchecos ficaram com medo de que, com o retém exposto, ele pudesse ser acionado acidentalmente. Para isso foi colocada uma dobra de ferro localizado junto do guardamato. Isso serve como proteção ao retém. Entretanto, esse retém é melhor acessado pela mão esquerda. Soldados canhotos terão problema para acessar o retém porque do outro lado haverá essa proteção de metal tampando o retém.

Uma grande vantagem do VZ. 58 em cima do AK-47 é que o ferrolho permanece aberto após o último disparo. Isso dá uma grande vantagem situacional para o soldado, pois diz a ele que a munição acabou e que não se trata de uma pane. Além disso, o ferrolho aberto agiliza a troca de carregadores já que o soldado terá menos ações de operação com o fuzil. Esse dispositivo funciona porque o carregador tem uma saliência que segura o ferrolho atrás quando acaba a munição. Para que o ferrolho seja liberado, o soldado puxa levemente para trás a alavanca de manejo.

O carregador é de alumínio, o que ajuda dar maior leveza ao fuzil, embora seja um pouco mais frágil. Os carregadores são únicos do VZ. 58, não podem ser trocados com os carregadores do AK-47. Um ponto curioso é a possibilidade de municiar o fuzil sem a troca do carregador. Como o transportador do ferrolho serve como tampa da caixa da culatra, quando ele é puxado para trás e travado, expõe toda a parte interna do fuzil. O soldado pode municiar o carregador pela parte de cima com um clip de munições. A praticidade desse movimento é deveras questionável, mas não deixa de ser um dado curioso.

VZ. 58 com coronha rebatível.

A massa de mira do fuzil tem uma graduação que vai de 100 metros até 800 metros. Levando em conta o fuzil, esse valor é otimista demais. Na melhor das hipóteses a arma tem um alcance eficaz de 400 metros. A graduação é de 100 em 100 metros. Isso ocorre por uma limitação balística do calibre 7,62 x 39 mm. O projétil tem uma massa grande para uma velocidade relativamente pequena, isso faz com que ele cai rapidamente, perdendo energia e velocidade. Para compensar, há que se fazer a graduação da mira com mais intervalos para que o projétil faça o arco necessário para o alcance maior. Isso é um problema porque o soldado a todo o momento terá que calcular a distância do alvo, graduar a mira e disparar. Essa limitação não é do fuzil e sim da balística do projétil.

O fuzil apresenta alguns aspectos negativos. O conjunto de miras. Tanto a massa como a alça de mira estão numa linha mais baixa, mais próxima do cano e da caixa da culatra. Isso faz com que o soldado dobre o pescoço um pouco mais para poder fazer o enquadramento de miras já que a altura não é compensada pelo ângulo da coronha. Outro problema é o recuo. O fuzil é leve, pesando apenas 3,1 Kg. O calibre 7,62 x 39 mm gera um forte recuo que, em uma arma leve, tende fazer o recuo ser mais pronunciado. Na época do desenvolvimento os tchecos não colocaram nenhum tipo que compensador ou quebrachamas no fuzil, o que poderia atenuar esse recuo maior.

Soldados com o VZ. 58.

Esse é outro problema visto no VZ. 58. O fuzil não tem quebrachamas. Isso faz com que o cano gere maiores chamas a cada disparo. Durante o dia isso não é um problema porque mal se vê. Mas em dias de baixa luminosidade ou de noite, as chamas são intensas. Isso é um problema porque as chamas denunciam a posição do soldado, o que pode gerar um revide de fogo inimigo mais concentrado. Isso é um problema ainda mais para operações especiais.

Outros pontos inconvenientes observados. O fuzil tende a esquentar com facilidade. Isso se dá porque o cano não é devidamente ventilado. O guardamão praticamente não tem janelas de ventilação, apenas uma fina fresta que une as duas partes. Isso faz com que o calor acumule rapidamente, o que pode gerar o efeito cookoff com maior rapidez. Isso ficou mais evidenciado quando o fuzil foi testado em zonas de maiores temperaturas, como desertos ou regiões úmidas e quentes. Isso ainda foi observado pelos soldados tchecoslovacos que estiveram no Afeganistão e usaram o VZ. 58.

VZ. 58. Note a coronha rebatida, permite amplo uso da arma.

Basicamente houve 3 versões principais do VZ. 58. A normal, com coronha fixa, uma versão com coronha rebatível para a direita. E uma versão de coronha fixa em que há na lateral esquerda da caixa da culatra um pequeno adaptador. Nesse adaptador se acopla miras telescópicas ou miras noturnas, já que é praticamente impossível colocar na pequena tampa da caixa da culatra. Cabe mencionar que a versão de coronha rebatível foi muito criticada. Ela é uma fina haste com uma soleira. Quando ela é esticada, o soldado tem dificuldade para fazer a mira porque ele não tem um apoio para a face lateral do rosto.

A agora República Tcheca tentou modernizar um pouco os VZ. 58. Unidades especiais receberam armas com trilhos picatinny, possibilitando uma maior flexibilidade para o emprego de miras e acessórios. Além disso, um compensador foi adicionado ao fuzil, diminuindo parte das chamas e ajudando a controlar o fuzil com o recuo. Entretanto, em virtude dos custos e cortes orçamentários, somente tropas especiais receberam essas versões.

VZ. 58 operado por tropas especiais indianas.

Muitos VZ. 58 foram usados no Afeganistão e lá se depararam com dois problemas. A arma esquentando acima do normal e a facilidade com que o fuzil se suja. A cada disparo o transportador, que serve como tampa da parte da frente da caixa da culatra, permite a entrada de poeira e sujeira já que está em constante movimento e tem uma grande abertura que expõe quase metade da caixa da culatra. Isso não gerou panes no fuzil mas exigia que o soldado limpasse o fuzil com mais frequência. Em combate o compensador se mostrou um grande aliado ao gerar uma menor dispersão dos disparos.

VZ. 58 usado no Afeganistão.

O VZ. 58 se mostra uma arma mais simples que o AK-47 até mesmo para desmontar. No final da caixa da culatra, se puxa um pino que ainda fica preso no fuzil para não ter o perigo de perder. Feito isso, empurra-se a tampa da caixa da culatra que ela sai com a mão. Tira-se o transportador do ferrolho, que contém o ferrolho e sua trava. Essa ação mais simples simplifica e agiliza a manutenção e limpeza do fuzil se compararmos com o AK-47.

Ao todo, 19 países compraram o VZ. 58 para exércitos e órgãos de segurança, sendo que o maior usuário é a Eslováquia por questões óbvias. Entretanto, a Tchecoslováquia até que conseguiu vendas relativamente boas. Não tinha como disputar o mercado com o AK-47 e AKM-47 na esfera soviética porque o VZ. 58 era considerado um fuzil mais caro que o AK-47. Este, por sua vez, principalmente o AKM-47, era um fuzil muito barato pois fora projetado para ser produzido aos milhões. Para um país cliente, era mais barato comprar um AKM-47 do que mandá-lo consertar. O preço barato e a cadeia logística fez o fuzil soviético ser absurdamente barato, não tendo como o VZ. 58 competir.

VZ. 58.

Embora o projeto seja do final dos anos 50, o VZ. 58 continua sendo usado por vários países e principalmente pela República Tcheca. Ao todo, foram produzidos 920.000 fuzis. No final dos anos 90 muitas armas receberam melhorias, como compensadores e trilhos picatinny que, em um primeiro momento, foram para as tropas que operam no Afeganistão. Depois, as tropas especiais tchecas receberam essas versões. Hoje há um programa para a substituição do VZ. 58 mas que anda a passos lentos. Mesmo assim, o VZ. 58 continua prestando serviço sem problema nenhum.

 

Vz. 58

Calibre: 7,62 x 39 mm
Comprimento do cano: 390 mm
Comprimento total: 845 mm
Cadência de disparo: 750-850 dpm
Peso: 3,1 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

O VZ. 58 adota um sistema peculiar de travamento do ferrolho basculante. Após o disparo, os gases percorrem o cano e entram em um orifício onde redireciona parte dos gases para um êmbolo de gás acima do cano. Os gases impulsionam um pistão que irá retroceder alguns milímetros (pistão de curso curto), batendo no transportador do ferrolho. Esta peça irá retroceder, junto com o ferrolho e sua trava. Quando o transportador começa a se locomover, a trava do ferrolho, pelo movimento, é levantada para cima. Os seus ressaltos laterais se alinham com a base do ferrolho, destravando o ferrolho. Desta forma, o ferrolho começa a se locomover para trás, enquanto extrai a cápsula da câmara do cano.

O transportador e ferrolho retrocedem até o final. Então a mora recuperadora começa a impulsionar o transportador para frente, junto com o ferrolho. Nesse momento, a base do ferrolho empurra um cartucho do carregador e coloca na câmara do cano. O ferrolho bate na base do cano mas não é travado ainda. Após esse movimento, a trava do ferrolho, localizada acima dele, cai, fazendo com que os seus ressaltos laterais fiquem mais abaixo da linha do ferrolho. Isso faz com que essa trava trave o ferrolho na base do cano e não a cabeça do ferrolho em si. A arma estará pronta para o próximo disparo.

 

Curiosidades

A maioria dos fuzis VZ. 58 usavam madeira no guardamão, empunhadura e coronha. No começo dos anos 80 os tchecos passaram a usar uma fibra de vidro em que a cor se parecia com a de madeira, gerando uma aparência até chamativa. Nos anos 90 passaram a empregar um material de cor preta.

Foi feito um protótipo versão bullpup do fuzil. A ideia era ver como ficaria o modelo em versão compacta e esta versão foi um completo fracasso. O problema era o transportador que funcionava como tampa dianteira da caixa da culatra. A cada disparo, a parte da frente ficava exposta, despejando gases e sujeira na cara do soldado. Um perigo sem sentido.

VZ. 58 Bullup.

Visando a exportação, foram feitos modelos nos calibres 5,56 x 45 mm e 7,62 x 51 mm no final dos anos 80, esses modelos não tiveram compradores e não passaram de protótipos.

Em cima o VZ. em calibre 7,62 x 51 mm e embaixo o VZ. em calibre 5,56 x 45 mm.