FAL – Parte 2

L1A1

No começo dos anos 50 a Inglaterra estava em processo de avaliação para o seu novo fuzil de assalto e, até então, o E.M.2 estava sendo muito bem elogiado. Mesmo assim, a FN havia sido convidada a participar da competição com o FAL. O contato inglês com o FAL foi com o 1º protótipo em 7,92 mm kurz e eles gostaram muito da arma. Entretanto, queriam um calibre mais potente para que tivesse um maior alcance com maior energia e viam assim o calibre .280 (7 x 43 mm) como o calibre ideal. Em 1948, esse modelo é enviado à Inglaterra para uma apresentação aos ingleses e australianos. Eles ficaram impressionados com a simplicidade da arma e da capacidade de controle em rajadas curtas sem perder a precisão. Era o que queriam.

Em abril de 1948 são encomendadas mais duas carabinas, agora no calibre .280. Entretanto, essas armas teriam um redesenho na alavanca de manjo, que foi posicionada mais para trás, na caixa da culatra no lado esquerdo e não mais no lado esquerdo do êmbolo de gás. O carregador teria a mesma capacidade para 20 cartuchos. A adaptação não foi simples como se pensa. Ao fazer a transição do calibre 7,92 mm kurz para o .280, não alteraram somente as dimensões das peças, a FN refez todo o estudo sobre as pressões que o calibre faria por todo o corpo da arma. Isso exigia maiores cuidados para que a arma não apresentasse fadiga precoce.

O FAL .280 Modelo nº 2 comparado com o E.M.2 em suas versões fuzil e carabina.

Essas armas eram o modelo nº 1, uma carabina de configuração convencional e o modelo nº 2, que tinha uma configuração bullpup. Isso se dava porque os ingleses estavam avaliando o E.M.1 e E.M.2, ambos bullpups e tinha gostado dessa configuração. Tanto o modelo nº 1 como o nº 2 seguiam as mesmas características de materiais e comandos da 1ª carabina Universal em 7,92 mm kurz. Em 1949 essas duas carabinas foram testadas juntas com o modelo 1 Universal em 7,92 mm kurz. Além dessas, também foram comparadas com o SAFN49 em 30-06, submetralhadora Sten em 9 mmP, a carabina M1 .30, o E.M.2 em .280 e o fuzil de repetição Nº 4 em .303. Essas armas foram usadas somente como parâmetros para ver quais seriam os rendimentos que o fuzil semiautomático BSA 28 (outra arma que disputava) e as carabinas E.M.2 e FN teriam.

Em cima dessas comparações os ingleses fizeram uma série de recomendações para o próximo modelo que seria feito em 1951. Nesse modelo as diferenças consistiam em um cano mais leve. O cilindro do gás e o pistão tinham menores dimensões. A soleira da coronha era mais alta para um melhor apoio ao ombro do soldado. Um novo seletor de disparo é feito com melhor ergonomia. O guardamão era mais resistente e o cano tinha provisão de um adaptador para o lançamento de granadas de boca.

FN .280 feito para os testes na Inglaterra.

As demonstrações mostraram que os ingleses tinham gostado muito das carabinas. Elas eram fáceis de manipular. Com a alavanca de manejo no lado esquerdo, ficava mais fácil de armar o fuzil. Como ela era hermeticamente fechada (mas não completamente), a arma tinha uma grande resistência à lama, poeira e areia. E por fim, a arma era simples de manter e limpar. O que chamou a atenção dos ingleses foi o sistema de básculo, onde a parte de cima da caixa da culatra se abria, ficando presa à parte de baixo da culatra. Esse sistema marca o FAL até hoje e na época foi um ponto positivo pela simplicidade para limpar o fuzil. Entretanto, a versão bullpup apresentou algumas falhas de alimentação. O cão estava batendo sem a energia suficiente em virtude de uma mola mais dura.

Os testes mostraram algo já previsto. O fuzil de repetição nº 4 tinha uma maior precisão. Cabe recordar que não era uma arma automática, usava um calibre em vias de substituição e o fuzil se destinava apenas às comparações. Das armas avaliadas na competição inglesas o FN ficou em 1º lugar, em 2º lugar o E.M.2 com mira telescópica. Em 3º lugar o E.M.2 com mira fixa e em último lugar o BSA 28. Em virtude da complexidade e do alto índice de panes. O BSA 28 foi considerado muito ruim a ponto de não poder mais continuar na competição.

BSA 28.

O ano de 1951 termina ruim para os planos ingleses. Os EUA decidem não adotar o .280. Com a vitória de Winston Churchill, do partido conservador, o programa de aquisição do E.M.2 estava literalmente cancelado. O E.M.2 havia sido muito bem avaliado pelos ingleses e considerado superior ao FAL. Entretanto, com a recusa americana de adotar o calibre inglês e impor o calibre 7,62 x 51 mm, os ingleses não poderiam contar com o E.M.2. Se por um lado era ruim para a indústria bélica inglesa, era bom para a FN investir mais no FAL. Após o cancelamento do E.M.2, os ingleses partiram para o 2º colocado, o FAL, que também havia sido muito bem elogiado e avaliado pelos ingleses. Para tanto, foi necessária a adaptação do calibre 7,62 x 51 mm ao FAL, o que fez perder a principal qualidade que o FAL .280 tinha, qual seja, o controle em rajadas curtas.

X8E1 encima e embaixo o X8E2.

Os ingleses também usavam o modelo canadense como base para os seus protótipos. Em 1953 um modelo é feito e apresentado no começo de 1954. Nesse ano são apresentados os modelos X8E1, um modelo seguindo a mesma ideia americana, com alimentação por clip em cima da caixa da culatra. E o X8E2, que tinha uma janela de ejeção convencional sem alimentação por cima, mas tinha uma mira ótica de 1x, a mesma usada no E.M.2. Em 1955, o FAL passa a ser produzido em Enfield.

Com o novo calibre, os ingleses o acharam potente demais. Embora tivesse ótima precisão e desempenho, o fuzil era literalmente incontrolável em rajadas curtas. Diante disso, assim como os americanos, eles retiraram o regime automático do fuzil porque seria inútil na arma, gerando um grande desperdício de munição assim como uma grande dispersão. Essa nova versão, X8E5, também recebe um grande quebrachamas. Ocorre que o 7,62 x 51 mm gerava uma queima maior que o .280 e suas chamas eram maiores. Para evitar que o inimigo soubesse a posição do soldado, foi adicionado um grande quebrachamas ao cano.

X8E5.

Outra coisa que os ingleses alteraram foi o ferrolho após o último disparo. No L1A1, após o último disparo, o ferrolho não fica travado atrás. E assim, ele também não tem um retém do ferrolho. Isso era um retrocesso porque o ferrolho travado atrás permite ao soldado saber que a munição acabou e que não se trata de uma pane. Os motivos para os ingleses fazerem isso ainda são inconclusivos. O seletor de disparo recebe um novo desenho, é maior e mais ergonômico. A alça da mira também é diferente. Ela é dobrável para frente, isso visa evitar danos à mira quando o fuzil não estiver sendo usado. De resto, o L1A1 era o mesmo FAL de outros com os mesmos mecanismos e operações de uso.

Esses modelos apresentavam mais alterações no projeto original. As presilhas do carregador eram mais resistentes. O raiamento do cano é diferente e o extrator e ejetor são peças mais rígidas porque se desgastavam rapidamente nos testes de campo. E a alavanca de manejo era retrátil, sendo dobrada para frente quando não em uso. Isso era um ponto negativo para o fuzil. Muitas vezes, o soldado usando luvas grossas, tinha dificuldade de acionar a alavanca de manejo caso ela estivesse dobrada. O soldado tinha primeiro esticar a alavanca de manejo para então depois puxar ela para trás.

Em cima a versão inicial do L1A1 e embaixo a versão final do L1A1. Note o emprego de materiais sintéticos na coronha, empunhadura e guardamão.

Em março de 1954 era adotado oficialmente o SLR L1A1 – Self Loading Rifle L1A1, onde passou a ser produzido sob licença em Enfield de forma seriada. Os ingleses não adotaram o FALO porque preferiram manter a Bren em virtude da sua maior tolerância do calor, onde permitia um maior fogo de apoio e supressão, coisa que no FALO isso era itens limitados. O L1A1 foi usado até 1995.

Uma invenção inglesa que casou perfeitamente com o L1A1 foi a mira SUIT – Sight Infantry Trillux, lançada em 1970. A Inglaterra sempre pesquisou esse tipo de mira desde o final dos anos 40 com o UNIT, uma mira de 1x e queriam ter algo semelhante com o L1A1. A SUIT é uma mira de 4x, ambidestra. Pode parecer grande hoje, mas em 1970 era uma grande vantagem para o soldado. Com a SUIT, o FAL se mostrava formidável para aquisição de alvo e resposta de tiro.

Mira SUIT em um L1A1.

A proteção de borracha maleável que vemos não é só para proteção da lente. Quando o soldado encostas o olho nela, o olho já fica na distância ideal da lente. Isso faz o soldado ter uma resposta mais rápida de tiro, pois não precisa ficar medindo a distância do olho na lente para poder mirar. O movimento de mirar é praticamente automático. A mira tem é graduada para 300 e 500 metros. Para uma mira de 4x, são distâncias ideais para o uso do 7,62 x 51 mm. Ainda mais, o retículo da mira é iluminado por trítio. Ele atua por energia vinda de uma bateria. O soldado pode controlar a luminosidade conforme o ambiente escuro.

Soldado usa um L1A1 com a SUIT em Belfast.

O uso da SUIT no L1A1 foi um grande sucesso. O rendimento do soldado aumentou muito. A precisão de disparo duplicou em até 100 metros. Em condições de baixa luminosidade, o alcance efetivo dobrou e em condições mais escuras o soldado não perdia a mira a curtas distâncias, algo frequente quando se usava a mira fixa. Outro ponto positivo foi que os soldados passaram a acertar mais alvos em movimento se comparados com as miras fixas. Entretanto, nem tudo era perfeito. Os soldados tinham problemas em neblina, chuva e neve. A lente tendia a ficar suja, onde o desfoque fazia o soldado perder a precisão.

A vantagem da SUIT fez chamar a atenção. No começo dos anos 80, os soviéticos lançaram a mira 1P29, que é literalmente uma cópia descarada da SUIT.

Mira soviética 1P29. Uma cópia descarada da SUIT.

Outras influências

A Alemanha foi um caso à parte dos clientes que se interessaram pelo FAL. Ela precisava de uma nova arma para sua nova guarda de fronteira, já que não havia ainda um exército formado no pós-guerra. A Alemanha tomou conhecimento dos testes do FAL nos EUA e ela se interessou pelos resultados, ainda mais quando o FAL estava na iminência de ser adotado pelos EUA. Desta forma, a FN mandou para a Alemanha alguns modelos para testes, baseados no FAL canadense. Os testes preliminares mostraram que o FAL havia se saído muito bem. Logo os alemães quiseram saber mais sobre a arma e se a FN poderia fazer algumas modificações que eles queriam.

Soldado alemão com um FAL G1.

A modificação visual que mais chama a atenção é o guardamão em metal estampado. Tal peça também servia de apoio para o bipode. O fuzil mantinha todas as mesmas funcionalidades do FAL. Entretanto, a pedido dos alemães, queriam que a altura da alça de mira fosse rebaixada em 3 mm. Pelos estudos dos alemães, a alça de mira mais alta expunha mais a face do soldado, expondo mais o soldado ao fogo inimigo. Os belgas não queriam isso, pois se tivessem que rebaixar a alça de mira, isso geraria maiores custos, maior tempo de produção e atraso no programa de testes e entregas em caso de vitória. Isso gerou um foco de desentendimento. Os belgas não se mostravam muito solícitos com os alemães, muitas vezes se mostrando relutantes. A resposta de um oficial alemão foi decisiva. “No caso de um ferimento na cabeça, 3 mm é a diferença entre um soldado morto ou um soldado ferido”.

Além da alteração da mira, também houve a alteração no percussor. O percussor passa a ter um novo formato para dar maior resistência e durabilidade. Além disso, o extrator também foi remodelado para que sofresse menos com os impactos e tivesse uma maior durabilidade também. A importância da participação da Alemanha no FAL resulta que essas alterações passaram a ser de série para os modelos posteriores do FAL. Entre 1957 e 1958, os alemães receberam 100.000 FALs designados como G1, G de Gewehr. Aqui temos que eliminar um mito. A Alemanha nunca teve um pedido recusado de FAL pela FN. Desde o começo a Alemanha havia se interessado pelo CETME e a compra do FAL sempre foi temporária até que a Alemanha pudesse fazer localmente o CETME sob o modelo G3.

Soldado alemão com um FAL G1.

A Índia foi um dos operadores do FAL mais excêntricos que já teve. Logo após a sua independência, a Índia passou a buscar uma forma de se rearmar. Ocorre que um dos países mais populosos do mundo tinha de ter um armamento para um dos maiores exércitos do mundo. Isso era importante porque, até antes da sua independência, o exército era fortemente controlado pelos ingleses e o armamento, além de baixo nº, era considerado ultrapassado quando o mundo adotava fuzis semiautomáticos ou fuzis de assalto. Como uma nação independente, a Índia chegou a namorar o AR-10 e logo mais tarde as primeiras versões do AR-15. Embora de calibres diferentes, o negócio não foi para frente em virtude da posição de Washington.

Não lhe restou alternativa a não ser recorrer à FN que, na época, se dispunha a vender a quem quisesse comprar. Entretanto, como nação independente, a Índia decidiu escolher qual melhor armamento comprar. Como a FN dispunha de duas versões do FAL, no sistema imperial e métrico, a Índia optou por receber duas quantidades de FAL no sistema imperial e métrico para avaliações de qual versão de fuzil seria comprada. A Índia tinha gostado das duas versões mas ainda havia um ponto a esclarecer. A produção local do FAL na Índia. Entraves econômicos e políticos tornavam a produção cara para um país com poucos recursos e a Índia partiu para a produção ilegal. Entretanto, a versão indiana do FAL é sui generis. A Índia estudou o FAL no sistema métrico e imperial para ver qual seria melhor.

Ishapore 1A.

A empresa usada para esse trabalho foi a Ishapore e esta fez algo mais surpreendente do que copiar de forma ilegal o FAL. Ela pegou as melhores partes do FAL métrico e as melhores partes do FAL imperial para geral a sua própria versão do FAL. O FAL indiano, conhecido como 1A, tem em seu desenho técnico partes do sistema métrico e imperial em uma só arma, de tal ordem que é impossível intercambiar peças do FAL indiano com um FAL do sistema métrico ou imperial. É um FAL exclusivo no mundo das armas. Mas e o FAL no sistema métrico operado pelos indianos? A resposta para isso é que a Índia foi processada pela FN quando passaram a produzir ilegalmente o FAL. Para compensar isso e terminar o processo judicial, a Índia comprou uma certa quantidade de armamentos da Bélgica, dentre as quais, estava o FAL métrico. É por isso que vemos o FAL belga em uso pelos indianos também.

Ao longo do desenvolvimento e produção do FAL, foram feitos três modelos de caixa da culatra em aço usinado. O modelo inicial, denominado Tipo 1, foi colocado a testes exaustivos de durabilidade e nesses testes apareceram pontos de fadiga e fissura. Diante disso a FN desenvolve um novo bloco em 1962. Esse novo bloco da caixa da culatra é denominado Tipo 2. Esse novo bloco havia ganhado novas partes usinadas de forma reforçada nos pontos onde o bloco anterior apresentara fissuras e fadigas. As partes frágeis foram corrigidas e é o modelo feito até hoje. Entretanto, em 1973, surge um novo bloco da caixa da culatra, denominado Tipo 3. Esse novo bloco não era para ter maior durabilidade, mas sim para reduzir os custos de produção, onde era feito por um processo que exigia menos processos de usinagem para diminuir os custos. Era um bloco mais barato e mais resistente se comparado com os blocos anteriores.

 

Protótipos

Embora a FN não quisesse sair da tradicional linhagem de armas, alguns protótipos foram feitos e eles merecem destaque. Os motivos expostos para o surgimento do PARA FAL já foram mostrados mais acima. Entretanto, como ele nasceu é algo que poucos conhecem. Diante das necessidades belgas de uma arma com coronha rebatível, em 1960 surge o primeiro protótipo do FAL com esse tipo de coronha rebatível. Aqui a FN tem de pensar em como fazer isso. Ocorre que outros fuzis de assalto a transição para a coronha rebatível ou retrátil é simples, entretanto, com o FAL é diferente, exigindo que o FAL fosse parcialmente redesenhado em seu conjunto interno.

Como a mola recuperadora do FAL fica localizada dentro da coronha, ao fazer uma coronha rebatível teria de realocar a mola recuperadora sem alterar os pontos principais dos desenhos técnicos do fuzil. Para tanto a mola recuperadora ficou colocada logo embaixo da tampa da caixa da culatra. O transportador do ferrolho teve de ser levemente rebaixado para que espaço entre o transportador do ferrolho e a tampa da caixa da culatra. A grosso modo, é como se a mola recuperadora estivesse em cima do transportador do ferrolho e não atrás. A mola é presa ao transportador do ferrolho por uma base na parte de cima do transportador do ferrolho.

1º protótipo da coronha dobrável do FAL.

Esse modelo inicial de coronha retrátil era feita com um pino de fixação localizado no meio da caixa da culatra. Ela não era rebatível e o soldado tinha que dobrar a coronha para frente por uma ação de várias articulações. O movimento de dobra fazia esticar a chapa da soleira da coronha até o guardamão. O problema surgia quando a coronha estava esticada na posição normal. Como as hastes de metais eram finas, o soldado não tinha o apoio necessário para face lateral do rosto. O soldado tinha de forçar o pescoço para manter a mira, o que por sua vez prejudicava o soldado. O 2º protótipo de fuzil com esse tipo de coronha ganha um pequeno apoio para face lateral do soldado.

1º protótipo da coronha dobrável do FAL Note como a coronha se projeta sob o guardamão.

O problema era o conceito do tipo da coronha retrátil. O mecanismo inteiro era complexo. O mecanismo de dobra exigia uma série de articulações que sujavam com facilidade, assim como tendiam a ficar frouxas com o tempo. Além disso, quando a coronha era retraída, ela ficava esticada logo abaixo do guardamão. Isso era deveras incômodo para o soldado porque, necessariamente, o soldado tinha que apoiar o fuzil pelo guardamão com uma coronha e apoio de face logo abaixo. Não tardou para essa ideia ser descartada e se adotar o modelo atual, onde se aperta um botão de trava e com um movimento de rebaixamento de rebate a coronha.

Um protótipo muito curioso e praticamente desconhecido de muitos foi um modelo feito para a Suécia. Quando a Suécia buscava um novo fuzil para suas forças armadas, ela avaliou o FAL. Um lote de FAL foi adquirido nos anos 50 para avaliações e os suecos gostaram muito da arma. Entretanto, eles queriam uma versão conforme seus requisitos. Ocorre que os requisitos não eram simples modificações pontuais. Para que fosse possível, essas modificações alterariam muito o desenho técnico da arma. Tudo isso porque os suecos queriam que o fuzil fosse feito no calibre 6,5 x 55 mm.

Protótipo do FAL em 6,5 x 55 mm para a Suécia.

Em 1960 uma versão especial do FAL foi feito nesse calibre. Falamos de versão especial e não mero protótipo porque a arma tinha muitas diferenças que a tornavam em um quase novo fuzil. O calibre 6,55 x 55 mm, por ser maior, exigia peças maiores se comparado com as peças tradicionais do FAL. Como o calibre era maior, toda a arma teve de ser redesenhada. O ferrolho, o transportador do ferrolho, a câmara do cano, a caixa da culatra e o carregador tinham dimensões diferentes. Além disso, a arma tinha de ter toda uma resistência às energias do calibre 6,5 x 55 mm. Era literalmente um FAL diferente. Outras alterações pontuais foram o gatilho redesenhado para o uso de luvas grossas, onde o apoio do dedo era mais embaixo. E o carregador era diferente, era curvo onde os suecos achavam que isso diminuiria a distância da arma caso o soldado atirasse deitado no chão. Esse modelo não passou de um protótipo.

Outro protótipo desconhecido e merecedor de destaque é o FAL de ferrolho rotativo com metal estampado. Esse modelo surgiu quando a FN desenvolvia o CAL. Era um fuzil de assalto em metal estampado com ferrolho rotativo e a FN decidiu fazer um FAL nesse molde, mas somente para estudos. Por usar o ferrolho rotativo, havia a necessidade de se colocar um extensor na base do cano onde os ressaltos do ferrolho seriam travados. O modelo usava coronha rebatível, desta forma, a mola recuperadora ficava abaixo da tampa da caixa da culatra. Mesmo se fosse feito com coronha fixa, a mola continuaria abaixo da tampa da caixa da culatra.

Protótipo FAL com ferrolho rotativo.

A caixa da culatra era feita em metal estampado. Isso tinha alguns lados positivos. Barateava o custo de produção, assim como a caixa da culatra não recebia toda a pressão do ferrolho. No sistema do ferrolho rotativo, as paredes da caixa da culatra servem apenas como guias para o transportador do ferrolho, gerando pressões menores nessas paredes. Embora com metal estampado, no final esse modelo ficou com o mesmo peso do FAL, 4,3 Kg. Esse modelo era um modelo de estudos e não visava competir com outros fuzis 7,62 mm OTAN uma vez que o mundo partia para o calibre 5,56 x 45 mm e o mercado já estava saturado com armas no calibre 7,62 mm.

 

O FAL

O FAL cumpriu o seu dever. Surgiu como um fuzil de assalto que se transformou em um fuzil de batalha. De um projeto simples, visava uma arma que fosse simples de produzir, que fosse simples de treinar e que fosse simples de manter. O FAL nasceu na hora certa quando o mundo precisa de fuzis novos quando ainda mantinham velhos fuzis de repetição. Note que a maioria desses países saltou do fuzil de repetição diretamente para o fuzil de batalha. Poucos usaram nesse ínterim fuzis semiautomáticos. E como a Bélgica não tinha uma política restritiva de exportação, assim como tinha uma notória fama pela alta qualidade de seus produtos, conseguiu vender bem o FAL. Ao todo, 90 (noventa) países adotaram o FAL. Desses 90, 15 (quinze) o fabricaram sob licença. Ao todo, foram produzidos mais de 7 milhões de FALs, sendo que é impossível chegar a um número exato.

PARA-FAL operado pelo Brasil e produzido pela IMBEL.

Importante dizer que o FAL operou, literalmente, nos 4 cantos do mundo. Em média, cada país que o adotou o usou por 30 anos. Para um fuzil de batalha, não é nada ruim, pelo contrário, é um ótimo nº. Ele foi usado em regiões quentes e úmidas como a Ásia e América Latina e Central. Foi usado em regiões frias como o norte da Europa e norte do continente americano. Foi usado em regiões áridas e quentes como o Oriente Médio e África Central. Todos esses lugares apresentam condições climáticas e intempéries completamente adversas e rigorosas. O FAL operou nesses ambientes de forma plena e satisfatória, coisa que poucos fuzis de assalto conseguiram fazer.

Após a 2ª G. M., o mundo se deparou com uma proliferação de projetos de fuzis de assalto e de batalha. Dessa leva, pouquíssimos são usados até hoje em virtude do seu projeto. O FAL não é um projeto ruim, defeituoso ou limitado. Ele está velho, emprega um calibre diferente do que a maioria usa e sua substituição no âmbito mundial é uma regra do jogo. Porém, por toda a sua vida, ficou claro e notório que o FAL é, sem a menor sombra de dúvida, o fuzil mais produzido e adotado após 1945. Podemos considera-lo como o verdadeiro fuzil do mundo ocidental.

 

Curiosidade

Este é Dieudonné Joseph Saive, o pai do FAL.

Note que na prancheta D. Saive trabalha em cima do desenho do FAL Design nº 1.