Tipo 95

A China tenta alcançar o ocidente em meados da década de 90 quanto ao desenvolvimento de fuzis. Ao contrário do que se imagina, não foi somente um único fuzil a substituir o Tipo 81, mas sim dois, um bullpup e um convencional, em quantidades diferentes. A China percebe que com o programa do Tipo 95 a pesquisa e desenvolvimento de um fuzil não era algo simples. Infelizmente ela acompanhou de forma atrasada os seus paradigmas ocidentais, mas conseguiu lançar duas armas que satisfaziam as necessidades chinesas, que era o foco principal do programa.

 

Origens

Quando a China desenvolveu o calibre 5,8 x 42 mm, ela o fez já pensando em um novo fuzil de assalto. Embora contando com uma grande quantidade de carabinas Tipo 63 e Tipo 81, era claro e notório que essas armas seriam logo substituídas não só por causa do desenho um pouco ultrapassado, mas porque a China queria usar o novo calibre recém desenvolvido em uma nova plataforma que ainda seria usada por muito tempo. A China já tinha testado o calibre 5,8 x 42 mm na plataforma do Tipo 81 com o fuzil Tipo 87A. Embora o calibre funcionasse perfeitamente e atingisse todos os requisitos dos chineses, estes consideraram a plataforma ultrapassada.

Isso se dava porque o ocidente estava apresentando armas avançadas, algumas com conceitos revolucionários em alguns casos, conceitos avançados onde vemos o emprego de materiais mais modernos e novos layouts de desenho. Não só isso, também empregavam sistemas de operações diferentes, que muitas vezes se mostravam até mais simples que os modelos tradicionais. A China tinha um problema nesse ponto, ela não tinha todo o conhecimento necessário para produzir um fuzil de assalto no estado da arte. Para piorar, ela estava atrasada com isso, ela precisava de uma nova arma o mais rápido possível. A China levou muito tempo para desenvolver um fuzil de assalto convencional e ainda levou mais tempo para produzir o seu próprio calibre moderno. O tempo corria contra a China.

Tipo 81.

Após verem que não valia a pena manter o Tipo 87A em 1987, os chineses fizeram um grande estudo para o que poderia ser feito. Esse estudo não abrangia apenas um pequeno grupo de engenheiros da Norinco, foi um estudo que envolvia toda uma nova cadeia logística que forneceria matéria-prima, peças e insumos. Isso porque o novo fuzil deveria armar desta vez todos os soldados do exército popular de libertação. A China queria fazer o melhor possível com um fuzil de assalto que fosse o mais moderno possível levando em conta as suas limitações orçamentárias.

Os estudos de um novo fuzil de assalto começam em 1989 para definir como seria o layout. Levando em conta a experiência dos chineses com as cópias do AK-47 e AKS, e com o Tipo 63 e 81, eles notaram que as armas eram grandes e pesadas. Os chineses queriam uma arma compacta para suprir as necessidades dos paraquedistas, do pessoal de veículos blindados, das tropas de assalto anfíbio e todo o exército. Diante disso chegaram à conclusão que o layout bullpup seria o mais exato. Uma arma compacta sem a necessidade de versões diferentes em virtude do comprimento do cano. 

Tipo 87A.

E levando em conta a configuração bullpup, ela seria usada como plataforma para outras versões sem a necessidade de maiores alterações no projeto, o que resultaria em uma arma com maior quantidade de peças intercambiáveis o que, por sua vez, baratearia os custos de produção. Temos que levar em conta que, mesmo sendo uma arma barata (seja qual for), o custo para a China sempre será alto porque ela tem que armar um exército de milhões, já que tem o maior exército do mundo.

 

Tipo 95

O novo fuzil de assalto chinês é apresentado em 1995 com o nome de Tipo 95, também chamado de QBZ95. Embora apresentado em 95, ele só seria entregue em grandes quantidades a partir de 1997. Aqui gera uma confusão porque muitos acreditam que o Tipo 97 seria o nome correto. A bem da verdade, o nome real é Tipo 95. A versão Tipo 97 é a versão em calibre 5,56 x 45 mm destinado à exportação.

 

Tipo 95.

Em 1997, as tropas chinesas receberam alguns lotes às pressas. Ocorre que Hong Kong seria devolvida à China no dia 1º de julho de 1997. A China queria mostrar ao mundo que estava em um processo de modernização de suas forças armadas e queriam mostrar o novo fuzil como exemplo dessa determinação. Após a bela cerimônia de entrega da posse, com a presença de autoridades chinesas e inglesas, logo os ingleses passaram a deixar o território chinês. As novas bases até então ocupadas por ingleses passaram a ser ocupadas por chineses. Eis que o mundo vê que as tropas chinesas portavam um novo fuzil de assalto diferente de tudo o que tinham até então. Era a estreia do Tipo 95 ao mundo.

O Tipo 95, apesar de ter um desenho mais revolucionário em relação aos seus modelos, ainda é considerado um fuzil bullpup sem grandes inovações. Isso se deve que na pressa e urgência de desenvolver um fuzil de assalto o quanto antes, os chineses não refinaram o fuzil a tempo, sendo que muita coisa ainda deveria ser feita. Isso se dava pela pressa e pela necessidade de economia de custos, pois refinamentos em uma arma geram alterações do desenho que por sua vez geram novos procedimentos de fabricação, encarecendo ela.

Histórica foto de soldados chineses em uma base que dias antes pertencera aos ingleses. O mundo via pela 1ª vez o Tipo 95.

Um dos problemas do fuzil foi a janela de ejeção. Ela não pode ser colocada para o lado esquerdo, como os modernos fuzis bullpups permitem. O fuzil tem a janela de ejeção somente no lado direito. Isso é um problema para o soldado canhoto por dois motivos. A janela de ejeção está mais recuada, mais próxima do ombro. Isso faz com que os gases sejam jogados mais de perto da face do soldado. Além do mais, o fuzil tende a ejetar as cápsulas diretamente para a direita, fazendo com que elas acertem a face do soldado algumas vezes. Isso foi um alvo de grandes queixas porque os soldados canhotos têm de usar o fuzil como se fossem destros. Ao empunhar o fuzil, ele tem de usar o olho direito, que não é dominante, complicando muito a mira da arma. Isso exige um maior esforço para usar o olho dominante.

Em virtude da trajetória mais plana do calibre 5,8 x 42 mm, os chineses gostaram muito de como o novo fuzil era mais preciso se comparado com o Tipo 81 e 63, assim como as cópias chinesas que usavam o antigo 7,62 x 39 mm. Como a trajetória do novo calibre era mais plana, o soldado não tinha que ficar a todo tempo graduando a mira. Desta forma, o fuzil tem graduação de 100, 200, 300 e 400 metros, sendo que os soldados sempre deixavam em 300 metros porque nessa distância praticamente não havia diferença com 100 e 200 metros. A mira ainda tinha um ponto luminoso à base de elemento químico de rádio. Esse ponto era para até 100 metros, o que é mais do que suficiente para ambientes escuros já que o soldado não pode ver muito mais do que isso nessas condições.

Tipo 95.

A alavanca de manejo fica na parte de cima da caixa da culatra, protegida por uma alça de transporte. A ideia era fazer uma alavanca ambidestra e, ao mesmo tempo, proteger a arma contra entrada de sujeira. É comum em armas com alavancas de manejo lateral ter a abertura de operação para que a alavanca se locomova. Essa abertura permite uma maior entrada de sujeira se comparada com a alavanca em cima. A própria alavanca de manejo também serve como retém do ferrolho. Após o último disparo, o ferrolho fica aberto, dizendo ao soldado que acabou a munição e não se trata de uma pane. Após trocar o carregador, o soldado deve dar uma leve puxada para trás com a alavanca de manejo que automaticamente irá liberar o ferrolho, alimentando a câmara do cano.

Essa alça de transporte tem uma altura maior em virtude da linha reta do fuzil. Se por um lado melhora no controle do recuo, por outro lado faz a mira ficar mais alta, expondo um pouco mais o soldado ao fogo inimigo. A alça de mira tem um sistema de seleção rotativo de cima para baixo, com controle lateral para ventos. Já a massa de mira é uma parte que se prolonga a partir do regulador do êmbolo de gás. Isso é um problema porque a distância entre a alça e massa de mira é pequena. A curtas distâncias pode não ser um problema, mas a médias e grandes distância passa a ser porque fica mais difícil de conseguir uma maior precisão já que a massa praticamente vai cobrir todo o alvo.

Soldados chineses desfilam com o Tipo 95.

A alça de transporte serve também como apoio de mira. Em cima dessa alça foi instalado um trilho adaptador desenvolvido pelos próprios chineses. Em cima desse trilho são instaladas miras reflexivas, óticas ou noturnas. O problema não é a mira em si mas a sua posição. A altura da alça de transporte é considerada muito alta, já que a intenção era ter um espaço mais amplo para manipular a alavanca de manejo. Isso fez com que a mira ficasse mais alta. Ao acoplar alguma mira acessória, essa mira ficará mais alta ainda em relação ao corpo do fuzil. Isso fará com que o soldado levante mais a cabeça para fazer a mira. Em outras palavras, o soldado ficará mais exposto ao fogo inimigo caso use algum tipo de mira acoplada. Oportuno dizer que esse mesmo trilho serve de adaptador para trilhos picatinny. Esse adaptador com trilho é usado por poucas tropas especiais.

Outro ponto negativo é o seletor de disparo. Ele está localizado em uma posição completamente incômoda. Ele está bem no fim da caixa da culatra, praticamente no ombro. Tem a posição de travado, semi e automático. Para alterar, o soldado tem de fazer um grande movimento com o braço para poder usá-la. O treino de instrução ainda tentou fazer ela funcional, mas não conseguiu, onde dizia que se mantinha o fuzil apoiado no ombro e com a mão na empunhadura, e a mão do guardamão era usada para a seleção do regime de disparo em um rápido movimento de dobra de braço. Algo sem sentido e completamente incômodo.

Curiosa foto de um soldado chinês treinando com um soldado japonês. Note que o Tipo 95 é mais compacto e mais ergonômico de empunhar.

Essa posição do seletor de disparo se deve pela urgência e economia de custos.  O Tipo 95 tem uma operação de mecanismo diferente do Tipo 81, assim como um grupo de gatilho diferente também. Entretanto, a posição do seletor e do grupo do gatilho segue o mesmo layout do fuzil convencional. Ao fazer isso, se ganha tempo, simplifica-se o desenho técnico e torna a arma mais barata. Refazer o seletor de disparo e acomodá-lo mais à frente teria que redesenhar essa parte do fuzil, alterando o desenho original, encarecendo e demorando mais a sua fabricação.

Mas como fazem os soldados chineses então? Eles adotaram uma postura nada ortodoxa. Eles andam com o fuzil com carregador cheio mas sem cartucho na câmara do cano. Colocam, na maioria das vezes, o seletor de disparo em semiautomático e andam com ele assim. Em caso de combate, eles acionam a alavanca de manejo, carregando o fuzil e disparando em seguida. Isso é feito porque é mais fácil e rápido do que destravar a arma com o seletor de disparo atrás na caixa da culatra, praticamente no ombro. Esse modelo não é o ideal, mas é o melhor que os chineses conseguiram com essa falta de visão no projeto.

O fuzil tem um cano de 463 mm de comprimento, com um peso de 3,5 Kg no total. Isso torna uma arma relativamente leve se comparado com os fuzis convencionais. Oportuno dizer que o guardamão do fuzil tem um formato mais quadrado. Com o tempo de uso, a mão do soldado fica cansada porque essa parte não é ergonômica. Além do mais, ajuda a arma a não esquentar tanto já que o cano está mais afastado das paredes do guardamão. Entretanto, o fuzil mantém o mesmo retém do carregador ambidestro herdado do Tipo 81.

Tipo 95.

O sistema do fuzil tem um regulador de gás de 3 posições. Normal, maior quantidade de gás caso a arma esteja levemente suja e gás bloqueado. Caso o soldado queira usar granadas, ele terá duas opções. O uso de granada de boca faz com que quebrachamas do fuzil tenha um adaptador para o lançamento. Para tanto, o soldado terá de usar um cartucho especial para isso e terá de usar o regulador de gás na posição bloqueado. Também é necessária uma mira descartável que é acoplada na própria granada. Isso é outra forma de se economizar em uma mira dedicada, como é a do FAMAS.

A outra forma é usar um lança granadas acopladas ao fuzil. Para tanto, acoplar esse lançador no fuzil não é tão simples. Ele é preso ao cano e nas laterais do guardamão, por parafusos. É um procedimento nada fácil. O lançador é o QLG91B, feito especialmente para o Tipo 95. Com um calibre de 35 mm, o sistema tem alcance máximo de 300 metros e com vida útil de 2.000 disparos. Ele acrescenta ao fuzil 1,4 Kg. Aqui há que ser dito que varia de cada exército a melhor forma de empregar granadas. Há exércitos que seguem a doutrina de um lançador dedicado por pelotão e há exércitos que seguem a doutrina de que cada soldado deve levar a sua granada.

Tipo 95 com um lançador de granadas QLG.

O Tipo 95 tem um sistema de amortecimento de recuo. Ainda não se sabe a origem, se pela ideia de dar maior conforto e precisão para o soldado ou se o calibre 5,8 x 42 mm ter um recuo maior que o 5,56 x 45 mm e a Norinco queria um recuo equivalente ao calibre ocidental. De uma forma ou de outra, esse sistema está localizado no final da caixa da culatra. Após o disparo e com o movimento do ferrolho para trás, conjunto do transportador do percutor, que recebe a energia do ferrolho, vai com força para trás onde aciona uma alavanca. Essa alavanca, ao ser pressionada para trás, faz a sua outra extremidade ser lançada para frente. Na ponta dessa extremidade contrária existe um apoio com uma mola bem rígida, que ira comprimir uma base horizontal na frente dela. Esse movimento irá fazer com que a energia do recuo seja diminuída durante esse processo, já que essa mola mais dura irá amortizar parte da energia do recuo.

 

Sistema de operação

O Tipo 95 é um fuzil curioso quanto ao seu mecanismo de operação. Ele opera por pistão de curso curto, como o Tipo 81 e 87A. Entretanto, a forma como ele opera com o fuzil é diferente dos modelos convencionais. A começar pelo transportador do ferrolho. É uma grande e única peça no formato de um grande tubo com a alavanca de manejo em cima, sendo que são partes unidas. Na extremidade de trás, o ferrolho de 3 ressaltos é contido. Dentro desse tubo que serve como transportador do ferrolho existe uma grande mola que atua como mola recuperadora.

Atrás do ferrolho existe uma segunda parte. Trata-se de um tubo rígido com uma haste logo atrás. Essa haste tem uma 2º mola e são duas partes separadas. Embaixo desse tubo rígido há um pequeno bloco de metal rígido. Esse bloco funciona como o sistema percutor (striker) já que não há o cão no interior do fuzil. Em uma linha temos o pistão do êmbolo, seguido pelo transportador do ferrolho seguido pelo transportador do percutor (striker).

Após o disparo, os gases entram no êmbolo de gases. Ao serem aprisionados, eles geram força contra um pequeno pistão. Esse pistão irá bater com força contra esse grande tubo que é o transportador do ferrolho. Cabe mencionar que o tubo que vemos dentro do transportador do ferrolho não é de gás e nem parte do pistão, é apenas a haste guia do transportador do ferrolho. Pois bem, esse movimento de retrocesso faz o ferrolho rotacionar para o lado esquerdo, fazendo com que os ressaltos se alinhem com as aberturas da câmara do cano. Uma vez livre, o ferrolho começa a se movimentar para trás também, junto com o transportador. Nesse exato momento, a cápsula usada é ejetada para fora do fuzil pelo ejetor do ferrolho.

Soldado chinês dispara o Tipo 95.

No movimento de recuo, o transportador agora também empurra para trás o transportador do percutor. Ao chegar ao final do movimento, a mola do transportador do percutor é comprimida e, pelo grupo do gatilho, o percutor fica em uma posição mais atrás, travado. Com o fim do movimento de retrocesso, o transportador do ferrolho começa a se locomover para frente, graças à ação da mola recuperadora, ao passo que coloca um novo cartucho na câmara do cano, onde, ao final, os ressaltos do ferrolho passam pelas aberturas da câmara do cano e o ferrolho é rotacionado para a direita, travando a arma para o próximo disparo.

Para o próximo disparo, ao apertar gatilho, não haverá um cão interno que acionará o percussor. No Tipo 95 o percutor está travado pela mola do transportador do percutor. Ao apertar o gatilho, este irá soltar uma trava que segura essa mola. Soltando a trava, o percutor é lançado com força contra a parte de trás do ferrolho, acionando o percussor interno que irá bater na espoleta, acionando o propelente e iniciando novamente todo processo acima descrito. É interessante notar que temos a ação de um percussor e percutor em uma mesma arma, já que o percutor (striker) não é considerado o cão (na língua inglesa, hammer, que significa martelo, fazendo a mesma função do cão).

 

Versões

Quando os chineses optaram pelo Tipo 95, o fizeram visando toda uma família de armas a serem substituídas. Desta forma temos o fuzil de assalto, a carabina e a metralhadora leve de apoio.

A carabina é a versão com cano de 326 mm de comprimento. É a mesmíssima arma com diferença no comprimento do cano e no quebrachamas. O problema das carabinas é que geralmente tem um menor alcance, menor energia e menor precisão se comparado como fuzil de assalto convencional. Isso se dá pelo menor aproveitamento dos gases, enquanto que o Tipo com cano de 463 mm tem um projétil saindo a 930 m/s, a versão carabina tem um valor de 790 m/s. Isso já mostra que essa arma não pode ser usada em todas as mesmas situações do fuzil convencional.

 

Carabina Tipo 95 em calibre 5,56 x 45 mm. Note o formato do quebrachamas.

Por tem um cano menor, a carabina não tem espaço para acoplar lançador de granadas, granada de boca ou até mesmo baioneta. Os chineses fizeram um novo quebrachamas para a carabina. Como ela tem um cano menor, as chamas são maiores, assim como o estampido. O antigo modelo não seria suficiente e desta forma os chineses optaram por um modelo mais sensível.  Ele tem uma câmara antes da saída, nela parte das chamas são aprisionadas, fazendo com que haja uma menor chama a cada disparo. Entretanto, sistemas de câmaras tendem a sujar com o tempo, o que acaba anulando o efeito e mantendo chamas até maiores.

Um problema notado na carabina foi a mira. Se no fuzil de assalto a distância entre a alça e massa de mira já era inadequado, na versão carabina a situação é pior. A massa de mira está praticamente no começo da alça de transporte. Ou seja, a distância entre massa e alça é menor ainda. Isso implica em uma maior dificuldade para o soldado fazer a mira, pois a médias distâncias a massa praticamente cobrirá todo o alvo. Isso pode contornado caso o soldado use alguma mira telescópica ou reflexiva. Até agora a carabina foi enviada para algumas tropas especiais e o pessoal de desembarque marítimo.

Soldado com uma carabina Tipo 95.

A QJB95 é a versão metralhadora leve de apoio. Continua sendo a mesma arma por dentro, mas com pequenas diferenças. A começar pelo cano. O cano é maior e mais pesado, com um comprimento de 557 mm de comprimento, o que gera um projétil saindo a 970 m/s, o que é ótimo para o tipo de arma. Com um cano maior e maior velocidade e energia, o metralhadora leve tem um alcance de eficaz de 600 metros.

Metralhadora leve Tipo 95.

O curioso é a forma de carregamento do carregador circulóide para 75 cartuchos. Ao contrário dos demais, abre se a tampa lateral e colocam-se os cartuchos diretamente em espaços determinados. Isso agiliza muito pois coloca-se vários ao invés de um a um. O curioso é que foi visado um recarregamento rápido, ou seja, para a arma operar por mais tempo em um menor intervalo. Outro ponto curioso é que o QJB95 opera com ferrolho fechado ao invés de aberto, como as outras metralhadoras leves. Isso quer dizer que o ferrolho, a cada disparo, estará travado no cano. Isso faz a arma esquentar com muito mais rapidez. Em ferrolho aberto, como o ferrolho fica travado para trás, o ar circula entre o cano e o ferrolho, mantendo a arma mais refrigerada. Entretanto, o ferrolho fechado torna a metralhadora leve mais precisa que as metralhadoras operadas com ferrolho aberto.

Os chineses fizeram uma versão de exportação, o Tipo 97. Este nada mais é do que o Tipo 95 com a munição 5,56 x 45 mm OTAN. Essa versão usa o padrão STANAG para o carregador, usando os mesmos carregadores de alumínio dos M16 e os mais novos em polímeros com as mesmas dimensões. O que muda é o retém do carregador. Embora ambidestro, o botão está colado bem em cima do fosso do carregador e por ser um botão pequeno, seu acionamento não demanda maior treino e cuidado. Ao contrário dos outros fuzis da família M16, esse botão não tem uma canaleta de proteção contra acionamentos involuntários.

Tipo 97 em calibre 5,56 x 45 mm.

Para essa versão a alteração no grupo do cano e do ferrolho, que tiveram de ter as suas partes redimensionadas. E não somente isso, houve todo o estudo de resistência por causa das energias diferentes que o calibre americano gera. Assim como o Tipo 95, essa versão é oferecida em fuzil de assalto, carabina e metralhadora leve. Até agora 9 países o compraram para seus exércitos e órgãos de segurança, sendo que as maiores vendas foram para o Sri Lanka e Bangladesh, tradicionais clientes dos chineses.

Soldado cambojano com o Tipo 97.

Tipo 95-1

Desde o seu lançamento ficou claro que o Tipo 95 não era um fuzil completamente finalizado. A pressa e a contenção de custos fizeram surgir um fuzil mediano e parcialmente limitado. Com a urgência de um novo fuzil, muitos pontos do fuzil não foram corrigidos a tempo. Ainda em 2004 a Norinco passou a ver o que poderia ser melhorado no fuzil. Novamente eles se deparam com contingência de custos, sendo que não puderam fazer muita alteração que incidisse de forma mais profunda no projeto. Porém trabalharam para tornar o fuzil projeto mais ergonômico possível. Porém, a maior alteração não foi nem o fuzil.

Tipo 95-1. Note o seletor de disparo acima da empunhadura.

O fuzil passou por um leve refinamento e já em 2008 ele ficou pronto. Esta versão protótipo foi testada em várias regiões chinesas, como áreas quentes, neve, regiões secas e regiões úmidas. O fuzil tinha se mostrado bom e em 2010 ele é apresentado oficialmente, sendo também adotado nesse ano. Entretanto, o Tipo 95-1 não está sendo adotado em massa. Ocorre que a China ainda conta com os Tipo 81 com seus reservistas. Ainda conta com uma grande quantidade de Tipo 95 e ainda não terminaram de armas todos os soldados com o Tipo 95. Isso significa que não há uma urgência de uma produção em massa para essa nova versão.

A primeira coisa que chama a atenção é a posição do seletor de disparo, que agora finalmente fica acima da empunhadura. Isso faz uma brutal diferença para os soldados que não precisam mais andar com a arma sem cartucho na câmara do cano. Podem agora andar com a arma alimentada e travada que poderão entrar em ação de forma fácil, prática e segura ao acionar a trava da arma. Ainda mais, os chineses colocaram a opção de burst de 3 disparos. Esse sistema de burst já é considerado defasado porque o fuzil tem uma cadência de disparo de 650 d.p.m. Para que o sistema de burst tenha eficácia, ele tem que ter algo em torno de 1.800-2.000 d.p.m para que se tenha uma maior probabilidade de acerto.

Tipo 95-1.

Os chineses não colocaram uma janela de ejeção do lado esquerdo do fuzil. Entretanto, melhoraram muito a situação da antiga janela. A janela de ejeção foi posicionada um pouco mais para frente em 5 mm. Isso é suficiente para evitar que os gases sejam jogados na face do soldado. Além do mais, a Norinco fez um sistema diferente de ejeção. A cápsula é ejetada em 45º, a cápsula sai para frente e para o lado em um ângulo de 45º. Isso fez uma grande diferença para o soldado canhoto que pode disparar normalmente o fuzil sem ter o problema das cápsulas acertarem a sua cara.

A alça de transporte tem uma altura menor agora. Isso se dava pela queixa dos soldados ficarem muito expostos, pois tinha de levantar mais a cabeça para usar alguma mira ótico, noturna ou reflexiva. O novo modelo é mais baixo, ajudando, em partes, esse problema de exposição. A bem da verdade, se quisessem adicionar um grande trilho picatinny, teriam de redesenhar a alavanca de manejo, coisa que os chineses não estiveram dispostos. Outra alteração na alça de mira foi o ponto luminoso, que passou a usar trítio, um elemento químico que brilha no escuro. Essa mira é para até 100 metros, como o modelo anterior, entretanto, com maior longevidade de uso e menos risco ao soldado, que agora é praticamente nulo.

O guardamato também passa por alteração. É retirado o apoio que tinha antes e deixaram o guardamato com um desenho mais simples e tradicional. Os soldados viram no começo alguma diferença porque com o apoio era mais fácil de empunhar a arma. Esse apoio foi retirado para que o fuzil pudesse aceitar a instalação de lança granadas ou outros acessórios. O novo desenho permite um espaço maior para esses acessórios. Um lança granadas ainda não é acoplado diretamente no guardamão. Porém sua instalação ficou mais fácil. Na parte de cima do guardamato há um orifício onde o lança granadas é anexado e sem seguida preso ao cano.

Tipo 95-1. Ao lado esquerdo carabina e ao lado direito fuzil de assalto.

Outra alteração foi com o guardamão. Ele tem um formato diferente, agora passa a ser no formato de triângulo, onde a base é mais larga que a parte de cima. Isso torna a pegada do guardamão mão cômoda e firme, já que o modelo anterior era mais quadrado. Outra pequena alteração foi no ajuste do regulador de gás do êmbolo. Antes havia a necessidade de se usar alguma ferramenta. Agora se usa a base de um cartucho que encaixa com o regulador, facilitando a seleção dele.

Embora não redesenhado para o seu uso, o Tipo 95-1 pode ser montado com trilhos picatinny. As primeiras versões usavam trilhos picatinny pequenos nas laterais e na parte de cima do regulador do êmbolo. Na alça de transporte era colocado no trilho adaptador. Caso o soldado quisesse uma empunhadura vertical, ele tinha de instalar um adaptador no cano que se estendia pela parte de baixo do guardamão. Em seguida ele acoplava a empunhadura.

Tipo 95-1 com miras reflexivas.

Ainda não há encaixe de série para trilhos picatinny, entretanto, pode ser uma questão de tempo para isso ocorrer. Já surgiram alguns modelos em que há um uso maior desse tipo de trilho. Já foram vistos fuzis com uma camada externa presa ao guardamão, onde se permite trilhos nas laterais e na parte de cima. Os fuzis Tipo 95-1 mais recentes foram vistos com trilhos diretamente no guardamão, o que pode indicar que o fuzil pode estar saindo assim já de fábrica.

 

A maior inovação

O Tipo 95-1 recebeu uma série de melhorias ergonômicas. Entretanto, a maior inovação não é vista por fora. A maior inovação do fuzil foi a nova versão do calibre 5,8 x 42 mm, o modelo 5,8 x 42 mm DBP10. A China, quando lançou seu novo calibre, queria um calibre que fosse superior ao modelo americano e russo. Se conseguiram ou não, é uma outra história que só o uso observado e relatado em combate poderá mostrar, o que não aconteceu até agora.

As primeiras versões do calibre chinês, tanto o DBP87 e DBP88 ainda não geravam energia suficiente como queriam. Além do mais, assim como os americanos notaram na Guerra do Vietnã, o calibre usava elementos químicos sujos, ou seja, geravam muita fumaça e resíduo que, com o tempo, sujavam com facilidade a arma e deteriorava com maior rapidez o cano, êmbolo de gás e o grupo do ferrolho. Levando em conta que com o Tipo 95-1 se queria aumentar a durabilidade da arma, essa munição tinha de ser trocada.

Intersecções de munição 5,8 x 42 mm.

A nova munição é a DBP10. Ela usa resíduos que geram menos fumaça e menos resíduos, tornando a arma mais limpa e menos sujeita a sujeiras e corrosões precoces. Mas não só isso, com a nova munição se queria maior energia. A título comparativo, a versão DBP87 saía do cano com uma energia de 185 Kgfm. Com a DBP10, saía com uma energia de 199 Kgfm. Como o novo calibre gerava uma maior energia, o cano teve de ser alterado. Ele passou a ser forjado a frio, o que dá maior durabilidade e resistência. As suas paredes ficaram mais grossas e o seu interior recebeu uma camada de cromo duro na alma do cano. Isso porque a fricção do projétil é maior com a maior energia liberada. Para manter a mesma precisão, o cano teve de passar por essas alterações para manter a resistência à essas novas energias. E não só isso. Como o recuo também é maior, o quebrachamas foi redesenhado para ter um maior efeito compensador dos gases, atenuando a subida do cano que, por sua vez, gera uma menor dispersão dos disparos.

Da mesma forma que o calibre gera uma maior energia, mais rápido ele tende a esquentar a arma, principalmente na região do guardamão, já que é uma peça fina de polímero. Para contornar esse problema, aumentaram a distância entre o cano e as paredes do guardamão. Ao fazer isso, o guardamão recebe menos calor, permitindo ao soldado atirar mais. Embora com todas essas alterações, o Tipo 95-1 ficou mais leve, pesando 3,3 Kg.

Soldados com o Tipo 95-1.

As informações sobre as quantidades produzidas são muito desencontradas já que esse tipo de informação é considerada secreta na China, nos restando somente estimativas no mundo do achismo. Ainda não se sabe ao certo como está sendo a implementação do Tipo 95-1. Soldados do PLA, Exército Popular de Libertação foram vistos com esse fuzil, ao mesmo tempo em que são vistos com o antigo Tipo 81. Grupos especiais também foram vistos tanto com o Tipo 95 como o Tipo 95-1, ambos com adaptações locais para o uso de acessórios, miras e lança granadas. Até o presente ano, 2018, ainda é cedo para termos um panorama mais exato da dotação desse fuzil.

 

Tipo 95

Calibre: 5,8 x 42 mm
Comprimento do cano: 462 mm
Comprimento total: 747 mm
Cadência de disparo: 650 d.p.m.
Peso: 3,3 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Futuro

Dos anos 90 até agora, a China tentou recuperar o tempo perdido na seara dos fuzis de assalto. Com o lançamento do Tipo 95 nos anos 90, o mundo também viu ela lançar o Tipo 03, conhecido inicialmente também como Tipo 95. Tipo 03 é um fuzil convencional, baseado no Tipo 87A e que foi adquirido em poucas quantidades na época. Isso chegou e levantar suspeitas de que os chineses não estavam satisfeitos com o Tipo 95.

Tipo 03.

Isso não tem respaldo porque ambos os fuzis foram lançados praticamente na mesma data, não havendo tempo para comparações. Além do mais, sempre esteve em foco a atualização do Tipo 95 que culminou com o TIpo 95-1. O Tipo 03 foi visto recentemente usado por unidades que anteriormente usavam o Tipo 81. De uma forma ou de outra, a China não tem mostrado qualquer problema de uso com o Tipo 95.

A China tem um problema ao se ter o maior exército do mundo. Para armar o maior exército do mundo, é necessária uma quantidade maior de armas para esses milhões de soldados. Isso significa que a China não pode alterar o projeto a todo o momento porque uma alteração de projeto resulta na alteração da linha de produção, que por sua vez interfere na cadeia logística do fuzil. Isso tudo resulta em uma maior quantidade de tempo como maior custo, justamente o que a China não quer quando tem que armar o maior exército do planeta. Não é um erro a China não remodelar o Tipo 95 porque as necessidades e demandas dela são completamente diferentes de exércitos mais enxutos, onde se tem uma maior flexibilidade para alterações de projetos.

Recentemente a China andou testando novos modelos de fuzis de assalto. São modelos protótipos que indicam que a China quer se modernizar quanto à flexibilidade dos seus fuzis. Os fuzis chineses carecem de trilhos adaptadores, de maior modularidade e flexibilidade. Isso se deve pelas limitações do projeto do Tipo 95, onde não há espaço para acoplar trilhos sem alterar partes do fuzil. Um modelo visto em 2016 mostra que há um amplo uso de trilhos picatinny. Também aparenta uma maior modularidade. Especula-se que seja mais um fuzil feito em cima do Tipo 87A ou Tipo 03. Isso não é um demérito, pelo contrário, mostra que a plataforma se mostrou boa para isso.

 

Protótipo de novo fuzil de assalto.

A China tem investido pesado em seu poderio militar nos últimos 10 anos e poderemos ver o reflexo disso daqui a alguns anos quando lançarem seu novo fuzil de assalto. É de esperar que não se crie estereótipos de que a China produz armas ruins ou limitadas. Quando ela fez o Tipo 63, se mostrou como uma carabina muito ruim. As cópias chinesas do AK-47 e AKM-47 eram ruins também, com péssima precisão e durabilidade mínima. A coisa mudou quando a China lançou o Tipo 81, um fuzil considerado muito superior ao AKM-47 e com o Tipo 87A mostrou que tinha feito, de forma independente, um calibre mais leve comparável aos modelos russos e americanos. O Tipo 95 mostrou a tendência de fazer um fuzil moderno. Não podemos subestimar a China no futuro.

Protótipo de novo fuzil de assalto.

Curiosidades

O termo QZB vem de Qingwuqi Buqiang Zìdong, que em uma tradução livre significa, arma automática leve.

Algumas armas chinesas tem o mesmo nome. Quando o Tipo 95 (bullpup) foi lançado, inicialmente o Tipo 95 (convencional) apresentava o mesmo nome. Isso já aconteceu antes quando se tinha o Tipo 56, a cópia chinesa do SKS, como também se tinha o Tipo 56, cópia chinesa do AK-47.