HK33

Os alemães conseguiram adaptar o blowback desacelerado para o calibre 7,62 x 51 mm. Entretanto, historicamente falando, o sistema do blowback desacelerado foi desenvolvido para um calibre intermediário bem mais leve que o 7,62 x 51 mm. Ele fora elaborado para o 7,92 mm kurz onde trabalhara com as pressões desse calibre. Com a padronização da OTAN pelo 7,62 mm e pela adaptação do StG45(M), o sistema de roletes teve de ser alterado. Embora funcionando bem, ainda trabalhava com pressões muito acima do que o projeto original fora criado. Com o sucesso do calibre 5,56 x 45 mm, os alemães adaptaram o conceito do blowback desacelerado por roletes a um calibre realmente intermediário, tirando o máximo proveito desse sistema. Ao contrário do que muito se pensa, as primeiras adaptações do G3 para calibres menores nunca foram com o 5,56 x 45 mm, mas sim com o 7,62 x 39 mm, em plena guerra fria. Após essa adaptação é que a HK passou a adaptar o 5,56 x 45 mm, criando assim mais uma linha de produtos com a tradicional qualidade da HK no mercado internacional.

 

HK32

No pós-guerra os primeiros a adaptar o sistema de roletes a um calibre intermediário foram os espanhóis com um CETME B adaptado ao 7,62 x 39 mm. Não era uma arma redimensionada mas sim uma adaptação direta do fuzil. Na mesma época, no final dos anos 50, a Finlândia buscava um novo fuzil de assalto para o seu exército e a Alemanha Ocidental viu a possibilidade de vendas pela HK. Levando em conta que a Finlândia era um país neutro, não pensaram duas vezes para participar desse processo de aquisição. Como exigência finlandesa, estava o uso do calibre soviético 7,62 x 39 mm M43. Isso era um desafio porque não tinham grandes quantidades de munição para testar, dependeram de um lote fornecido pela Finlândia. E além do mais, a HK também sinalizava com a produção local, já que tinha recém adquirido os direitos comerciais do projeto CETME. O processo de adaptação ao calibre 7,62 x 39 mm também não foi tão difícil como se esperava.

HK 32, 1ª versão.

Seguindo a exigência finlandesa, o fuzil tinha de ser simples ao máximo. Diante disso, se manteve o mesmo layout básico do G3. O guardamão era de madeira, Já a empunhadura era de plástico e uma coronha retrátil, assim facilitaria a produção e manutenção de armas com coronhas iguais. O cano tinha 388 mm de comprimento e o carregador para 30 cartuchos, semelhante, mas não igual ao carregador do AK-47. Esse modelo foi avaliado pelas tropas finlandesas no final dos anos 50 e a arma funcionava perfeitamente. Porém, foi a arma foi considerada complexa tanto para produzir como para manter. Na época o paradigma era o AK-47, uma arma notoriamente simples de produzir, simples de manter e simples de operar, de tal foram que o HK32, por melhor que fosse, não poderia suprir essa característica. Assim a HK perde essa concorrência.

Isso não abalou a HK. Em cima desse modelo, serviu de inspiração para, no começo dos anos 60, fazerem uma breve atualização no HK32. O fuzil passa a ter uma empunhadura e parte de baixo da caixa da culatra em polímero, formando uma peça única, como nos modelos finais do G3. É acrescido ao projeto da arma uma nova coronha retrátil que já era usada no G3, muito mais simples e fácil de operar.

HK 32, 2ª versão.

É também alterado o guardamão, a HK insere um modelo mais largo para evitar o aquecimento dessa peça. Isso foi notado que no modelo anterior, com o guardamão em mandeira, a arma tendia a esquentar mais rápido que no G3. Se no G3 isso já era um problema, no HK32 o problema seria maior quando temos um cano menor. O HK32 visava o mercado externo e não conseguiu vendas. Ele foi oferecido a países não alinhado que já empregavam o 7,62 x 39 mm. Esses países tinham acesso ao AK-47 e AKM-47, armas muito mais simples e muito mais baratas. Por mais moderno que fosse e a um custo menor de aquisição,  esse modelo não passou de protótipo porque não se via muita chance de vendas. O HK32 era um fuzil muito caro se comparado com elas e, no mercado ocidental, ou se optava pelo 7,62 mm OTAN ou 5,56 x 45 mm. Desta forma o HK32 não obteve vendas.

 

RH4

A Rheinmetall estudou um pouco o programa CETME quando conseguiu do governo alemão autorização para fabricar partes do G3. Constatou que o fuzil havia sido feito para um calibre intermediário e não um calibre mais forte, como o 7,62 x 51 mm. Isso gerava pressões internas mais fortes no mecanismo de disparo, o que faria a arma desgastar mais cedo. A Rheinmetall teve uma ideia de alterar o mecanismo de disparo. No projeto original da arma é incluído um longo pistão que está preso ao transportador do ferrolho, fazendo o fuzil operar a gás. O trancamento do ferrolho continuaria a ser por roletes. Em um primeiro momento somos levar a crer que era a cópia do sistema Gerät 06, mas na verdade era diferente por usar um pistão longo e por ter as facetas do transportador do percussor com ângulos diferentes.

RH4 com coronha fixa.

A ideia não era ruim e deu certo porque o sistema fazia diminuir as pressões internas no fuzil. Como a ideia era promissora, usaram então um calibre intermediário mais leve. Resolveram usar o 7,62 x 39 mm. Pode parecer estranho. Uma empresa da então Alemanha Ocidental usando um calibre soviético quando acabaram de padronizar com o 7,62 x 51 mm. O que aconteceu?

RH4 com coronha retrátil.

A bem da verdade, a Rheinmetall também queria participar da venda de um fuzil de assalto para a Finlândia. Esta estava estudando modelos de fuzis para dotar o seu exército, e, entre os requisitos, estava o calibre 7,62 x 39 mm. Naquele tempo a Finlândia era um país neutro e a Alemanha Ocidental não viu problema em participar do programa. Após testes de campo, o RH4 foi rejeitado pela Finlândia em virtude da complexidade do modelo de usar roletes e operar a gás. Desta forma, com a recusa finlandesa e a complexidade da arma, nenhum mais país se interessou por esse modelo de fuzil. Mesmo assim, foi responsável pelos alemães estudarem mais de perto o calibre 7,62 x 39 mm do inimigo, já que a Finlândia havia enviado pequenos lotes para pesquisas e testes durante o desenvolvimento do fuzil. A HK também queria esse mercado finlandês e, por ter os direitos de exportação, não permitiu que a Rheinmetall participasse.

 

T223

O uso do 5,56 x 45 mm despertou interesse no mundo inteiro quando os americanos apareceram com um fuzil de assalto com um calibre menor e mais leve na guerra do Vietnã. Os alemães já tinham adquirido experiência adaptando o 7,62 x 39 mm ao blowback desacelerado e viram que era perfeitamente viável fazer isso com o novo calibre americano. Era o começo dos anos 60 e a Alemanha ainda estava armando os seus exércitos com o G3, não havia ainda demanda para um fuzil de calibre mais leve em suas forças armadas. Porém viram que seria uma questão de tempo para outros países adotarem esse novo calibre.

Por volta de 1963, a HK passou a estudar a adaptação do 5,56 x 45 mm ao sistema do G3. A adaptação é feita sem problemas e assim surge em 1965 o primeiro fuzil de assalto em 5,56 x 45 mm, o T223. Este havia levado em conta algumas lições aprendidas com o HK32 assim como algumas inovações. Ao contrário do que se pensa, não bastava simplesmente diminuir o tamanho das partes do fuzil. As pressões do calibre eram exercidas sobre as facetas do porta percussor. Como as pressões eram menores, essas facetas tiveram que ter o ângulo alterado. A mesma coisa fizeram com as molas internas dos roletes. Tudo isso para balancear o sistema para que funcionasse perfeitamente.

T223 protótipo.

De início, visualmente falando, temos uma nova coronha em uma peça única de polímero, como na usada na MP5. Essa coronha havia recém sido desenhada para a submetralhadora e usaram essa no novo fuzil. Assim como o M16, os primeiros carregadores tinham capacidade para 20 cartuchos. Porém a grande novidade era que agora, após o último disparo, o ferrolho permanecia aberto. Isso era uma grande vantagem para o soldado porque ele sabia quando havia acabado a munição e que não se tratava de uma pane. Pode parecer algo fútil mas no calor da batalha raramente o soldado conta na cabeça quantos disparos ele efetuou. E havia também um retém do ferrolho que ficava localizado dentro do guardamato. De resto, era o mesmo G3 em seus comados de operação.

T223 em uso no Vietnã.

E isso aconteceu em boa hora. Bem naquela época estavam surgindo os primeiros problemas com o XM16E1 e M16. Logo surgiu um estudo realizado pelo exército, o SAWS (Small Arms Weapon System) que visava um fuzil de assalto definitivo para o exército americano. Naquela época o M16 era considerado temporário até a conclusão do programa SPIW (Special Purpose Individual Weapon), programa este que se arrastou por anos e anos e não deu em nada ao final. O M16 fora selecionado como fuzil definitivo. Pois bem, a HK tomou conhecimento desse estudo SAWS e decidiu entrar nele. Para tanto, a HK se associou a uma empresa chamada Harrington & Richardson – H&R.

T223 em uso no Vietnã.

Ela colocou o HK T223 em testes no Vietnã a partir de 1966, onde foram usados e avaliados pelo SEALs. Ao contrario do que se pensa, eles jamais usaram o HK33 porque esse fuzil ainda não estava pronto. Eles gostaram muito do fuzil. Ao contrário do XM16E1 e M16, o fuzil não apresentava panes de disparo. Uma vez que não usava sistema de gases, a arma tendia a ficar menos suja internamente. O novo carregador para 40 cartuchos mostrou-se ótimo em funções de assalto. O retém do ferrolho foi considerado melhor e mais prático que o M16. Porém, havia um lado que foi muito criticado. O fuzil era complicado de desmontar, limpar e montar no campo de batalha. Foi considerado complexo e, por isso, foi descartado do estudo de nova arma para o exército americano.

T223

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento total: 937 mm
Comprimento do cano: 398 mm
Cadência de disparo: 650-750 dpm
Peso: 3,5 Kg
Carregador: 20 ou 40 cartuchos

 

HK 33

O T223 ainda era considerado avançado para a época. Ele era complexo internamente e tinha um custo maior, põem era uma arma mais confiável e prática de uso. Como a Alemanha ainda recebia seus G3, a HK optou por apostar mais nas vendas externas. Para isso há uma simplificação do projeto já que fora isso que tirara a HK do estudo SAWS. Os primeiros HK33 tinham a empunhadura de plástico de alta resistência e a parte de baixo da caixa da culatra em metal estampado. Esses modelos praticamente serviram como base de testes.

No processo de refinamento do fuzil, é decidido tirar o dispositivo que permitia o ferrolho aberto após o último disparo. Para isso ser feito, foi necessário um redesenho interno da arma, isso tornava o desenho técnico mais simples, o que barateava o custo e aumentava a simplicidade do projeto. Ocorre que os SEALs disseram que, quando usavam luvas, o retém do ferrolho, que ficava dentro do guardamato, atrapalhava na hora do disparo. Além disso, como a HK não iria mais tentar fornecer um fuzil aos EUA decidiram tirar o retém do ferrolho porque esse era um requerimento do exército americano e não uma ideia da HK. Da mesma forma, volta o emprego de polímero na empunhadura e parte de baixo da caixa da culatra. De resto, era o mesmo fuzil que o G3, com sistema de blowback desacelerado por roletes.

HK33. Note na coronha os furos para guardar os pinos que prendem a caixa da culatra quando é feita a manutenção.

Em 1968 é apresentado o HK33. Os primeiros modelos tinham um guardamão mais fino com uma manta térmica interna Isso era para compensar já que um guardamão mais fino reteria mais calor. Em regiões tropicais, os soldados perceberam que a arma tendia a esquentar um pouco mais. Esse guardamão, embora de plástico de alta resistência e com manta térmica, não tinha janelas de ventilação. Em regiões mais frias os soldados não viram nenhuma diferença. Logo depois o fuzil passou a ser oferecido com a coronha mais larga que auxiliava melhor na refrigeração interna. A coronha era a mesma do modelo T223. Desta forma, era possível ter a mesma arma com dois guardamãos diferentes.

A Tailândia foi um dos primeiros países a comprar o HK33 em 1968 e os usou em combate na guerra do Vietnã. O fuzil se mostrou muito melhor que o M16 que a Tailândia também já usava. O fuzil não tinha problemas de panes e era resistente a sujeira e umidade. O carregador para 40 cartuchos funcionava muito bem, enquanto que os carregadores para 30 cartuchos usados nos M16 apresentavam problemas. De cara era uma arma superiora ao M16 e M16A1. A única coisa que tinham que ter mais atenção, e que não era um problema, era a limpeza do fuzil já que os roletes tinham de ser limpos também. O HK33 foi muito bem elogiado pela Tailândia, embora custasse mais caro que o M16 vendido via FMS, com preços relativamente muito mais baratos. A Malásia também comprou o HK33 e os usou em combate também na guerra do Vietnã e tiveram a mesma opinião. O HK33 se mostrara muito superior ao M16.

HK33. Tailândia.

Saindo da filosofia do G3, o HK33 passa a ter um quebrachamas como o do M16, no modelo gaiola, o que era melhor e evitava a entrada de água no cano. O HK33 também oferecia duas opções de lançamento de granadas. Usando o padrão STANAG, ele podia lançar granadas de boca do cano. E também havia um lançador de granadas HK79 de 40 mm acoplado na parte debaixo do guardamão. Isso visa a exportação porque, dependendo de cada exército, há doutrina diferente de emprego desse tipo de granadas. Alguns preferem granadas de boca, outros preferem um lançador dedicado para isso.

Quando lançado, o HK33 tinha duas opções de carregadores, de 20 e 40 cartuchos. O de 20 se mostrou limitado já que era pouco para um fuzil de assalto, ainda mais quando se tinha controlabilidade do regime automático. O carregador de 40 supria, e muito bem, essa demanda de maior poder de fogo. Porém, em algumas posições, o carregador dava aos soldados algumas limitações de posição de disparo. Por exemplo, em terrenos irregulares, ficar na posição de bruços era incômodo porque o carregador tendia a se apoiar no chão. Diante disso, mais dois tipos de carregadores são ofertados, para 25 e 30 cartuchos. Os de 20 e 40 cartuchos são tirados da linha de produção.

HK33 . Note o carregador para 40 cartuchos.

Com tantas alterações, a HK opta por lançar a versão HK33E. O E é de “export”. Embora visasse a exportação, outros modelos anteriores foram exportados para outros países. Esse novo modelo tinha uma nova empunhadura e parte de baixa da caixa da culatra em novo material de polímero. A coronha passa por um redesenho para ser simplificada. A bem da verdade, o modelo anterior tinha um problema de desgaste precoce da fixação, já que com o tempo o pino não segurava direito a coronha. Com o novo modelo isso foi reforçado. Também foram feitas versões carabinas, o HK33K tinha um cano de 315 mm. Podia ser vendido tanto com coronha fixa ou retrátil. Em um primeiro momento, esse modelo foi focado mais para tropas especiais, pessoal de veículos, etc. Porém, essa versão teve mais destaque nas vendas para forças policiais e órgãos de segurança.

HK33K.

Atirar com o HK33 é realmente suave. Isso se dá pelo fato não só do calibre 5,56 x 45 mm ter um recuo menor, mas porque os roletes absorvem parte da energia do recuo. Aqui falamos de pouca coisa mas toda redução é bem vinda. Isso torna o HK33 um fuzil muito preciso no regime semiautomático. Quando o soldado usa de rajadas curtas, a arma se mostra mais controlável do que os outros fuzis de mesmo calibre. Isso foi notado também mais tarde pelos espanhóis com o CETME L.

Essa precisão e controlabilidade fez surgir uma versão de tiro de precisão. Tal qual o PSG1, nos anos 80 a HK lança o HK33 SG1. Esperava-se que as forças de segurança e polícia comprassem essa versão, mas ela foi vendida em poucas quantidades, mais para a própria Alemanha. Essa versão se mostrou limitada porque o calibre 5,56 x 45 mm não é o calibre ideal para isso. As chances de desvio por condições climáticas ou possíveis objetos no percurso do projétil faz este desviar com certa facilidade. Por mais controlável que seja o recuo e a mira perfeita, o projétil sofre mais das condições externas. Na Alemanha as equipes antiterroristas usaram por muito tempo essa arma e no final não a usavam em caso de reféns, deixando esse trabalho para a PSG1. Cabe mencionar não confundir o HK33 SG1 com o HK33 com mira telescópica. O SG1 tem algumas partes ajustáveis e é semiautomático, enquanto que o HK33 sniper é um HK33 com um trilho e mira telescópica, sem nenhum refinamento para isso.

HK33 SG1 operado por policial irlandês.

As últimas versões do HK33 incorporaram no seletor de regime de disparo o sistema de burst de 3 disparos. O burst nada mais é do que uma rajada controlada. Depende do projeto de quantos disparos, existem burts de 2, 3, 4 ou 5 disparos. Com o surgimento do M16A2, viram que foi oferecido sem o sistema automático e sim burts de 3 disparos (algo muito criticado). A HK, para não perder terreno e agradar a gregos e troianos, decide por incluir o sistema de burst de 3 disparos caso o cliente assim preferisse.

HK33. Equador.

Caso a doutrina de emprego seja somente a de usar o burst de 3 disparos, o soldado será treinado e usará assim, bastando selecionar o regime. Pode ser que o exército adote a doutrina do burst mas sem esquecer do regime automático, que pode ser muito útil em movimentos de assalto a curta distância. O incremento do burst de 3 amplia a gama de opções de emprego do fuzil sem ter que inventar um versão diferente da outra, como fizeram os americanos com o M16A2 de exportação, onde o cliente pode comprar ou a versão de burst ou a versão automático, mas não o fuzil com as duas opções.

Soldados chilenos com M16A2 e HK33.

O HK33 se mostrou como um grande projeto, algo como o que Vongrimler pensou ainda na 2ª G. M., quando pensou em um fuzil de assalto usando o sistema blowback desacelerado por roletes ao usar um calibre intermediário. Isso não foi conseguido com o G3 mas sim com o HK33. Embora o HK33 fosse um grande projeto, ele vendeu bem menos que o G3. Contando todas as versões, não passou de 1 milhão de fuzis produzidos. Isso ocorreu não porque o fuzil era ruim ou porque o mercado estava saturado. O HK33 é uma arma um pouco complexa de produção, o que torna ela mais cara que os seus rivais. Se não fosse o seu preço, o HK33 teria vendido muito mais, mesmo tendo uma qualidade maior que seus fuzis equivalentes.

 

HK53

Pode não parecer, mas o HK53 é uma das armas mais polêmicas da HK. Ela surgiu em virtude de algumas necessidades por questões externas e internas da Alemanha. Internamente, a HK viu que as submetralhadoras MP5 estavam se deparando com situações em que o inimigo estaria usando vestimentas balísticas, o que impossibilitava a imobilização do inimigo. Ou em algumas vezes, estava a distâncias em que o calibre 9 mm P não tinha poder de parada suficiente para o mesmo resultado. Isso fez com que a HK usasse o calibre 5,56 x 45 mm em uma arma supercompacta. Não só para uso militar como para uso policial. Por questões externas, estavam os clientes que queriam uma arma muito compacta usando um calibre de fuzil de assalto. Os ingleses estavam insatisfeitos com o HK51 e queriam algo mais, digamos, dócil. Não só os ingleses, mas outros países queriam uma arma mais compacta que uma carabina. A HK desenvolve então uma carabina supercompacta para essa demanda externa.

Em 1975 a HK lança o HK53. Nada mais é do que um HK33 com um cano de 211 mm. Assim como nas outras versões do HK53, ela é oferecida com coronha fixa ou retrátil, com ou sem burst de 3 disparos. Em um primeiro momento, a intenção era destinar essa versão para as tropas especiais e as que não estavam engajadas na linha de frente, como o pessoal de veículos, aviões, prédios, etc. Logo em seguida se visou o mercado policial e órgãos de segurança. Para o espanto de todos, essa versão supercompacta vendeu bem em vários países, no segmento militar e policial. A HK chama o HK53 como submetralhadora, já que a intenção era ser um equivalente ao MP5. A bem da verdade trata-se de uma carabina automática e não submetralhadora em virtude do calibre.

HK53.

Para o uso militar, a ideia não era ruim. Com o HK53 se uniformizava o calibre 5,56 x 45 mm, ao mesmo tempo em que permitia a maior compatibilidade com peças de outros HK33. Entretanto o uso constante faz surgir as primeiras características negativas. Um ponto observado foi o som. Canos menores tendem a emitir um estampido maior. Porém, quando o cano é bem menor e o calibre mais potente, como o 5,56 x 45 mm, o som emitido é muito alto. Isso é um problema para o soldado, pois o estampido alto pode revelar a posição dele. No uso militar, ficou visto também que o cano pequeno fazia a carabina disparar uma grande chama, já que o quebrachamas gaiola se mostrou insuficiente. Desta forma é feito um novo quebrachamas nas versões posteriores e, mesmo assim, não resolvia o problema por completo. Ainda continua saindo uma grande chama do cano.

HK53.

Outro problema foi o poder de parada e imobilização do 5,56 x 45 mm. Como visto em carabinas semelhantes americanas, o calibre 5,56 x 45 mm em canos muito curtos tende a ter um problema sério já que o cano curto não dá estabilidade necessária para o projétil. Como não há um aproveitamento melhor dos gases e o raiamento se mostra insuficiente, o projétil sai a velocidades menores e com energias menores. A título de comparação. O projétil sai do cano do HK33 com uma velocidade de 925 m/s e com energia de 173 Kgfm. Com o HK53, o projétil sai a 750 m/s com 115 Kgfm de energia. Essa diferença faz com que o projétil tenha mais dificuldade de penetração, assim como que, quando consegue entrar no corpo do inimigo, o projétil não tem energia e velocidade para tombar, transfixando o alvo e gerando o mínimo de dano interno.

HK53.

Esse problema foi visto também pelo uso policial, quando em ações o HK53 não fazia o bandido tombar no 1º disparo. Às vezes o bandido ficava ferido e atirava de volta, expondo os policiais ao risco. Para deixar a situação ainda mais complexa, é lançado o HK53K, com um cano de, pasmem, 113 mm. Essa arma era destinada ao serviço policial e agentes de segurança, mas se mostrou quase incontrolável nos disparos e o uso de regime automático quase impossível. Nos anos 90 surgiram vários questionamentos sobre o uso de 5,56 x 45 mm e chegou a pensar que não seria a solução ideal para esse tipo de serviço policial. Hoje esse tema ainda desperta discussões.

HK53 modernizado.

 

HK MICV-SW

O projeto do HK53 serviu de base para suprir a demanda de outro tipo de arma. Armas automáticas disparadas de dentro de veículos blindados. Surgia assim a MICV-SW. Uma carabina foi adaptada para isso, com um cano diferente que podia ser trocado facilmente por sistema de ressaltos. Ela não tinha nenhum tipo de coronha e a alavanca de manejo era posicionada mais para trás em virtude da parede interna do blindado poder bloquear a mão do soldado. O ponto diferente nesta versão é que disparava com o ferrolho aberto.

HK MICV-SW.

Uma vez que não havia a necessidade de precisão a médias e longas distâncias, o ferrolho aberto supria a necessidade de defesa a curtas distâncias. Isso fazia com que o cano da arma refrigerasse com a circulação do ar, já que o ferrolho sempre permaneceria aberto. Não tinha como fazer a mira de dentro do veículo, para isso se usava munição traçante, já que o projétil ficava incandescente e assim o soldado podia ver para onde iam os disparos. A MICV-SW foi feitas em poucas quantidades pela baixa demanda, mas muito usada até hoje nos veículos que a adotaram.

HK33

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento total: 917 mm
Comprimento do cano: 390 mm
Cadência de disparo: 700-750 dpm
Peso: 3,6 Kg
Carregador: 20, 25, 30 e 40 cartuchos

 

Como funciona

Após o disparo, os gases geram energia que vão contra a própria cápsula na câmara do cano. Os gases no cano forçam a cabeça do ferrolho para trás pela energia gerada. Dois roletes contidos em recessos na cabeça do ferrolho são empurrados para trás, fazendo-os entrar dentro da cabeça do ferrolho. A ação de atrito dos roletes na base de travamento e parede da base do cano faz desacelerar, por milésimos de segundos, o movimento do ferrolho. Nesses milésimos de segundos, o projétil deixa o cano e os índices de gases e energia caem a níveis seguros. Então, com a energia menor na cabeça do ferrolho, ele começa a se locomover para trás.

O transportador do ferrolho está conectado a uma haste localizado na parte de cima da caixa da culatra. Em volta dessa haste há uma mola recuperadora. Com o retrocesso do transportador do ferrolho após o disparo, ele comprime essa mola para trás, junto com o grupo da cabeça do ferrolho e portapercussor, onde, ao mesmo tempo, retira da câmara do cano a cápsula. O transportador do ferrolho corre até o fim da caixa da culatra. Agora, pela ação da mola recuperadora, o transportador do ferrolho começa ir para frente, onde introduz um cartucho na câmara do cano. A cabeça do ferrolho bate na base do cano e os roletes saem de dentro e se travam nos recessos da base do cano, mantendo o ferrolho travado e pronto para o próximo disparo.