Os incompreensíveis Bullpups

O maior erro é avaliar toda e qualquer arma pela sua aparência. A mudança incomoda a maioria e somente é aceita quando a maioria se acostuma a ela de forma abrupta. Até lá, muita coisa é criticada sem embasamento algum. Uma mudança não insta dizer que há progresso, mas o progresso exige, necessariamente, a mudança. Desde que surgiram as primeiras armas de fogo, muitos conceitos e ideias surgiram como forma de facilitar o que já era usado antes. Tais conceitos sofreram forte oposição quando todo um universo está habituado a algo já consolidado. Com o passar do tempo, são agraciados e recebem os louros da glória quando no passado foram rejeitados.

Nada foi diferente com o advento da configuração bullpup. A ideia de um fuzil de assalto menor sempre foi bem visto. Houve uma miríade de tentativas a chegar a isso (os primeiros estudos vem desde o século passado) e somente se conseguiu com a configuração bullpup, mantendo o comprimento original do cano em uma arma menor. O conceito é alvo de severas críticas daqueles que estão habituados ao tradicionalismo. Entretanto, é implacavelmente necessário que as devidas considerações sejam feitas sobre essas críticas em que, notoriamente, partem de generalização sem embasamento. Este é o propósito deste artigo.

1. A Complexidade de um fuzil bullpup nem sempre é avaliada por completa

Em pleno século XXI, o que vem a ser complexo? Desde a 2ª G.M., pudemos notar um franco desenvolvimento das empresas bélicas quanto ao processo de novos desenhos. Isto fica evidente quando a quantidade de países que desenvolve e adota fuzis novos somente aumentou a partir dos anos 70 do século passado e disparou após 1991.

O FN2000 é considerado uma das armas mais modernas feitas até hoje.

Isso não ocorreu à toa. Os desenhos técnicos surgiram para aprimorar o que se tinha antes. Processos mecânicos ficaram mais simples e os desenhos internos também. Diminui-se a quantidade de peças móveis e assim fica mais fácil de produzir um fuzil. Muito se diz que os fuzis bullpup sofrem de complexidade em virtude do realojamento de seus grupos internos. As alterações exigem, segundo os críticos, que o fuzil se torne mais complexo internamente. E que isso gera um ponto negativo para esse tipo de fuzil. O desconhecimento dos projetos, de como as coisas funcionam e o que oferecem acabam gerando críticas infundadas que, muitas vezes repetidas, acabam tornando-se pseudo verdades.

O mecanismo interno continua sendo o mesmo das outras armas. O sistema de trancamento do ferrolho é o mesmo. O método de captação de gases é o mesmo. O grupo do gatilho é o mesmo. A forma como um cano é feito ou acoplado à caixa da culatra é o mesmo. Os comandos de operação são os mesmos. Ou seja, o fato de um fuzil ser bullpup não implica que a arma tenha uma maior complexidade interna por ser diferente. O fato de ser diferente por fora não quer dizer que seja, necessariamente, diferente em seus mecanismos.


2. Projetos novos e adaptados

Isto é de suma importância para o entendimento dos motivos de um fuzil bullpup ter (quando raramente ocorre) pontos deficientes enquanto que outros não sofrem dos mesmos pontos. Isso se dá em virtude do projeto do fuzil. Muitas empresas, no afã de fazer um fuzil em menor tempo, assim como reduzir ao máximo os custos de pesquisas e desenvolvimento, optam por adaptar um projeto já existente em um layout novo.

Em cima o fuzil sul africano R4 e embaixo o Vektor CR21. O CR21 tem uma aparência moderna mas a bem da verdade, por dentro, é o mesmo R4.

A vantagem é a redução de tempo e custo. Em compensação, você traz para a nova arma todos os problemas que a arma antiga tinha. Adaptações de projetos precisam ser visto com extremo cuidado porque muitas vezes não se inova, apenas se repete o problema que tinha antes. Além do mais, ao adaptar um projeto pronto em um conceito novo, novos problemas podem surgir.

Por outro lado, outras empresas preferem apostar em pesquisas e desenvolvimento de novas ideias e soluções, apresentando uma arma nova pensada para evitar os problemas que uma arma anterior tinha. Há a desvantagem de se ter um custo maior de pesquisa e desenvolvimento, assim como o tempo necessário para isso ser bem maior. Oportuno lembrar que não existe uma regra geral para isso. Cada país, cada empresa sabe de suas capacidades e limitações tanto orçamentárias como técnicas, o que influi no processo de elaboração de uma nova arma. Esses pontos citados são de extrema importância porque iremos nos deparar com situações em que o problema não é do conceito bullpup, mas sim do desenho técnico interno herdado de um projeto convencional anterior. Isto não exime os problemas que uma arma bullpup poderá apresentar eventuais problemas de desenho próprio.

Desmontando o CR21 vê-se claramente que é um R4. A minoria dos projetos de fuzis bullpups é de modelos derivados. A maioria é de desenho técnico novo.

Um claro exemplo disso é o fuzil sul africano CR-21, da Vektor. Olhando por fora, o fuzil tem linhas modernas e arrojadas, beirando o futurismo. Mas por dentro, é nada mais do que um fuzil R4 adaptado. O R4 nada mais é do que um galil feito na África do Sul. Um projeto adaptado gera problemas. No CR-21 não há janela de ejeção para o lado esquerdo, afinal, o R4 não tem essa provisão. Assim como o seletor de disparo não fica ao alcance da mão, mas sim na parte de trás da caixa da culatra. Como a caixa do R4 foi deslocada para trás no CR-21, o seletor seguiu o modelo, indo para trás também. Este exemplo mostra a minoria dos projetos de fuzis bullpups porque a maioria já nasce com desenho interno completamente diferente e novo.

3. A Segurança do Fuzil

Esse é um dos pontos mais curiosos. Existe alguma diferença na segurança entre fuzil convencional e bullpup? Antes de mais nada, não existe o fuzil imune a falhas e acidentes, assim como não existe o desenho técnico que viabilize falhas e acidentes. Toda a arma é desenha a trazer a maior segurança possível ao soldado, umas mais, outras menos. Em relação ao fuzil convencional, o fuzi bullpup em nada difere. Os fuzis bullpups vão empregar o mesmo sistema de captação de gases de outros fuzis convencionais, assim como o mesmo sistema de trancamento do ferrolho, ou o mesmo sistema de alimentação e, principalmente, a mesmíssima munição.

Fuzil de assalto polonês MSBS. Um convencional e o outro bullpup. Ambos os modelos empregam a mesmíssima tecnologia. O fato de ser bulpup não é uma limitação tecnológica.

Levando isso em conta, muito se critica que o sistema de disparo e o grupo do ferrolho está localizado onde seria a coronha e, desta forma, bem ao lado do rosto do atirador. Em caso de um acidente, como uma detonação do cartucho, o rosto do atirador seria atingido por possíveis estilhaços desse incidente. Isso é deveras interessante porque temos no mundo dezenas de países que adotam o fuzil bullpup e, curiosamente, não existem relatos de tais acidentes.

Mais intrigante ainda é que os atiradores esportivos usam muitos esses fuzis bullpups com munição recarregada. E não são poucos os casos em que se usa uma quantidade diferenciada de propelente. Como é que esses atiradores nunca sofreram nenhum tipo de lesão em virtude de quaisquer acidentes? Para ficar mais interessante, fuzis convencionais usam o mesmo cano e o mesmo calibre e nunca explodem na cara do atirador. Com o bullpup seria diferente? Obviamente, não. A segurança de um fuzil bullpup é a mesma do fuzil convencional. Se se usa materiais modernos, com tecnologia própria de fabricação, desenho viável e munição correta, não há motivos para temer uma configuração diferente de um fuzil.


4. A Janela de Ejeção

Eis o calcanhar de Aquiles dos fuzis bullpups. De uma minoria, não de todos, que fique claro. Qual a finalidade de se criar uma arma que traga risco ao atirador? É um paradoxo que as pessoas ainda não perceberam. Não é o foco agora, mas a configuração do bullpup advém desde o início do século passado. Com o passar das décadas, outras armas foram surgindo nesse segmento, chegando ao ápice dos anos 70 da década passada quando mais projetos de fuzis bullpup e mais países adotaram esse conceito.

L85A2. De todos os fuzis bullpups regulares, o L85 e o Tipo 95 são os únicos que não permitem a alteração da janela de ejeção.

Seria uma histeria coletiva? Não, adotam o modelo porque ele funciona e é viável. Na maioria dos fuzis, principalmente nos primeiros modelos, a janela de ejeção sempre fica ao lado direito da arma.  E a minoria dos atiradores canhotos? Vamos focar somente nos fuzis onde a janela de ejeção é fixa do lado direito, sem a possibilidade de se alterar para o lado esquerdo. Conta-se em uma mão quais os fuzis que são assim.

Ao empunhar o fuzil, o atirador fica com o rosto a mais ou menos 15-20 cm de distância em relação à janela de ejeção. Mas mesmo assim, na linha da janela. Isso é um risco porque a cápsula ejetada pode vir de encontro à face do atirador. O problema disso em nada tem a ver com a janela em sim, mas sim o mecanismo de extração e ejeção. O mecanismo de extração é uma parte importante do fuzil que muitas vezes é ignorado. Ao retroceder, o ferrolho já segura a base do cartucho, no ciclo final do retrocesso, um pequeno pino ou alavanca faz a extração da cápsula para fora da arma. Esse é o extrator.

Geralmente, o extrator faz com que o cartucho seja lançado levemente para frente e para cima. O desenho dele e a sua função decorre em virtude da situação de outro soldado estar ao lado, fazendo com que a cápsula quente atinja o atirador à direta do atirador primário. Ao menos em tese era assim. Entretanto, pode ocorrer das cápsulas serem ejetadas diretamente para a direita num ângulo reto. Isso fará com que as cápsulas atinjam a face do atirador caso ele seja canhoto.  Isto ocorre não pela posição da janela de ejeção, mas sim pelo sistema de extração da cápsula. Muitas vezes, mesmo o soldado sendo canhoto, nenhuma cápsula é jogada na cara dele.

FAMAS. Note na foto que o soldado é canhoto e dispara a arma com a janela de ejeção no lado esquerdo. A maioria dos fuzis bullpups permite a alteração da posição da janela de ejeção.

Muitos projetos novos de fuzis bullpups usam o mesmo layout interno de um fuzil convencional. Por exemplo, o retém do carregador ou o botão do ferrolho estão na mesma posição. O mesmo com o extrator. Se o antigo modelo não faz a ejeção correta, o novo fuzil bullpup adaptado também não fará.             Isso fará com que, em algumas situações de tiro rápido, as cápsulas deflagradas acertem a cara do atirador. Esse problema é visto nos fuzis em que se copia o layout interno da arma no fuzil bullpup adaptado. E mais uma vez, não é por causa do design e sim do extrator. Ocorre que existem fuzis convencionais, com o carregador à frente da empunhadura, que muitas extraem e ejeta a cápsula diretamente na face do soldado. São raros mas acontecem.

Aqui estamos falando do caso de um fuzil bullpup em que não haja a possibilidade de alterar a janela de ejeção. Ocorre que a maioria dos fuzis tem essa possibilidade de alteração. Com uma simples alteração, você muda a janela de ejeção. Muitos vão dizer que isso é impossível no meio do combate. Mas quem em sua sã consciência faria isso em pleno combate??? Todo soldado que tiver um fuzil com possibilidade de alteração de janela de ejeção, o fará com antecedência. Ninguém seria louco de ir para o combate sem ter feito isso antes. É por isso que o soldado para por um procedimento chamado treinamento. Se ele não está apto a fazer isso, então ele não está apto a usar um fuzil.

Cabe ressaltar mais dois pontos importantes, que englobam a maioria dos fuzis bullpups. Existem sistemas que permitem uma fácil e rápida alteração da janela de ejeção. Até mesmo fuzis convencionais adotam isso para maior praticidade e conforto do atirador. Às vezes até com a ponta de um cartucho essa alteração é feita. Outras vezes uma simples ferramenta já resolve o problema. Podemos ver que 99,99% dos fuzis ou tem um sistema de ejeção imune a ferimentos ou permite a troca da janela de ejeção. Tomaremos como exemplo o FAMAS e o AUG, que foram os precursores da adoção dos fuzis bullpups.

O AUG é outro fuzil que permite a troca da janela de ejeção em poucos minutos.

O AUG necessita apenas de uma ferramenta. Puxa-se a caixa da culatra (que também é a coronha) do cano. Tira-se o grupo do sistema do gatilho e cão. Tira-se a tampa esquerda com o próprio dedo. A mesma tampa vai tampar a janela direita. Com a mesma ferramenta, um movimento e troca-se a posição do extrator. Coloca-se o grupo do gatilho de volta, coloca-se a caixa da culatra com o cano, fecha-se a coronha e pronto. Essa alteração não leva mais que 5 minutos. No FAMAS a coisa é mais simples ainda. Sem ferramenta nenhuma, retiram-se os pinos. Puxa-se o ferrolho, altera o extrator, abre a janela esquerda e fecha a direta, colocam-se os pinos novamente. Monta-se tudo de novo. Uma operação que não dura 3 minutos.

E também existem fuzis bullpups que adotam uma saída de ejeção diferente. Por exemplo, canaletas que levam as cápsulas para serem ejetadas longe da face do atirador ou janelas de ejeção que expelem as cápsulas para debaixo do fuzil. Desta forma, o problema de uma cápsula acertar a cara do atirador recai a uma pequena quantidade de fuzis bullpups da década de 70. A maioria esmagadora dos fuzis bullpup não sofre desse problema.


5. Centro de gravidade

Mais uma vez, nos deparamos com uma peculiaridade sem praticidade alguma. Muitos alegam que, como o mecanismo de disparo fica na coronha, o peso nessa área é maior. E, portanto, a arma sofre com a alteração do centro de gravidade. Na prática, isso não gera problema algum para o soldado. Dependendo do caso, é até uma vantagem. Será um grande problema se o atirador brincar de pêndulo com o fuzil.

E.M.2. O engenheiro mostra como um fuzil bullpup é mais equilibrado que um fuzil convencional.

Fuzis convencionais tem o centro da gravidade no centro do comprimento total do fuzil. Afinal, numa ponta a coronha e na outra ponta o cano. Nos fuzis bullpups, isso cai para o local da coronha. Muitos se esquecem que ninguém irá atirar com um fuzil com uma das mãos, como se atirasse com uma pistola ou um revólver. Pelo peso do próprio fuzil, assim como o recuo do mesmo, é inviável atirar com uma das mãos por razões mais do que óbvias. Pela maioria esmagadora dos treinos, o fuzil sempre estará empunhado com uma das mãos e a coronha sempre no ombro do braço da mão que empunha. Em outras palavras, o fuzil estará encostado no ombro do atirador a todo o momento. Essa regra serve tanto para fuzis convencionais como fuzis bullpups.

O atirador de um fuzil bullpup irá, necessariamente, assim como em um fuzil normal, apoiar a base da arma no ombro. Uma vez apoiado, o soldado tem o pleno controle da gravidade do fuzil, já que estará apoiado no ombro e a outra mão estará apoiada no guardamão do fuzil. Lembre-se que o bullpup é antes de tudo uma arma longa. O recuo do disparo em nada irá interferir, muito pelo contrário. Os fuzis bulppups, em seu layout, seguem a linha reta, quando a coronha está na mesma linha do cano. Isso faz com que o recuo seja mais controlado pelo atirador uma vez que se diminui o movimento de subida. Essa subida da visada é mais pronunciada em coronhas curvadas. Independente da forma do fuzil, o recuo será o mesmo quando usada a mesma munição, mesma massa da arma e mesmo comprimento do cano.

Quando os israelenses desenvolveram o Tavor, eles pesquisaram e viram que o conceito bullpup fornecia uma arma mais equilibrada que um fuzil convencional. Não só pela ergonomia mas como pelo centro de gravidade.

Faça um exercício. Empunhe um fuzil convencional e mire um alvo por 3 minutos. Faça o mesmo com um fuzil bullpup. Irá notar que o braço esquerdo (a que apoia a arma) cansa mais no fuzil convencional do que no fuzil bullpup. Isso ocorre porque a mão do braço que apoia, ao estar mais ao centro de gravidade do fuzil bullpup, acaba por amortecendo melhor o peso do fuzil. Uma das vantagens do fuzil bullpup é justamente o centro da gravidade. Como a parte mais pesada está apoiada no seu ombro, torna-se muito mais prático, cômodo e leve ficar na posição de tiro por mais tempo. Em fuzis convencionais, se cansa mais rápido, cansando o braço da mão que se apoia no guardamão, fazendo com que, com o tempo, comprometa o disparo (hipoteticamente). Nessa posição o movimento é melhor, é mais fácil de adquirir o alvo assim como responder ao fogo inimigo.


6. Peso do gatilho

Mais um tema que se generaliza. Na verdade, quase nada mudou internamente. Tem se o grupo do ferrolho, tem se o grupo do mecanismo de disparo, tem se o grupo do gatilho e tem se o grupo do carregador. A única diferença é que haverá um maior comprimento da haste do gatilho ou de algum outro comando externo que, se por ventura, frisamos, se por ventura for necessário. Os primeiros fuzis bullpups de fato tinha um peso maior do gatilho. Isso se dá ao fato das hastes de metal que interligam o gatilho ao grupo do gatilho não terem nenhum tipo de adaptador. Isso faz com que o gatilho fique um pouco mais pesado. Aqui falamos de pouca coisa, não um peso absurdo como muitos dizem aqueles que nunca atiraram ou realizaram disparos em seco com um fuzil.

O L85A1, embora com muitos erros de engenharia, tinha um dos gatilhos mais leves.

Nos fuzis bullpups derivados de fuzis convencionais, esse tipo de adaptação é uma necessidade e não uma opção. O peso do gatilho tende a ser um pouco mais pesado por causa das hastes acopladas ao eixo do gatilho. Porém isso ocorre em 1% dos fuzis bullpups. Os fuzis bullpups mais novos não passam por esse problema porque já no projeto se previu que o peso do gatilho seria realmente mais pesado. Para tanto, cada projeto adotou sua solução que mais conviesse para o desenho técnico da arma.

O VHS K1 tem um dos pesos de gatilho mais leves se comparado com outros fuzis de assalto convencionais.

É importante ressaltar que o fato de haver uma haste maior não implica dizer que o peso do gatilho será maior e, consecutivamente, haverá uma perda de precisão. Fuzis são desenvolvidos em cima de requisitos e um deles é justamente o peso do gatilho. O peso do gatilho de um bullpup é o mesmo peso do gatilho de um fuzil convencional. Ocorre que existem soluções de engenharia mecânica que diminuem o esforço para acionar o gatilho.

O Tipo 95 tinha o seletor de disparo no final da caixa da culatra. Algo completamente inviável. Mais tarde isso foi corrigido no modelo Tipo 95-1.

Existem projetos bullpups em que tudo isso já foi redesenhado na nova arma, de tal maneira que tais comandos sejam de alcance fácil do atirador, como por exemplo, seletor de disparo, retém do carregador, alavanca de manejo. Hoje são raros os modelos e fuzil bullpups adaptados de fuzis convencionais. Isso sim seria um grande problema porque o atirador ficaria limitado à configuração dos comandos do fuzil no layout original. Para evitar esse tipo de problema, os engenheiros desenham um fuzil em que os comandos ficam o mais perto possível da mão do atirador. Se a intenção é desenvolver um fuzil novo, não existem motivos para fazer um desenho convencional se a intenção é fazer um bullpup.

O gatilho passa por tudo isso também. Embora exista uma grande haste que ligue o gatilho ao grupo do gatilho, localizado mais atrás, a engenharia usa de diversos sistemas de operação. Como por exemplo, engrenagens que diminuem a quantidade de força exercida para o uso do gatilho. Ao apertar o gatilho, ele fica relativamente mais leve já que o sistema de engrenagem compensa o uso de maior força. Hoje os fuzis bullpups tem o mesmo peso do gatilho de fuzis convencionais, sendo que alguns fuzis bullpups tem um gatilho até mais leve.

 

Epílogo

É muito comum críticas sobre um assunto quando não se sabe ou ao menos se tenta entender. Desde sempre os fuzis bullpups foram muito criticados pelo seu layout completamente fora do convencional. As críticas geralmente são de pessoas que nunca atiraram ou manusearam com esse tipo de arma. Chega-se ao paradoxo de criticarem qualquer fuzil bullpup, mas elogiarem o FG-42 quando não percebem que o mesmo é um bullpup. Peso da arma, segurança, peso do gatilho, gravidade, muitas outras características são usadas de forma isolada, uma vez que fuzis convencionais apresentam os mesmos problemas. Gosto é algo subjetivo, afinal, o que seria do azul se todos gostassem do branco? O que não podemos permitir é a desqualificação errônea com base em um sentimento subjetivo. Os fuzis bullpups funcionam, são seguros, inovadores e em alguns pontos superiores aos fuzis convencionais.

Australianos disparam o F88 enhanced. Esta arma é considerada um dos melhores fuzis feitos até hoje, atualizado mesmo com um projeto dos anos 70.