SIG 510

Não se deixe enganar pela imagem. O SIG-510, também conhecido como Stgw 57, é considerado um dos melhores fuzis de batalha feito até hoje. A sua extrema qualidade e acabamento faz com que dois exércitos ainda o usem em virtude de sua excepcional qualidade. Nascido nos anos 50, o fuzil se mostrou muito hábil mesmo usando um calibre mais forte. A Suíça não tinha como competir com os demais fabricantes de armas que ofereciam modelos mais baratos. Mas ela garantiu para seu exército um dos melhores fuzis de batalha do mundo, mantendo o ditado suíço de que as palavras são anãs, mas os exemplos são gigantes.

 

Origens

O capítulo origens tende a ser curto, como uma introdução para a arma em si, mas aqui falaremos mais porque as origens que levaram ao SIG-510 têm uma história rica e que faz parte no surgimento das pesquisas dos primeiros fuzis de assalto do pós-guerra.

A origem do fuzil de assalto suíço vem desde o final da 2ª G. M., onde vários modelos diferentes, com sistemas diferentes e calibres diferentes apareceram. Com a ideia revolucionária do conceito do fuzil de assalto lançada pelos alemães, os suíços passaram a pesquisar novos modelos que pudessem substituir os fuzis de repetição em uso pela Áustria. Duas empresas mostraram alguns modelos para avaliação, a SIG e a Waffenfabrik, onde cada uma desenvolvia modelos diferentes com mecanismos diferentes.

Protótipo da Waffenfabrik de 1946.

Já em 1946 a Waffenfabrik apresenta um modelo bullpup no calibre 7,5 x 38 mm, um calibre intermediário experimental que os suíços testaram. Ele atuava por blowback desacelerado por roletes com uso de gás por pistão de longo curso. Esse modelo foi considerado pesado e com problemas de centro de gravidade. Não deixa de ser curioso que esse projeto de 1946 já tinha uma empunhadura dianteira vertical, tão em voga hoje.

Protótipo da Waffenfabrik de 1947.

Em 1947, começam a surgir modelos com base no FG-42 alemão, usando também o conceito bullpup com o carregador acoplado na lateral esquerda da caixa da culatra. A Waffenfabrik apresenta um modelo em 1947 que usava o mesmo calibre intermediário, mantendo a mesma linha reta do FG-42. Entretanto, esse modelo foi considerado também pesado e o centro de gravidade um problema porque praticamente ficava sobre a mão do soldado.

Protótipo da Waffenfabrik de 1948. Muitos modelos foram feitos em pouco tempo sempre seguindo a mesma linha do conceito.

A partir desse modelo, vários outros modelos vão surgindo até 1950. Todos eles usando o mesmo conceito, o calibre intermediário, o carregador na lateral esquerda, linha reta e miras altas. Entretanto, esses modelos faziam todo o peso se concentrar na mão do soldado, fazendo com que fosse cansativo segurar o fuzil por muito tempo. Para amenizar isso, colocaram um bipode nele como forma de dar folga à mão caso o soldado tivesse algum tipo de apoio. Desnecessário dizer que o bipode ainda ajudava na precisão do disparo.

O modelo GP11 foi o modelo final antes do projeto ser cancelado.

Ainda em 1948, a Waffenfabrik apresenta um modelo mais ortodoxo. Visualmente falando ele parecia o StG45(M). O fuzil operava também a gás com trancamento do ferrolho por roletes, disparando o calibre 7,5 x 38 mm. Esse fuzil tinha agradado mais pela distribuição do peso, mas mesmo assim, também era considerado pesado. Ele tinha um curioso sistema que permitia dobrar o carregador para frente, a fim de diminuir o espaço para transporte.

Protótipo da Waffenfabrik de 1948.

Em 1950 o modelo bullpup foi sendo aprimorado. Porém, os militares suíços decidem por não adotar o calibre intermediário, mantendo a preferência pelo 7,5 x 55 mm, um calibre bem maior e mais pesado. Para tanto os modelos tiveram de ser reprojetados e o bipode passou a ser um item obrigatório. Assim surgia o modelo GP11, que tinha como característica o trancamento do ferrolho por roletes sem ação de gases. O carregador passa para o lado direito, se mostrando um grande problema para a maioria dos soldados que eram destros.

AK 53.

A SIG por sua vez também lançou um modelo, embora anos mais tarde. Em 1953 a SIG apresenta o AK53. Este fuzil merece um maior detalhe porque ele, literalmente, foi único no seu mecanismo de disparo, sem nada que se compare na história dos fuzis de batalha. Esse modelo tinha um desenho mais convencional, quase todo em madeira e metal estampado. Ele usava o calibre convencional 7,5 x 55 mm, com um carregador para 30 cartuchos, o mesmo carregador da metralhadora leve 1925. Entretanto, o seu sistema de funcionamento era coisa completamente diferente.

Pode parecer uma brincadeira, mas não é. Após o disparo, o cano se move para frente para que faça funcionar o mecanismo de disparo. Após o disparo, o projétil sai do cano e os gases se dirigem a um êmbolo, onde o orifício de captação está quase no final do cano. Quando os gases entram nesse êmbolo, o cano ainda está travado. À medida que os gases entram, o pistão recua para trás, comprimindo uma mola, como todo fuzil convencional. Entretanto, a diferença vem agora. Quando a mola é comprimida até o final, ela aciona um tubo na lateral que também contém uma mola. Por um processo de alavanca e mola, essa mola do tubo passa a ser comprimida para frente.

Um dos protótipos do AK 53. Note o sistema do mecanismo.

Como ela está sendo comprimida para frente, ela começa a empurrar o cano junto, também para frente, já que no final desse tubo há uma peça que está presa ao cano, destravando o cano. À medida que o cano vai avançado, o extrator do ferrolho prende a cápsula. Quando o cano se move para frente até o final do seu percurso, o ejetor, uma peça na caixa da culatra, expele a cápsula usada. Um novo cartucho é empurrado para cima pela mola do carregador e preso no ferrolho. Nesse momento, o cano começa a voltar para traz, praticamente encaixando-se no cartucho, por ação de uma mola recuperadora do tubo lateral. Quando o cano finalmente bate na caixa da culatra, ele é travado e o percutor é travado para o próximo disparo. O ferrolho, extrator e ejetor permanece fixo durante todo o procedimento, enquanto que em fuzis convencionais são peças móveis.

Enquanto o ferrolho não for travado, o percutor não é acionado porque está previamente travado. Isso impede disparos acidentais durante o processo de movimento do cano. O fuzil pesava 4,5 Kg com um comprimento total de 980 mm. Esse sistema fazia com que a cadência de disparo fosse baixa, na ordem dos 350 dpm, o que tornaria a arma controlável em rajadas pequenas. Depois foi feita uma versão em calibre 7,62 x 51 mm visando a exportação. O fuzil fora considerado complexo demais, embora o sistema funcionasse perfeitamente e de forma segura.

AK53. Em cima, note que o fuzil está com o ferrolho travado. Embaixo, note que o cano está projetado para frente e fora do cilindro, enquanto que a alavanca de manejo também está para frente, mostrando que o ferrolho está destravado.

Como pode notar, eram vários projetos, com vários mecanismos, com vários calibres. Isso mostrava que o governo suíço não havia estipulado requerimentos mínimos, abrindo a oportunidade para uma miríade de projetos sem direção. Diante dessa situação, em 1954 os suíços estipulam que a arma deveria usar o calibre 7,5 x 55 mm, que fosse o mais simples possível e sem o uso de um sistema de captação de gás. Não queriam a configuração bullpup em virtude do desequilíbrio gerado pelo peso.

A SIG foi a única que apresentou um modelo em tão pouco tempo. Para ganhar tempo, ela se inspirou fortemente no StG45(M). Uma arma sem um sistema de gás, com ferrolho trancado por roletes operando por blowback desacelerado. Como a arma não tinha um sistema de gás, as peças internas são em menor quantidade, o que simplifica o desenho técnico e assim como o projeto da arma. Em 1955 a arma já estava pronta. O responsável pelo projeto foi Rudolph Amsler, que já tinha conhecimento das armas alemãs da época da guerra.

1º protótipo o AM55.

O protótipo se chamava AM55. Calibre 7,5 x 55 mm, usava o mesmo carregador para 30 cartuchos da metralhadora leve 1925. A alavanca de manejo era localizada no lado direito do fuzil. Esse modelo ainda contava com um guardamato que protegia somente a parte frontal do gatilho. Os testes preliminares mostravam que o fuzil era simples e funcional. Entretanto, ainda não estava nada garantido. No processo de escolha a FN concorreu com o FAL usando o calibre 7,5 x 55 mm. Ambas as armas foram postas em testes de campo e a AM55 logrou sucesso com certa facilidade. Em 1957, a Suíça adotava oficialmente o fuzil de batalha como SturmGewehr StGw 57. Visando o mercado externo, o nome foi alterado para SIG-510.

Um dos protótipos finais do AM55. Até chegar ao fuzil em si, o programa gerou uma série de protótipos com poucas diferenças.

 

SIG-510 Stgw 57

O SIG-510, sem dúvida, é um dos melhores fuzis de assalto já feitos até hoje. É feito com peças de alta qualidade empregando uma engenharia mecânica precisa, sem mencionar no melhor acabamento que dá maior durabilidade ao fuzil. É praticamente um relógio suíço, que tem uma qualidade que dispensa comentários.

Stgw 47.

O SIG-510 emprega o sistema de blowback desacelerado. Esse sistema usa dois roletes na cabeça do ferrolho para que trave o ferrolho à base do cano, assim como controlar a energia do recuo para que o sistema funcione em níveis seguros de energia. Os roletes são forçados para fora por uma mola onde ficam travados em um recesso. Após o disparo, a energia do recuo força o ferrolho para trás, fazendo os roletes serem forçados para dentro do ferrolho, saindo dos recessos. Como agora está dentro do ferrolho, este está destravado e começa seu movimento de retrocesso, já que parte da energia foi absorvida pela ação dos roletes contra as paredes do recesso. É por isso que esse sistema se chama blowback desacelerado, porque os roletes desaceleram o ferrolho para níveis seguros antes de começar o ciclo da arma.

Como não há um sistema de captação de gás, boa parte dos gases é enviada diretamente contra a cápsula na câmara do cano e isso gera um problema de pressão. Os gases, ao entrar na cápsula, forçam as paredes internas contra a câmara do cano, dificultando a extração já que a cápsula fica praticamente colada na câmara. Para isso, existem na câmara do cano estrias. Por essas estrias, parte dos gases percorre por fora da cápsula. Essa pressão, nas estrias, age contra a própria cápsula, ajudando na extração. Esse mesmo sistema foi usado no StG45(M). Entretanto, como há ação desses gases pelas estrias, a ejeção acaba sendo um pouco mais forte que em outros modelos de fuzis.

Stgw 57. Note o clássico fusca ao fundo.

E o sistema de ejeção do SIG-510 é diferente. O ejetor não está no ferrolho ou transportador. Após o disparo, quando o transportador se move para trás, a cápsula é extraída e levantada levemente. Em cima do transportador existe uma haste no lado esquerdo. Com o movimento de recuo, essa haste bate para direita, ejetando a cápsula deflagrada pelo lado direito. Esse movimento é muito rápido porque tem a rápida extração da cápsula com o golpe do ejetor. Isso faz com que a janela de ejeção do fuzil tenha dimensões menores. Em relação aos outros modelos de blowback desacelerado, no SIG-510 o transportador do ferrolho e transportador do percussor são peças maiores e mais largas. Essas peças duram muito mais, dando maior confiabilidade na arma.

Como parte dos gases volta pelo cano e até auxiliam na ejeção da cápsula, esses gases entram na caixa da culatra pelo próprio cano. Isso faz com que os soldados tenham de fazer uma limpeza mais constante da arma, já que os gases quentes tendem a acumular sujeira com os resíduos da queima do propelente. E a temperatura foi levada em consideração pelos suíços. A caixa da culatra não é hermeticamente fechada. Na parte de cima existe uma abertura lateral direita, por onde a alavanca de manejo é acionada. Essa abertura ajuda a resfriar a arma porque parte dos gases vão para dentro e essa abertura permite a entrada de ar. Outra questão foi o cano. Ele tem uma grande proteção de metal em volta, com várias janelas de ventilação para resfriar o cano. O soldado, pelo centro de gravidade da arma, apoia o fuzil por um pequeno guardamão na frente do carregador. Se ele esticar mais a mão, fica mais incômodo de apoiar o fuzil, por isso que ele tem um guardamão pequeno.

Stgw 57. Note a alça de transporte dobrada.

O fuzil é feito em metal estampado, em um formato retangular e compacto. Entretanto, dentro, a parte do cano e câmara do cano é feito em aço forjado para maior durabilidade. Na lateral da caixa da culatra existem dois discos. Se retirar um deles, o soldado tem acesso ao ferrolho, onde pode trocar os roletes e os ressaltos que o travam, sem a necessidade de desmontar a arma inteira. Essas duas partes se desgastam mais rapidamente que as outras partes, a troca rápida dessas partes torna a manutenção mais simples e prática. E para desmontar a arma, há que apertar um botão embaixo da coronha para retirar ela para então retirar as partes internas e o grupo do gatilho.

A alavanca de manejo fica no lado direito do fuzil e não é solidária ao transportador do ferrolho. O curioso é que a alavanca é grande e tem o formato de um pequeno barril, literalmente. Como o mecanismo de roletes é compacto, a caixa da culatra é compacta. Então a mola recuperadora fica dentro da coronha. Isso dá um tamanho menor para o fuzil, que já é considerado grande. E outro ponto curioso é o cão. Em virtude das maiores dimensões do transportador do percussor, o cão não tem como bater, pois necessitaria de mais altura. Para tanto, o cão fica no lado direito da caixa da culatra e bate no lado direito do transportador do percussor. Ao bater no lado direito, ele bate em uma alavanca que por sua vez bate no percussor.

Stgw 57. Note que a arma não é tão grande e volumosa como se aparenta.

O fuzil tem um grande controle do recuo. Em um primeiro momento, somos levados a pensar que, em virtude do uso do calibre 7,5 x 55 mm, o recuo seria violento. A bem da verdade, o recuo é menor que os demais fuzis de batalha em calibre 7,62 x 51 mm e isso se dá por alguns fatores. O próprio sistema de roletes já faz absorver parte do recuo. A pressão que os roletes fazem contra as paredes do transportador do percussor faz parte da energia ser absorvida. Outro fator é o quebrachamas com efeito compensador, ele adota o layout da gaiola, como o M16, mas modificado para a energia maior do calibre.

Esse quebrachamas faz diminuir parte das chamas geradas no cano. Isso pode parecer óbvio mas quando falamos do calibre 7,5 x 55 mm, falamos de um calibre que gera maior energia que, por sua vez, gera uma chama maior. E não só isso. O maior foco foi no efeito compensador. Os gases são dirigidos em direções opostas ao recuo, atenuando que o cano do fuzil suba tanto. Com o quebrachamas, o fuzil tem uma redução de 25%. E por fim, o peso da arma. Com mais de 5 Kg, esse peso acaba por absorvendo o recuo da arma.

Stgw 57. Note a posição do bipode. Ajuda a melhorar o controle da arma, mas tira um pouco o balanceamento do peso que interfere no recuo.

As aparências enganam. O SIG-510 tem uma aparência de arma grande e pesada. Porém o fuzil tem uma das melhores ergonomia feitas até hoje. Ele apresenta a linha reta no seu layout. Toda a energia do recuo vai para o ombro do soldado porque está na mesma linha do cano, ferrolho e coronha. Em fuzil com linhas normais, em virtude do arco que a coronha faz em relação à arma, faz o recuo ser jogado mais para cima, fazendo o recuo ser mais pronunciado. A linha reta faz as miras serem mais altas para compensar a discrepância da altura da face do soldado. Isso faz com que o soldado, ao empunhar o fuzil, já tenha as miras na altura do olho dominante, dando maior rapidez de resposta para fazer a mira.

Soldados suíços na neve com o Stgw 57.

As miras do fuzil são retráteis. Algo que hoje é algo considerado moderno os suíços já faziam nos anos 50. Elas são retráteis porque elas são independentes e não tem uma base sólida de proteção. Em transporte ou acondicionamento, as miras são retraídas para proteção e levantadas quando em operação da arma. Isso visa que as miras sejam danificadas quando não em uso. A graduação das miras vai de 100 a 800 metros. Isso de dá porque o projétil tende a cair rapidamente, para tanto, o soldado tem que graduar a mira em relação a distancia do alvo para compensar essa queda, fazendo o projétil fazer um arco maior a distâncias maiores.

O carregador é de aço, o que dá maior durabilidade e confiabilidade. Ele tem capacidade para 24 cartuchos e esse nº não é à toa. A munição sempre é condicionada em clipes de 6 cartuchos. Como a ideia era fazer uma arma com maior poder de fogo, preferiram padronizar com 24 ao invés de 18 para seguir a quantidade de 6 cartuchos por clipe.  Esse carregador é intercambiável com o carregador da metralhadora leve de apoio modelo 25, onde o carregador para 30 cartuchos pode ser usado perfeitamente no SIG-510 e vice-versa. O retém do carregador é ambidestro e está localizado atrás do carregador, literalmente colado no guardamão.

O Stgw 57 também opera sistema de visão noturna. O modelo acima é o de primeira geração, onde há a necessidade de um emissor de raios infravermelhos. As gerações posteriores não necessitam dessa grande emissor.

O seletor fica do lado esquerdo da caixa da culatra, acima da empunhadura com opção para auto, semi e travado. Embora de giro maior, é perfeitamente acionado com o 1º dedo da mão. Assim como o FAL, o SIG-510 tem uma alça de transporte que pode ser dobrável quando em uso. E outra grande curiosidade é o gatilho de inverno. Os fuzis normais tem um guardamato que pode ser destacado ou dobrado para um dos lados, para que o soldado possa usar o fuzil usando luvas grossas de inverno. Para ser mais prático, no gatilho tem uma haste que se estende para frente. Em caso de necessidade, essa haste é abaixada em uma posição abaixo do guardamato e passa a funcionar como um 2º gatilho. Isso evita que o soldado use ferramentas para alterar o guardamato.

As primeiras versões do SIG-510 eram feitos com empunhadura, coronha e guardamão de madeira. Nos anos 60 eles passaram a ser feitos com plástico negro de alta resistência, barateando a produção da arma. O fuzil ainda tinha um bipode de duas posições. O soldado podia usá-lo preso na altura da massa de mira, onde teria maior precisão pelo apoio, ou preso na frente do guardamão. Nessa última posição, o soldado tinha maior ângulo de movimento caso usasse rajadas curtas. E chama a atenção que o fuzil nunca fora usado como arma de precisão e, assim, não tinha provisão para uma mira dedicada a essa tarefa. Ocorre que os suíços usavam o fuzil K31 com uma mira telescópica para essa função e, como era mais precisa, não viam vantagem em adaptar o SIG-510 para ter um desempenho inferior.

Granada sendo acoplada ao Stgw 57.

O SIG-510 desde o começo foi projetado para usar granadas de boca, como era a filosofia de emprego da época. Entretanto, a ideia suíça era mais radical. O fuzil usava uma munição especial e um adaptador na boca do cano para acoplar a granada. Para tanto haviam dois tipos de granadas. A granada comum tinha um alcance de 170 metros, o que já era bastante. E havia uma granada com acelerador, um pequeno motor foguete que era acionado segundos após o lançamento. Essa granada tinha um alcance de 420 metros!

Se vários soldados se reunissem com essas granadas, haveria um belo fogo de saturação. Nessa granada havia uma trava de plástico, caso o soldado não a acionasse, o motor acelerador não seria usado. E para tanto, o SIG-510 tinha uma soleira da coronha com uma borracha. Essa borracha não era só para recuo da arma e sim proteger a arma quando a granada era disparada com a coronha apoiada no chão. O stress é alto na arma e isso pode desgastar precocemente o fuzil caso não tenha proteção.

No final dos anos 50 a Suíça tentou exportar o SIG-510. Em 1959, é feita a versão SG510-1. Esse fuzil usa o calibre 7,62 x 51 mm em um carregador para 20 cartuchos. Em 1960, surge o SG510-2, uma versão mais leve do fuzil que foi testada pela Suécia e Holanda, sem sucesso.

SG 510-4 em calibre 7,62 x 51 mm.

Em 1963 é lançada a versão SG510-4. Em calibre 7,62 x 51 mm, tinha um carregador para 20 cartuchos. Essa versão era um pouco diferente do modelo SIG-510. O cano era menor, com cano de 505 mm de comprimento e o peso era mais leve, com 4,3 Kg. A alça e massa de mira eram diferentes e não eram retráteis. A diferença maior era o layout do fuzil. Ele não tinha a linha reta, mas sim curvada, em virtude do formato da coronha. Essa curva, fazendo o fuzil ficar em uma posição mais elevada, era para o uso de miras telescópicas, onde o soldado não teria que dobrar o pescoço caso a arma seguisse a linha reta. Essa alteração gera um pequeno ponto negativo.

SG 510-4. A volumosa alavanca de manejo facilita a operação da arma.

O recuo é maior porque a energia do recuo não é jogada diretamente no ombro do soldado, mas também para cima em virtude dessa curvatura que o fuzil tem, onde o cano está em uma posição acima do ombro e não na mesma linha. Essa versão foi exportada para três países, Marrocos, Bolívia e Chile. Na época foram compradas em pequenas quantidades.

Em 1961 surge uma versão mais curiosa, o SG510-3. Essa versão era no calibre 7,62 x 39 mm, carregador para 30 cartuchos. Esses carregadores eram cópias dos carregadores do AK-47. Essa arma destinava-se para a concorrência que acontecia na Finlândia para o seu novo fuzil de assalto, onde o requerimento era que fosse no calibre soviético. Também não logrou sucesso por ser a arma mais cara da concorrência, entretanto, a melhor das concorrentes.

SG510-3 em calibre 7,62 x 39 mm.

Ao todo quatro países compraram o fuzil, incluindo a Suíça. Essa falta de vendas ocorre não por deficiências da arma. O SIG-510 sempre esteve em um patamar acima dos demais fuzis da época. Essa arma foi pouco vendida porque ela era muito cara de produzir, como um típico relógio suíço. Para armar um exército inteiro, sairia muito caro comprar grandes lotes dessa arma. Embora pouco vendido, foram feitos 590.000 fuzis que foram produzidos até 1983. O fuzil era tão bom que tanto Chile como Bolívia ainda continuam usando os seus S510-4. Não porque são países do 3º mundo, já que nas décadas seguintes compraram vários outros fuzis de assalto bem mais baratos. O usam porque o fuzil é excelente e muito confiável. Por exemplo, o Chile, os comprou antes do FAL. O FAL já foi retirado de serviço, mas ainda mantém os 510-4 tanto no norte como no sul. Isso pela excelência da qualidade da arma.

O Chile ainda usa o SG510-4. Não é por questão de dinheiro, mas sim porque o fuzil continua sendo uma excelente arma.

O SIG-510 é um fuzil de qualidade extrema, feita com materiais de primeira e acabamento refinado. Pode ser considerado, sem a menor sombra de dúvida, como um dos melhores fuzis de assalto já feitos até hoje. Em virtude do seu alto custo, não tinha como competir com fuzis mais baratos, porém com mais limitações e problemas. Entretanto, o SIG-510 foi usado até 1983 pelo exército e ainda hoje é usado com os reservistas.

Stgw 57

Calibre: 7,5 x 55 mm
Comprimento do cano: 583 mm
Comprimento total: 1100 mm
Cadência de disparo: 600 dpm
Peso: 5,6 Kg
Carregador: 24 cartuchos

 

Como funciona

Após o disparo, os gases no cano e a energia do recuo forçam a cabeça do ferrolho para trás. Dois roletes contidos em recessos na cabeça do ferrolho são empurrados para trás, fazendo-os entrar dentro da cabeça do ferrolho. A ação de atrito dos roletes na base de travamento e parede da base do cano faz desacelerar, por milésimos de segundos, o movimento do ferrolho. Nesses milésimos de segundos, o projétil deixa o cano e os índices de gases e energia caem a níveis seguros. Então, com a energia menor na cabeça do ferrolho, ele começa a se locomover para trás.

Neste momento, a cabeça do ferrolho extrai a cápsula e o ferrolho percorre seu caminho até a base da caixa da culatra. Agora, uma mola recuperadora impulsiona o ferrolho para frente, colocando um cartucho na câmara do cano. A cabeça do ferrolho bate na base do cano e os roletes saem de dentro e se travam nos recessos da base do cano, mantendo o ferrolho travado e pronto para o próximo disparo.

 

Curiosidade

Na Suíça todo soldado ou reservista pode manter o seu fuzil em sua casa. Essa cultura vem desde o final do século XVIII. Ainda mais, militares na ativa podem andar com o fuzil em público, desde que autorizados. Em casa, soldados e reservistas podem manter o fuzil, mas desde 2007 não podem mais manter munição.

Stgw 57.

Essa lei visa a rápida mobilização em caso de invasão, onde o soldado se apresenta na unidade mais próxima já com seu fuzil. Mas qual a vantagem disso quando ele não pode manter a munição? Aqui um senhor que manteve o seu Stgw 57 até o dia da sua aposentadoria. A arma ficou na sua casa por mais de 30 anos.

Stgw 57.