ARX 160

A Itália demorou muitas décadas para ter um fuzil de assalto realmente moderno. Ela entrou tarde nessa seara e o AR70 foi um aprendizado lento, que mais tarde continuou com o AR70/90. Entretanto, após esse tempo todo com um fuzil de assalto mediano, a Itália surpreende ao lançar um fuzil de assalto moderno, tornando-se um dos melhores fuzis de assalto da atualidade. É curioso que esse fuzil é completamente ignorado pela fama publicitária de outros fuzis. O ARX160 é a resposta de que existem projetos excelentes longe da fama.

 

Origens

O ARX160 não surgiu como um mero substituto do AR70/90. Ele surgiu em 2001 quando a Itália lançou o programa de modernização do soldado italiano. Este programa se assemelhava com o programa francês. Visava dotar o soldado italiano com modernos sistemas de comunicação, aumentando a sua capacidade combativa quando tais sistemas também são integrados às suas armas. E em cima disso, surgiu a ideia de fazer um novo fuzil de assalto específico para esse programa. Um fuzil integrado com sistemas de comunicação e mira, que desse ao soldado maior chance de acerto com uma exposição mínima.

Mockup da 1ª versão do AR2001.

Ainda em 2001, é apresentado um mockup chamado AR2001. Esse mockup mostrava como seria o conceito aplicado ao fuzil. Havia um amplo uso de polímero em sua construção, já que a meta era diminuir o peso em 30%. Isso se dava porque o AR70/90 havia ficado muito pesado para um calibre 5,56 x 45 mm. No conceito, não haveria mais o emprego de granadas de boca, a ideia era usar lançadores de granadas acoplados ao fuzil, lançadores estes que eram facilmente e rapidamente acoplados. O fuzil não poderia ter um comprimento maior que 900 mm e agora se apostava na modularidade. Uma única plataforma seria usada para outras versões da mesma arma sem a necessidade de ferramentas ou desmontagens complexas em campo.

Os italianos pesquisaram uma nova mira moderna. Esta mira teria uma mira ótica, ponto vermelho, um apontador laser e um pequeno computador que faria o cálculo da trajetória e ângulo da granada conforme a distância do alvo. Além disso, haveria um telêmetro para o soldado saber a distância exata do alvo, dando maior precisão com os disparos com uma graduação praticamente automática. Isso tudo facilitaria a aquisição de alvos por parte do soldado.

Mockup da 1ª versão do AR2001.

Em 2005 ficam prontos os primeiros mockups do fuzil. Os mockups do AR2001 serviram para ver como o exército italiano poderia ver o conceito da arma e aplica-lo como próximo fuzil de assalto. Analisando a parte eletrônica, os italianos viram que o sistema era excelente. A graduação da mira era quase automática. A mira noturna funcionava em uma mira menor se comparada com os modelos anteriores e a grande novidade foi a mira termal, onde os soldados poderiam ver praticamente no escuro absoluto. Isso fez surgir mais estudos para uma pequena câmera lateral que permitia ao soldado atirar sem se expor, fazendo a mira pela tela da câmera. A mira ainda poderia fazer imagens que poderia ser passadas por link para outros soldados ou centros de comunicações.

Soldado com o mockup AR2001. Note como funciona o sistema de câmera. Ele vê o alvo pela tela no antebraço sem se expor.

Entretanto, ficou notado que o programa de modernização do soldado era muito ousado porque exigiria novas tecnologias e equipamentos para o soldado quanto à eletrônica e sistemas de bateria. O sistema completo ficou pesado para um fuzil de assalto e muito volumoso. Ainda mais, o sistema inteiro necessitava de baterias de maior duração e, por fim, ficou observado que um soldado necessitaria de maior tempo de aprendizagem e treino com o sistema, o que ia de encontro ao que os italianos queriam, uma arma simples, modular e leve.

Mockup do AR2001.

Em 2006, é decidido cancelar essa parte da eletrônica de miras e sistemas integradas ao fuzil, apenas trabalhando em cima do fuzil em si. Isso se dava pela complexidade dos sistemas que ainda não estavam maduros e o custo que somente tendia a subir. Ainda em 2006, o AR2001 passa a ser chamado de ARX160. Muitos italianos dizem que é uma provocação. ARX160 de 160 vezes melhor que o AR15, uma clara cutucada à família M16. E de fato, é melhor.

Conceito artístico final do ARX160.

 

ARX160

O ARX160 é hoje um dos melhores fuzis da atualidade, mas infelizmente sem a devida luz da fama. Ele apresenta uma série de novidades e conceitos que merecem destaques. O primeiro modelo também é chamado de ARX160A1.

ARX160A1.

O transportador do ferrolho e ferrolho tem um desenho inovador, não sendo empregado por nenhum outro fuzil de assalto. O ferrolho tem 7 ressaltos com 2 pinos ejetores. O transportador do ferrolho fica preso em um trilho um pouco acima da linha do cano, com um desenho mais plano e fino do que os demais transportadores de ferrolhos. Logo atrás há uma haste que fica presa no final da caixa da culatra. Embaixo do transportador do ferrolho está o ferrolho, em uma posição inferior, na mesma altura da base da câmara do cano.

O ARX160 adota um novo sistema de pistão. Ele é um híbrido entre pistão de curso curto com pistão de longo curso, gerando um sistema diferente. Há na parte de cima do cano um tubo que é ligado ao pistão. Este pistão, por sua vez, está ligado diretamente no transportador do ferrolho a todo o momento. Entretanto, não há um êmbolo completo em cima do cano e sim parte dele, na parte da frente. Após o disparo, os gases vão para essa parte da frente do êmbolo. Os gases comprimem o pistão, mas este não bate no transportador do ferrolho, ele se movimenta junto com o ferrolho.

Note o grupo do ferrolho. Embaixo o transportador do ferrolho com o ferrolho no meio. Em cima o cano que está virado para baixo. No transportador do ferrolho é possível ver como a mola recuperadora é ligada em uma posição mais acima.

Não falamos de um sistema de pistão de curso curto, como o HK416 e não falamos de pistão de longo curso, como no AK47. O transportador do ferrolho se locomove pela caixa da culatra por sulcos de aço. Esse transportador está ligado ao pistão. Porém, são peças independentes do sistema de gás. Parte dos gases é expelida na parte da frente do êmbolo. Isso faz com que uma pequena parte dos gases seja aproveitada para empurrar o pistão para trás. Como o pistão está preso ao transportador do ferrolho que, por sua vez, é atenuado por uma mola recuperadora e sulcos na parede da caixa da culatra, o movimento de retrocesso é mais suave. Como não se tem todos os gases empurrando o pistão para trás, a energia do recuo é menor, o suficiente para fazer o ciclo do fuzil. O transportador do ferrolho e pistão age praticamente como peças independentes do cano.

Isso faz com que o recuo seja menor no fuzil, já que há um uso menor dos gases no êmbolo. Isso torna a arma mais controlável e suave para disparar, o que por sua vez gera uma menor dispersão, aumentado então a precisão do fuzil. O mesmo com rajadas curtas, nas quais se mostram mais controlável do que em outros fuzis. Em virtude desse novo sistema de êmbolo, a Beretta tem mais uma inovação.

ARX160A1 carabina.

Outro fator que diminui o recuo é a nova configuração de linha reta do ARX160. Antes, com os modelos AR70 e AR70/90, o fuzil adotava o layout clássico da linha do cano estar acima da linha da coronha. Isso faz com que a energia do disparo projete o cano mais para cima em virtude da coronha estar em um nível mais abaixo da linha do cano. Com a linha reta, o cano está na mesma linha da coronha. O disparo é um pouco mais controlável porque a maior parte da energia não vai diretamente para cima e sim para o ombro do soldado. Esse efeito foi visto primeiro com o FG42 e mais tarde no E.M.2.

Levando em conta o projeto das metralhadoras leves da família AR70 e AR70/90, o sistema de troca de cano se mostrou simples e rápido. Os italianos usaram essa ideia no ARX160 ao permitir a troca rápida do cano do fuzil. Para isso, basta apertar duas travas na parte da frente da caixa da culatra para tirar a parte dianteira. Rotaciona-se o cano para o lado esquerdo e ele se solta, saindo o cano, o bloqueio do gás e a parte da frente do êmbolo. Rotacionando para a direita, tranca-se o cano, coloca-se a tampa da frente e pronto. Troca-se o cano em menos de um 1 minuto. Isso é possível pela forma como o extensor do cano é feito, como se fosse uma peça de encaixe e dentro dela fica a câmara do cano, onde ficará o cartucho.

É aqui que surge a modularidade “a la italiana”. Os italianos apostam em um conceito diferente de modularidade. Mantém-se o mesmo corpo da arma para todas as versões, apenas troca-se o cano. Caso o soldado necessite de um cano menor, ele troca o cano em menos de 1 minuto. Caso a missão exija um cano maior, troca-se o cano em menos de 1 minuto. Ou seja, o que dita a missão é o comprimento do cano que pode ser trocado em menos de 1 minuto sem ferramenta nenhuma. Não há a necessidade de guardamão ou coronha especial para cada versão. O que basta é o comprimento do cano porque é isso que vai dar o tamanho total da arma. As opções de cano são de 241 mm, 279 mm, 355 mm e 406 mm de comprimento. O cano tem um passo de raiamento de 1:7 conforme o padrão SS109, ou seja, o projétil dá uma volta no cano a cada 7 polegadas, 177 mm.

Soldado italiano com o ARX160.

O fuzil apresenta pela primeira vez todos os comandos de forma ambidestra. Isso se deve ao fato da demora dos soldados em dominar uma arma com comandos diferentes do que eles estão habituados. Isso atrasa um pouco a instrução assim como limita um pouco o desempenho do soldado com o fuzil. A começar, pela janela de ejeção e alavanca de manejo. O ARX160 é um fuzil com duas janelas de ejeção que ficam sempre abertas a cada disparo. O transportador do ferrolho tem duas tampas laterais que as protegem contra sujeira. É o 1º fuzil de assalto que tem duas janelas de ejeção, cada janela com sua tampa defletora, para que a cápsula não seja ejetada para trás. A alavanca de manejo é ambidestra e sua alteração não necessita de ferramenta ou desmontagem do fuzil. Para isso, puxa-se a alavanca até meio curso e puxa a alavanca para fora, isso vai travar o transportador do ferrolho e soltar a alavanca. Então, com o dedo, o soldado muda para o lado direito ou esquerdo. Depois, a empurra para dentro e ela fica travada novamente.

Como existem duas janelas de ejeção, o soldado não precisa se preocupar para onde irá cair a cápsula. O soldado ainda pode alterar a ejeção da cápsula, para o lado direito ou esquerdo. Para isso há um pequeno botão no final da caixa da culatra. Ao pressionar esse botão com a ponta de um cartucho, se altera o lado da ejeção. Assim a cápsula pode ser ejetada para o lado direito ou esquerdo. Mesmo com uma configuração convencional, os soldados canhotos ainda se queixam quando disparam com o fuzil com a janela de ejeção para o lado direito. Agora esse problema é solucionado.

A polícia italiana usa o ARX160.

O ferrolho tem dois pinos ejetores ao invés de um. Quando o ferrolho está configurado para ejetar pelo lado direito, o ferrolho puxa a cápsula deflagrada com os dois pinos juntos, porém, quando ele chega ao seu curso final, o pino esquerdo é levantado por uma mola, ejetando a cápsula para o lado direito. Caso esteja configurado para ejetar pelo lado esquerdo, o pino direito levanta e ejeta a cápsula para o lado esquerdo.

Após o último disparo, o ferrolho permanece aberto. Isso dá maior agilidade para o soldado porque ele sabe quando a munição acabou ou se é uma pane ou não. Para soltar o ferrolho, há um comando ambidestro nas laterais do fuzil, à frente do guarda mato, onde ele pode acionar com o 2º dedo. Além disso, ele pode dar uma leve pancada na alavanca de manejo que, ao afundá-la levemente, ela libera o ferrolho também. Oportuno dizer que o não há nenhum dispositivo de fechamento manual do ferrolho. O soldado, se quiser, pode fazer isso com a alavanca de manejo, já que é solidária ao transportador do ferrolho. Entretanto os italianos, sabiamente, acreditam que forçar o fechamento do ferrolho quando não se sabe o que está obstruindo, é um risco completamente desnecessário.

Visando não só os comandos ambidestros, como também uma maior praticidade, o fuzil tem três reténs de carregadores. Do lado esquerdo e direito, existem dois botões logo acima do gatilho. Há um 3º botão localizado logo atrás do carregador. Entretanto, não é uma tecla saliente como na família HK ou AK. É um botão à frente do guardamato. Isso visa a troca de carregadores com uma das mãos usando o 1º dedo para liberar o carregador. Isso varia da doutrina de emprego do fuzil, existem exércitos que adotam essa postura, enquanto que outros adotam o uso do 2º dedo com a mão que empunha o fuzil.

Soldado italiano no Afeganistão com o ARX160.

O seletor de disparo, assim como no AR-70/90, é ambidestro. Com travado, semi e auto. Os italianos descartaram o uso de bursts de 2 ou 3 disparos. Mais pragmáticos, eles sabem que o burst de 3 disparos não tem tanto vantagem quando se tem uma cadência de disparo convencional. Como o ARX160 tem uma cadência de disparo de 650-750 dpm, um burst terá praticamente nenhuma vantagem de uma maior probabilidade de acerto do alvo. Para que isso ocorresse, o fuzil teria de ter uma cadência de disparo acima dos 1.800 dpm, o que seria de todo infrutífero pela maior complexidade do grupo do gatilho do fuzil.

A parte de cima da caixa da culatra tem um grande trilho picattiny. Isso hoje é considerado o mínimo. Entretanto, a Beretta raciocinou um pouco mais quanto às miras fixas. Em várias situações, o soldado não poderá contar com as miras óticas ou reflexivas. Para tanto, se valerá das miras fixas ou abertas. Isso era um problema porque muitas dessas miras eram destacáveis. Isso gerava um problema de precisão porque muitas vezes elas não eram calibradas corretamente quando presas no trilho picatinny. Outras vezes, os soldados, no calor da batalha, simplesmente as perdiam. Diante dessa situação, os italianos colocaram miras fixas retráteis no fuzil. Ao apertar dois botões juntos, tanto na alça como na massa de mira, as miras se levantam por uma ação de mola.

Não se engane. Essas miras são duras, bem rígidas, e devidamente calibradas. Em caso de necessidade, basta acionar as miras e usar o fuzil. Isso foi uma boa ideia da Beretta porque o soldado não precisa mais se preocupar com as miras fixas do fuzil, que muitas vezes irão servir como miras de emergência. Como essas miras são mais práticas e fáceis de usar em virtude do sistema de disco, as graduações são de 100, 200, 300, 400 e 600 metros. Pode parecer muita coisa, mas no sistema de disco é simples e fácil de usar, o que torna a graduação mais rápida para o soldado, aumentando a resposta de revide de fogo.

Soldados italianos no Afeganistão com o ARX160. Note o lançador GLX-160.

A coronha é retrátil e dobrável. Aqui cabe uma maior menção. Assim como outras, a coronha pode ser retraída em até 5 posições. Caso haja necessidade, o soldado pode rebatê-la para o lado direito, muito útil para tropas embarcadas e paraquedistas. Com a coronha totalmente esticada, em um primeiro momento, será percebido que o comprimento é menor que os fuzis convencionais. Aqui falamos de pouca coisa. Ocorre que os italianos, vendo como estavam os soldados, notaram que eles vestiam além da jaqueta do uniforme, vestimentas balísticas. Por sua vez, muitas vezes as correias da mochila ficavam sobre a vestimenta balística. Isso cria várias camadas a mais em cima do ombro. Para compensar isso, o comprimento total da coronha é levemente diminuído, de tal ordem que somente soldados altos vão notar a diferença.

Um ponto negativo é a alavanca de manejo. Ela é considerada pequena e fina, embora de aço e muito resistente. Ela tem esse formato para que o soldado possa alterá-la de posição, tanto para o lado esquerdo ou direito. Caso fosse grande, não passaria para o outro lado pela janela de ejeção, necessitando que se desmontasse a arma para isso. O problema da alavanca de manejo reside em sua proximidade com a tampa defletora da cápsula. Quando se puxa a alavanca de manejo, caso o soldado tenha a pegado por toda a sua extensão, ele poderia prensar o dedo entre a alavanca e a tampa defletora. A alavanca foi desenhada para ser puxada pela extremidade e não por toda ela. Esse é um ponto que os soldados italianos têm reclamado e, ao que parece, não tem como fazê-la maior pelo problema acima exposto.

Soldado italiano em um veículo blindado. Note o tamanho menor da carabina ARX160.

O quebrachamas também atua como compensador. Pode ser banal mas não são todos os fuzis são assim. O quebrachamas visa diminuir ao máximo as chamas geradas pelo disparo. As chamas podem revelar a posição do soldado quando disparo, tornando-o mais suscetível ao fogo inimigo. Isso é ainda mais importante em ações noturnas ou com baixa luminosidade. Já o compensador visa diminuir o movimento de subida do cano em virtude do recuo da arma. Aqui se direciona parte dos gases em sentido contrário ao da subida do cano. Ocorre que a maioria dos fuzis ou tem quebrachamas ou tem compensador. São poucos os que têm as duas peças em uma só e aqui a Beretta apostou. Na parte da frente o quebrachamas é no formato gaiola. Um pouco mais atrás, existem orifícios laterais e em cima que direcionam parte dos gases compensando a subida do cano. Isso no final torna a arma controlável que, por sua vez, gera uma maior precisão pela menor dispersão.

Os italianos decidem por desenvolver seu próprio lançador de granadas para ser acoplado ao fuzil de assalto, o GLX 160.  O calibre adotado é o 40 x 46 mm. O sistema é ambidestro e o tudo abre para frente, onde a granada é colocada conforme o tamanho permitido. Isso é dito porque existem modelos em que o cano é aberto para o lado. Isso permite uma granada de maior comprimento, algo impossível quando se abre o cano para frente. Esse modelo é rapidamente acoplado no guardamão pelo trilho picatinny. Isso é importante porque qualquer fuzil de assalto com esse trilho pode usar o lançador de granadas. O sistema é leve, pesa 950 gramas. Isso se deve pelo fato de ter amplo emprego de polímero e alumínio, o que gera um maior conforto para o soldado caso tenha que fazer longas caminhadas. O lançador conta com sistemas de segurança. Caso ele esteja fora do fuzil, ele não dispara a granada e caso a granada esteja mal posicionada, o lançador não dispara.

ARX160A1 com o lançador GLX-160.

 

Adoção

Após os testes iniciais de campo pelo exército italiano, ficou notado que o fuzil era muito melhor que a família AR70/90 e decidiram testá-lo em combate real. Em 2008 a Itália compra um lote de 800 fuzis para serem enviados ao Afeganistão para testes reais. Como era de se esperar, a arma funcionou perfeitamente e a modularidade e simplicidade foi o que mais chamou a atenção dos soldados. A aquisição do alvo era fácil e rápido. Entretanto, os soldados notaram que o fuzil, na região do guardamão, tendia a esquentar. Não como no HK G36 que era um problema, no ARX160 isso se mostrou um aquecimento muito leve, mesmo com o fuzil tendo várias janelas de ventilação.

ARX160.

Os soldados gostaram muito do fuzil, fazendo com que o AR70/90 fosse relegado. Diante da necessidade de uma arma mais confiável e moderna, em 2010 a Itália manda um 2º lote de 12.000 fuzis ARX160. Em 2012, seriam enviados mais 1.000 fuzis. Cabe mencionar que o ARX160 não substituiu todos os AR70/90 empregados pelos italianos no Afeganistão, já que essa fase era apenas para testar o fuzil em combate e ver o que podia ser alterado.

Ainda em 2010 a Itália fazia treinos conjuntos com a Albânia no Afeganistão, já que esta fazia parte da coalizão da missão naquele país. A Albânia estava passando por um processo lento de modernização de seu material e treino. Eles contavam com AK-47, AKM-47 e carabinas M4 em seu inventário. Entretanto, ao treinar com os soldados italianos, eles tomaram conhecimento do ARX160, onde tiveram instrução com essa arma. A arma tinha se mostrado tão confiável que o governo da Albânia comprou lotes de ARX160 para suas tropas especiais que atuavam no Afeganistão. Mais tarde outro lote foi comprado para tropas especiais para uso em seu próprio país.

Soldados albaneses com o ARX160 no Afeganistão.

Levando em conta a modularidade e a troca simples do cano e dos conjuntos, a Itália visou o mercado externo. Para a troca do calibre, bastava a troca do cano, grupo do transportador e do ferrolho e carregador. Era simples e assim fizeram uma versão do ARX160 em calibre 7,62 x 39 mm. De imediato as tropas especiais do Egito e do Cazaquistão compraram essa versão. Esses países contam com grandes estoques dessa munição assim como capacidade industrial de produção em massa desses cartuchos. O calibre 7,62 x 39 mm tem mostrando um desempenho inferior ao 5,56 x 45, tanto M193 como M855 (SS109). Ao adotar esse calibre, Egito e Cazaquistão diminuem os custos da transição dessa munição. Não existe ainda confirmação, mas ao que consta a Beretta trabalha em uma versão do ARX160 em 5,45 x 39 mm visando países do Leste Europeu.

Tropas especiais egípcias com o ARX160 em calibre 7,62 x 39 mm.

A meta da Itália é substituir todos os AR70/90 pelo ARX160, agora que finalmente tem um fuzil de assalto no estado da arte. Não tardou e em 2008 foi lançada uma 2º versão, o ARX16A2. Esta versão nada mais é do que um ARX160A1 com um cano menor de 350 mm de comprimento e um trilho picatinny de maior comprimento na parte de baixo do guardamão. Essa versão também ficou conhecida como SF, de Special Forces. Uma alteração feita foi no quebrachamas e compensador. Antes, os orifícios laterais, quando o fuzil estava apoiado perto do solo ou alguma base fixa, fazia levantar pó nas laterais pela força dos gases. De longe isso mostrava ao inimigo a posição do soldado. Agora os gases não são mais expelidos pelas laterais, quase anulando esse efeito de sopro de pó.

Tropas especiais cazaques com o ARX160 em calibre 7,62 x 39 mm.

A versão A2 apresenta uma novidade que é uma proteção de cerâmica térmica na região do cano. Isso não veio de uma necessidade, mas já prevendo o que aconteceria. Quanto menor o cano, mais rápido ele tende a esquentar. Se esse cano menor estiver em um guardamão de polímero, mais rápido o fuzil vai esquentar. Levando em conta que tropas especiais usam as armas além dos limites das tropas comuns, já se esperava que essa arma esquentaria mais rápido que as demais. Para tanto os italianos colocaram essa proteção térmica. A maior diferença no ARX160A2 é essa peça. A partir de 2012, essa proteção passa a ser colocada em todos os fuzis de série.

ARX160A3 com baioneta.

O ARX160A1 e A2 são mais tolerantes com altas temperaturas e uso mais árduo do fuzil. Os testes mostraram que o ARX160 pode disparar, seguidamente, 210 disparos no regime automático antes do efeito cookoff, quando a munição é deflagrada sem ação do cão em virtude da alta temperatura do cano. Isso se dava pela distribuição do calor pelo cano e principalmente pelo novo sistema de gases em que parte dele é dissipado durante o movimento de retrocesso do transportador do ferrolho.

Em 2013 a Itália lança a versão ARX160A3. Essa versão surgiu como uma metralhadora leve de apoio, mas no final serviu mais como uma versão aperfeiçoada do fuzil. Essa versão tinha um cano de 406 mm de comprimento. As janelas de ventilação da parte de cima do guardamão são maiores e quadradas, para que entre mais ar durante os disparos, resfriando o cano. Essa versão podia usar o carregador para 30 cartuchos padrão STANAG ou um carregador circulóide duplo para 150 cartuchos. Também, as chapas de polímeros empregadas no fuzil eram mais grossas para absorver mais o calor.

ARX160A3 carabina com o lançador GLX-160.

Essa versão se mostrou muito confiável e provia fogo com maior tolerância ao superaquecimento. Os testes mostraram que a versão A3 podia disparar 390 cartuchos no automático antes do efeito cookoff. Isso era um grande nº para essa classe de arma. E isso era possível pela combinação das janelas de ventilação e melhor distribuição do calor pela arma Isso fez com que a versão logo se mostrasse mais modular ainda, deixando de ser, exclusivamente, uma metralhadora leve de apoio. Usando o corpo dessa arma, o ARX poderia ser uma versão melhorada do A1 e A2. E assim aconteceu.

A versão A3 passa a ser também a nova versão do fuzil de assalto. Como a troca de cano é simples e feita em menos de 1 minuto, sem ferramentas, o modelo A3 passa a ser uma nova geração de fuzis ao invés de uma única versão. As alterações feitas no A3 faz com que o ARX160 fique um pouco mais pesado, 3,3 Kg sem munição. Todos os fuzis de série ARX160 são vendidos com essas alterações agora. Sem dúvida alguma, o ARX160 é um dos melhores fuzis de assalto do mundo sem o devido reconhecimento.

ARX160A3.

 

ARX200

Em 2015 a Beretta lança uma nova versão do ARX, o ARX200, no calibre 7,62 x 51 mm. Levando em consideração que outras empresas estavam lançando armas no citado calibre, a Beretta também faz o mesmo. Mais pela necessidade de uma arma intermediária entre um fuzil de assalto 5,56 x 45 mm e um fuzil sniper 7,62 x 51 mm. Isso ficou observado pelos italianos que muitas vezes viam os fuzis de precisão mais limitados no campo de batalha, embora mais precisos.

ARX200 em sua versão inicial.

O ARX200 não é exatamente um ARX160 com um novo calibre. A bem da verdade ele adota um sistema mais convencional. Ele tem o mesmo desenho do transportador do ferrolho, ferrolho, pistão e mola recuperadora. Entretanto, existem diferenças quanto ao cano e sistema de gás. O ARX200 é um fuzil de ferrolho rotativo que opera por pistão de curso curto. Isso faz ele adotar um desenho mais tradicional do êmbolo de gás.

Isso se deve porque, para dar uma maior precisão ao calibre mais potente, se adota o sistema de cano flutuante. Isso significa que o cano é fixado diretamente na caixa da culatra. Ele não tem um amparo interno no guardamão. Isso dá maior precisão porque o cano não sofre com qualquer movimento involuntário do guardamão a cada disparo. E para ser flutuante, o cano tem que ser rigidamente fixado na caixa da culatra. Isso elimina a possibilidade de usar o sistema de troca rápida do cano usada no ARX160.  A troca do cano é feita com o uso de ferramentas, mesmo que em poucos minutos. Porém impossível em menos de 1 minuto sem ferramenta nenhuma.

Soldados italianos testam o ARX200.

Ao contrário do que se possa pensar, isso não é um demérito e muito menos um retrocesso. O ARX200 foi feito para ser uma arma especial de apoio e não uma arma regular. Haverá 2 ou 3 soldados por pelotão usando esse fuzil no exército italiano, onde desempenharão uma postura de apoio. Se queria maior precisão, a única forma era por um cano flutuante. Como o fuzil não será usado em tiros automáticos ou tiros contínuos, os motivos para a troca de cano são praticamente mínimos, de tal ordem que não haverá a necessidade de troca de cano porque o fuzil em si é considerado uma arma especial e não um modelo básico adaptado.

A Itália delineou duas versões do ARX2000. A 1ª é uma arma de apoio para o pelotão. Com cano de 406 mm de comprimento, tem um passo de raiamento de 1:4, o projétil dá uma volta no cano a cada 4 polegadas, 101 mm.  O cano em si é mais pesado e reforçado. O fuzil terá a capacidade auto e semiautomático e, assim como o ARX160, o trilho picatinny permitirá uma miríade de miras e sensores. Tirando o calibre e alcance, tem todos os mesmos comandos e vantagens do ARX160. Além do mais, haverá um bipode com altura regulável.

ARX200.

A 2ª versão será um fuzil dedicado DMR. Este fuzil terá no seletor de disparo apenas o regime semiautomático. A coronha dele será rebatível com ajuste de altura para apoio da face do rosto do soldado. Assim como o modelo anterior, terá à sua opção uma miríade de miras e sensores pelo trilho picatinny.

Embora seja completamente ambidestro em seus comandos, o ARX200 perdeu o retém do carregador que ficava logo atrás do carregador. Isso se deve pelas maiores dimensões do carregador. A arma não tem uma minoria de peças que podem ser intercambiáveis com os fuzis ARX160. Ao contrário do ARX160, o ARX200 tem agora um bloqueador de gás com posição para normal, parcialmente e completamente fechado. Essa alteração se faz com o uso de uma ponta de cartucho. E como o fuzil visa principalmente a precisão, a Beretta abandona o tradicional quebrachamas compensador para um modelo único de quebrachamas no formato bico de pato. Esse modelo não funciona tão bem como compensador mas diminui de forma mais eficaz as chamas geradas pelo disparo, o que faz esconder mais a posição do soldado.

ARX200.

O ARX200 perde a capacidade de selecionar o lado que se quer ejetar a cápsula. No ARX160 se pode escolher se a cápsula será ejetada pela janela direita ou esquerda. Agora o fuzil só tem a janela direita. Entretanto, há um espaço no lado direito para que o soldado possa alterar a posição da alavanca de manejo, para o lado esquerdo ou direito. O ARX200 passou em 2015 por uma série de testes de campo pelo exército italiano e o fuzil se mostrou excelente, como o ARX160. Isso faz com que o governo italiano compre um lote de 400 fuzis em 2016. Assim como ARX160, a meta é testar em combate real o ARX200. Até o ano de 2018, não havia informações sobre o uso em combate.

 

ARX160A3

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento do cano: 405 mm
Comprimento total: 910 mm
Cadência de disparo: 600-700 dpm
Peso: 3,3 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após disparar, os gases percorrem o cano e entram em um orifício. Este orifício direciona os gases para a parte da frente do êmbolo de gás, localizado acima do cano. Os gases comprimidos empurram o pistão para trás. Neste momento a pressão interna chega a níveis seguros após o projétil sair do cano, fazendo com que uma trava no ferrolho solte e este é rotacionado para a esquerda, destravando ele do extensor do cano quando os ressaltos do ferrolho se alinham com as aberturas do extensor do cano. O pistão começa o percurso para trás. Como faz parte do transportador do ferrolho, o pistão, transportador e ferrolho, ele se locomove para trás ao mesmo tempo em que o extrator, localizado no ferrolho, ejeta a cápsula da câmara do cano.

O transportador do ferrolho continua seu movimento até o final. Nesse momento, a mola recuperadora começa a empurrar o transportador e ferrolho para frente, ao mesmo tempo em que o ferrolho coloca um cartucho na câmara do cano. O movimento para frente faz os ressaltos do ferrolho passarem pelas aberturas do extensor do cano e, como movimento final, o ferrolho é rotacionado para a direita, travando o ferrolho no extensor do cano e tornando o fuzil apto para o próximo disparo.