SIG 540

A Suíça percorreu um longo caminho para chegar ao seu fuzil de assalto. Começou com a união com os italianos para um fuzil em conjunto, mas a união não deu certo. Por conta própria, penou para desenvolver um fuzil de assalto que, no começo, não despertou nenhum interesse pelo exército suíço. Ao contrário da fama, o SIG 540 nunca foi uma excelente arma e conseguiu exportar para alguns países. Embora simples, o fuzil evoluiu para o SIG 550 onde foi adotado pelo exército suíço nos anos 80 unicamente porque o Stgw 57 tinha um calibre considerado ultrapassado, embora de excelente qualidade técnica. O SIG 540 e 550 forma uma família de fuzis que conseguiu sucesso com uma arma simples, porém cara.

 

Origens

A Suíça havia conseguido desenvolver um excelente fuzil de assalto para suas forças armadas e estava satisfeita com isso. Com o surgimento do 5,56 x 45 mm em uso no Vietnã, a Suíça percebeu que vários países estavam despertando interesse para o calibre mais leve e ela também enxergou esse nicho. Não só isso, também vislumbrou na possibilidade de substituir o Stgw 57, já que o calibre usado era muito poderoso e pesado para o emprego de um autêntico fuzil de assalto.

Soldado suíço com um Stgw 57.

Tudo começa em 1964 quando italianos e suíços decidiram fazer em conjunto um fuzil de assalto no calibre 5,56 x 45 mm. A Itália e Suíça visavam um projeto em conjunto para amortizar os custos de pesquisa e desenvolvimento, assim como ganhar tempo na produção da arma. Entretanto italianos e suíços encontram divergências quando ao mecanismo de trancamento do ferrolho. Italianos queriam usar o ferrolho rotativo como o usado no AK-47. Por sua vez, os suíços queriam usar o trancamento por roletes, como já usado no Stgw 57. Surge um desacordo porque os italianos defendiam que o sistema de roletes, além de ser mais complexo, levaria mais tempo e dinheiro para adaptar em uma nova plataforma operada a gás, coisa que o Stgw 57 não trabalhava.

Ainda em 1965 os países não chegaram a um acordo e a decisão foi cancelar o programa conjunto e cada país cuidar do seu fuzil de assalto. Desta forma, a Schweizerische Industrie Gesellschaft – SIG, mantém a sua postura de projetar um fuzil de assalto com trancamento do ferrolho por roletes, pois era a tecnologia que eles já tinham experiência depois do projeto do Stgw 57. Em 1967 surge o novo fuzil da SIG, chamado de SG 530. O SG vem de SturmGewehr, ou fuzil de assalto. Esse primeiro fuzil de assalto era um protótipo conceitual. Ele serviria de base para os projetos futuros.

SIG SG-530.

O fuzil operava por pistão de curso curto, onde um pistão, pela ação dos gases, batia no transportador do ferrolho para que ele se locomovesse para trás. Entretanto, o trancamento ferrolho era por roletes, onde dois roletes, forçados para fora do ferrolho, ficavam presos em ressaltos na câmara do cano, travando o ferrolho. Esse método de trancamento era o mesmo usado no Stgw 57, com a diferença que a operação era por gás indireto. Isso fazia com que a caixa da culatra fosse de maiores dimensões porque a mola recuperadora ficava atrás do transportador do ferrolho.

Por ser um fuzil conceitual, o carregador tinha a capacidade para 20 cartuchos. Ainda não se sabia quantos cartuchos a arma operaria e nem o perfil de uso. O fuzil era todo feito em metal estampado e a coronha e quardamão eram feitos em madeira. A coronha não era fixa mas sim rebatível. A alavanca de manejo ficava no lado esquerdo no fuzil, no próprio êmbolo de gás. Como ela ficava em uma posição mais adiante, o soldado tinha que esticar o braço para acioná-la. Esse modelo foi testado e viram que o conceito funcionava sem problemas. Entretanto, a posição a alavanca de manejo era suscetível de enroscar em alguma correia ou acessório do soldado em virtude do lado esquerdo da arma. O próximo passo seria refinar essa versão para um modelo de pré-série.

2º protótipo do SG 530-1.

Um novo modelo foi feito em 1968, O SG 530-1. Como acharam a caixa da culatra longa demais, eles encurtaram a guia da mola recuperadora, que continuava atrás do transportador do ferrolho. O carregador passa a ter capacidade para 30 cartuchos e há a 1ª versão com coronha fixa, também de madeira. Mas o curioso é a inserção do sistema de burst para 3 disparos, uma vez que a praticidade desse sistema era questionável. A alça de mira era convencional e os últimos modelos vinham com coronha, guardamão e empunhadura em plástico de alta resistência, em virtude do uso desse material também no Stgw 57.

Os primeiros testes mostravam que a arma funcionava, mas estava sujeita a muitas panes. Os soldados que a testaram notaram que a arma era complicada de desmontar e o sistema de roletes não mostrava nenhum ganho de tempo em limpeza e manutenção se comparado com o Stgw 57. Isso é importante porque, com esse 2º modelo do SG 530, a SIG tinha interesse em persuadir o governo a substituir o Stgw 57 pelo 530. Os testes de campo e avaliações técnicas mostraram que o 530 era complexo ainda e não trazia vantagem significativa que justificasse a substituição do Stgw 57. Com a recusa do governo suíço e nenhum interesse por algum cliente estrangeiro, a SIG decide por terminar o programa 530.

SG 530-1.

Mas isso não quer dizer que a SIG tinha desistido. O fracasso do programa a fez repensar o seu projeto (lição que infelizmente alguns países ainda não aprenderam). Vendo que o 530 era caro, complexo e limitado, eles não tinham outra escolha a fazer um modelo mais simples e econômico que, por sua vez, poderia fazer surgir um fuzil mais barato. A Suíça então reconhece que o caminho que ela havia traçado estava errado e então decidem reconhecer que a ideia italiana era melhor. Desta forma, o fuzil passa por alterações internas.

 

SG 540

Com o fim do programa 530, a SIG reformula o seu projeto por completo e em 1971 começa o programa SG 540. Vendo que a solução italiana era melhor, os suíços fazem a mesmíssima coisa. Um fuzil de assalto operado por pistão de curso curto com trancamento do ferrolho rotativo de 2 ressaltos, tal como os italianos propuseram antes. Muitos acreditam que isso é algo negativo, mas não é. A SIG viu que tinha tomando uma decisão errônea desde o começo e, diante do fracasso, voltou atrás e reconheceu o erro. Uma atitude nobre que poucas empresas bélicas têm. Se olharmos friamente e sem paixões, veremos que o sucesso da família SIG SG540/550 se deve, sobretudo, à solução italiana apresentada antes. É por isso também que notamos que o SG 540 é muito parecido com o AR70.

SG 540 produzido pela FAMAE.

Assim como o SG 530, o fuzil operava por pistão de curso curto, onde um pistão, pela ação dos gases, batia no transportador do ferrolho para que ele se locomovesse para trás. Agora, este funcionava por trancamento por ferrolho rotativo, onde um ferrolho com dois ressaltos girava e ficava preso na base do cano. Esse sistema se mostrava mais simples, com menos peças. E com menos peças, era mais simples de limpar e manter. E ainda mais, com menos peças, era mais barato de fazer e mais rápido de produzir. Essa foi a grande sacada que os italianos queriam e que os suíços rejeitaram de início. O sistema de blowback desacelerado não era ruim, pelo contrário, era um sistema ótimo e funcional. Mas adaptar para uma arma com sistema de gases e com um calibre mais leve necessitava todo um reprojeto até chegar à uma versão definitiva, o que levaria tempo e dinheiro.

Em relação ao 530, o que mais chama a atenção no SG 540 (e que mais tarde refletirá em toda a família SIG dessa plataforma) é o tamanho da caixa da culatra. Ela tem um comprimento menor, tornando-a mais compacta se comparada com outros fuzis. Isso se deve ao fato de que a mola recuperadora fica na frente, dentro do êmbolo de gás em volta do pistão de gás. Ao deslocar para frente, atrás do transportador não é necessário uma guia com uma mola recuperadora, isso faz a caixa da culatra ser mais compacta. Entretanto, isso faz com que a mola recuperadora tenha que ser trocada com mais frequência. Como ela está dentro do êmbolo de gás, os gases e fuligens, muito quentes, tendem a atuar sobre a mola, fazendo com que ela se desgaste prematuramente em virtude uma ação de temperamento do metal.

SG 540 com o bipode estendido.

A outra grande alteração foi quanto à alavanca de manejo. Ela sai do êmbolo de gás no lado esquerdo e vai para a direita da caixa da culatra, junto da janela de ejeção. Ela fica mais prática e segura de operar. Essa alavanca é recíproca com o transportador do ferrolho. Se olharem com atenção, verão um botão inserido no corpo do transportador, atrás da alavanca de manejo. Esse botão serve para quando for desmontar o fuzil. Ao apertado, a alavanca de manejo se solta. Como a abertura lateral por onde a alavanca se locomove tem um espaço determinado, ao desmontar o fuzil não seria possível tirar o transportador. Para tanto a necessidade de se tirar a alavanca primeiro. E nessa lateral da alavanca existem duas borrachas que selam por dentro essa abertura. A alavanca passa por ela sem problemas e essas borrachas visam impedir a entrada de sujeira pela lateral.

Após o último disparo, o ferrolho fica aberto. Isso é ótimo porque diz ao soldado que a munição acabou e que não se trata de uma pane. Seguindo a mesma ideia do M16, o retém do ferrolho fica no lado esquerdo da caixa da culatra. Isso agiliza muito a troca do carregador. Se o soldado quiser, ele pode liberar o ferrolho puxando levemente para trás a alavanca de manejo. A caixa da culatra é dividia em duas partes, a de cima, em metal estampado, e a de baixo, forjada em um bloco de alumínio. Isso dá maior rigidez e durabilidade ao fuzil sem aumentar o peso da arma. Curiosamente, as primeiras unidades tinham a coronha, empunhadura e guardamão em madeira. Com a produção em série, passaram a usar plástico de alta resistência.

SG 540 com coronha rebatível.

O seletor de disparo fica no lado esquerdo da caixa da culatra, acima da empunhadura. Com 4 opções, auto, semi, burst de 3 disparos e travado, o seletor não é ambidestro. Como era “moda” da época, o burst de 3 disparos foi inserido, mas tinha praticamente nenhuma vantagem no campo de batalha. Entretanto, ele não tinha o efeito memória, como tem o M16A2. No modelo americano, há o efeito memória em que se o soldado dispara dois disparos no burst, a próxima vez que apertar o gatilho será um único disparo. Apertando novamente, reinicia o processo. Ou seja, se ele disparar dois disparos no burst, o próximo disparo será um novo burst de três disparos.

O SIG 540 tem três posições no regulador de gás. Normal, para o funcionamento em condições normais. Condições adversas, para quando há situações de sujeita, como poeira ou lama, em que há a necessidade de maior quantidade de gás para que a arma funcione. E a opção fechado, quando não se permite a entrada de gás no êmbolo. Essa opção visa o lançamento de granadas de boca. Para tanto, há a necessidade de uso de um cartucho especial em que todos os gases são para o lançamento da granada. E, assim como o Stgw57, o retém do carregador é ambidestro e fica atrás do carregador.

Um ponto que gera confusão é o apoio atrás do gatilho. Muitos acreditam que esse pino atrás do gatilho faz parte do grupo do gatilho que o aciona o cão por um sistema de alavanca. Isso não é verdade. Aquele apoio atrás do gatilho é apenas para que o gatilho não tenha aquele efeito de longo curso, o famoso “gatilho borracha”. Isso torna o disparo mais preciso, pois o soldado saberá que, após o disparo, ele não tem que puxar o gatilho até o final. Isso pode parecer algo fútil, mas quem dispara a arma diz que isso é muito útil.

Carabina do SG 540. Com a coronha rebatível se mostrou uma arma compacta.

O sistema de mira mudou. Antes o SG 530 usava um modelo mais convencional. Com o SG 540, o sistema usado é o mesmo da família HK G3, o sistema de barril, em que o soldado gira para as laterais para selecionar a graduação que quer. As graduações são várias, de 100, 200, 300, 400 e 500 metros. São muitas variações para um projétil que tem uma trajetória mais plana. O calibre 5,56 x 45 mm M193 é uma munição famosa por ter uma grande velocidade e trajetória plana, gerando uma grande precisão. Até 300 metros a trajetória é praticamente a mesma de 100, 200 e 300 metros. Isso é uma filosofia de emprego do exército suíço.

Os soldados que disparam dizem que o recuo é perfeitamente controlável. Isso se deve ao sistema da mola recuperadora estar em volta do pistão porque ela acaba por absorver maior quantidade de energia do recuo. Além disso, há atuação do quebrachamas que também funciona como compensador. Um ponto negativo no fuzil foi a coronha rebatível. Ela é feita com duas hastes de metal que não oferecem nenhum apoio para a face do soldado. Isso torna mais difícil de fazer a mira caso o soldado queira uma maior precisão.

A FAMAE também fez uma versão carabina do SG 540.

Em 1976 a SIG lança a carabina SG 543. Esta carabina tem um cano de 300 mm de comprimento e visa tropas especiais e pessoal de tripulação, etc. Essa versão não pode usar baioneta ou lançar granadas de boca porque, em virtude do cano menor, não há espaço necessário para acomodar os acessórios. Esse tipo de carabina não se destina ao uso com esses acessórios, além de limitar no alcance já que carabinas, pelo seu cano menor, tendem a disparar o projétil a velocidades menores, com menor alcance e energia.

O Chile é o principal operador da família SG 540. Tropas especiais chilenas de neve com o SG 542.

Em 1974 surge a versão SG 542. Esta versão nada mais é do que o SG 540 com o calibre 7,62 x 51 mm. Essa versão foi feita exclusivamente para exportação, já que a Suíça não usava esse calibre e nem tinha planos de adotá-lo. Se por um lado o SG 540 era famoso por ser um fuzil mais leve, passa a ser um problema quando o fuzil dispara um calibre mais potente. Em virtude de sua leveza, de 3,4 Kg, o recuo do 7,62 x 51 mm se torna mais pronunciado. Para atenuar esse forte recuo, além do quebrachamas com efeito compensador, a SIG colocou na soleira da coronha uma base de borracha para amortecer parte do recuo. É uma solução sem muita prática. Independente do recuo, o fuzil funcionava perfeitamente.

SG 542 em calibre 7,62 x 51 mm.

O SG 540 foi feito exclusivamente para exportação. Na época a Suíça não demonstrou interesse no fuzil porque eles tinham recém recebido o Stgw 57, um fuzil de excelente qualidade e não valeria a pena gastar mais dinheiro para trocar algo sem necessidade. Para que a exportação ocorresse, a SIG deve de fazer uma manobra. Pelas leis suíças, a exportação de armamento seguem leis muito rígidas que praticamente impedem a exportação. Para tanto, a SIG vendeu para a francesa Manurhin os direitos de produção e venda do SG 540/542 para que permitisse à SIG exportar o seu modelo. Isso não quer dizer que a SIG não podia exportar, como é o caso do Japão. Ao todo, 22 países compraram os fuzis da série SG 540, sendo que desses, 12 compraram pela Manurhin. Além desta, a FAMAE chilena produz sob licença o SG 540 e 542.

O Chile ainda usa o SG 540 na região norte do país.

 

SG 540

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento do cano: 460 mm
Comprimento total: 950 mm
Cadência de disparo: 750 dpm
Peso: 3,4 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

SG 542

Calibre: 7,62 x 51 mm
Comprimento do cano: 465 mm
Comprimento total: 1.000 mm
Cadência de disparo: 650 dpm
Peso: 3,5 Kg
Carregador: 20 cartuchos

 

Como funciona

Após o disparo, os gases percorrem o cano e entram em um orifício na altura da mira. Esse orifício direciona os gases para um êmbolo em cima do cano. Nesse êmbolo há um grande pistão que está preso ao transportador do ferrolho. Os gases comprimem esse pistão para trás que, por sua vez, empurra o transportador do ferrolho para trás também. Após o projétil sair do cano e a pressão cair a níveis seguros, a trava do ferrolho é liberada e o ferrolho é rotacionado para o lado esquerdo, fazendo com que seus ressaltos se alinhem com as aberturas da câmara do cano.

Com o movimento de retrocesso do pistão, o transportador do ferrolho vem junto com ele. Nesse momento, o ferrolho extrai da câmara do cano a cápsula, ejetando para o lado direito, momento este que faz o transportador do ferrolho e ferrolho chegar ao final do seu curso. A mola recuperadora está em volta desse pistão do êmbolo de gás. Como o pistão está preso ao transportador do ferrolho, a mola recuperadora o puxa de volta para frente. Nesse movimento, o ferrolho empurra um cartucho para a câmara do cano. Os ressaltos do ferrolho passam pelas aberturas da câmara do cano e se rotacionam para o lado direito, travando o ferrolho e preparando a arma para o próximo disparo.