HK416 – Parte 1

A HK tem na sua história um perfil de qualidade desde que passou a fabricar sob licença o G3. Seus projetos tinham peculiaridades que marcaram qualidade de seus produtos. Ainda almejou inovações que estavam à frente do seu tempo. Depois que a HK foi comprada pela Royal Ordnance (mais tarde comprada de novo por investidores alemães) ela perdeu o brilho com o G36 e não conseguiu se firmar com o XM8. A HK conseguiu sucesso de novo com um projeto já maduro, com soluções e conceitos já prontos, onde nada foi inventado dela. Assim a HK retoma aos poucos sua colocação no disputado mercado mundial.

 

Origens

A história do HK416 não é tão romantizada como se pensa, não foi um requisito do Delta Force americano. A origem do HK416 vem desde muito antes. O começo do uso da carabina M4 não foi um dos melhores e ela estava tendo problemas com panes seguidas, baixa precisão, acúmulo de sujeira e maior tempo de manutenção. Mesmo com todos esses problemas, ela estava sendo enviada em grandes quantidades para as tropas americanas e já se pensava em substituir todos os fuzis antigos da família M16 pela M4. A situação era pior com as tropas especiais. Essas tropas usam suas armas acima da média e dos limites que os soldados comuns usam as suas. Se com as tropas regulares o M4 era problemático, com as tropas especiais seria pior ainda.

Justamente nessa época, muitas empresas estavam fazendo clones do M16. Tais clones eram cópias sob licença com o devido pagamento de royalties. Essa explosão de clones não era à toa. Os M16A1 e M16A2 estavam com suas vidas úteis contadas. Os M4 e M16A4 estavam no máximo da sua linha evolutiva de tal ordem que dificilmente o governo americano continuaria apostando nesse sistema defasado. As várias empresas que fabricavam os clones do M16 faziam em versões melhores com a chance de tentar tascar essa fatia do mercado que geraria muito dinheiro, mesmo no mercado privado.

Soldados americanos no Iraque.

A HK, após ser comprada pela Royal Ordnance, foi incumbida de revisar e corrigir todos os problemas do L85 inglês. O trabalho deu certo e deu vida nova ao problemático fuzil inglês, quando muitos acreditavam que o L85 estava com os dias contados de tão ruim que era. Esse trabalho de sucesso (sem modéstias) mostrou a capacidade da HK de ainda inovar e isso não passou despercebido. Alguns membros do Delta Force estavam acompanhando o trabalho feito no L85 e ficaram impressionados com o trabalho da HK. Em 2001, esses membros perguntaram o que a HK poderia fazer pela carabina M4A1 que se mostrava problemática no Iraque e Afeganistão.

O que o Delta Force não sabia era que a HK já trabalhava numa versão sua do M16. Aqui temos que deixar claro porque a HK nunca fez uma versão da M4 e sim do sistema M16, podendo englobar M4 e outras variantes da família M16. A HK já tinha visto que o sistema do M16 já tinha chegado ao máximo de sua linha evolutiva e, a curto e médio prazo, muitos países teriam que trocar esses fuzis, incluindo os EUA. A HK também trabalhava em seu clone do M16.

Delta Force e SAS no Iraque.

O Delta Force gostava da M4A1, era leve, portável e fácil de manejar, mas tinha muitos problemas que, em determinadas situações, recorriam ao M16A4 ao invés da M4. Diante desse panorama, o Delta Force pede ao governo americano que criasse um estudo de melhoria da M4A1 para que a arma fosse menos problemática. Como a M4A1 estava recém entrando em operação, o governo americano não queria mais gastar dinheiro com novas pesquisas e desenvolvimento, já que naquela época financiava o programa XM8, também da HK. Nesse momento a HK se oferece para fazer uma releitura do sistema M16 que pudesse ser aplicado, futuramente, à carabina M4A1. Havia deixado claro que o processo de pesquisa e desenvolvimento seria arcado às suas próprias custas. O governo americano faz um contrato de pesquisa e desenvolvimento com a HK, onde esta faria todo o trabalho para oferecer uma arma às tropas especiais, em um primeiro momento.

 

HKM4

A HK apresenta o HKM4 nos EUA em 2004. A HK não mira somente a carabina M4, mas sim toda a família M16. Muitos levam a crer que a substituição seria apenas da M4 em virtude do nome, entretanto o termo era puramente comercial, como já faziam outros fabricantes que clonavam os fuzis M16. De início a arma não se destinava a nenhum exército ou órgão de segurança, aparecendo apenas como um protótipo da HK. O HKM4 era uma carabina reprojetada. Havia o uso amplo dos trilhos picatinnys e a HK não podia usar o sistema PCAP porque era requisito do governo americano o trilho picatinny. E os primeiros modelos do HKM4 não tinham a tampa de proteção da janela de ejeção.

HKM4.

Quando a HK estudou por completo a M4, eles fizeram um criterioso estudo sobre o que funcionava e o que não funcionava na carabina. Eles notaram que o maior problema da M4 sempre foi o sistema de uso direto do gás. Para melhor compreensão, o sistema direto de gás não tem pistão entre o orifício de captação dos gases e o transportador do ferrolho. Os gases da deflagração do projétil vão diretamente para o transportador do ferrolho, movimentando-o para trás. Se por um lado simplifica a arma, por outro lado gera mais problemas. Os gases são muito quentes e são jogados diretamente dentro da caixa da culatra da arma. Com a combinação de sujeira, como poeira, terra, alta umidade, esses gases geram um composto de sujeira que, com o tempo, faz o fuzil apresentar panes.

Eram essas as panes que os americanos estavam tendo com o M4 no Iraque e Afeganistão. Eles tinham um alto índice de panes em virtude de sujeira acumulada na carabina. Isso exigia que a arma fosse limpa com mais frequência que os demais fuzis que usam o sistema de pistão. Além do mais, os gases quentes dentro da caixa da culatra faziam com que as peças internas tivessem um desgaste prematuro, o que por sua vez gerava mais panes na arma. Para solucionar esse problema, a HK adaptou um sistema de pistão, o de pistão de curso curto, na plataforma do sistema M16.

HKM4.

Segundo o princípio do pistão de curso curto, isso diminuiria a quantidade de gases quentes jogados dentro da caixa da culatra. Os gases apenas movimentariam o pistão para que movimentasse o transportador do ferrolho. Isso significava menos gases para acumular sujeira interna no fuzil que, por usa vez, teria menos sujeira interna e assim menos panes. Além disso, como não haveria mais gases quentes dentro da caixa culatra, não haveria mais um desgaste prematuro das peças internas, fazendo com que o fuzil tivesse menos panes técnicas e tivesse uma durabilidade maior.

Cabe mencionar que não é a primeira vez que isso é feito no sistema M16. No final dos anos 60 a Colt fez uma adaptação de pistão de curso longo no M16A1. Na época o fuzil estava tendo muitos problema de panes e naquele momento ainda não se sabia que os problemas primordiais eram a qualidade da munição e da falta de limpeza correta. Para tentar solucionar isso, a Colt adaptou esse sistema de pistão no modelo 703. A arma funcionava perfeitamente mas não passou de protótipo. Por sua vez, o M16A1 também passou por essa transformação. Quando Taiwan comprou o direito de produzir o M16A1, eles ficaram receosos com a grande quantidade de problemas que o M16A1 passava. Desta forma adaptaram o sistema de pistão de curso curto nos seus modelos T65. Esse fuzil é considerado um dos mais confiáveis nos anos 70 e 80.

HKM4.

 

O HKM4 se mostrou a plataforma perfeita para trabalhar em cima do que seria o HK416. O HKM4 nada mais foi do que um protótipo que destinava mais a mostrar o conceito de tecnologia a ser aplicado. Na época muito se falou que seria mais um clone de carabina para disputar o mercado civil americano, na verdade, era o modelo do que seria a volta da HK no mundo dos fuzis de assalto.

 

HK416

A Colt tomou uma grande surpresa quando a HK lançou a HKM4. Visualmente falando, era uma arma quase igual à sua. E nome era praticamente igual. Acusando de concorrência desleal (e não de produção ilegal, já que a HK pagava royalties pela patente), a Colt processa e ganha a causa, obrigando a HK mudar o nome do seu produto. Não existe nada concreto sobre isso, mas muito que se falou na época é que a HK faz uma provocação à Colt. Sai o M4 e entra 416. O “4” era uma referência à carabina M4 enquanto que o “16” era uma referência ao M16, já que a HK sempre visou toda a família M16 e não somente a M4.

HK416 – Primeiras versões.

Levando em conta o novo sistema usado, podemos ver que no sistema de uso direto de gases os gases entram na parte de trás do transportador do ferrolho, expandido o transportador do ferrolho para trás enquanto destrava o ferrolho. Aqui ambas as peças seguem na mesma linha porque os gases no transportador do ferrolho impulsionam para frente e para trás. Com o sistema de pistão de curso curto o efeito é diferente. Como não existem gases no transportador do ferrolho, o pistão bate na parte frontal do transportador do ferrolho. O golpe faz o transportador do ferrolho inclinar para baixo, forçando essa peça e o trilho onde ele está. Isso desgasta rapidamente o transportador do ferrolho e ferrolho. Para evitar isso, a parte de trás do transportador do ferrolho é alargada, tendo um comprimento maior. Isso faz contrabalancear a energia do golpe do pistão, mantendo o transportador do ferrolho e ferrolho na mesma linha, sem ter qualquer inclinação. Se notar com cuidado, verão que a tampa da caixa da culatra é levemente maior para acomodar o sistema de pistão de curso curto.

Essa alteração exige outra alteração. Foi inserida uma mola de segurança no percussor do HK416. No sistema do M16 com o uso direto dos gases, o transportador do ferrolho se movimentava a uma determinada velocidade. Muitas vezes, quando o ferrolho estava fechado, o percussor podia se movimentar, mas sem a energia suficiente para deflagrar a espoleta. No HK416 a situação é diferente. Como pistão gera uma energia maior no retrocesso do transportador do ferrolho, este se movimenta a uma velocidade muito maior. Isso significa que quando o ferrolho fecha, com a energia maior de operação, o percussor pode bater com mais força na espoleta, gerando um disparo involuntário. Para evitar isso, há uma mola de segurança no percussor que só permite o movimento dele após acionado o gatilho.

Soldado norueguês operando o HK416.

Em virtude dessa energia maior, o amortecedor interno do fuzil não dá conta da energia gerada. Para isso é colocado uma mola mais grossa e dura. Com maior resistência, maior o amortecimento do transportador do ferrolho, uma vez que a energia dos gases atrás do pistão faz este impulsionar com violência o transportador do ferrolho.

O carregador do HK416 é diferente do modelo padrão STANAG. Não que a HK seja uma birrenta, mas era fato que o carregador STANAG tinha tendências a problemas. Isso foi resolvido com o HK33, XM8 e G36, que usavam carregadores diferentes, porém, melhores. A HK não poderia usar esses carregadores no HK416 porque os EUA exigiam o padrão STANAG. Mas não queriam voltar ao padrão antigo, já que era um dos problemas da M4. Então a HK usou o mesmo carregador que ela fez para o L85.

Quando a HK fez a correção do L85, dentre várias coisas reprojetadas, estava o carregador. A HK tinha que manter o mesmo padrão STANAG. Este padrão nada mais era do que o formato e as medidas dos encaixes do carregador no receptáculo da caixa da culatra. Então a HK refez todo o carregador respeitando esses limites. Ela criou um carregador de aço ao invés de alumínio. Ele era um pouco mais pesado mas com uma confiabilidade 50% maior que o antigo carregador STANAG. Esses mesmos carregadores foram reaproveitados no HK416. Os americanos ficaram impressionados com a qualidade dos novos carregadores que, independentemente do programa, eles comparam milhares de carregadores da HK para serem usados nos M4 e M16A4 em uso no Afeganistão e Iraque.

HKH416.

O cano do fuzil é oferecido em 4 tamanhos. Em 254 mm, 368 mm, 419 mm e 508 mm de comprimento. Isso é por causa das opções para as mais variadas tarefas em que o fuzil possa ser utlizado. Esses canos são forjados a frio, o que dá maior resistência e durabilidade para o cano. O que causou espanto foi o cano ser estriado ao invés de ser poligonal. Testes realizados com o XM8 mostraram que o cano poligonal gera maior precisão, mais energia ao projétil e maior durabilidade do cano. Em relação à M4 e demais membros da família M16, veremos que o que muda é o carregador, o cano, a mola recuperadora, êmbolo e transportador do ferrolho.

A mudança radical do sistema de gases se dava nesse conjunto, qual seja, a parte de cima da caixa da culatra. Essa parte de cima no HK416 é destacável da parte de baixo da caixa da culatra. Isso é feito em qualquer fuzil de assalto ou carabina da família M16. Isso foi explorado pela HK e caso quisesse,poderia se trocar a parte de cima da M4 pela parte de cima do HK416. Ou seja, poderia ser feito um kit de conversão usando somente a parte de cima da caixa da culatra. Isso era uma forma de economizar, já que o governo americano já havia sinalizado que não estava tão disposto a gastar dinheiro em curto prazo.

HK416 – Kit de adaptação.

Os primeiros modelos do HK416 tinham a coronha retrátil mais larga. Isso se dava pela ideia do soldado poder apoiar a face lateral do rosto para uma maior precisão. Entretanto, quando a coronha estava totalmente esticada, essa parte ficava mais para trás, perdendo parte da sua funcionalidade. A única forma de aproveitar isso era usando com a coronha retraída. Mas nessa posição era muito ruim fazer a mira. Desta forma, nos modelos posteriores a coronha tem uma largura menor.

HK416.

A HK mantém o botão de fechar o ferrolho manualmente. Isso surgiu primeiro com o HK G41 mais visando o mercado internacional.  O G36 tinha um dispositivo que visava travar a alavanca de manejo, mas poderia ser usada com a mesma finalidade, embora não fosse projetada para isso. Como o governo americano exigia esse botão, a HK manteve. É oportuno dizer que esse botão é foco de polêmica. Como disse Eugene Stoner, o pai do M16, se você tem que forçar o fechamento do ferrolho, é porque algo o está bloqueando e, ao fazer isso, você estará procurando problemas. Nem sempre é salutar usar esse botão, ainda mais quando se tem sujeira na câmara do cano. Os riscos de acidente são enormes para o soldado.

Assim como o XM8, o HK416 foi testado em vários lugares com suas condições climáticas e intempéries. No deserto do Arizona, nos climas quentes e úmidos da América Central, na neve do Alasca. Essa é a forma correta de fazer testes desse tipo ao invés em ambientes simulados fora da condição natural. Em 2006 começam os primeiros testes com o HK416. Já de cara testaram o modelo com cano de 254 mm e ele aguentou 15.000 disparos. Para uma carabina de cano curto, isso é um grande feito já que a M4 no máximo conseguia 7.000 disparos de durabilidade.

HK416 com cano de 508 mm.

Testes também mostraram um problema de centro de gravidade. Com o trilho picatinny no guardamão, os soldados colocavam muitos acessórios e isso fazia com que a arma tendesse a ficar pesada na parte da frente. Isso se dava mais pelo cano que era mais pesado e desbalanceava a arma. Corrigiram isso quando usaram um cano mais leve, balanceando melhor o fuzil. Corrigido esses pequenos problemas, ocorreram as primeiras vendas para as tropas especiais americanas.

O uso em combate mostrou o esperado. O fuzil era muito mais confiável que a M4. Era mais preciso e exigia menos manutenção e limpeza. E o que mais agradou foi o fim das panes. A transição foi simples e natural já que os comandos e dimensões eram a mesma da M4. Como o treino foi facilitado por causa da semelhança, os soldados das tropas especiais dominaram a arma em pouco tempo e em poucos meses já estavam com ela em operação real. A similaridade com um modelo anterior ajudou muito na conquista da preferência. Por exemplo, os soldados preferiam usar o SCAR MK.17 ao invés do M14 porque os comandos do SCAR eram praticamente iguais aos comandos do M16A4 e M4. Com o M14 o soldado deveria passar por uma transição mais longa. Aliás, essa foi a única crítica que o HK416 teve das tropas especiais. A ausência de uma versão em calibre 7,62 x 51 mm.

Soldados americanos no Iraque com HK416.

 

HK416C

O sucesso do uso do HK416 pelas tropas especiais americanas fez chamar a atenção de outras tropas estrangeiras. No Iraque e Afeganistão, o SAS teve contato com o sistema HK416 e viram na arma o que eles mais queriam, um sistema menos propício a sujeiras e maior durabilidade, que conferia maior funcionabilidade. O SAS chegou a fazer algumas missões com HK416 emprestado pelos americanos e gostaram muito da arma. Não tardou e o SAS queria essa arma. Em 2008 o governo britânico faz um pedido de um modelo que adequasse às suas necessidades.

Ao contrário do HK416, o HK416C foi um modelo feito exclusivamente a pedido de uma equipe especial. Em 2009 a arma fica pronta, sendo batizada de HK416C. Ela foi feita para ser uma arma compacta. O SAS sentia a falta de uma carabina curta para suas operações. Carabinas curtas como a M4 tendem a ter maiores problemas (não que os problemas sejam inerentes) e o SAS queria evitar isso. O HK416C tinha um cano de 226 mm com comprimento total de 686 mm. A coronha retrátil era única também. Usava o mesmo trilho usado no HK33 e não o modelo telescópico normal. Com duas hastes ligadas às laterais da caixa da culatra, a coronha podia ser retraída para mais perto da empunhadura. Isso tornava a arma mais compacta não só para alguma eventual missão como para transporte.

HK416C.

O HK416C tem uma alteração no projeto que os demais fuzis não têm. O pistão de amortecimento é menor e mais rígido. Esse pistão geralmente fica localizado dentro de um tubo na coronha. É por isso que os modelos de coronha retrátil telescópica não são retraídos até a caixa da culatra porque esse tubo do amortecimento toma posição atrás da caixa da culatra. Para manter um menor tamanho, esse tubo e também o pistão, assim como a mola recuperadora, tem dimensões menores para se chegar a uma dimensão mínima. Em contrapartida, essa mola de amortecimento é mais dura.

Para um cano desse tamanho, o HK416C conseguia uma precisão relativamente boa, com um projétil saindo a 730 m/s. Não tardou e o SAS passou a fazer testes de campo e em combate real. Os resultados foram como se esperavam. A arma foi um sucesso, sem panes, sem a necessidade de manutenção constante e muito versátil com o uso dos trilhos picatinny. O sucesso dos testes fez com que a HK colocasse à venda no mercado internacional o modelo HK416C para outros clientes que se interessassem, já que o projeto tinha se mostrado viável.

HK416C.

Entretanto, no final o SAS acabou não comprado o HK416C. O SAS em si tinha adorado a arma, mas a equipe responsável pela avaliação achou que o modelo da HK trazia pouca vantagem para um programa de aquisição de novas armas, o que demandaria mais dinheiro e, para eles, o investimento não valeria o benefício. O SAS usava o fuzil canadense C8 SFW, uma versão especial para tropas especiais, e chegaram à conclusão que não valeria trocar essas armas (que eram ótimas, por sinal) por um modelo com pouca melhoria em cima. Isso não foi um fracasso para a HK. Alguns exércitos e órgãos de segurança compraram o HK416C.

 

HK416A5

O modelo 416 estava em uma curva de aprendizado no Iraque e Afeganistão. Embora o fuzil fosse ótimo, ele dava novas ideias do que poderia ser melhorado e a HK prestou extrema atenção nisso. Ela desde o começo registrava os prós e contras do seu modelo já visando no futuro melhorias corretas e certeiras, evitando perder tempo onde não era necessário, já que em uso real de combate, tempo é o que se tem menos no mundo bélico. Em 2012, é apresentado um modelo refinado chamado HK416A5 visando tropas especiais que usavam o M4 MWS.

HK416A5.

Um problema sanado era o carregador. A HK usa um carregador de aço e refinado para que evitasse as panes de alimentação da M4. O carregador da HK, mesmo seguindo o padrão STANAG, não era universal. O carregador da HK tinha uma alteração na parte de cima de maior largura. Ocorre que a ideia era tornar o carregador mais fixo possível, sem a chance de folga que, com o tempo, gerava panes de alimentação. Entretanto, alguns M16 não podiam receber esse carregador, principalmente a carabina M4. Até podiam, mas eram duros de colocar e a retirada era dura também. Outras vezes, colocando os antigos carregadores do M16 no HK416 fazia com que algumas falhas de alimentação ocorressem.

Essa preocupação da HK com o carregador veio no programa de reprojeto do L85, onde ficou constatado que as várias falhas de alimentação vinham do carregador. Desta forma o carregador passa a ter as mesmas medidas exatas, sendo intercambiáveis com outros fuzis. A preocupação da HK com o carregador foi tão grande que os modelos que usam o M203 têm uma proteção de borracha na altura do guardamato porque com o recuo do lançamento, o guardamato batia com força no carregador, gerando um folga que, por sua vez, gerava falha de alimentação.

HK416A5 usado nas ações em Burkina Faso – 2015.

Outro ponto muito bem aceito e a décadas esperado. Controles ambidestros em uma plataforma M16. Esse sempre foi um ponto muito criticado pelos canhotos e soldados que não podem usar a mão destra. A HK insere no fuzil controles ambidestros para o seletor de disparo e o retém do carregador e ferrolho. Não pense que isso é algo simples de fazer porque não é. O grupo do gatilho é desenhado conforme a parte de baixo da caixa da culatra e onde estará o seletor de disparo. Não basta adicionar um furo na lateral esquerda e colocar uma chave seletora. Há que redesenhar o grupo do gatilho para que seja permitida a operação de ambos os lados sem influir no desenho técnico interno. Pode parecer banal mas não é.

As miras também são diferentes. Antes, no HK416, as miras fixas eram acopladas no trilho picatinny, eram modelos similares as miras da família G3 e HK33, a alça de mira era dióptrica. Agora ambas as miras são retráteis, sendo que a massa de mira é fixa ao cano, ainda que retrátil. A alça deixa de ser dióptrica e passa a ser um modelo mais simples. Há uma proteção do lado esquerdo no retém do ferrolho. Essa peça era acionada acidentalmente e em outras vezes se enroscava facilmente. E visando a facilidade, o regulador dos gases não exige mais ferramentas especiais para ser acionado, bastando a ponta de um cartucho para manipular.

HK416A5 com baioneta.

Outras alterações vieram com o trilho picatinny lateral de maior comprimento e graduado em nºs. A ideia da graduação em nºs veio com o SAS quando acharam que seria mais fácil e rápido na instalação dos acessórios. Essa ideia foi corroborada pelas tropas americanas que também usaram o HK416 em combate real. Além disso, o guardamato é maior para que soldados possam usar usando luvas grossas. Isso foi algo muito criticado no M16, onde muitas vezes os soldados reclamavam que tinham difícil controle no gatilho quando usavam luvas grossas.

O HK416A5 surgiu como um substituto para o M4 MWS usado pelas tropas especiais americanas. Porém, em 2013 o governo americano cancelou a compra do HK416, mantendo os seus M4. A alegação era puramente orçamentária, já que o fuzil tinha sido muito bem avaliado. Novamente, isso não foi um balde de água fria na HK. O fato das tropas especiais americanas testarem e aprovarem um produto seu já serviu de vitrine para outros clientes. Alguns exércitos já compraram essa versão para suas tropas especiais assim como outros órgãos de segurança.

HK416A5 com supressor de som.

Se levarmos em conta a família HK416, veremos que a HK, em pouco tempo, colocou no mercado um fuzil de assalto moderno, conseguindo boas vendas para 24 países. Isso é importante notar porque hoje o mercado está saturado de fuzis de assalto a preços baratos. E muitos países estão fabricando seus próprios fuzis de assalto. Se manter nesse segmento não é uma das tarefas mais fáceis.

 

HK416 16.5

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento do cano: 419 mm
Comprimento total: 951 mm
Cadência de disparo: 750-900 dpm
Peso: 3,5 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após premir o gatilho, o cão acerta o percussor que está localizado dentro do ferrolho e, por sua vez, acerta a espoleta do cartucho. Ao deflagrar, os gases percorrem o cano e entram em um orifício situado na parte de cima do cano. Os gases são captados em um êmbolo onde pressionam um pistão interno. Esse pistão, com a energia dos gases, faz um curto recuo (por isso que se chama pistão de curso curto), batendo no transportador do ferrolho que está repousado na frente por ação da mola recuperadora.

Neste momento, o ferrolho rotativo é rotacionado para a esquerda, destravando-se quando os ressaltos se alinham com a saliência da câmara do cano. Com a força do movimento da pancada do pistão, o transportador do ferrolho, juntamente com o ferrolho, retrocede. O transportador do ferrolho segue um trilho na caixa da culatra que serve como guia para o movimento de retrocesso, comprimindo ao mesmo tempo a mola recuperadora localizada logo atrás. Quando o transportador do ferrolho chega ao seu curso final, essa mola recuperadora impulsiona o transportador do ferrolho para frente, ao mesmo tempo em que coloca um cartucho na câmara do cano. Ao chegar à base do cano, o ferrolho rotativo passa pelos ressaltos do cano e é rotacionado para direta, onde os ressaltos passam pela saliência da câmara do cano, travando o ferrolho ao mesmo tempo. Assim o sistema está apto para o próximo disparo. É o sistema de pistão de curso curto.