M16A4/A3

Este artigo enfoca mais a história do M16A3 e M16A4 do que características técnicas. Ocorre que essas características já foram detalhadas nos artigos anteriores sobre o M16, de tal ponto que haveria muito pouco a acrescentar. Desta forma,  o presente artigo visa mais a história da arma para não tornar o artigo repetitivo.

 

Origens

O M16A2 se mostrou como um dos maiores expoentes da evolução da família M16. Entrtetanto, as versões M16A3 e M16A4 não tinham muito mais o que trazer ou inovar. Lembremos que até então as forças armadas americanas, nos anos 90, ainda estavam em um processo de substituição de seus fuzis. O M16A2 ainda estava terminando de chegar enquanto que ainda tinham em seu inventário o M16A1. Não havia a urgência e nem a necessidade de uma nova arma diferente porque o que já tinham estava de ótimo tamanho.

Enquanto o M16A2 estava sendo posto em produção em massa e, gradativamente, a substituição dos antigos fuzis era feita, um programa no final dos anos 80 lançou novas ideias. O programa Advanced combat rifle – ACR fez surgir o Colt ACR, com várias alterações para os requerimentos desse programa. Mas o que mais se tornou chamativo era o trilho adaptador, que permitia uma maior versatilidade de uso de miras e acessórios.

Colt ACR.

Essas novas ideias foram incorporadas na carabina XM4, que fez surgir uma das armas mais flexíveis e operadas atualmente pelas forças armadas americanas. Seu sucesso foi tão repentino que em pouco tempo ela substituiu o M16A2 como arma regular, em uma polêmica decisão. Ainda assim, havia a necessidade das forças armadas americanas de um fuzil convencional e, em cima do que se aprendeu com o programa XM4, foi feita uma nova versão de um fuzil convencional. Ao passo de que, em cima do M16A2, foi feita outra versão específica destinada à marinha americana.

Carabina XM4.

A história do M16A3 e M16A4 é curta porque esses dois fuzis têm, relativamente, uma vida curta, visto que a carabina M4 vem sendo adquirida em grande escala enquanto que ainda se tem grandes quantidades de M16A2. Em um primeiro momento parece que as versões A3 e A4 são armas gêmeas quando na verdade não são, frutos de requerimentos diferentes, como poderá der visto a seguir.

 

M16A3

Era claro e notória que a marinha americana sempre gostou do sistema de burst, pois, segundo eles, aumentava a precisão e evitava o desperdício de munição. Esse sistema apresentou sérias limitações em combate quando, a curtas distâncias, o regime automático era preferível ao invés do burst. Isso ficou evidenciado quando a marinha passou a avaliar a versão de exportação do M16A2, mudando a sua opinião quando ao emprego do regime de burst de 3 disparos. Essa versão tinha regime automático ao invés do burst e isso agradou muito os militares. Ainda mais, os M16A1 que usavam tinham o regime automático e tropas especiais chegavam a preferir o M16A1 ao invés do M16A2 mas não podiam simplesmente usar por causa da munição diferente que usavam.

M16A2E3. Note no seletor o regime AUTO.

Desta forma, foi feito um requerimento para a Colt desenvolver uma versão do M16A2 com um seletor com regime automático ao invés do burst. A Colt apenas fez essa alteração no M16A2, permanecendo exatamente a mesma arma, assim nascia no final de 1991 o M16A2E3 (E2 era o Colt ACR). Cabe salientar que uma versão do M16A2 com regime automático já existia, visando somente exportações. Entretanto, a versão A2E3 tinha pequenas e pontuais alterações visando a produção e logística americana. A marinha passa essa versão para o SEALs fazerem uma avaliação minuciosa. O M16A2E3 foi comparado com o M16A2 e também com o M16A1. A arma logrou completo sucesso porque nada mais era que um M16A2 com regime automático, o que era justamente o que queria a marinha americana. Desta forma, o M16A2E3 passa a ser denominado M16A3 e oficialmente adotado em outubro de 1996.

Cabe ressaltar que, para esses testes da marinha, foi feito um lote considerável do M16A2E3. E esse lote não seria compatível com a versão final, o M16A3. Justamente nessa época Israel estava recebendo farto material americano, incluindo fuzis e carabinas. Nesse lote, foram enviados quase todos os M16A2E3, já que os israelenses haviam gostado do M16A2 mas queriam que a arma tivesse a opção de fogo automático. Não existem ainda dados concretos, mas se sabe que um pequeno lote de M16A2E3 foi repassado ao SAS que o usaram em ação.

M16A3.

As primeiras armas a serem substituídas não foram os antigos M16A1 e sim o M14 que ainda estava em uso pela marinha americana. Depois, gradativamente, é que se passou a substituir também o M16A1. A primeira compra teve pouco mais de 7.000 M16A3 que foram entregues em 1997 e 1998. O plano era aumentar a encomenda em 2001, quando se pensou em adquirir mais 20.000 fuzis. Porém, foi bem na época que se começou a usar e adotar a carabina M4 e M4A1. Para tornar o pedido ainda mais inviável, havia ainda um grande estoque de M16A2 em seu poderio. Isso fez com que o pedido fosse cancelado pois não havia demanda para mais novos fuzis. Muito se criticou que o fuzil não foi adotado em massa por ser uma arma deficiente. A bem da verdade, não havia necessidade de mais armas.

M16A3.

O primeiro lote de M16A3 foi feito pela Colt. No final dos anos 90, a então FNMI (hoje FNH) adquire o direito de produção dos M16s. Com o tempo a marinha americana recebeu, posteriormente, pequenos lotes de M16A3 onde passa a receber o trilho adaptador Mil Std-1913 com a alça de transporte destacável. Assim ela se iguala às carabinas M4/A1 e passa a ter opção de uso de miras óticas e telescópicas, o que facilitaria muito o treinamento e logística. Em 2007 e 2010 foram comprados pequenos lotes de M16A3 em que se têm trilhos adaptadores na parte de cima da caixa da culatra e pelo guardamão.

 

M16A3

Calibre: 5,56 x 45 mm M855
Comprimento total: 1.000 mm
Comprimento do cano: 510 mm
Cadência de disparo: 750-900 dpm
Peso: 3,7 kg
Carregador: 30 cartuchos

 

M16A4

Ao contrário do que se pensa, o M16A4 não é um irmão gêmeo do M16A3. A gênese do M16A4 não vem sequer do M16A2, mas sim da carabina M4.

Com o sucesso do uso de trilho adaptador na M4/A1 logo se pensou em usar isso também em um fuzil regular, qual seja, o M16A2. O uso desse tipo de trilho em um fuzil regular não era novidade. No final dos anos 90, o Colt ACR mostrou a possibilidade de retirar a alça de transporte e acoplar uma mira ótica. Isso seria a grande vantagem ao soldado no campo de batalha porque isso tornaria a arma mais dinâmica e flexível, aumentando a probabilidade de acerto nos primeiros disparos. Isso é importante dizer porque naquela época nenhum fuzil usava uma mira desse tipo de forma regular. Embora o Colt ACR tivesse alguns pontos inovadores na época, o que mais chamou a atenção foi justamente a praticidade do trilho adaptador.

M16A4.

Que fique claro. Os primeiros a usar um trilho adaptador em um fuzil convencional nunca foram os americanos e sim os canadenses. Com a nova filosofia de emprego do trilho com uma mira no ACR, os canadenses resolveram adotar a ideia. Eles fizeram uma versão local do M16A3 com um trilho adaptador Mil-Std-1913 ainda em 1991, surgindo assim o C7A1.

Soldado canadense com o C7A1.

Após ver o sucesso do uso de trilho adaptador pelos canadenses, os americanos viram que era o caminho a ser seguido caso quisessem fazer alguma melhoria no M16A2. A ideia era usar um trilho mais robusto, de maior durabilidade porque os modelos anteriores eram mais frágeis, embora completamente funcionais. A padronização do tamanho de cada quadrado do trilho era vital com o Mil-Std-1913. Assim, em 1993 surgia o protótipo M16A2E4. Tratava-se de um M16A2, mantendo todas as qualidades e configurações de disparo. As únicas diferenças mais perceptíveis ao soldado eram o peso, que aumenta 580 gramas em relação ao M16A2 e a graduação de distância da alça da mira. Antes era de até 800 metros e agora passa a ser de 600 metros.

Esse protótipo passou a ser testado primeiramente pela marinha americana. E como esperado, a arma foi um sucesso porque era o mesmíssimo M16A2 com um trilho adaptador. A versatilidade foi grande por causa do uso das miras óticas. Em seguida, tanto o exército como a força aérea também fazem testes com o fuzil e eles chegam a um mesmo resultado que o da marinha. Em 1996, o fuzil é oficialmente denominado como M16A4. Em julho de 1997, é oficialmente declarado como substituto do M16A2. A marinha é a primeira a adotar essa versão em 1998. Cabe ressaltar que a versão de exportação do M16A4 pode ser comprada com o sistema de burst ou automático.

M16A4.

O uso do M16A4 pelas tropas fez surtir nos soldados uma grande aceitação. O uso de miras diferentes e a facilidade de trocas permitiam se adequar à missões diferentes em um curto espaço de tempo. Algo impossível com o M16A2. E não tardou para os soldados verem a possibilidade de aumentar a praticidade com outros acessórios. Isso resultou em uma alteração na arma a partir de 2009.

A alça de transporte, que sempre era acoplada à arma, passou a ser retirado. A alça de mira passa a ser uma peça sobressalente em caso de emergência. E no lugar é instalada uma mira ótica de série. O guardamão recebe também mais trilhos adaptadores Mil-Std-1913, onde são colocados em cima, embaixo e nas laterais, por intermédio do trilho KAM5. Com mais trilhos, os soldados poderiam usar mais acessórios, como lanternas, mira laser e sensores na mesma arma. Caso o soldado não usasse todos os trilhos, para uma maior ergonomia, tampas eram acopladas nesses trilhos que não eram usados.

M16A4. Note a tampa nas laterais que protegem o trilho picatinny.

O M16A4 foi amplamente usado ao lado da carabina M4. E era comum os soldados com o M16A4 fazerem missões CQB com o M16A4. Em lugares mais apertados, os soldados viram que a coronha fixa passava a ser um problema. E viram que a carabina M4 tinha uma maior praticidade em virtude disso. Diante desse panorama, a marinha americana decide trocar as coronhas fixas pelas coronhas retráteis telescópicas. Isso foi de grande ajuda pois tornou a arma mais prática. Não deixa de ser curioso que o M16A4 não adotou esse tipo de coronha, como tinha sido feito com a família HK416.

M16A4 com coronha retrátil.

Com todas as alterações finalmente realizadas, o M16A4 se mostrou uma arma muito mais polivalente. Com uma maior quantidade de trilhos, os soldados podiam alterar o perfil de uso da arma para uma missão específica em poucos minutos. Em outras palavras, uma tropa treinada tinha maior flexibilidade para cumprir missões diferentes. E além disso, o rendimento da arma tinha se mostrado maior que a carabina M4. Por ter um cano maior, o M16A4 tinha um maior alcance. Com isso, o projétil tinha um maior poder de parada se comparada com a carabina M4.

M16A4. Note como se destaca a alça de transporte e alça de mira.

Ocorre que as carabinas M4/A1 eram perfeitas para o combate CQB, mas deficientes a médias e longas distâncias. Faltavam-lhes alcance e poder de parada em virtude do seu cano menor. Com a decisão de se adotar a M4/A1 como arma regulamentar, o uso do M16A4 caiu. Em outras palavras, diminuiu a capacidade de acertar alvos mais longes ou derrubar o inimigo no 1º disparo. Isso começou a fazer falta e não tardou para as tropas criticarem o uso da M4/A1 como arma regular. Não tardou e começaram a surgir os primeiros soldados que preferiam o M16A4 ao invés da M4/A1. Embora substituído pela M4/A1 como arma regular, o M16A4 ainda se mantém na ativa em tropas que continuam usando como arma regular. Muitas vezes o usam como designated marksman rifle – DMR, mesmo tendo outros modelos dedicados a essa tarefa.

M16A4 em sua última versão.

M16A4

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento total: 1.000 mm
Comprimento do cano: 510 mm
Cadência de disparo: 750-900 dpm
Peso: 3,7 kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após apertar o gatilho e efetuar a deflagração do cartucho, os gases que percorrem o cano entram em um orifício na altura da mira. Esse orifício direciona os gases para um êmbolo sem pistão. Os gases percorrem esse êmbolo diretamente para a parte de trás do ferrolho. Os gases, chegando, pressionam o transportador do ferrolho para trás ao mesmo tempo em que ele vira para a esquerda. Isso faz com que o os ressaltos do ferrolho se alinhe com as saliências da câmara do cano, destravando o ferrolho.  Ainda com a força dos gases, o transportador do ferrolho é deslocado para trás, onde, ao mesmo tempo, ejeta a cápsula deflagrada.

O transportador do ferrolho chega ao final do seu curso, onde, por uma mola recuperadora localizada logo atrás e alojada em um tubo na coronha, passa a empurrar o transportador do ferrolho para frente. Nesse momento de volta, o ferrolho coloca um cartucho novo na câmara do cano. Agora os ressaltos do ferrolho entram na base do cano e se alinham com as saliências da câmara do cano, rotacionando o ferrolho para o lado direito, travando com os ressaltos na câmara do cano. Agora o fuzil está pronto para o próximo disparo.