G41

O HK G41 foi a evolução máxima do sistema de blowback desacelerado por roletes. Era um excelente fuzil que infelizmente nasceu atrasado. É considerado melhor que o HK33, M16A1 e M16A2.  Ele tinha conceitos avançados para época que, infelizmente, o tornou caro para o que se propunha. Sem dúvida foi um dos maiores fuzis de assalto em 5,56 x 45 mm feitos até hoje.

 

Origens

Nos anos 70 a HK estava vendendo não só a família HK G3 como a família HK33. O G3 teve um ótimo número de vendas no planeta inteiro enquanto que o HK33 conseguia vendas menores, muito longe do sucesso do G3. Após 1975, os exércitos do mundo inteiro passaram a ver com mais atenção o calibre 5,56 x 45 mm e, desta forma, novos projetos de fuzis nesse calibre surgiram, assim como outros foram comprados de empresas já consolidadas no mercado. A HK se depara em um contexto diferente. A família HK33 estava conseguindo algumas vendas, mas não o record de vendas que foi o G3. Esperava-se que o HK33 tivesse o mesmo desempenho de vendas.

O HK33 era uma direta adaptação do G3 ao 5,56 x 45 mm e se quisessem se manter na vanguarda da indústria bélica, teria que inovar em comparação com os novos modelos que estavam surgindo. Bem naquele momento os fuzis de assalto estavam ficando mais complexos e capazes e o HK33 se mostraria simples diante deles (embora no final se tornasse melhor que os paradigmas). Na época os exércitos estavam olhando com bons olhos fuzis como o M16A2 que estava para ser lançado. Também havia o FNC, o Steyr AUG e outros fuzis produzidos por outras pequenas empresas.

Em cima o HK G3 e embaixo o HK33.

Também no final dos anos 70 a HK estava desenvolvendo o G11, um fuzil de assalto com munição caseless. A ideia era armar o exército alemão com esse fuzil e, ao que tudo indicava na no final dos anos 80, o programa estava fadado ao fracasso. Haveria a necessidade de um fuzil substituto caso isso acontecesse.

O plano B da HK seria armar a Alemanha com um fuzil 5,56 x 45 mm novo, diferente do HK33. Assim a HK apostaria o mercado externo e interno com o G41. Entretanto, o fracasso do G11 não fez a Alemanha buscar um novo fuzil. A HK então opta por fazer do G41 um novo fuzil de assalto para substituir o HK33 e colocar no mercado um novo fuzil de assalto que rivalizasse com os modelos mais modernos.

 

HK G41

A HK aposta em refinar um modelo já consagrado com base no sistema blowback desacelerado por roletes. Era um sistema mais simples e eficaz, tornando a arma mais confiável. Não se tinha como sair muito do conceito básico de um fuzil de assalto 5,56 x 45 mm. Com base no HK33, a HK passa a estudar um modelo em 1980 onde são testados novos conceitos e, em 1983, é lançado o HK G41. Esse fuzil trazia novos conceitos e ideias que o tornavam em um fuzil na vanguarda bélica. Cabem mencionar que o G41 deveria ser, também, uma arma secundária para o exército alemão. Seguindo o plano do G11, este fuzil seria enviado para as linhas de frente e as linhas secundárias receberiam o G41. No final o programa do G11 foi cancelado em 1991.

G41.

Visando melhorar o enquadramento de miras é feita a aplicação de trítio na massa e alça de mira. Trata-se de um elemento radioativo que, misturado com uma substância luminosa, faz com que a aplicação brilhe no escuro em virtude da reação radioativa, criando uma substância fosforescente. Isso significa que uma pequena quantidade de tinta é colocada nas miras do fuzil e elas vão emitir uma cor verde tanto de dia como de noite, durando entre 10 a 15 anos, em ambientes de baixa luminosidade. Não havia risco ao soldado porque a radiação era praticamente inofensiva. Pode parecer algo louco, mas isso ajuda muito no enquadramento de miras no período do fim da tarde e período noturno. A visibilidade não é forte, a poucos metros o inimigo não conseguiria sequer ver, mas é suficientemente forte para que o soldado que segura o fuzil saiba onde disparar. Essa mira com trítio era um opcional já que a composição na época era cara.

Soldados argentinos com o G41.

A HK lança o fuzil com um cano poligonal de seis lados. O cano não tem as estrias comuns. Ao invés disso, ele tem faces que são torcidas para o lado direito, como se seguissem a mesma direção das estrias. Isso traz algumas vantagens que o cano de alma raiada não tem. Existe uma maior durabilidade do cano, já que o projétil não exerce pressões desregulares por causa das estrias do cano, as estriam formam uma parte mais fina na parede do cano. Sem as estriam a parede do cano é igual por completo.

No lado esquerdo a vista frontal de um cano convencional, onde se pode observar as raias. Ao lado direito um cano poligonal, onde se pode observar as faces laterais.

Não só isso. Como não existem estrias, os gases da queima do propelente não tem como escapar por elas. É como se o projétil fizesse uma vedação quase perfeita ao cano. Isso faz com que mais gases fiquem aprisionados atrás do projétil enquanto ele percorre o cano. Isso dá uma energia maior ao projétil, assim como uma maior velocidade, aumentando a precisão e trajetória reta. O projétil sai a uma velocidade maior porque não há uma deformação da fricção contra as raias do cano. Como ele não tem esse atrito, ele sai a uma velocidade maior, com um projétil menos deformado e mais estável, sem deixar de rotacionar. Como não há raias, não existe acúmulo de sujeira nelas, por isso que o cano tem uma durabilidade maior.

Como não há raias, as pressões são uniformes por todo o cano, fazendo com que ele não entorte com o tempo. A desvantagem nesse tipo de cano é o processo de fabricação que é caro e lento. E esse tipo de cano permite ainda um uso mais amplo. Como não há raias para determinar a rotação do projétil, não influencia em qual tipo de munição seria usada. O fuzil pode disparar tanto o calibre 5,56 x 45 mm M193 como o M855 que terão o mesmo rendimento. Canos com almas raiadas precisam de raias a passos diferentes para cada tipo de munição, sendo que uma munição pode não ter bom desempenho se disparado de um cano com raias diferentes para o que fora desenhado.

G41 com coronha retrátil.

Esse cano mais pesado, junto com a atuação dos roletes, faz com que o HK G41 tenha um recuo levemente menor que o HK33 que, por sua vez, tem um recuo levemente menor se comparado com outros fuzis 5,56 x 45 mm que usam sistemas de gases. A mola recuperadora tem uma base que não é fixa no transportador do ferrolho. No momento do disparo, essa base serve como um amortecedor enquanto o transportador do ferrolho retrocede, isso faz com que o recuo seja absorvido em partes, como um amortecedor. E em parte por causa dos roletes também. Pelo formato poligonal, transportador do ferrolho e pela ação dos roletes, o G41 oferece uma precisão maior se comparado com outros fuzis porque o recuo é menor e o projétil é mais estável com uma trajetória mais plana. A combinação desses fatores deu uma boa capacidade no quesito precisão ao G41.

Uma alteração inspirada no StG44 foi a tampa de proteção da janela de ejeção. Assim como no M16 e em outros fuzis, essa tampa abre automaticamente após o 1º disparo, tendo de ser fechada manualmente. Em um primeiro momento, parece algo sem muita vantagem, já que o fuzil é bem fechado e não há sistema de gases que ajudam a sujar a arma por dentro. Existem frisos no transportador do ferrolho que ficam expostos. Caso a sujeira fique acumulada ali, a cada disparo o transportador do ferrolho joga sujeira para dentro do fuzil. A tampa de proteção ajuda a evitar isso. Frisamos que ajuda porque após o disparo, essa lateral com frisos fixa exposta. Algo normal para um fuzil de emprego militar.

G41 – Sri Lanka.

E esses frisos se referem a uma novidade que muitos acham desnecessário. O botão de fechamento manual do ferrolho, tal qual o M16A1 e seguintes. No PSG1 esse botão surge como forma de fechar o ferrolho de forma mais silenciosa. No caso do HK G41 visa fechar a cabeça do ferrolho. Em uma situação de sujeira ou alguma pane, pode ocorrer do ferrolho não fechar, ou seja, os roletes não entrarem nos recessos da base do cano. Caso isso ocorra, o soldado deve apertar esse botão, onde uma pequena haste empurra esses frisos da lateral direita do transportador do ferrolho, que, por sua vez, força os roletes para dentro dos recessos. Isso é algo que foi criticado no projeto, pois se algo obstrui o ferrolho, é porque há sujeira ali contida e não é seguro disparar uma arma com sujeira no cano.

Raramente acontece dos roletes não entrarem no recesso. Tanto o HK33 como o HK G41 são fuzis que tem boa proteção contra elementos externos, como lama, poeira, terra, etc. Além do mais, a força dos gases no sistema de blowback desacelerado gera uma energia de retrocesso muito mais forte que os fuzis operados a gás, tanto de forma direta como indireta. Essa energia faz com que o ferrolho retroceda de forma violenta e rápida, empurrando junto qualquer sujeira que possa prender os roletes. Mas e no caso disso acontecer? Já dizia Eugene Stoner, o pai do M16, que se o ferrolho não fecha, algo está bloqueando-o. Se você não sabe o que é, não é prudente fechar o ferrolho porque após o disparo a arma simplesmente pode explodir por sujeira ou corpo estranho que se acumule na câmara do cano ou no próprio cano.

G41 com o lançador de granadas HK79. Note a mira montada em cima da caixa da culatra.

Esse botão para fechar manualmente o ferrolho surgiu porque quando o exército americano estava avaliando o substituto do M16A1, se pensou em adotar os membros da OTAN com esse fuzil substituto. Neste momento entram em cena na disputa o HK G41 e o FNC. Levando em conta a ideia desse botão no M16A1 e que o M16A2 também teria esse botão, a HK coloca esse dispositivo no G41. Por isso que é difícil achar que esse botão tinha essa necessidade.

E não só isso que os EUA influenciaram no G41. O burst de 3 disparos também foi uma inspiração americana. Não no conceito, já que era usado no G11 da HK, mas quanto o modo de uso, onde os americanos viam como forma de economizar munição. Quando o M16A2 foi apresentado foi mostrado que ele não teria o regime automático e sim burst de 3 disparos. Era uma forma de evitar o desperdício de munição, assim como evitar a dispersão de disparos, já que nos disparos em automático a dispersão é muito grande após o 2º disparo.

A HK viu esse sistema de burst e introduziu no G41. Há que ser dito, o sistema da HK era melhor. No sistema americano, se o soldado desse 2 disparos em burst e soltasse o gatilho, o próximo disparo seria de 1 e não de 3 disparos. Se ele disparasse 1 tiro e fizesse o mesmo, o próximo disparo de burst seria de 2 tiros. Ele não reiniciava a sequência. No modelo da HK, se o soldado desse 2 disparos em burst, da próxima vez que ele acionasse o gatilho seria um burst de 3 disparos e não de 1. Independentemente de quantos disparos efetuados, o sistema sempre recomeçava a sequência a cada gatilho pressionado.

G41 – Turquia.

Outra inovação que surgiu no T223 e voltou no G41 foi o ferrolho aberto após o último disparo. Esse sempre foi um ponto negativo das armas da HK. Após o último disparo, o ferrolho fica fechado. Isso ocorre que porque a alavanca de manejo age de forma independente do retrocesso do ferrolho. Isso era um problema porque, no calor da batalha, o soldado poderia se confundir achando que era uma pane ou se tinha acabado a munição. O fato de o ferrolho ficar aberto já informa ao soldado se é pane ou falta de munição. Que fique claro pode ocorrer panes que deixam o ferrolho aberto.

Com o G41, o ferrolho fica aberto após o último disparo. Ele tem duas opções para liberar o ferrolho. Acionar a alavanca de manejo caso ela esteja retraída. Ou acionar o botão do retém do ferrolho, que fica do lado esquerdo acima do retém do carregador. Isso porque o retém agiliza a troca de carregadores e operação do fuzil. Ao trocar o carregador, o soldado aciona o retém do ferrolho e automaticamente o ferrolho é fechado e colocado um cartucho na câmara do cano, pronto para disparar.

Mas há um lado negativo. O retém do ferrolho está logo acima do retém do carregador. No calor da batalha, novamente, o soldado pode se confundir e apertar o botão errado, ainda mais se estiver usando luvas grossas. Aqui o treino deve ser uma constante. E o outro lado negativo é que o retém do carregador deixou de ser ambidestro, uma vez que no HK33 o retém ficava localizado na parte de trás do carregador (havia também o retém no lado direito). Com o G41 existe somente um botão no lado esquerdo. Antes no lado esquerdo do que no direito, se levarmos em conta uma maioria de destros.

G41.

É colocada no fuzil uma alça de transporte rebatível. Levando em conta o feedback dos usuários de HK33 que sentiam a falta dessa alça quando em longas caminhadas. Não só por isso, muito se falava da alça de transporte do M16 que influenciou essa decisão. Seguindo a decisão relativa ao HK33, a HK desistiu oferecer maior variedade de carregadores. Com o HK33, tinha como opções carregadores para 20, 25, 30 e 40 cartuchos, todos com suas vantagens e desvantagens. A HK decide por padronizar o sistema STANAG com carregadores para 30 cartuchos, como os carregadores americanos.

Levando em conta o problema de acoplar miras telescópicas no fuzil, o HG G41 tinha dois pequenos trilhos na parte de cima da caixa da culatra para instalação de miras telescópicas. Isso evitava que a cada disparo a mira perdesse a calibração. Em um primeiro momento, esse trilho servia para miras de 4x. Isso transformava o fuzil não em um fuzil de precisão, mas sim em uma arma DMR, onde o soldado deveria prover fogo com um maior alcance que um fuzil convencional, mas sem ter as características de uma arma de precisão.

Polícia espanhola com o G41 com bipode e mira reflexiva.

Assim como as outras versões do HK33, o G41 tinha versões com coronhas fixas e retráteis, versões fuzis e carabinas. Ficando a gosto do cliente qual o melhor modelo a ser usado. E assim como o HK33, o G41 também podia usar o lançador de granadas HK79 de 40 mm com alcance máximo de 350 metros.

Infelizmente esse fuzil nasceu atrasado. Ele era considerado excelente quando foi lançado, estando em um patamar maior se comparado com os modelos que haviam recém sido lançados nos anos 80. O que o matou foi o preço. A partir de 1986, o mundo caminhava para o fim da guerra fria, onde as crises econômicas proliferavam e o mercado era inundado com fuzis de assalto a preços muito mais em conta. Não tinha como o G41 competir com esses fuzis bem mais baratos e, também, com as indústrias bélicas que faziam os seus projetos nacionais de fuzis de assalto. No final, ele foi exportado para poucos países e em poucas quantidades, sendo produzido sob licença na Turquia e usado em combate.

 

G41

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento: total 977 mm
Comprimento do cano: 450 mm
Cadência de disparo: 800-850 dpm
Peso: 3,6 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Após o disparo, os gases geram energia que vão contra a própria cápsula na câmara do cano. Os gases no cano forçam a cabeça do ferrolho para trás pela energia gerada. Dois roletes contidos em recessos na cabeça do ferrolho são empurrados para trás, fazendo-os entrar dentro da cabeça do ferrolho. A ação de atrito dos roletes na base de travamento e parede da base do cano faz desacelerar, por milésimos de segundos, o movimento do ferrolho. Nesses milésimos de segundos, o projétil deixa o cano e os índices de gases e energia caem a níveis seguros. Então, com a energia menor na cabeça do ferrolho, ele começa a se locomover para trás.

O transportador do ferrolho está conectado a uma haste localizado na parte de cima da caixa da culatra. Em volta dessa haste há uma mola recuperadora. Com o retrocesso do transportador do ferrolho após o disparo, ele comprime essa mola para trás, junto com o grupo da cabeça do ferrolho e portapercussor, onde, ao mesmo tempo, retira da câmara do cano a cápsula. O transportador do ferrolho corre até o fim da caixa da culatra. Agora, pela ação da mola recuperadora, o transportador do ferrolho começa ir para frente, onde introduz um cartucho na câmara do cano. A cabeça do ferrolho bate na base do cano e os roletes saem de dentro e se travam nos recessos da base do cano, mantendo o ferrolho travado e pronto para o próximo disparo.

 

Curiosidade

O HK G41 tinha uma alça de transporte rebatível. Porém, foi feita uma versão com alça de transporte fixa. A Itália havia feito um programa para selecionar um novo fuzil de assalto e a HK participou com uma versão específica. Dentre os requerimentos, estava a alça de transporte fixa e assim foi feito um G41 com essa alça. No final ganhou o italiano AR70.

G41 com alça de transporte fixa.