FAMAS – Parte 1

O FAMAS era o reflexo da política da França. Ter uma arma moderna, de forma completamente independente por seus próprios meios que pudesse rivalizar com outros projetos de grandes potências. O FAMAS, ao contrário do que se pensa, foi um ótimo fuzil de assalto. Cumpriu muito bem o papel para que foi projetado. Usando um sistema radical e inovador para época, foi um fuzil que deixou a França na vanguarda dos fuzis de assalto por mais de 30 anos. Só foi substituído porque simplesmente ficou velho.

Origens

A França é um país que sempre procurou estar na vanguarda de seu armamento. Isso vem ainda na 1ª G. M., com alguns conceitos avançados para a época, já outros não. Ainda na 1ª Guerra a França já pesquisava fuzis semiautomáticos mais simples que os outros modelos europeus. Mas com o fim da guerra e os custos dela, esses projetos tiveram pouca aceitação em virtude de sua complexidade e o desinteresse de trocar o fuzil regular por algo novo e diferente. A França passa pela 2º G. M. com armamento comum e não teve a chance de explorar novos mecanismos e conceitos porque ela estava sob ocupação alemã. Entretanto, a França passa a correr atrás do conhecimento perdido ainda nos momentos finais da 2ª G. M.

À medida que os aliados ocidentais iam avançando sob território inimigo, os franceses iam seguindo onde tiveram acesso a fabricas e passaram a ter contato com muitas ideias produzidas pelos alemães. Terminada a guerra, a França ocupa a fábrica da Mauser onde entra em contato com alguns desenhos e protótipos de fuzis de assalto. Isso mostrava como eles estavam atrasados e como os alemães tinham avançado muito nesse terreno. O protótipo StG45(M) serviu como uma janela aberta para essa nova classe de arma.

Isso fez surgir na França, com a ajuda de engenheiros alemães, alguns protótipos de fuzis de assalto, como CEAM Modèle 1 ou o CEAM Modèle 1950. Esses fuzis tinham como base o StG45(M), em calibres como 7,62 x 33 mm e 7,65 x 35 mm, e foi a primeira tentativa de produzir um fuzil de assalto francês. Entretanto, no começo dos anos 50, a França, por pertencer a OTAN, segue um calibre mais pesado e os projetos franceses com base nos modelos alemães são logo abandonados. A França se dedica a um fuzil de assalto maior e com um calibre maior. Na metade dos anos 50 vários projetos surgem mas a França opta por um modelo mais simples de fuzil semiautomático, o MAS49, aproveitando o grande estoque de munição 7,5 x 54 mm que eles tinham. Era um modelo de fuzil mais simples e mais barato, coisa que eles precisavam com urgência em virtude de suas guerras coloniais. Esse modelo foi produzido até 1967.

CEAM 50.

A guerra do Vietnã tinha mostrado para o mundo a praticidade e versatilidade do calibre 5,56 x 45 mm, um calibre menor, mais leve, mais preciso e com menor recuo. Isso era um quebra de paradigmas quanto a própria OTAN e EUA adotavam o 7,62 x 51 mm. Como a França vinha desde 1945 buscando um fuzil moderno para suas tropas e, vendo que o MAS49 estava praticamente defasado, ela decide por projetar um fuzil de assalto realmente moderno usando o novo calibre americano. A França já tinha tido experiência em combate com calibres intermediários antes. Nas suas guerras em suas colônias na Ásia e África, a França se deparou com inimigos usando o SKS e AK-47 em 7,62 x 39 mm e viram que esse calibre era muito mais prático que os velhos 7,5 x 54 mm que eles usavam.

A ideia do uso de calibre intermediário na França também se deveu ao uso da carabina M1. Após a guerra, milhares dessas armas foram repassadas aos franceses onde a utilizaram em suas guerras coloniais. Era uma arma leve, semiautomática, com uma munição leve que permitia o soldado levar mais munição que os seus companheiros com o MAS49. Esse calibre teve forte influência quando eles trabalhavam com os projetos alemães e mostrou que o caminho nos anos 60 era esse.

Paraquedista francês com uma carabina M1 na Indochina.

Em 1965 a França queria modernizar o seu exército com um fuzil de assalto novo. Levando em conta que uma modernização visa também a racionalização dos custos, ela nota que a nova arma deveria substituir o MAS 49, o MAS 56 e a submetralhadora  MAT 49. Visando uma arma de tamanho menor e, levando em conta que o soldado estaria melhor com uma arma compacta que lhe desse versatilidade, a França opta por partir para o conceito bullpup.

Aqui temos que fazer uma pausa e fazer justiça à história. Não é a primeira vez que a França testa o conceito bullpup. Antes da 1ª G. M., um engenheiro chamado Arman Faucon desenhou um modelo semiautomático de fuzil em que o mecanismo de disparo estaria dentro da coronha. Isso na época foi praticamente um escândalo porque ia de encontro a tudo que se defendia sobre um fuzil convencional. Para ele, os fuzis eram muito grandes para serem usados em combates em espaços curtos ou que limitassem o movimento do soldado. Esses projetos são paralisados com a guerra, mas a ideia dele permanecia. Quando termina a guerra, Faucon passa a se dedicar a isso, apresentando um fuzil semiautomático bullpup em 1918.

Faucon 1918.

O fuzil usava o pesado calibre 8 x 50 mm Lebel. Isso gerava uma caixa da culatra muito pesada dentro da coronha. Apoiando no ombro fazia todo o peso cair para trás, o que praticamente destruía o centro de gravidade do fuzil, mesmo com uma empunhadura vertical. Isso fez com que Faucon desenhasse o fuzil com o conceito Fusil Équilibré, um fuzil equilibrado ao apoiar o fuzil não na frente, mas em cima do ombro. O fuzil se mostrou pouco prático e pesado. Esse conceito limitava mais o soldado e ele foi abandonado em 1920.

Faucon 1918.

Nos anos 50, quando a França abandona os calibres mais leves nos seus planos de um novo fuzil de assalto, ela passa a estudar calibres maiores. Ela desenvolve uma série de protótipos de fuzis de assalto. Dentre eles estava o MAS 54B. Tratava-se de um fuzil de assalto calibre 7,5 x 54 mm, usando o mecanismo por ferrolho basculante. Dentre os modelos apresentados, esse se mostrou como um fuzil muito prático. Entretanto, foi considerado pesado, mais em virtude do calibre também. Esse fuzil, assim como muitos outros, não passou de protótipo.

MAS 54B.

FAMAS

Uma vez que a França decidira não mais partir para um novo fuzil de assalto mais pesado, ela continuou com o MAS 56 até que surgisse um calibre mais leve. Isso acontece com o surgimento do 5,56 x 45 mm, calibre este que a França adota como seu futuro calibre regular. O modelo, assim como os demais fuzis da época, adotava o calibre 5,56 x 45 mm M193. Como a França fazia parte da OTAN ela teve acesso aos estudos e pesquisas sobre o 5,56 x 45 mm, assim como um lote de munição para testes. Entretanto, ela sai da OTAN em 1966. Este será o motivo de algumas correções de afirmações errôneas que se propaga sobre o FAMAS, como será mostrado mais abaixo.

O conceito do FAMAS exigia uma arma bullpup. Como a intenção era substituir o MAS49/56 e MAT 49 pela mesma arma, ela deveria ser compacta. Não só por isso, mas também pelas tropas mecanizadas que necessitariam de uma arma mais compacta. Olhando friamente, o FAMAS substituiria ao mesmo tempo um fuzil semiautomático, uma carabina e uma submetralhadora leve de apoio. Isso poderia exigir projetos diferentes, com comprimento de canos diferentes, com calibres diferentes que gerariam custos a mais e maior cadeia logística. O layout bullpup cairia perfeitamente para o trabalho.

No final dos anos 60, para estudar o layout correto do bullpup (não tendo relação com o FAMAS), os franceses usaram um MAS 56 como modelo. Esse fuzil foi convertido ao modelo bullpup para ver como ficaria a viabilidade do conceito da linha reta no projeto. Assim como aprendido no AR-10 e E.M.2, a linha reta tinha 2 características boas. A linha reta que permitia um maior controle do recuo face à não projeção do recuo para a curva da coronha. E as miras tendiam a ser mais altas para compensar a maior altura, o que geraria uma aquisição do alvo mais rápida. Esse modelo foi apenas para ver o conceito e não se pensava em fazer o mecanismo de disparo e muito menos usar esse calibre para projetos futuros.

Protótipo de um MAS 56 convertido ao bullpup.

Com a adoção do calibre 5,56 x 45 mm e a adoção do sistema de blowback atrasado (que será melhor explicado mais abaixo), em 1973 a GIAT desenvolve um fuzil bullpup realmente compacto e que chama a atenção porque ele é curto e leve. Isso no começo gerou um descrédito de como uma arma desse tamanho e leveza poderia substituir um fuzil semiautomático. Esse primeiro protótipo do FAMAS totalizou 10 unidades e foram testadas em campos de tiro. Ele já demonstrava algumas coisas que se tornariam a base do fuzil francês. A alavanca de manejo ficaria dentro da alça de transporte que, por sua vez, serviria como armação da mira. O uso de um sistema de travamento e seletor dentro do guardamato e o uso do bipode como um instrumento regular do fuzil de assalto. E por fim o emprego de material plástico de alta resistência que cobriria praticamente todo o fuzil, enquanto que o grupo do mecanismo de disparo ficaria condicionado em uma armação interna de alumínio, apenas para evitar desgaste com o material plástico.

FAMAS - Protótipo.

O protótipo passa por algumas alterações. Ele recebe ranhuras no cano que além de servir como adaptador para granadas de bocas, ele também serve como dissipador de calor, já que o material plástico, embora muito resistente, tende a reter o calor. É alterado o desenho técnico externo de forma a simplificar a produção e a troca do quebrachamas já que o modelo do protótipo era considerado muito grande e complexo. Com pouco tempo de uso muita sujeira se acumulava e isso tendia a criar chamas maiores. Usa-se então um quebrachamas tipo gaiola, mais prático e simples. Essa versão final fica pronta em 1978 e em 1979 o fuzil é adotado oficialmente como FAMAS F1 – Fusil 1.

Apresentação do FAMAS em 1976.

 

FAMAS F1

A primeira coisa que chama a atenção no fuzil é a grande alça de transporte. Essa alça tem outra função mais importante. Ela protege as miras alocadas na parte de cima dela. A massa de mira fica junto dela ao invés de ficar no cano. É uma peça a menos para enganchar ou sofrer pancadas. As miras são reguladas a cada 200 metros. Na massa de mira a cada giro a graduação sobe. Para os franceses o combate ideal seria a 200 metros, enquanto que outros exércitos optam por 300 metros em suas miras. Caso o cliente quisesse, poderia ser colocado trítio que faria a mira iluminar por radiação em ambientes escuros e ou de baixa luminosidade. Essa radiação era completamente inofensiva ao soldado. Ao contrário do que muitos pensam, essa alça de transporte nunca foi um problema para outras miras e acessórios. Miras óticas, noturnas, apontadores lasers, etc, poderiam ser colocados sobre ela com um simples adaptador parafusado.

FAMAS F1.

Assim como no AR-10, alavanca de manejo fica abaixo da alça de transporte. Copiar quando a coisa funciona não é demérito, muito pelo contrário, e apenas fazer um fuzil melhor ao invés de usar uma solução nova e mais limitada. A alavanca se torna ambidestra. E por sinal, pensando na simplificação e padronização do novo fuzil de assalto, o fuzil se torna completamente ambidestro. Não só a alavanca como o retém do carregador também é ambidestro. Entretanto, o retém fica na frente, adotando a doutrina de usar o dedo indicador para acioná-lo, o que se mostrou mais prática que o retém localizado atrás do carregador, como AUG.

FAMAS F1.

E como fará o soldado canhoto com um fuzil bullpup? A GIAT torna a janela de ejeção ambidestra para os canhotos porque muitas vezes as cápsulas deflagradas podem incidir sobre a face do soldado. Para tanto, é necessário desmontar a parte de trás do fuzil, tirando o mecanismo de disparo e alterando a janela para a posição contrária, assim como o extrator. O soldado canhoto não terá problemas em usar um fuzil bullpup. A alteração disso é feito sem ferramentas e dura menos de 4 minutos. A GIAT faz o amplo uso de pinos ao invés de parafusos que exigissem ferramentas especiais. Assim qualquer parte do fuzil pode ser desmontada e montada sem ferramenta nenhuma. Isso na época foi um ponto muito positivo. Entretanto, isso exigia maior atenção, pois esses pinos poderiam ser perdidos facilmente no campo de batalha. Quando necessário algo mais robusto se usava a ponta de um cartucho. O fuzil inteiro era fixado por pinos na sua parte externa.

FAMAS F1 - Note a janela de ejeção ao lado esquerdo.

Levando em conta a meta de trocar todas as armas pelo FAMAS, ele teria de ter um baixo custo. O plástico de alta resistência era mais barato que o metal e isso ajudou muito no barateamento da arma assim como a sua manutenção. Entretanto, o plástico tinha um pequeno defeito. Ele tendia a acumular a temperatura da câmara do cano e do cano em si. Não que a arma super esquentava, mas tinha um aquecimento pouca coisa maior que os fuzis convencionais. Testes realizados com o FAMAS mostraram que o efeito cookoff, quando a munição é deflagrada pela alta temperatura da arma, não ocorria quando o fuzil disparava 300 cartuchos em 2 minutos. Para uma arma de polímero, ela tinha uma boa resistência.

O uso da arma era simples. Dentro do guardamato havia um seletor de disparo, frente ao gatilho. Ao posicionar ele para a esquerda, a arma dispara em semiautomático. Para a direita, em automático. Alinhando com o gatilho, o fuzil ficava travado. Esse método tinha dois problemas. Muitas vezes esse seletor atrapalhava na hora de destravar ou selecionar o regime de disparo de forma mais rápida, com o 2º é mais difícil do que com o 1º dedo caso o seletor estivesse acima da empunhadura. Outro problema era o uso de luvas grossas, o soldado poderia acionar a tecla sem querer. Uma forma de evitar isso era virar o guardamato para frente para deixar o gatilho mais livre, mas isso não ajudava em muita coisa porque aumentava muito as chances de um disparo acidental sem essa proteção no gatilho. 

Trava do gatilho.

O FAMAS adotava um sistema de burst de 3 disparos. Entretanto, esse seletor não ficava junto com o seletor do regime de disparo. O seletor é uma tecla localizada mais atrás do alojamento do carregador, também ambidestra. Essa tecla tem 2 marcações. 0 e 3. Quando a arma está selecionada para disparar em automático, se o soldado colocar esse seletor em 0, a arma disparará em automático. Se colocar em 3, a arma disparará burst de 3 disparos. Ao contrário dos demais projetos de fuzis de assalto, o seletor de burst é um mecanismo independente do grupo do gatilho.

FAMAS F1. Note o belo Mirage F1 ao fundo.

O conceito de emprego do FAMAS era algo mais radical. Todos os fuzis vinham de série com dois itens que em outros são opcionais. Bipode e mira para disparo de granadas de boca. O calibre 5,56 x 45 mm tinha um recuo que tornava a arma mais controlável. Porém os franceses acreditavam que o bipode daria mais precisão quando o soldado estivesse deixado ou apoiado o fuzil em alguma base. O bipode era retrátil e fornecia ao atirador maior precisão. O bipode nunca foi idealizado como instrumento para fogo de apoio, mas sim aumentar as chances de acerto do soldado. Entretanto, muitos soldados consideravam essa peça grande e desconfortável, eles então o tiravam do fuzil. A mesma coisa com a mira de lançar granadas de boca. A França adotava a doutrina de que cada soldado deveria lançar sua granada pelo fuzil ao invés de um lançador dedicado. Entretanto, era completamente possível acoplar um lançador M203 no FAMAS. A França usa esse lançador com suas tropas especiais.

FAMAS com baioneta e bipode estendido.

Em 1966 a França saiu da OTAN. Isso faz a França não adotar o padrão STANAG no FAMAS quando ela o projeta. A GIAT projeta um carregador diferente. Diferente e melhor. A começar era de aço ao invés de alumínio. Pode parecer banal, mas fazia uma grande diferença quando se tem uso constante já que se deformava menos com o tempo de uso. O fuzil tinha menos panes de alimentação por causa da maior resistência. Tinha a característica de ser reto e com a capacidade para 25 cartuchos. Era a quantidade exata que a França achava que seria ideal para eles assim como tornava as dimensões ideais do carregador por ser reto. Curiosamente, o primeiro protótipo do AR-15 também tinha um carregador reto para 25 cartuchos.

O uso do FAMAS não foi traumático como se pensava. Por ser um fuzil menor, era muito mais prático e portável. Pela munição ser mais leve, o soldado podia levar mais munição. Pelo fato de ser bullpup, em nada alterou a capacidade combativa do soldado, pelo contrário. Pelo layout do centro de gravidade de um fuzil bullpup, o peso do fuzil ficava para trás, encostado no ombro. Isso permitia o soldado fazer a mira de forma mais rápida e simples e absorver o recuo. Os disparos se mostraram mais concentrados que outros fuzis regulares. Sem falar que ele podia ficar em posição de disparo por mais tempo sem cansar os braços.

FAMAS F1.

Ao contrário dos austríacos com o AUG, os franceses não fizeram uma versão de metralhadora leve do FAMAS. Os franceses não acreditavam que a munição 5,56 x 45 mm fosse suficiente para prover fogo de apoio. Embora fosse possível trocar somente o cano do FAMAS, a arma estaria limitada ao alcance, segundo a doutrina francesa. Desta forma as tropas francesas usam a metralhadora leve AA-52, no calibre 7,62 x 51 mm. Esse foi outro grande projeto francês que deu certo ao usar o mesmo sistema de blowback atrasado, que será exposto mais abaixo.

 

Crítica injusta

O FAMAS F1 é atualmente, de forma completamente errônea, criticado pela munição que ele usa, tornando-o um fuzil limitado. Falácias. Novamente, recapitulando. Quando a França estava na OTAN, ela, assim como todos os outros países que adotaram o 5,56 x 45 mm, o adotou na versão da época, o M193. Na época só se tinha essa versão. O M193 era um calibre mais velho que o M855, com uma energia cinética maior também. O M193 ficou muito famoso pela gravidade dos ferimentos que fazia quando acertava o alvo, pois, por ser leve e com maior energia cinética, o projétil, ao tombar, fazia uma destruição de tecido muito maior se comparado com o atual M855, que visa uma maior penetração, alcance e precisão, com um maior poder de parada.

A título de comparação, o cartucho M193 tem um projétil de 55 grains com valores de 55.000 Psi. O cartucho M855 tem projétil de 62 grains com valores de 62.000 Psi. Desta forma o FAMAS com seu cano de 488 mm, tem um passo de 1:12. Ou seja, no cano, o projétil dá 1 volta em seu eixo a cada 12 polegadas, 304 mm. Esse passo de raiamento que dá a característica do M193. O projétil M193 dá menos voltas no cano o que fera uma velocidade maior enquanto que o M855 dá mais voltas no cano, o que gera um projétil mais lento.

FAMAS F1.

Muito se critica que o FAMAS F1 é um fuzil limitado porque ele não pode disparar a munição M855. A bem da verdade ele pode, porém o rendimento dele cai, gerando uma energia e velocidade menor, com uma precisão pior porque o passo de raiamento do M855 é de 1:7, ele precisa de mais voltas no cano para que tenha estabilidade. O M855 trabalha com valores Psi maiores que fazem um projétil ter um atrito maior no cano, diminuindo a sua vida útil, do fuzil, ao preço de uma precisão ruim e baixo alcance.

A França sempre manteve a sua política de independência quando ao seu armamento. Durante todo o período ela preferiu manter o M193 como o seu cartucho regular, enquanto que outros países passavam a seguir a OTAN ao adotar o M855. Para a França não é, absolutamente, nenhum demérito manter um fuzil calibre M193 porque essa munição atende perfeitamente as necessidades francesas. Aliás, hoje se viu que o M855 apresenta mais deficiências do que o M193, como foi observado no Iraque e Afeganistão. A França voltou para a OTAN em 2009, já tarde para fazer a troca de todos os canos e munição M193 porque o fuzil já caminhava para o fim da sua vida útil. Muitos criticaram de forma errônea o FAMAS por não usar a munição M855. Uma vez que ela tinha saído da OTAN, ela não tinha mais a obrigação de seguir os mandos desse grupo militar. Desta forma, ela manteve o uso do M193.

 

FAMAS G1

O FAMAS F1 não teve uma boa campanha de vendas. Poucos países o compraram e em poucas unidades. Os países que o compraram ou eram ex-colônias francesas ou países com relações mais próximas com a França. O maior problema não era o conceito do fuzil. O FAMAS foi demonstrado a vários países que o acharam excelente. O problema do FAMAS era o seu preço, era um fuzil caro de se produzir. Em 1979, o plano era adquirir no primeiro lote um total de 400.000 fuzis, porém, pelo seu elevado custo, o lote inicial caiu para 280.000 fuzis.

Isso ficou mais evidenciado quando a França começou a perder terreno nas vendas. A situação fica ainda mais acirrada porque em 1989, com a guerra fria em seu leito de morte, o mercado seria inundado por fuzis de assalto mais baratos e a França queria parte desse nicho.  Em 1989 a GIAT estuda uma versão mais barata do FAMAS. A ideia era fazer um fuzil mais barato e que mantivesse a mesma qualidade e robustez do FAMAS F1. Em 1990 fica pronto o primeiro modelo dessa nova arma, o FAMAS G1.

FAMAS G1.

Uma forma de fazer isso era simplificar o desenho técnico. Ao todo o FAMAS tinha 200 peças. Alterando o desenho de algumas peças, assim como a junção de outras, se fez uma diminuição de peça a ser produzidas. De 200 para 150 peças, ou seja, uma diminuição de 25%. Isso incidia no processo de fabricação que era barateado pela menor complexidade do fuzil e do tempo. Foi usado outro tipo de polímero, mais barato, porém com a mesma resistência. Foi retirado do fuzil o bipode que muitas vezes não era usado. Foi acrescentada uma tampa defletora em ambos os lados. Essa tampa fazia a cápsula deflagrada ser expelida para a direita e em linha reta. O FAMAS tendia a extrair as cápsulas mais para cima, o que fazia o inimigo ver a posição do soldado que atirava.

FAMAS G1.

Também foi retirada a capacidade de disparo de granadas da boca do cano. O cano era mais simples, porém perdia parte da capacidade de resfriamento. Caso quisesse, o cliente poderia usar o M203 no fuzil. A principal alteração visual foi o novo guardamato que cobre toda a mão do soldado. Isso torna a peça mais simples com a eliminação da proteção de metal e permite que soldados com luvas grossas não tenham que mover essa parte de metal.  Todo o trabalho de simplificação reduziram os custos do FAMAS em 40%. Em 1991 esse modelo foi apresentado a possíveis clientes mas sem sucesso.