Tavor – Parte 1

O grande problema da dependência de material estrangeira de fácil aquisição é que, caso haja a necessidade ou o interesse de se criar o seu próprio material, a curva de pesquisa e desenvolvimento somente irá aumentar. O Tavor é a tentativa de Israel de produzir um fuzil de assalto moderno que encontrou muitas barreiras para se chegar ao sucesso, mostrando que projetar e construir um fuzil de assalto diferente não é fácil como se pensa. No final os israelenses conseguiram uma boa arma, longe de ser a melhor, mas é a que podem ter suprindo todas as suas necessidades.

 

Origens

A entrada em operação do Galil não foi uma das tarefas mais fáceis. Na época Israel recebia material americano mais barato, tornando o Galil caro, embora fosse um excelente fuzil. No começo dos anos 90, Israel decide substituir todos os fuzis Galil pelos M16A1 e M4A1. Isso fez nascer na IMI a necessidade dela criar o fuzil de assalto que equiparia as tropas israelenses já que podiam fazê-lo ao invés de comprar de fora. Se Israel tinha gente com conhecimento e capacidade industrial de fazer armamento, não fazia sentido importar esse tipo de material.

A meta era uma arma que fosse para todos os soldados, convencionais ou das tropas especiais. Para se chegar a isso, o fuzil teria de ser o mais flexível possível e que atendesse as necessidades de todos, o que não era fácil para se chegar a um meio termo. A IMI passou a entrevistar os soldados para ter um feedback mais preciso, soldados estes que operaram os AKM-47, Galil, M16A1 e  M653. Após uma série de conversas, ficou notado que havia 3 requisitos mínimos. Um fuzil de assalto barato e simples de manter, uma arma que fosse curta e mais prática e que tivesse maior precisão.

Soldados israelenses com o M16A2.

Isso implicava em alterar o layout convencional do fuzil e adotar o layout bullpup por alguns motivos. Os soldados israelenses se deparavam muito com combates CQB – Close Quarter Battle, quando os combates de davam em ambientes urbanos a curtas. A necessidade de um fuzil mais compacto e flexível era necessária e o layout bullpup seria perfeito. Além disso, as tropas blindadas também necessitavam de uma arma mais curta que não sacrificasse o comprimento do cano. Desta forma o layout bullpup deveria ser usado.

Outro requisito era precisão e rapidez de engajamento. Isso era importante não só pela ideia de quanto maior precisão, melhor para o soldado. A rapidez de engajamento não era um ponto favorável, era uma necessidade. Os soldados israelenses viram isso quando se depararam com combates CQB, tinham poucos segundos para revidar fogo quando engajados. Para que a rapidez de engajamento fosse aumentada, seria necessário o uso de dois elementos. O uso de mira reflexiva que daria maior praticidade ao soldado facilitando o enquadramento do alvo e o formato do fuzil para que fosse mais prático no momento em que se empunhava já se fazia a mira. Isso foi notado pela primeira vez no conceito do AUG quando colocaram uma mira telescópica em um fuzil bullpup. Se comparado com os fuzis 5,56 x 45 mm da época, o tempo de resposta do AUG era menor.

Soldados israelenses com a carabina M4.

Levando em conta o Galil e o uso mais cuidado da família M16, o fuzil tinha de ser simples e de fácil manutenção. Isso era o feedback dos soldados que reclamavam que os M16 necessitavam de limpeza constante e mesmo assim tinha um alto índice de falhas. Já o Galil não tinha problema de falhas e não necessitava de tanta limpeza, entretanto, era um fuzil pesado e mais caro e adquirido em poucas quantidades pela IDF, de tal maneira que poucos soldados o usaram, o que acabou não servindo de parâmetro com o M16. O novo fuzil deveria ser simples de manter. Além disso, deveria ser barato também. Barato a ponto de ser mais barato que o Galil (que era caro) e que fosse mais barato que o M16. Embora Israel seja uma potência militar na região, seu orçamento é curto e depende de mesada anual vinda dos EUA.

 

M203

A IMI usou uma equipe interna chamada Versia para pesquisar, desenhar e projetar o fuzil. Essa equipe tinha como meta seguir os requisitos e os parâmetros estabelecidos em conjunto com a IMI e a IDF. Definido o layout, a IMI passou a trabalhar diretamente com o que poderia ser o fuzil. Com uma forte inspiração do AUG, o modelo conceitual tinha um grande guardamato que cobria toda a mão e uma mira telescópica de 1,5x integrada na arma.

1ª mockup feito pela Versia.

Embora de aparência bizarra, era um mockup destinado somente para estudo da viabilidade do conceito. Ele foi apresentado em 1993 com o nome de M203. Em um primeiro momento, esse modelo é estranho e foge de tudo o que pode ser considerado convencional. Entretanto, a função desse mockup era de ver o conceito e também a funcionabilidade de suas dimensões. Quando a IMI viu que o conceito era válido e que o mockup mostrava funcionabilidade, o próximo passo foi fazer um novo mockup.

1ª mockup feito pela Versia.

Alguns modelos foram desenhados para ver qual seria o ideal. Os primeiros modelos tinham um guardamato tradicional, que cobria somente o 2º dedo. Esses desenhos viraram mockups e no manuseio ficou visto que era um pouco mais incômodo fazer a posição de disparo porque a mão esquerda não tinha o apoio ideal. Em virtude da posição do braço esquerdo, o soldado não tinha como apoiar com mais firmeza a mão esquerda. Esse modelo logo foi descartado.

Alguns esboços do layout do M203.

O segundo mockup M203 era completamente diferente do primeiro e foi apresentado em 1995. Em cima do M203 é que se fizeram os maiores estudos comparativos entre o layout bullpup e o layout convencional. O M203 foi desenhado para ter o design que fosse mais perfeito possível para o soldado no quesito ergonomia, segundo os estudos da IMI para o que se propunha o fuzil. Em outras palavras, o fuzil foi desenhado para tornar a manipulação o mais simples e eficaz possível com base nas necessidades dos soldados. O M203 não era um fuzil novo, era um fuzil em cima de um conceito novo de manejo.

Mockup do M203.

O desenho do bullpup se mostrou muito mais eficaz que os M16s que os israelenses usavam. O guardamao próximo à empunhadura permitia o equilíbrio perfeito em virtude da menor flexão dos braços. Isso fazia uma ótima distribuição do peso fazendo com que o soldado não sentisse nenhum contrapeso. Como o M203 havia sido desenhado desde o começo para usar miras reflexivas, o soldado não se expunha tanto como o M16 com uma mira reflexiva acoplada da alça de transporte. A cabeça do soldado permanecia mais baixa se comparada com o fuzil americano.

E ainda, levando em consideração o feedback dos soldados, uma das maiores críticas do M16 era a sua alavanca de manejo, situada abaixo da alça de mira. Para acionar essa alavanca, o soldado tinha que baixar o fuzil para ter espaço para puxar com a outra mão. Desta forma, a alavanca de manejo do M203 foi posicionada à frente com uma alavanca para cima para que o soldado só tivesse que esticar a mão esquerda, sem tirar o fuzil do ombro ou da mira. Ocorre que algumas vezes surgem falhas de alimentação por variados motivos e o soldado terá de acionar essa alavanca caso queira continuar no combate. Muitas vezes ele estará em posição desfavorável de tal ordem que não terá tempo de ficar baixando o fuzil.

Mockup do M203.

Como na época Israel ainda não havia recebido seus M4A1 com trilhos picatinny, a IMI não tinha como usá-los para fixar suas miras reflexivas. Desta forma um adaptador era inserido diretamente na parte de cima da caixa da culatra, o M203 não tinha miras fixas. E ainda levando em conta o requisito do peso, o M203 tinha o amplo uso de polímero e ligas leves em sua composição interna, o que fez gerar um modelo muito mais leve que o Galil e mais leve que o M16.

Definido o layout e o desenho final, o próximo passo foi fazer um protótipo de testes. Esse modelo adota o calibre 5,56 x 45 mm SS109 já mirando a versão mais moderna desse calibre. O nome M203 é alterado. Ocorre que a nomenclatura adotada pela Versia é o mesmo nome do lançador de granadas americano. Diante disso, o nome do fuzil passa a ser Tavor, nome de uma montanha israelense. Oficialmente, o nome passa a ser TAR-21 Tavor Assault Rifle – 21 St Century, em uma tradução livre, Fuzil de assalto Tavor – Século XXI. Trata-se de um fuzil de assalto operado por pistão de longo curso com trancamento rotativo do ferrolho.

 

Tavor

Embora com uma grande ajuda dos soldados israelenses, a IMI não tinha um contrato feito ainda com a IDF. Quando o programa Tavor começou, os israelenses tinham grandes estoques de M16, Galil e estavam recebendo seus primeiros M4A1. De imediato, não interessava à IDF um novo fuzil de assalto e, mesmo assim, a IMI deu continuidade ao programa. Em 1997 é iniciada a produção do primeiro lote que seria destinado a testes de campo por soldados israelenses. Mesmo sem intenção de compra, a IDF ajudava no que podia.

TAR-21 em sua versão inicial.

Embora com um desenho técnico diferente e até fora do comum, o Tavor adota o sistema de trancamento do ferrolho por ferrolho rotativo de 3 ressaltos. O sistema de ação é o de pistão de curso longo. O pistão faz parte do transportador do ferrolho, embora sejam partes que podem ser soltas. Atrás do transportador do ferrolho existe uma haste de metal que serve como guia e está fixada na parte de trás da caixa da culatra. Em cima há outra guia para a mola recuperadora. Os gases impelem o pistão que por sua vez atua junto com o transportador do ferrolho.

O primeiro lote foi entregue a testes em 1998. Os soldados israelenses o testaram em várias condições climáticas até o ano de 2000. O uso árduo da arma fez surgir alguns problemas. A começar pelas grandes janelas de ventilação dispostas na parte de cima do cano. Essas aberturas faziam com que a arma se sujasse com mais frequência. Não só isso, era comum o acúmulo de terra, lama e até mesmo neve nessas janelas. Outro problema era o quebrachamas. O desenho dele funcionava, porém o formato dos orifícios e aberturas fazia com que o estampido fosse alto demais.

Soldado com o TAR-21 versão DMR.

Um problema observado foi o escape de gases da caixa da culatra. Com o tempo e uso árduo, uma fissura se abria na junção da peça de polímero, logo atrás da mira. Desta forma a cada disparo parte dos gases que ficavam dentro da caixa da culatra (o que é normal) escapavam por essa fissura e iam para a cara do soldado. Com o tempo, a cara do soldado ficava levemente escurecida, era o famoso efeito “cara de Tavor”. O primeiro modelo do Tavor não tinha retém do ferrolho porque o ferrolho não ficava aberto após o último disparo. Isso foi foco de queixas dos soldados que usavam muito esse tipo de retém com a família M16.

Entretanto, dois problemas sérios foram observados. O mais sério foi a facilidade dos disparos acidentais. O desenho do grupo do gatilho tinha um defeito que tornava a trava de segurança muito falha. Muitas vezes, uma pancada mais forte do fuzil fazia dispará-lo. Outras vezes, quando o soldado puxava a alavanca de manejo e a soltava, a arma disparava sozinha. Isso era um problema sério que tinha de ser corrigido. E por fim, os soldados não gostaram do Tavor não ter uma mira fixa, nem para casos de emergência. Muitas vezes a mira reflexiva ou noturna tinham problemas. Muitas vezes acabava a bateria, outras vezes havia uma pane, ou até mesmo sujeira por lama, de tal ordem que as miras não podiam ser usadas. Os soldados não tinham uma mira fixa ou de emergência para isso, como por exemplo tinha o AUG ou o L85. Essa foi uma grande queixa dos soldados.

Soldado israelense em território palestino ocupado. Note que é a 1ª versão do TAR-21.

O Tavor passa então por várias reformulações a cada lote para chegar ao que é hoje. Essa ida e vinda de alterações dura de 2001 até 2005. Desta forma, focaremos como ficou o fuzil e não passo a passo de cada alteração para não tornar a leitura cansativa. A primeira coisa a ser alterada foi o grupo do gatilho, onde se tem um redesenho da trava, isso fez terminar o alto índice de disparos acidentais que tanto os soldados criticavam. Levando em conta que um dos requisitos era a durabilidade da arma, o grupo do gatilho foi todo feito em aço, enquanto que muitos outros fuzis bullpups contêm peças em polímero.

Desde o começo o fuzil foi idealizado para ser simples de manter. Isso fez com que o fuzil fosse desmontado por pinos, onde não existe a necessidade de uso de ferramentas. Quando muito, o soldado usa a ponta de um cartucho para empurrar um pino ou outro. O Tavor, ao contrário do Galil, passa a usar o carregador padrão STANAG. Isso foi considerado um retrocesso porque o carregador STANAG, de alumínio, é mais frágil, embora mais barato. Com isso se mantém os 30 cartuchos que os soldados já estavam acostumados com o M16.

TAR-21 em sua versão final.

Entretanto, o Tavor adota um retém do carregador diferente. Ele é uma tecla ambidestra localizada à frente do carregador e não atrás, como o Galil. Isso se dava porque era mais fácil e rápida a troca do carregador. Entretanto, isso diminuía a segurança. O retém do carregador era projetado mais para frente. Uma pancada ou se ele se enganchasse com algo poderia ejetar o carregador por acidente. Até mesmo o manuseio do fuzil com a mão que empunha pode acionar o retém do carregador. Desta forma há que se ter um maior treino e cuidado para que isso não ocorra.

Em virtude do feedback dos lotes de testes, foi acionado um retém do ferrolho ao fuzil. Após o último disparo, o ferrolho permanece aberto. Isso informa ao soldado que acabou a munição e que não se trata de uma pane de alimentação. O retém do ferrolho fica localizado logo atrás do carregador, em uma grande tecla. Ela tem esse tamanho de propósito porque a intenção era agilizar a troca do carregador e operação da arma. Após esvaziar o carregador e ejetá-lo, a mão que vai inserir o carregador, assim que travar o carregador, a parte de cima da mão vai acionar automaticamente essa grande tecla, liberando o ferrolho e colocando um cartucho na câmara do cano. Ou seja, o soldado carrega, libera o ferrolho e alimenta a arma em um único movimento.

TAR-21 operado por tropa especial da Índia.

O Tavor é um fuzil ambidestro em partes. O retém do ferrolho e carregador são partes completamente ambidestras. Entretanto, outras partes precisam ser alteradas caso o soldado seja canhoto. Tanto a alavanca de manejo como a janela de ejeção pode ser convertida para lados opostos. Isso é importante porque soldados canhotos terão problemas com as cápsulas ejetadas. Para isso, o soldado tem que desmontar o fuzil, tirar o grupo do ferrolho e alterar a alavanca de manejo e janela de ejeção e montar tudo de novo. O mesmo para o seletor de disparo. O seletor está posicionado no lado esquerdo do fuzil, logo acima da empunhadura. Caso o soldado queira, ele pode colocar o seletor do lado direito, mas terá que desmontar essa parte para ser colocada no outro lado.

Um dos problemas do Tavor é a ejeção das cápsulas. Elas tendem a ser ejetadas para trás e não para frente. Para o soldado destro não é nenhum problema, mas para o canhoto será porque as cápsulas irão acertar a cara do soldado. Foi colocado no Tavor um pequeno defletor para empurrar as cápsulas para frente. Isso é em tese porque, mesmo com esse defletor, as cápsulas são ejetadas para trás.

TAR-21 da 1ª Geração sendo testado por um soldado croata. A Croácia avaliou o Tavor antes de iniciar o seu programa VHS.

Visando uma maior precisão, o Tavor usa um cano flutuante. Isso significa que ele é fixado diretamente na caixa da culatra, não tendo apoio no guardamão. Isso gera uma maior precisão porque a cada disparo o cano não sofre interferência do amparo do guardamão. Isso justifica o fato de que trocar o cano no Tavor não é algo tão simples como nos outros fuzis de assalto. Existe um mecanismo de troca que exige ferramentas especiais e leva mais tempo para isso. Forjado a frio, o cano tem um passo de raiamento de 1:7, ou seja, o projétil dá uma volta no cano a cada 7 polegadas, 178 mm em virtude da versão SS109.

A experiência israelense com os trilhos picattiny ainda era nova e, assim como os demais exércitos, ainda estudavam como se adaptar e superar as possíveis limitações. Esses trilhos eram usados em alguns M16A1 e Israel ainda não havia recebido seus primeiros M4A1. Um problema notado com o trilho foi na necessidade de uso de uma mira holográfica e outra mira noturna na mesma arma. Durante o dia o soldado tinha uma mira holográfica e quando caía a noite, ele tinha que tirar essa mira e colocar uma nova mira noturna. Quando essa nova mira era colocada no trilho, o soldado tinha que reajustar sua calibração, o que poderia ser um problema caso a regulagem não ficasse 100% correta.

Quando o Tavor foi lançado, ele não havia sido projetado ainda para ter um amplo uso de trilhos picattinys e a IWI sabia da limitação da regulagem das miras. Desta forma o Tavor podia ser oferecido com duas miras integradas na parte de cima da caixa da culatra. O soldado então teria uma mira holográfica na frente, a ITL MARS, e logo atrás outra mira noturna, a ITL Mini NSEAS. O soldado poderia andar a todo o momento com as duas miras montadas na arma. Em caso de necessidade, a mira noturna poderia ser retirada e usada somente em caso de necessidade, sendo colocada diretamente no adaptador. Isso evitaria que o soldado ficasse regulando a calibragem da mira já que ela estaria sempre calibrada e regulada.

Note o soldado agachado com a mira Mepro 21 e o de pé com o conjunto MARS e NSEAS.

Os primeiros modelos de série do Tavor ainda não tinham uma mira fixa ou de emergência. Esse grupo de miras apareceu somente nas versões posteriores quando ficou claro e notório que um fuzil de assalto não poderia depender exclusivamente de miras reflexivas. Assim são colocados no fuzil uma alça e massa de mira retráteis por mola que são acionadas em caso de necessidade. Mas para isso há que se retirar a mira reflexiva ou noturna.

Uma coisa que poucas pessoas perceberam foi o formato do guardamato. É um ledo engano quem acha que é uma simples cópia do AUG. Quando a IMI desenhou o Tavor, o fez para ser um fuzil ergonomicamente perfeito para o soldado. O guardamato não protege somente o gatilho, ele tem outra função no Tavor. Se olharem com atenção, quando o soldado apoia a mão do guardamão, o pulso e a ponta do antebraço se encaixa na parte da frente do guardamato. Isso dá ao soldado maior conforto e controle do fuzil, seguindo o conceito de posição ideal de tiro com o Tavor, com os braços mais flexionados, distribuindo melhor o peso da arma, dando maior controle de disparo o que gera uma menor dispersão. Isso segue o conceito de rapidez da aquisição e engajamento do alvo. É como se o fuzil de assalto fosse uma parte do corpo do soldado.

TAR-21. Note como o soldado empunha a arma e usa o guardamato como apoio secundário dando um excelente equilíbrio.

O uso dos primeiros lotes de testes pelos soldados fez surgir um problema. As baterias das miras reflexivas e noturnas acabavam rapidamente com o tempo de uso. Era muito inconveniente para o soldado ficar ligando e desligando na própria mira, pois muitas vezes atrasava o engajamento do alvo. Uma forma de solucionar isso foi a inclusão de um botão no lado esquerdo do guardamão. Com o 1º dedo, o soldado aciona o botão e liga a bateria. Se não foi usar, aperta de novo o botão e desliga a bateria. Isso dá maior agilidade e rapidez na aquisição do alvo e engajamento. Para isso um cabo percorre dentro da arma até a mira.

O Tavor não tem uma alavanca de manejo solidária ao transportador do ferrolho. Ela age de forma independente. Isso se dá por dois motivos. Se ela fosse solidária, a cada disparo, a alavanca ficaria se movimentando, o que atrapalharia o campo de mira do soldado porque a todo o momento ele veria aquela peça se movendo ao lado da mira. E outro motivo é que se o ferrolho não fecha, é porque algo o impede. Usar a alavanca de manejo como forma de fechar manualmente o ferrolho não é bem visto nos dias de hoje porque se algo bloqueia o fechamento do ferrolho, forçar o seu trancamento é procurar um problema maior que pode no final causar ferimentos ao soldado. Ao contrário do que se pensa isso não é uma limitação do projeto, mas sim uma medida a mais de segurança para o soldado.

Soldados ucranianos na guerra contra os terroristas separatistas. A Ucrânia comprou um lote de Tavor e o produz no calibre 5,45 x 39 mm. Note o trilho picatinny ao lado direito da arma.

 

Versões

Em virtude da flexibilidade e do conceito bullpup, o Tavor permite uma maior variedade de versões a um custo menor de produção. Levando em conta a intenção de substituir todas as versões do M16 em uso, a IWI lança o Tavor STAR, S de Sharpshooting, uma versão dedicada ao DMR. Essa versão visa substituir o M16A2 usado como arma DMR pelos israelenses. A diferença era marcante porque o fuzil, além de ser mais leve, era menor e mais portável, 720mm contra 990 mm do M16. Essa versão contava com um bipode retrátil que foi alvo de algumas críticas em virtude da falta de ergonomia do soldado ao carregar consigo a arma. O bipode ficava no guardamão e muitas vezes o soldado tinha que segurar o fuzil com esse bipode.

Tavor STAR.

O STAR foi muito elogiado porque o soldado não se expunha tanto como no M16. No M16 a mira reflexiva ficava instalada em cima da alça de transporte. Isso fazia com que o soldado levantasse mais a cabeça para usar a mira já que, pelo conceito de linha reta do M16, as miras fixas já eram altas. Com uma mira reflexiva acoplada à alça de transporte, a mira ficava mais alta ainda. Com o Tavor isso não ocorre por causa da mira estar na mesma linha da caixa da culatra. Como as primeiras versões não tinham trilho picatinny, havia um adaptador na caixa da culatra em que permitia a inclusão de um pequeno trilho picatinny. Em cima dele é que se colocava a mira.

Soldado desembarca de um veículo com o CTAR. Note a facilidade pelo tamanho menor.

A versão carabina do Tavor é o CTAR, C de Commando. Essa versão tem o cano de 380 mm de comprimento, de resto é a mesma arma. A carabina foi muito elogiada também pelo seu menor tamanho e leveza. A título de comparação, a carabina carregada e com a mira reflexiva pesa 3,5 Kg. Enquanto que a carabina M4A1 tem 840 mm de comprimento, o CTAR tem 640 mm com cano semelhante. A carabina foi passada primeiro para as tropas especiais e paraquedistas em pequenas quantidades. A partir de 2012 passaram a receber em maiores quantidades.

Tavor MTAR.

Uma versão menor da carabina também foi feita, a MTAR. M de Micro. Essa versão do Tavor teve uma maior alteração em virtude das limitações que enfrentaria. A ideia era uma arma que fosse compacta e leve como uma submetralhadora, mas que usasse a munição de um fuzil de assalto. Para isso, a arma teria de ser mais curta do que era o CTAR e diminuir mais o cano não ajudaria muito. Para tanto, a arma teve de ser redesenhada para ser menor. O cano passa a ser de 250 mm. E a caixa da culatra teve de ser redesenhada para ser menor. Desta forma, não só a caixa da culatra é menor como o grupo do ferrolho, transportador e pistão, com dimensões menores que os demais. Isso faz com que muitas partes não sejam intercambiáveis com outras versões do Tavor.

Essa arma foi destinada às tropas especiais que necessitavam de maior portabilidade da arma, órgãos de segurança e tripulações de veículos blindados. Para essas guarnições a arma é entregue com carregadores para 20 cartuchos em virtude da compacidade do tamanho e porque essas armas seriam usadas em última instância. Nada impede o uso de carregadores para 30 cartuchos, porém os soldados são treinados a evitar o fogo automático. Em virtude de o cano ter um tamanho muito curto e o guardamão ser feito de polímero, a micro carabina tende a esquentar muito com poucos disparos. Mesmo usando uma manta térmica em volta do cano, essa versão do Tavor esquenta, como é comum acontecer com armas desse calibre em canos de diminuto tamanho.

TAR-21 versão final.

Cabe mencionar que as versões finais do TAR-21 receberam algumas melhorias pontuais. Levando em conta as necessidades dos soldados em frente às exigências modernas, foi feita uma maior inclusão de trilhos picatinnys. Entretanto, em virtude da posição da alavanca de manejo no lado esquerdo, só foi possível a instalação de um trilho no lado direito da arma. Na parte de cima da caixa da culatra há um grande trilho para o uso de miras e outros acessórios. Na parte posterior do guardamão há um pequeno trilho para o uso de uma empunhadura vertical.