FNC

A Bélgica viu com o CAL que desenvolver um fuzil de assalto em um calibre novo não é uma tarefa de simples adaptação de um modelo já pronto. É uma tarefa mais complexa em que muitas vezes a simplicidade é mais vantajosa do que a complexidade moderna. O FNC seguiu um caminho diferente do CAL e mesmo assim inovou em muitas coisas para um projeto dos anos 70. É um dos precursores do fuzil de assalto moderno ao apresentar um fuzil simples, eficaz, prático e de fácil operação. Além disso, é um dos fuzis mais precisos ainda nos dias de hoje.

Origens

A origem do FNC está na avaliação que o CAL teve pelas tropas francesas entre 1971-1974. O CAL foi amplamente testado pelos franceses e consideraram a arma cara, complexa de manter e carente de refinamentos, embora seu conceito fosse simples e viável. Os próprios franceses já tinham tido contato com o M16A1 e acharam o CAL superior a ele, entretanto, a complexidade fez o CAL sair da concorrência, que terminou com o FAMAS como fuzil de assalto padrão francês.

Todo esse trabalho não foi em vão. Como os franceses tinham se interessado por esse fuzil, eles tinham contato direto com os belgas para mostrar seus resultados, pontos positivos e pontos negativos. Esses contatos duraram anos e isso serviu de base para a FN repensar o fuzil. O que os franceses tinham feito era uma série de anotações de onde o CAL deveria ser alterado para que se tornasse uma arma melhor. Olhando diretamente os pontos comentados, notaram que praticamente seria mais fácil fazer um novo fuzil de assalto porque o desenho técnico do CAL era muito complexo para ser simplesmente simplificado.

FN CAL.

Isso não queria dizer que os engenheiros da FN não estavam cientes disso. Eles mesmos viam que o CAL necessitaria de muitas alterações para que se tornasse um fuzil mais simples e confiável. Essas alterações eram radicais e praticamente teriam que reinventar a roda. Desta forma, com base no que o CAL tinha de bom a oferecer, a FN passa a estudar um novo fuzil de assalto, que fosse o mais simples possível, mais simples de produzir e mais simples de manter. Isso ocorre em 1973, em plena avaliação do CAL pela França e quando outros países passavam a se interessar mais pelo 5,56 x 45 mm, deixando claro que não se tratava de um calibre de apoio mas sim um calibre que, fatalmente, substituiria o 7,62 x 51 mm e outros calibres mais pesados.

Levando em conta todos os elementos, a FN desenvolve um novo fuzil de assalto enquanto o CAL ainda estava sendo produzido em pequenas quantidades e avaliado por alguns países. Isso é importante porque, até 1977, a FN manteve os dois programas em andamento, o CAL e o FNC. Ao contrário do que se pensa, o FNC não é uma evolução direta do CAL porque ambos os fuzis coexistiram até 1977, quando a FN decide por cancelar o programa CAL.

 

FNC

Em 1975 é apresentado o FNC, de FN Carbine, em uma tradução livre, Carabina FN. Essa nova arma ia de encontro à proposta do CAL. O FNC era um fuzil mais simples de produzir. Era um fuzil mais simples de desmontar e montar. Isso tornava um fuzil mais barato no final. Como tiraram a complexidade do desenho técnico, adotando algumas soluções mais conservadoras, a eficácia da arma era muito acima do CAL, que praticamente era um banco de ensaios.

Os primeiros lotes do FNC são conhecidos como FNC 76. Isso porque, embora apresentado em 1975, ele passou a ser produzido em 1976. Esses modelos eram mais simples se comparados com o CAL. Entretanto, esses modelos eram considerados mais frágeis porque a produção do metal estampado não levava em consideração o novo calibre usado. O CAL usava o calibre 5,56 x 45 mm M193, na qual tinha uma pressão menor e exigia um passo de raiamento de 1:12. Com o FNC, a Bélgica o faz no calibre 5,56 x 45 mm SS109, um calibre que gerava uma maior potência e exigia um passo de raiamento de 1:7. Esse novo calibre concorria para ser o novo calibre padrão da OTAN e no final logrou sucesso.

FNC 76.

Isso gerava um problema. Com a potência maior, o regulador de gás era o mesmo do sistema do CAL. Ou seja, o sistema anterior trabalhava com pressões menores. Essas pressões incidiam sobre o cano e grupo do ferrolho. Com o uso mais árduo, isso gerava problemas de pane no fuzil. Em 1976, a Bélgica manda esses fuzis para serem avaliados pela OTAN como um parâmetro do próximo fuzil de assalto que poderia ser adotado pelos seus membros. Esses fuzis mantinham o mesmo carregador reto para 30 cartuchos usados no CAL.

Nos testes o FNC foi desclassificado pelo alto índice de falhas que tinha. Isso se dava porque o regulador de gás aceitava uma quantidade maior de gás para o que fora projetado. O uso contínuo fazia pequenas fissuram no ferrolho e transportador. Com o tempo, essas peças quebravam, ocasionado panes de tiro. Como o fuzil fora feito para ser mais simples, simplificaram demais a parte de cima da caixa da culatra em metal estampado. Como era uma parte mais frágil, com a pressão do novo calibre, essa parte tendia sofrer um desgaste precoce, já que nela se localizava o trilho que conduzia o transportador do ferrolho.

Isso não foi um balde de água fria para os belgas porque sabiam qual era a causa do problema. A FN volta aos projetos e corrige os problemas do FNC em 1978. É feito um novo regulador de gases e a caixa da culatra recebe reforços para que trabalhe com maiores forças da energia do recuo e pressões do disparo. Isso faz a parte de cima da caixa da culatra ser um pouco maior. A coronha fica mais resistente e o conjunto de miras também recebe reforço. O carregador para 30 cartuchos passa a ser curvo. Ocorre que carregadores retos tendem a ter maiores falham de alimentação pela posição forçada que fica o cartucho em virtude da mola da base do carregador

Além disso, também reforçaram o cano para o lançamento de granadas de boca. O CAL já disparava granadas desse tipo, mas como a munição SS109 gera uma pressão maior de gases, com o regulador de gás fechado as ações de gás são mais fortes no cano. Simplificaram a construção e montagem da seção do guardamão e o trilho da alavanca de manejo também foi reforçado pelos mesmos motivos de pressão O novo fuzil FNC é apresentado em 1979. Essa versão do FNC, como é até o dia de hoje, passa a se chamar FNC 80 porque passa a ser produzido em 1980.

FNC 80.

Uma das formas de diminuir os custos foi automatizar o processo de fabricação do fuzil, tornando um fuzil mais barato. Quanto mais tem o fator humano na produção, mais tempo leva para fazer um fuzil, e mais tempo significa mais dinheiro. Para isso a FN investe, pela 1ª vez, na automatização da produção assistida por computadores. Máquinas são operadas por computador para automatizar a produção. Ou seja, se tem mais operações mecânicas automáticas do que operações manuais. As máquinas são responsáveis por 421 operações automáticas enquanto que as operações manuais são de 98 ao total.

O FNC passa por maiores alterações em relação ao CAL. A caixa da culatra também é dividida em duas partes. A parte de cima também é feita em metal estampado. Já a parte de baixo é um bloco de liga de alumínio forjado, tal qual os americanos fazem com o M16. O bloco usinado dá maior resistência ao fuzil, assim como diminui o peso da arma se comparado com o aço forjado. O bloco é usinado porque o CAL, com a parte de baixo da caixa da culatra em metal estampado, funcionava perfeitamente bem. Porém, tinha um desgaste natural mais rápido. Isso era um problema quando munição do FNC gera mais pressão que a versão antiga do 5,56 x 45 mm.

FNC.

Outra grande alteração foi quanto ao pistão de gás e o transportador do ferrolho. Visando uma maior simplificação de projeto, menor custo de operação e facilidade de manutenção, o pistão do gás passa a ser integrado ao transportador do ferrolho. Essa parte teve uma forte influência do AK-47, entretanto, com algumas alterações. O pistão é preso ao transportador, mas não como no AK-47, que forma uma peça única. No FNC pistão e transportador estão integrados pela alavanca de manejo. Como o pistão é preso ao transportador do ferrolho, o sistema de funcionamento passa a ser de pistão de longo curso ao invés de curso curto.

Desmontagem parcial do FNC.

Todavia, o pistão está condicionado dentro de um tubo. Esse tubo está diretamente preso ao transportador. Dentro desse tubo está contido o pistão. Como o pistão é preso ao transportador, há a necessidade desse tubo para fazer uma peça única mais resistente. A cada disparo, todo esse grupo se locomove com o transportador. Ao contrário do CAL, a mola recuperadora agora fica atrás do transportador do ferrolho. No transportador há o ferrolho rotativo com 2 ressaltos. Há um 3º ressalto serve como extrator da cápsula. Ao contrário do que muitos possam pensar, isso não é uma cópia do AK-47, mas sim do ferrolho do M1 Garand e do fuzil semiautomático ZK-420. A bem da verdade o AK-47 copiou esse sistema dessas armas citadas.

Os primeiros fuzis vinham com duas opções de coronha. A fixa, inspirada no FAL e também usando materiais plásticos de alta resistência. E como já era de se esperar, a versão com coronha rebatível do PARA FAL. Muitos criticam esse modelo de coronha, onde se aperta um botão embaixo para rebatê-la. Esse modelo, embora antiguado, é considerado um dos mais resistentes (falamos de coronha rebatível e não retrátil). O único ponto negativo seria a menor área para o apoio da face do soldado. Com o tempo, os soldados viram que a versão de coronha rebatível era mais prática e assim, os últimos lotes vinham somente com coronha rebatível.

FNC.

Outra alteração que não agradou os soldados que tinham experimentado o CAL. O FNC não mantém mais o ferrolho aberto após o último disparo e, assim, não tem mais o retém do ferrolho. Na alteração do desenho técnico, visando simplificar a produção e manutenção do fuzil, os engenheiros da FNC acharam por melhor retirar isso, como sendo uma opção não fundamental do fuzil. Isso passa a ser um problema porque o soldado não sabe se ele teve uma pane ou se acabou a munição, tendo de ficar acionando a alavanca de manejo toda vez que acaba a munição para ter certeza que não se trata de uma pane.

O FNC era oferecido ao mercado nas duas variantes do 5,56 x 45 mm, o M193 e o SS109, isso ocorria porque alguns exércitos adotavam o M193 e outros tinham interesse no SS109 quando fossem substituir seus fuzis mais antigos. Com o M193, o projétil saía 967 m/s, sendo que o cano tinha um passo de raiamento de 1:12. Ou seja, para cara 12 polegadas, 305 mm, o projétil dava uma volta em seu eixo. Com a munição SS109, o projétil saía com 915 m/s. Isso se dava porque o projétil era mais pesado. Com essa munição, o passo de raiamento era de 1:7, ou seja, a cada 7 polegadas, 178 mm, o projétil dava uma volta em seu eixo.

Soldado belga com um FNC.

O carregador segue o mesmo padrão do CAL. É feito em aço. Nesse ponto a FN não quis economizar. Carregadores de aço são mais duráveis e confiáveis, entretanto, costumam ser mais caros também. Os carregadores de alumínio são mais frágeis e com o tempo de uso apresentam falhas de alimentação. O FNC mantém o mesmo sistema de regulagem de gases do CAL. Completamente fechado, para o lançamento de granadas. Limitado, para o uso normal do fuzil, já que parte dos gases é expelida para fora por orifícios no começo do êmbolo. E aberto, onde se tem uma maior quantidade de gás usado para situações adversas, como sujeira leve ou poeira.

O FNC emprega bursts de 3 disparos, tal qual o CAL. O sistema foi mantido porque, embora não aumente a probabilidade de acerto com uma pequena rajada, em emprego automático, os belgas viram que fica mais fácil de administrar a quantidade de munição usada. O CAL e o FNC foram um dos primeiros fuzis a ter esse sistema de rajada controlada. Curioso que anos mais tarde, os americanos substituíram no M16A2 o regime automático pelo burst de 3 disparos, como forma de evitar desperdício de munição. Porém, o sistema americano é limitado. Se o soldado realiza 2 disparos no burst, ele tem de apertar o gatilho novamente para usar o 3º disparo. Aí aperta o gatilho novamente para mais um burst.

No FNC o contador é independente. Se o soldado realiza 2 disparos no burst, quando ele apertar o gatilho o ciclo do burst recomeça do zero e não de onde parou, como no fuzil americano. Entretanto, o seletor de disparo não é dos mais práticos. Não é ambidestro e fica localizado no lado esquerdo, acima da empunhadura. Com o 1º dedo da mão direita, o soldado consegue selecionar semiautomático e travado. Entretanto, as opções de automático e burst estão mais acima. Isso exige uma volta maior do seletor que, com toda a certeza, o soldado não consegue fazer somente com o dedo, pois a distância é grande. Para isso ele terá de usar a mão esquerda que segura o guardamão, o que é algo mais incômodo e limitador para o soldado.

FNC.

As alterações no FNC o fizeram ficar um pouco mais pesado se comparado com o CAL. A parte de baixo da caixa da culatra que foi forjada, a maior resistência do grupo do ferrolho e da parte de cima da caixa da culatra fez ele ganhar mais peso. Ele passa a pesar vazio 3,8 Kg. O peso maior ajuda o fuzil absorver parte do recuo, o que gera uma maior precisão. O FNC é conhecido pela sua precisão e controle com rajadas curtas. Entretanto, o peso não é uma questão tão primordial pela arma em si. O que valo no peso é a quantidade de munição que o soldado poderá carregar a mais. A título comparativo, o peso de 1 FNC com 200 cartuchos é o mesmo peso de 1 FAL com 50 cartuchos.

Entretanto, existem algumas partes do FNC que não receberam maiores cuidados. Por exemplo o extrator que fica no ferrolho. É comum essa parte do ferrolho se danificar com o tempo, é um desgaste natural que ocorre com todo e qualquer fuzil de assalto. Entretanto, para trocar esse extrator no FNC é uma tarefa complicada. A desmontagem não é tão fácil e o soldado irá gastar um bom tempo fazendo isso. Outra parte frágil é a alavanca de manejo. Ela é presa ao transportador do ferrolho por uma haste de aço. Embora rígida, ela é frágil porque ela é fina. Fortes pancadas na alavanca na parte de cima podem fazê-la quebrá-la.

O FNC usa o mesmo quebrachamas do FAL que é eficaz. Isso permite o uso da mesma baioneta que se usava no FAL. Pode parecer simplório mas um exército como o Belga que já usava o FAL antes significa uma grande economia de custos. Esse quebrachamas também serve como base para o lançamento de granadas de boca de 22 mm, neste caso, usa-se uma alça de mira retrátil justamente para essa granada. Entretanto, o FNC permite a acoplagem de lançadores de granadas na parte de baixo do guardamão. Para tanto há que se fazer uma troca do guardamão por um especial. O guardamão do FNC é de duas partes. Há uma parte interna feita de metal com janelas de ventilação e a parte externa, de material plástico de alta resistência onde o soldado apoia o fuzil. Essa combinação se mostrou muito útil porque ela ajuda a dissipar o calor da arma sem a necessidade de mantas térmicas

FNC com uma granada acoplada à boca do cano.

O FNC pode usar miras óticas, telescópicas e noturnas. Ele já foi desenvolvido para o emprego desses acessórios de forma eficaz. De forma eficaz porque a parte de cima da caixa da culatra com metal estampado não serve como base para acoplar esses tipos de miras. O metal fino não dá suficiente rigidez para manter a mira na posição correta a cada disparo. Com o tempo a mira perde calibração. No FNC isso foi solucionado usando um adaptador. Na parte da frente da massa de mira e na parte de cima da altura da alavanca de manejo, existem dois ressaltos que servem para acoplar um trilho. Esse trilho fica firme e rígido em cima da caixa da culatra, não sofrendo os efeitos do disparo já que é uma base mais dura e imóvel. Em cima desse trilho não instaladas as miras que melhor for conveniente para os soldados.

FNC. Em cima a versão fuzil e embaixo a versão carabina.

A FNC lançou também uma carabina, com cano de 362 mm. Essa carabina foi destinada mais a tropas especiais, oficiais e pessoal de retaguarda. A carabina, em virtude do cano menor e do menor espaço entre cano exposto e quebrachamas, não tem o espaço necessário para acoplar granadas de boca, assim como também não usa baionetas.

A Indonésia foi um dos primeiros países a se interessar pelo FNC. Em 1978 ela faz uma rápida avaliação do fuzil e decidiram comprá-lo já em que 1980. Isso fez com que o FNC fosse produzido em massa pela 1ª vez, já que a FN não estava mais produzindo o FAL e nem o CAL. A arma é feita sob licença pela Pindad e não existem diferenças entre os modelos belgas e indonésios. O fuzil se chama SS1. Os modelos são o SS1-V1, fuzil com coronha rebatível, SS1-V2, carabina com coronha rebatível e SS1-V3, fuzil com coronha fixa. Assim que essas armas chegaram em 1980 já foram usadas contra movimentos terroristas indonésios com muito sucesso.

Soldado indonésio com um SS1-V1.

A Suécia foi outro país que se interessou pelo FNC. Em 1975, o FNC foi enviado para a Suécia para uma avaliação prévia e os suecos tinham gostado muito do fuzil. Os suecos avaliaram vários fuzis de assalto naquela época. Galil, HK33, M16A1, Stoner 63, AR-18, Beretta 70, FNC, CAL, AUG e SIG540. Nessa fase de testes com os demais fuzis, a FN mandou o FNC 80 para avaliação e logrou sucesso, ao derrotar todos os outros fuzis, alguns deles consideradas ótimas armas. Em 1984 a Suécia comprou um lote de 80.000 fuzis da FN, sendo que o restante dos 160.000 seriam fabricados sob licença na Suécia, sob o nome de AK5 – Automat Karbin, em uma tradução livre, carabina automática.

A versão sueca do FNC tem algumas diferenças. A coronha e o guardamão são diferentes, onde o guardamão cobre a tela de metal. O guardamato tem uma abertura mais funda, para que o soldado possa utilizar luvas grossas sem a necessidade de virar o guardamato para o lado. Foi retirado do fuzil o sistema de burst já que os suecos não viram muita utilidade nesse dispositivo. O sistema de burst é facilmente tirado do grupo do gatilho, tornando o fuzil até mais simples em sua manutenção. Os últimos modelos vieram com carregadores de polímero, mais resistentes e baratos.

AK5. Note a mira ótica acoplada em um trilho sobre a tampa da caixa da culatra.

Em 1986 finalmente a Bélgica adota o FNC como seu fuzil padrão. Ela já não queria mais manter o FAL, considerado ultrapassado não pelo sistema de operação mas principalemente pelo calibre, 7,62 x 51 mm. A Bélgica tardou para fazer a troca do FAL porque o usaram até onde não desse mais. Como ela é membro da OTAN, tinha de seguir a nova diretriz de usar um fuzil de assalto em calibre 5,56 x 45 mm SS109, calibre este que ela mesma desenvolveu.  

O FNC foi vendido para exércitos e órgãos de segurança de 13 países. Levando em conta o sucesso incontestável do FAL, é de se estranhar que o FNC não seguiu o mesmo caminho do sucesso, quando o FNC se mostrava como um substituto natural do FAL. Isso se deve a alguns fatores. Quando o FNC foi colocado em produção em massa, o mundo já estava caminhando para o final da guerra fria. Os exércitos já não viam a necessidade urgente de investir em armamento quando as duas potências colocavam, em teoria, o fim de uma longa disputa. Com o fim da guerra fria, fez surgir no mercado uma avalanche de fuzis de assalto de vários países. Esses fuzis muitas vezes eram usados a preços muito baratos. Ou senão, vinham de empresas que fabricavam fuzis novos mais baratos. Muita coisa dos estoques dos arsenais de vários países também foi colocada no mercado, barateando o disputado mercado de fuzis. Além do mais, no final dos anos 80 o mundo passa por crises financeiras que limitavam ainda mais os gastos militares.

Tropas belgas com o FNC.

O FNC, assim como outras armas dessa época, surgiu em um momento completamente desfavorável porque o mundo não estava comprando armas em um contexto econômico que era mais limitador ainda. Entretanto, o FNC se mostrou como um fuzil de assalto moderno em calibre 5,56 x 45 mm. A FN costuma demorar ou adotar conceitos considerados um pouco ortodoxos, mas mesmo assim faz produtos de alta qualidade e com o FNC não foi diferente.

FNC

Calibre: 5,56 x 45 mm
Comprimento do cano: 449 mm
Comprimento total: 997 mm
Cadência de disparo: 650 dpm
Peso: 3,8 Kg
Carregador: 30 cartuchos

 

Como funciona

Ao apertar o gatilho, o cão é liberado batendo no percussor. Este deflagra o cartucho, fazendo com que os gases que impelem o projétil entrem em um orifício. Ao passar por ele, os gases são dirigidos a um êmbolo situado acima do cano. Neste êmbolo tem um longo pistão que é ligado diretamente ao transportador do ferrolho. Os gases no êmbolo pressionam o pistão para trás. Ao fazer isso, pela inércia, o ferrolho é rotacionado para o lado esquerdo, fazendo com que os ressaltos estejam alinhados com as saliências do extensor do cano.

O ferrolho é deslocado para trás, ao mesmo tempo em que ejeta a cápsula que estava na câmara do cano e inicia o movimento de recuo até o final. A mola recuperadora, situada atrás do transportador do ferrolho, empurra-o para frente. Como o ferrolho agora está indo para frente, a base do ferrolho empurra um cartucho do carregador para a câmara do cano. Neste momento, o ferrolho passa pelas saliências da base do cano, virando para o lado direito, travando o ferrolho na base do cano. Neste momento, o percussor está pronto para ser acionado novamente, reiniciando o ciclo.

 

Curiosidade

Os filmes de ação empregam armas de todos os tipos. Cada equipe de produção trabalha com edição de imagens e sons que dão vida às cenas de ação. Entretanto, a maioria das cenas foge um pouco da realidade, seja no manuseio da arma, seja no som. O filme Heat tem uma das melhores cenas de tiroteio já filmadas. Não só pelo som mas como pela forma de como as armas são operadas. E no filme o personagem Vicent Hanna, interpretado pelo meu xará Al Pacino, aparece na cena com um FNC carabina. Aqui a cena, um dos maiores tiroteios do cinema. Aumente o som!